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Os Estados Unidos deverão enviar para a Ucrânia, pela primeira vez, as controversas munições de urânio empobrecido. A informação consta de documentos oficiais consultados pela Reuters e foi confirmada à agência de notícias por dois oficiais norte-americanos.

Segundo a agência norte-americana, estas munições, que podem ser particularmente úteis para destruir tanques russos, serão parte de um novo pacote de ajuda militar que deverá ser anunciado já na próxima semana. Um dos oficiais, que falou sob condição de anonimato, indicou que o novo apoio deverá estar na ordem dos 240 milhões ou 375 milhões de dólares.

Um outro oficial revelou à Reuters que as munições podem ser disparadas a partir dos tanques de combate Abrams, prometidos há vários meses por Washington a Kiev. A mesma fonte adiantou que os tanques poderão mesmo chegar à Ucrânia nas próximas semanas.

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Confirmando-se o novo pacote militar, esta será a primeira vez que os EUA enviam munições de urânio empobrecido à Ucrânia. A notícia poderá gerar controvérsia, depois de Washington já ter fornecido bombas de fragmentação, cujo o uso é proibido em vários países devido aos riscos para a população civil.

O Reino Unido já enviou para a Ucrânia este tipo de munições, juntamente com os seus tanques Challenger 2, no início deste ano. Na altura a Rússia prometeu que a decisão iria “acabar mal” para Londres, com o governo britânico a insistir que se tratava de um componente “padrão”, inclusivamente usado nas munições britânicas há décadas, e que tinha um nível de radiação baixo.

Moscovo critica envio de munições com urânio empobrecido para a Ucrânia. O que são e para que servem?

O urânio empobrecido é um subproduto que resulta do urânio no seu estado natural, depois de passar por um processo de enriquecimento no isótopo U-235 para produzir combustível para certos tipos de reatores nucleares ou desenvolver armas nucleares.

O urânio empobrecido é um “metal pesado tóxico”, segundo define o Instituto das Nações Unidas para a Investigação sobre Armamento. “Possuiu as mesmas propriedades de toxicidade química do urânio natural, apesar de a toxicidade radioativa ser inferior“, explica o organismo.

As propriedades químicas e físicas do urânio tornam esta substância “muito adequada para fins militares”, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). A substância tem sido utilizada em munições desenvolvidas para penetrar blindagens, nomeadamente tanques. De notar que as munições que contêm urânio empobrecido explodem com o impacto, libertando óxido de urânio. A substância também pode ser usada para reforçar os veículos blindados, tornando-os “muito mais resistentes” à penetração de munições convencionais.

O uso de munições com esta substância tem sido alvo de vários debates. A Coligação Internacional para Banir Urânio sublinha que há vários perigos para a saúde, decorrentes da ingestão ou inalação de pó de urânio empobrecido, incluindo cancro e defeitos congénitos.

Os Estados Unidos utilizaram munições de urânio empobrecido em grandes quantidades nas Guerras do Golfo e no bombardeamento da NATO na antiga Jugoslávia. Estudos da AIEA aos efeitos destas substâncias na Jugoslávia, no Kuwait, no Iraque e no Líbano indicam que “a existência de resíduos urânio empobrecido dispersa no meio ambiente não representa um risco radioativa para a população das regiões afetadas“.

No entanto, o mesmo não se verifica nas situações em que são encontrados fragmentos ou munições completas de urânio empobrecido. Nestes casos “há risco de efeitos de radiação para indivíduos que entrarem em contacto direto com os fragmentos ou munições”.