Um ataque de um homem com recurso a uma faca na cidade de Dublin, na Irlanda, esta quinta-feira, provocou ferimentos em várias pessoas, incluindo pelo menos três crianças. Um dos menores ficou ferido com gravidade. O principal suspeito está hospitalizado, avança o The Irish Times. O motivo do ataque, que ocorreu perto de uma escola na Parnell Square East, ainda não foi apurado, embora a polícia irlandesa num primeiro momento tenha descartado a possibilidade de terrorismo, por estar a seguir uma “linha de investigação concreta”.

Mas na manhã desta sexta-feira, em conferência de imprensa, depois de uma noite de violentas manifestações, a polícia não afasta totalmente essa hipótese. “A investigação sobre o que motivou a situação original ainda está a decorrer, e como este ainda não é claro não me vou envolver em especulações”, afirmou o comissário Drew Harris.

O responsável pela Garda (polícia irlandesa) informou também que na sequência dos protestos que se seguiram ao ataque, foram feitas 34 detenções e que 32 pessoas serão presentes a um tribunal na manhã desta sexta-feira. Quanto aos danos materiais provocados o comissário listou 13 lojas pilhadas ou com estragos significativos, 11 veículos policiais inutilizados, 3 autocarros queimados e um elétrico destruído.

Questionado sobre a resposta policial, Harris defendeu a abordagem utilizada. “Não podíamos antecipar que a situação se iria agravar desta maneira. Isto pode ser comportamento noutros países mas penso que [começamos a ver, na Irlanda] um elemento de radicalização”. Foram “cenas que não víamos há décadas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

[Já saiu: pode ouvir aqui o terceiro episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui e o segundo episódio aqui.]

Também o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, que já durante a noite tinha reagido, afirmou em conferência de imprensa na manhã desta sexta-feira que houve dois terríveis ataques: um contra crianças inocentes, outro contra o Estado de Direito. “Nós não somos assim, nós nunca seremos assim”, declarou.

O chefe de executivo reiterou a confiança no atual comissário da polícia e nas forças de segurança, defendendo a resposta policial como adequada ao evoluir das circunstância, e recusou que a falta de recursos humanos e equipamento tenha prejudicado a reação da Garda. Embora admitindo que irá haver um inquérito à resposta aos acontecimentos de quinta-feira à noite, sublinha: “Nos próximos dias e nas próximas semanas temos de apoiar a 100%” as autoridades.

Varkdar apontou duras críticas aos participantes nos protestos, cuja conduta violenta “envergonhou Dublin, envergonhou a Irlanda, envergonhou-os a eles e às suas famílias” e “não resulta de qualquer sentimento patriótico” mas do gosto “por ódio, violência e caos”.

A sua primeira reação ao ataque a uma criança de cinco anos foi queimar a nossa cidade, atacar os seus comerciantes e agredir os nossos polícias.  Devido às suas ações, autocarros e elétricos foram incendiados, transeuntes foram intimidados e mulheres grávidas na maternidade de Rotunda sentiram-se em risco. Estas pessoas dizem estar a defender os irlandeses, mas colocam os mais novos, mais vulneráveis e mais inocentes em perigo”.

O líder do executivo irlandês explicou que as forças de segurança estão conscientes de que possa haver uma recorrência do sucedido e que havia protestos a ser organizados ao momento. Declarou em seguida que irá propor uma revisão das leis de monitorização digital e de incitação ao ódio para as atualizar “para a era das redes sociais.”

Em resposta a um jornalista, o primeiro-ministro confirmou que o suspeito tinha intenção homicida e que a polícia já estava em casa do homem a investigar o computador e o telemóvel em busca da motivação para o crime.

O ataque que levou aos violentos protestos

Fonte oficial das autoridades no local informou na quinta-feira que o “grave incidente de ordem pública” ocorreu pouco depois das 13h30 e que cinco feridos foram levados para hospitais da região de Dublin. “Os feridos incluem um homem adulto, uma mulher adulta e três crianças pequenas”, lê-se no comunicado lançado. “Uma criança, uma rapariga, sofreu ferimentos graves e as outras duas crianças estão a ser tratadas devido a ferimentos menos graves”, acrescentou-se ainda.

O chefe da polícia local, Liam Geraghty, confirmou, de acordo com a BBC, que a criança ferida com gravidade tem cinco anos, enquanto os outros dois menores são uma rapariga, de seis anos, e um rapaz de cinco anos. A polícia irlandesa assegura que tem estado em contacto com os pais dos três feridos. Já a mulher, também hospitalizada, ronda os 30 anos e, segundo o The Irish Times, é funcionária da escola. O adulto transportado para o hospital é um homem perto dos 50 anos e é o suspeito de perpetuar o ataque.

Num primeiro momento, ainda na quinta-feira, a polícia irlandesa descartou a possibilidade de se tratar de um ataque terrorista. “Não há qualquer atividade relacionada com o terrorismo”, defendeu Geraghty, que acredita que este parece ser um “ataque isolado”. A polícia confirmou igualmente não procurar “mais ninguém”.

O ataque motivou uma série de protestos que se tornaram violentos. A rua O’Connell, perto do local do crime, tem sido palco de confrontos entre a polícia e manifestantes, com estes a gritarem slogans anti-imigração. “Um autocarro e um carro estão em chamas no final da O’Connell Street e o trânsito está parado. Uma grande multidão juntou-se ao pé do monumento de O’Connell, tendo sido lançado algum fogo de artifício”, avança uma repórter do jornal irlandês. Elementos da Unidade de Ordem Pública foram enviados para o local e, pelo menos, um polícia ficou ferido, na sequência de agressões — as autoridades foram alvo de projéteis lançados por uma multidão que também foi hostil aos media.

O comissário Drew Harris descreve o grupo como uma “fação completamente lunática movida pela ideologia de extrema-direita”. “Penso que há cenas vergonhosas em termos de uma investigação importante, da manutenção de uma cena e da recolha de provas”, afirmou à comunicação social.

“Temos uma fação de hooligans completamente lunáticos, movidos por uma ideologia de extrema-direita, e também esta tendência perturbadora envolvida com violência grave”, continua Harris.”Estamos a mobilizar recursos para fazer face a essa situação, que será tratada de forma adequada. Dei todas as orientações aos nossos recursos no que diz respeito a efetuar detenções e levar os infractores à justiça”.

De acordo com testemunhas oculares, o atacante tentou atacar vários jovens, incluindo crianças, mas quem passava na rua conseguiu desarmá-lo e impedi-lo de prosseguir com as suas intenções.

Siobhan Kearney foi uma das pessoas que viu a cena, que descreveu como “absolutamente desordenada”. “Sem pensar, atravessei a rua para ajudar”, declarou. Segundo Kearney, o agressor estava a ser pontapeado pelo grupo que o conseguiu apanhar. “Algumas pessoas estavam a atacar e eu e uma rapariga americana formámos um círculo à volta do culpado, para que a Garda pudesse tratar dele a seu tempo”, cita a imprensa irlandesa.

O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, reagiu na noite de quinta-feira à noite ao ataque e dizendo-se chocado com o incidente. “Os nossos pensamentos e as nossas orações vão para elas e para as suas famílias”, afirmou na rede social X.

O líder do Governo confirma que um suspeito foi detido pela polícia, que está a seguir uma “linha de investigação definida”. Agradeceu também aos serviços de emergência por terem respondido “em poucos minutos”.