A descarga para o oceano Pacífico das mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada na central nuclear de Fukushima Daiichi levaram o governo chinês a anunciar esta quinta-feira a proibição imediata de todas as importações de marisco do Japão, avança o The Guardian. Protestos contra a libertação das águas residuais fazem-se sentir em Tóquio. 

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O operador da central, a Tokyo Electric Power (Tepco), que bombeou uma pequena quantidade de água da central às 13h03 locais (5h03 em Lisboa), informou não ter identificado qualquer anomalia na bomba de água do mar ou nas instalações circundantes.

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Primeiro-ministro do Japão visita Fukushima antes do início de descarga de água

Tendo em conta que consumidores de países vizinhos evitam consumir o marisco capturado em Fukushima e nos seus arredores após o desastre em 2011, a descarga, que deverá durar entre 30 e 40 anos, irá agravar ainda mais a economia do país.

A China, por exemplo, criticou esta quinta-feira a medida japonesa, argumentando que “iniciar à força a descarga das águas residuais nucleares de Fukushima no oceano é um ato extremamente egoísta e irresponsável que ignora os interesses públicos internacionais”, afirmou o ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim citado pelo The Guardian, sublinhando que irá “adotar todas as medidas necessárias para proteger o ambiente marinho, a segurança alimentar e a saúde pública”.

Citado pelo Financial Times, o ministério acrescentou ainda que:

“A partir do momento em que o Japão iniciou a descarga, colocou-se no banco dos réus perante a comunidade internacional e está obrigado a enfrentar a condenação internacional durante muitos anos“,

Face à medida do governo japonês, na terça-feira decorreu um protesto na Coreia do Sul contra a libertação das águas contaminadas, que acabou por resultar na detenção de pelo menos 14 protestantesinforma o The Guardian.

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No mesmo dia, em Hong Kong, dezenas de pessoas também saíram em protesto pelo mesmo motivo.

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Apoiado pela Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) e o organismo de vigilância nuclear da ONU, o governo japonês tem apurado ao longo dos anos a melhor maneira de eliminar as águas residuais que se acumularam na central nuclear.

O problema começou em março de 2011, quando um forte tsunami atingiu a central nuclear Fukushima Daiichi, e foi utilizada água do mar para arrefecer três reatores que derreteram. As ondas destruíram o fornecimento de eletricidade de reserva das centrais e forçaram a evacuação de 160.000 pessoas, no pior acidente nuclear do mundo desde Chernobyl.

Desde então, a China proibiu as importações de produtos alimentares e agrícolas de cinco prefeituras japonesas, tendo posteriormente alargado a sua proibição a 10 das 47 prefeituras do Japão.

Uma das substâncias presentes nos resíduos é o trítio, um isótopo radioativo do hidrogénio comum em vários corpos de água e que é considerado relativamente inofensivo porque, segundo a Tepco, emite níveis muito fracos de radiação e não se acumula nem se concentra no interior do corpo humano.

Porém, a tecnologia de filtração é incapaz de o remover das águas e, dada a falta de dados a longo prazo, é incerto se poderá, ou não, ter consequências negativas para a vida humana e marinha.