Houve mais trocas do que é normal entre jogadores que habitualmente faziam parte das opções iniciais, nem por isso o Manchester City pareceu sair abalado ou enfraquecido disso mesmo. Aliás, até depois de perder o capitão Kevin de Bruyne por uma lesão relativamente longa, parecia que nada nem ninguém conseguia bater o pé ao campeão europeu e inglês cada vez a jogar de forma mais atrativa, mais ofensiva e mais dominadora com a reinvenção em termos de posições de nomes como John Stones ou Julian Álvarez. A seguir, vieram as dúvidas. Com a eliminação da Taça da Liga frente ao Newcastle, com a primeira derrota na Premier com o Wolverhampton, com mais um desaire na deslocação ao Emirates para defrontar o Arsenal que valeu ainda a perda da liderança. Poderia a equipa mexer com esse momento? Mexeu mas de uma forma positiva.

Haaland marca, Bernardo assiste, Guardiola tem razão: City vence United em Old Trafford

O triunfo diante do Brighton no Etihad Stadium serenou os ânimos, a vitória na Suíça frente ao Young Boys permitiu um passo gigante no apuramento para os oitavos da Champions, o dérbi de Manchester em Old Trafford foi a derradeira confirmação de que o mau momento estava ultrapassado. Ganhar nesta altura ao United não é propriamente o maior feito mas a maneira como a equipa passeou classe num triunfo que podia ter outros números no final deixou Pep Guardiola rendido. À equipa, aos jogadores e, mais uma vez, ao seu “menino querido” Bernardo Silva, internacional português que foi a chave para desequilibrar o duelo ao ser colocado mais descaído sobre a esquerda numa jogada de mestre de sucesso do técnico espanhol.

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“Até podia dizer o quão bom ele é, mas passaria aqui dez minutos a falar do que ele significa para mim e para esta equipa. Estamos encantados com ele. Não tem grandes carros, nem tatuagens nem se veste de forma aparatosa. É humilde e todos o adoram. Tínhamos medo de perdê-lo pois é insubstituível”, tinha referido na zona de entrevistas rápidas. “Olhem para ele, sem brincos, sem tatuagens, a conduzir um carro normal… É um jogador incrível. Não me lembro de uma má exibição em Old Trafford, onde até já jogou como falso ‘9’. Tem a capacidade de segurar a bola no ataque. Todos o adoram e fez uma prestação fenomenal. É um dos melhores jogadores que já vi na minha vida. Tive a sorte de treinar grandes jogadores e este é um deles. Um dos melhores, pela sua inteligência e por ser uma excelente pessoa”, acrescentou depois.

Pep Guardiola continua rendido a Bernardo: “Sem brincos, sem tatuagens, um carro normal, tão inteligente… Dos melhores que já vi na vida”

Ao contrário de outros jogadores com características e personalidades diferentes, Bernardo Silva, hoje com 29 anos, é daqueles elementos que se impõe de forma natural. Todos percebem a “paixão” que o treinador tem por ele, todos têm a mesma ligação com ele. Todos reconhecem como importante para a equipa porque todos sabem que o que faz pela equipa. Depois, é alguém fácil de gostar. Simpático, bem formado, humilde, ciente de tudo o que tem a fazer sem melindrar ninguém com o que faça. Se repararmos em todas as ações que as redes sociais do City vão fazendo (a última ligada ao Halloween), lá está ele com o amigo Rúben Dias, percebendo que também faz parte do “trabalho”. Numa época em que esteve próximo de sair para o Barça, este é o tempo do esquerdino português, que terminou em nono na eleição da Bola de Ouro e voltou a mostrar como é capaz de soltar todos os génios da equipa sem deixar de ser ele próprio um génio na equipa.

A versatilidade do jogador formado no Benfica voltou a ficar bem patente nas opções iniciais de Guardiola, desta vez a colocar o esquerdino na direita como falso ala a jogar muitas vezes por dentro para as subidas de Kyle Walker para ter aberto na esquerda Jérémy Doku. Mais uma vez, o internacional belga mostrou o bom momento que atravessa, sendo sempre o principal desequilibrador de um encontro com sentido único que teve uma primeira ameaça de Bernardo Silva no quarto de hora inicial, num remate de pé esquerdo de fora da área após canto que saiu por cima. Pouco depois, em mais uma jogada iniciada no português, Álvarez cruzou largo ao segundo poste mas o desvio de cabeça de Haaland acertou no poste (21′). E ainda houve mais um remate de Bernardo Silva de fora da área que passou a rasar o ferro (28′). O golo era “inevitável”.

Os motores do “rolo compressor” estavam ligados, a partir daí foi só começar a contar: Doku inaugurou o marcador na sequência de uma combinação 2×1 na área antes do remate no meio de tantas pernas da defesa contrária (30′), Bernardo Silva aumentou a vantagem após uma assistência de Doku que valeu um remate cruzado sem hipóteses (33′) e Akanji marcou de forma inadvertida o 3-0, desviando com as costas um tiro de Doku que iria passar ao lado mas que sem querer ganhou o caminho da baliza (37′). O génio de Doku tinha saído da lâmpada, mais uma vez porque o génio omnipresente de Guardiola permite que todos os outros ganhem espaço natural para brilharem. Dava para tudo, até para tirar Haaland ao intervalo, e a segunda parte limitou-se a confirmar o domínio dos citizens depois de um remate ao poste de Solanke com Phil Foden a ampliar para 4-0 depois de mais uma assistência de Doku (64′) antes da entrada de Matheus Nunes. Sinisterra reduziu aos 74′ mas ainda havia margem para novo momento de génio de Bernardo, a bisar num lance de classe após novo passe de Doku (83′), e o 6-1 final do defesa Nathan Aké (87′).