Carlos César não está disponível para assumir as funções de primeiro-ministro de forma mais ou menos provisória. O Observador sabe que o presidente do PS já fez saber que não entra nessa equação, caso o Presidente da República não dissolva já a Assembleia da República partindo para eleições antecipadas. Segundo fonte do partido, a “solução consensual” no PS é o nome de Augusto Santos Silva e é isso que o partido apresentará a Marcelo se for chamado a fazê-lo nos próximos dias. Se Marcelo Rebelo de Sousa quiser eleições já, então os socialistas querem tempo.

O PS será ouvido na tarde desta terça-feira, ao final do dia, pelo Presidente da República e já tem algumas linhas definidas, contando com todos os cenários que está a colocar numa perspetiva “académica mas também real” — os socialistas acreditam que o Presidente pode não querer eleições já, tal como o Observador escreveu ontem, devido aos riscos de instabilidade e à interrupção do processo orçamental em curso. E é nessa perspetiva que entra o nome do atual presidente da Assembleia da República, sobre o qual não foram levantados problemas por parte das várias sensibilidades ouvidas pela direção socialista nas últimas horas, incluindo a de Pedro Nuno Santos, o candidato à sucessão de Costa mais previsível, segundo apurou o Observador.

PS em estado de choque faz contas para tentar escapar a eleições antecipadas

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PS quer candidato a primeiro-ministro escolhido em primárias e precisa de tempo

Se Marcelo não quiser mesmo dissolver já o Parlamento e avançar para eleições, o Governo provisório pode ser mais curto — e António Costa ainda assegurar o período de gestão — ou mais prolongado no tempo e haver alguém que o substitua — e é aqui que entra Santos Silva, já que Carlos César mantém a posição de não voltar a cargos executivos. Recorde-se que a Constituição determina que a nomeação do primeiro-ministro cabe ao Presidente da República “ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais”.

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Por agora o PS aguarda a decisão do Presidente da República, garantindo que está preparado para qualquer cenário: eleições já ou eleições só mais à frente. Mas se a solução for a última, vai querer que o intervalo de tempo seja suficientemente longo para preparar a sucessão de Costa no partido.

O PS descarta por completo conseguir ter um novo líder pronto para eleições já no final de janeiro — o calendário possível para as legislativas antecipadas, caso Marcelo dissolva o Parlamento no prazo mais curto. No topo do partido não se vê, aliás, necessidade de antecipar o congresso, que está marcado para os dias 15, 16 e 17 de março, apontando-se o mês de abril como hipótese mais provável para realizar legislativas.

Ou seja, esta tarde os socialistas vão preparados para pedir ao Presidente que o seu tempo de decisão interna seja “respeitado”, caso a opção seja convocar eleições, ouviu o Observador de fonte do PS. E isto porque a intenção socialista é, para já, repetir o que aconteceu em 2014 e promover eleições primárias, abertas a simpatizantes, para escolher o candidato a primeiro-ministro do partido nas próximas legislativas.

O processo que opôs António Costa a António José Seguro e que envolveu primárias foi decidido no final de maio e as eleições abertas a simpatizantes realizaram-se apenas em setembro, mais de três meses depois. Nessa altura o Governo PSD-CDS estava em funções, com o mandato a terminar apenas daí a um ano.