Após alguma resistência por parte do chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez aceitou o convite (que chegou através de Whatsapp) para se encontrar com o líder do Partido Popular (PP). Não se esperava que saísse nada de concreto desta reunião, ainda que Alberto Núñez Feijóo mantivesse a esperança de que o PSOE facilite a composição de um governo liderado pelos populares. Mas o socialista recusou apoiar a investidura, mesmo que ela supusesse apenas um governo de dois anos.

Após cerca de uma hora de reunião, que começou às 10h (menos uma hora em Lisboa), de acordo com a imprensa espanhola Alberto Núñez Feijóo propôs ao socialista que facilite a sua investidura marcada para 26 e 27 de setembro. Em troca, o líder do PP compromete-se a chefiar um governo com a duração de 24 meses — e depois deste período realizar-se-iam novas eleições.

Feijóo acusa Sánchez de preferir aliar-se ao independentistas em vez de firmar um “pacto de Estado”

Para mais, Alberto Núñez Feijóo disse ao socialista que o governo entre PP e PSOE se basearia em seis pactos de Estado, com o objetivo de reformar Espanha. Em concreto, o líder popular quer a formação de um governo de 15 ministérios que negue “os pedidos do referendo de independência e de amnistia expressada pelos partidos independentistas”.

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Em conferência de imprensa após a reunião, o líder do PP reconheceu que o “resultado da reunião era evidente”. “Lamentavelmente, o PSOE não tem interesse numa investidura entre partidos constitucionalistas”, afirmou Alberto Núñez Feijóo.

Apesar das dificuldades, Alberto Núñez Feijóo garantiu que não vai “renunciar” à ideia de que os “principais partidos nacionais dos espanhóis possam dar a mão para trabalhar para os interesses gerais do país”.

Sobre a conversa Pedro Sánchez, o líder do Partido Popular sinalizou que partilhou com o socialista a sua “análise” das eleições gerais de 23 de julho. Para Alberto Núñez Feijóo, o PP tem de desempenhar um papel “fundamental” na formação de um novo governo já que foi o partido mais votado e interpreta que os espanhóis querem um “governo estável”.

“O PP ganhou as eleições e o PSOE é a segunda força. Entendo que o partido que ganhou as eleições, como sempre, é um fator indispensável para a governabilidade de Espanha”, sustentou Alberto Núñez Feijóo. “Não deveria ser uma opção o facto de o PP e PSOE não comunicarem entre si, salvo se quiserem dar um carácter decisivo ao independentismo.”

Em relação aos partidos independentistas, que Alberto Núñez Feijóo reforçou que obtiveram cerca de 6% dos votos, o líder do Partido Popular lamentou que aquela percentagem possa “condicionar a governabilidade da 94% da população e decidir as políticas de Estado”. 

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Em consequência, Alberto Núñez Feijoo assinalou que há apenas “duas alternativas”: ou um governo entre as “forças constitucionalistas”, ou Espanha pode ficar à mercê de um “independentismo que pede a rutura da nação, que pede uma amnistia e que pede um referendo de independência”. “Temos uma obrigação histórica: proteger o Estado destas exigências”, sublinhou.

Alberto Núñez Feijóo lamentou ter “constatado” a “recusa” de Pedro Sánchez em aceitar o “pacto de Estado”: “Recebi um não”. “Ofereci um pacto de Estado, mas Sánchez quer fazer pactos com os independentistas”, prosseguiu o líder popular, atirando: “O senhor Sánchez prefere negociar amnistias, referendos e desigualdades financeiras entre as comunidades autónomas”.

“Não temos medo das eleições”, garantiu ainda, aludindo a possíveis eleições se o PSOE não conseguir formar governo com os partidos independentistas e isso poder originar a realização de um novo ato eleitoral.

No fim do discurso, Alberto Núñez Feijóo referiu que, apesar da recusa inicial, Pedro Sánchez tem tempo para “refletir” sobre que escolha é que tem de tomar. “Eu não vou chegar ao governo sem defender a igualdades do espanhóis”, vincou o líder do PP, acrescentando que quer travar a “deriva independentista”.

PSOE: “Com a oferta de dois anos, Feijóo está a pensar como salvar a própria pele”

Para reagir ao acordo e à reunião, Pedro Sánchez delegou as responsabilidades à porta-voz do PSOE, Pilar Alegría. A responsável partidária confirma que os socialistas recusaram a proposta do governo de dois anos. “Feijóo oferece-nos um pacto com Vox para derrotar o sanchismo. Com a sua oferta de dois anos, está a pensar como salvar a sua própria pele e não a estabilidade de Espanha.”

Num tom jocoso, Pilar Alegría lembrou que, durante toda a campanha eleitoral, Alberto Núñez Feijóo tentou “derrotar o sanchismo”, mas faltaram-lhe “dotes de persuasão”. “Sánchez foi à reunião e fomos com toda a normalidade e respeito. Tomamos a investidura muito a sério apesar de ser fracassada”, afirmou a porta-voz.

Para mais, a porta-voz foi bastante crítica com os apelos do PP a alguns setores do PSOE, tentando convencê-los de abster-se na investidura de Alberto Núñez Feijóo. “É intolerável. Peço respeito pelo PSOE”, contestou.

À porta fechada, no Congresso dos Deputados, Pedro Sánchez tentou igualmente chegar a acordo com o líder do PP relativamente à renovação do Conselho Geral do Poder Judicial, cuja liderança está numa situação indefinida desde o final de 2019. O secretário-geral do PSOE pediu a Alberto Núñez Feijóo que, independentemente de quem governar, os dois maiores partidos devem chegar a acordo para uma renovação do órgão judicial até 31 de dezembro de 2023.

Nos atuais cálculos para formar governo, o PP conta com os apoios do Vox, do UPN e da Coalición Canária para governar. Todas estas forças juntas conseguem 172 deputados, o insuficiente para a maioria (176). Por sua vez, o PSOE tem o apoio do Sumar e deverá conseguir reunir o respaldo dos independentistas Eh Bildu, ERC, PNV e BNG. Ainda assim, é insuficiente para formar maioria e Pedro Sánchez terá de negociar com o Junts per Catalunya, partido de Carles Puigdemont, que, em troca, pede uma amnistia relativamente à realização de um referendo ilegal em 2017 para a independência da Catalunha e ainda o início das negociações para um possível referendo para a região catalã se tornar independente.