Em fevereiro, quando Mason Greenwood foi absolvido das graves acusações de tentativa de violação, agressão e comportamento coercivo em relação à ex-namorada, surgiu a pergunta óbvia: e agora? Sem jogar desde janeiro do ano passado, altura em que foi detido, tinha contrato com o Manchester United até 2025 e nunca deixou de ser pago ao longo do julgamento. Esta segunda-feira, o Manchester United respondeu à pergunta óbvia. E não foi da forma expectável.

Num comunicado divulgado no site oficial, o clube inglês assumiu uma total reviravolta dos acontecimentos e anunciou a saída de Mason Greenwood. Ou seja, o jogador de 21 anos não será emprestado nem reintegrado na equipa principal orientada por Erik ten Hag, procurando agora um novo desafio depois de mais de ano e meio sem pisar os relvados ao mais alto nível. “Todos os envolvidos, incluindo o Mason, reconhecem as dificuldades de um recomeço de carreira no Manchester United. Foi assim mutuamente acordado que será mais adequado para ele fazê-lo longe de Old Trafford e vamos agora trabalhar com o Mason para alcançar esse desfecho”, pode ler-se na nota.

Greenwood deixa Manchester United por mútuo acordo

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A conclusão da novela, porém, não deixa de ser surpreendente. Até porque, na passada quarta-feira, o Manchester United havia emitido um outro comunicado onde revelava ter terminado uma investigação interna de cinco meses com base “em provas extensas e contexto que não estão no domínio público”. O resultado dessa investigação, que reconhecia “erros” de Mason Greenwood mas reconfirmava a inocência relativamente aos crimes de que foi acusado, tinha como passo seguinte uma ação que parecia natural à cúpula do clube: a reintegração do avançado.

O que se sabe agora, porém, é que o comunicado da passada quarta-feira não foi mais do que uma simples reação a uma notícia do The Athletic que garantia que os planos de reintegração de Mason Greenwood eram uma certeza e estavam em marcha. De acordo com o site norte-americano, o Manchester United programou o anúncio oficial para o início de agosto, altura em que já teria informado acionistas, patrocinadores oficiais e grupos organizados de sócios da decisão final — mas teve no Campeonato do Mundo feminino um pormaior que atrasou todo o processo.

Segundo o The Athletic, o CEO dos red devils não queria anunciar oficialmente que Mason Greenwood iria regressar ao clube sem “consultar” as jogadoras da equipa feminina. O problema? Três das jogadoras do Manchester United — Mary Earps, Ella Toone e Katie Zelem — estavam ainda na Austrália e por lá ficaram até ao final da semana passada, a representar Inglaterra no Campeonato do Mundo. De mãos atadas e sem querer desviar as atenções das três internacionais, Richard Arnold adiou o anúncio até este se tornar inviável.

Na sequência da notícia do The Athletic e do comunicado da passada quarta-feira, as ondas de choque internas e externas foram imparáveis. Vários funcionários do clube ameaçaram demitir-se ou entrar em greve se Mason Greenwood fosse reintegrado e nem a ideia de que Erik ten Hag estaria de acordo com o regresso do avançado amenizou as reações. Na primeira jornada da Premier League, em que o Manchester United defrontou o Wolverhampton, um grupo de adeptas juntou-se nas imediações de Old Trafford e ergueu uma tarja onde se lia “as adeptas exigem que Greenwood não regresse, fim à violência contra as mulheres”.

Do universo dos red devils, o assunto depressa saltou para a esfera pública da sociedade: vários deputados britânicos criticaram a alegada reintegração do jogador, com a popular apresentadora Rachel Riley a garantir que deixaria de ser sócia do Manchester United se o avançado inglês voltasse a representar o clube. Na sexta-feira, confrontada com a ideia óbvia de que o regresso de Mason Greenwood era impossível de justificar, a cúpula dos ingleses realizou uma reunião de emergência que teve como conclusão a decisão entretanto anunciada.

“Ainda que eu esteja convencido de que o Mason não cometeu os crimes de que foi acusado, também ele aceitou que cometeu erros e que terá de ser responsabilizado por eles. Também tenho consciência do desafio que o Mason iria enfrentar ao reconstruir a carreira enquanto cria um filho em conjunto com a namorada debaixo dos duros holofotes do Manchester United. Adicionalmente, este caso provocou opiniões muito fortes e é minha responsabilidade minimizar qualquer distração à união que procuramos dentro do clube”, escreveu Richard Arnold numa carta aberta enviada a todos os funcionários e sócios do clube, reconhecendo que o jogador tem a imagem pública arruinada.

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A abordagem do Manchester United a toda a situação — e a aparente mudança de ideias no espaço de três dias — trouxe críticas de várias figuras influentes no seio do clube. Gary Neville, antigo capitão dos red devils, não poupou as palavras e defendeu que o processo foi “bastante horrível”. “Estas situações difíceis exigem uma liderança forte, autoritária. O Manchester United não tem nada disso”, atirou o agora comentador televisivo.

Resta agora saber qual é o passo seguinte na carreira de Mason Greenwood, que antes de ser detido, acusado e sujeito a julgamento era apresentado como uma das maiores promessas do futebol inglês. De acordo com o The Telegraph, o agente do jovem avançado espera ter “10 propostas” em cima da mesa no final da semana, sendo naturalmente expectável que a Arábia Saudita procure a contratação do jogador.