Existem ou não extraterrestres? Esta é a pergunta na cabeça de muitas pessoas, mas a agência espacial norte-americana (NASA) ainda não tem resposta para isso. Esta quinta-feira a agência apresentou o relatório sobre Fenómenos Anómalos Não Identificados (UAP, na sigla em inglês), mas o foco era mais fazer recomendações do que uma revisão das observações não identificadas no passado — como pode ver no relatório (aqui).

A busca por vida alienígena continua, como garantiu o administrador da NASA, Bill Nelson — ou não fosse essa uma das principais missões da NASA. “Se me perguntarem se existe vida num universo tão extenso? Eu acredito que sim”, acrescentou durante a conferência de imprensa desta quinta-feira.

O relatório foi apresentado por uma equipa independente, composta por 16 especialistas dedicados ao estudo de OVNI e outros fenómenos aéreos anómalos que ainda não foi possível identificar. “A NASA encomendou este estudo para examinar os UAP de uma perspetiva científica e criar um roteiro sobre como usar os dados e as ferramentas da ciência para avançar nossa compreensão dos UAP.”

A NASA define os UAP (siga em inglês) como observações de eventos no céu que não podem ser identificados como aeronaves ou fenómenos naturais conhecidos do ponto de vista científico. Atualmente, há um número limitado de observações de alta qualidade de UAP, o que torna impossível tirar conclusões científicas sólidas sobre sua natureza”, refere o site da agência.

As principais conclusões do relatório foram apresentadas esta quinta-feira numa conferência de imprensa, que pode ser revista aqui.

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A agência espacial norte-americana decidiu criar este grupo independente de aconselhamento para o estudo dos UAP para que os especialistas pudessem fazer recomendações sobre como devem ser conduzidos os estudos. A ideia é que os métodos se tornem mais rigorosos e conclusões baseadas em evidências. Como referiu Bill Nelson: espera-se que a NASA e o grupo dos UAP possam transformar o “sensacionalismo em ciência”.

O administrador da NASA admitiu mesmo que é a primeira vez que a agência enceta uma atitude concreta para fazer um estudo rigoroso dos UAP. Bill Nelson garante ainda que os resultados serão divulgados de forma transparente — mesmo que se descubra algum UAP com origem numa forma de vida inteligente extraterrestre, tal como foi questionado por um jornalista. O que não foi divulgado foi o montante que será investido neste tipo de investigação, que está dependente do financiamento do governo norte-americano.

Para começar, a análise dos dados de UAP disponíveis (não classificados como secretos) pelo grupo de especialistas não identificou fenómenos que possam ser associados a uma origem extraterrestre. Ainda assim, Bill Nelson admitiu que também ainda não se sabe o que são, por isso a NASA decidiu criar uma unidade específica para o estudos UAP e até já nomeou um diretor. Dan Evans, vice-administrador da NASA, lembrou ainda que a NASA — Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço — também tem como missão garantir a segurança aeronáutica, daí a importância de perceber que fenómenos podem ser esses.

Um dos objetivos da NASA com o investimento nesta área é que se possa reduzir o estigma a que estão sujeitos, por exemplo, os pilotos que reportem o avistamento de um fenómeno que não possam explicar. Mas os últimos meses mostraram que ainda existe um longo trabalho por fazer. Durante o período em que o grupo dos UAP estiveram a preparar o relatório, tanto elementos da NASA como os membros do painel de especialistas foram alvo de assédio nas redes sociais e ameaças de violência. É para salvaguardar a segurança do novo diretor e para garantir que o processo científico se mantém livre que o nome não foi divulgado, disse Dan Evans.

David Spergel, coordenador do grupo dos UAP, aproveitou ainda para apelar, a todos os que o possam fazer — nomeadamente os pilotos, mas também os cidadãos —, que recolham dados da forma mais completa e rigorosa possível. O presidente da Fundação Simons diz que identificar fenómenos verdadeiramente anómalos é como encontrar uma agulha num palheiro. Para encontrar uma agulha num palheiro, ou se conhece bem a agulha que se procura — o que não é o caso nos UAP —, ou se conhece bem a palha do palheiro. Ou seja, é preciso conhecer muito bem o que é normal, saber como é que um balão ou uma aeronave se apresenta aos olhos em diferentes condições ambientais.

A NASA e outras agências europeias têm uma panóplia de telescópios espaciais (de olhos postos no universo) e de satélites a orbitar a Terra, mas, até agora, com pouca intervenção no estudo de fenómenos aéreos não identificáveis. Na verdade, os satélites que perscrutam a superfície da Terra têm pouca resolução para identificarem estes fenómenos aéreos de pequeno tamanho, mas ainda assim podem ser úteis no seu estudo. Como dizia David Spergel, é preciso conhecer muito bem o normal, conhecer as condições em que se observam os potenciais UAP e isso pode ser feito usando os dados recolhidos pelos satélites e que sejam coincidentes no tempo e espaço com a observação dos UAP.

O grupo de especialistas recomenda assim que se proceda a uma campanha de recolha de dados sistematizada, que haja uma curadoria robusta dos dados e informação recolhida e que se use técnicas de análise de dados sofisticadas, como a inteligência artificial.

“O estudo externo recomenda que a NASA use os recursos de acesso aberto, o amplo conhecimento tecnológico, as técnicas de análise de dados, as parcerias federais e comerciais e os equipamentos de observação da Terra para selecionar um melhor e mais robusto conjunto de dados para a compreensão de futuros UAP”, lê-se no comunicado de imprensa da agência. “A NASA também vai incentivar a comunicação por parte dos cidadãos, envolvendo o público e os pilotos comerciais, de forma a construir um conjunto de dados de UAP mais amplo e confiável, que se possa usar na identificação de futuros incidentes, bem como acabar com o estigma de estudar UAP.”

Última atualização às 16h55