A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) alertou, esta segunda-feira, que o futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS) “está comprometido”, caso não se consiga inverter a falta de atratividade desta especialidade que “sustenta os hospitais”.

O alerta dos especialistas surge no âmbito do Mês da Medicina Interna (dezembro) que visa destacar a importância desta especialidade e dos internistas no setor da saúde, em particular no Serviço Nacional de Saúde.

“Iniciamos o Mês da Medicina Interna com a notícia de que no concurso para a escolha das especialidades, sem qualquer surpresa, ficaram vagas por preencher e a Medicina Interna foi a especialidade hospitalar com mais vagas não ocupadas“, lamenta a presidente da SPMI, Lelita Santos.

Lelita Santos defende que, “sendo a Medicina Interna a especialidade que sustenta os hospitais e, por sua vez, fulcral no SNS, é necessário que todos, sobretudo os decisores políticos, façam a devida reflexão”.

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“É preciso perceber porque é que esta especialidade parece já não ser atrativa, pois o futuro do SNS está comprometido se não se inverter esta situação”, alerta.

A SPMI refere que se vivem “tempos difíceis” para a saúde em Portugal, em particular para os portugueses que precisam de cuidados de saúde, sublinhando que “o SNS parece estar a desmoronar-se” e a cada dia que passa se descobrem “novas complicações e descontentamentos, todos com uma base concreta”.

Para Lelita Santos, o trabalho dos internistas nas urgências é “um claro motivo para o desânimo por esta especialidade”: “Não porque não queiram trabalhar nos serviços de urgência, mas porque estes serviços estão desorganizados”, apontando o excesso de doentes nas urgências “por falta de apoios na comunidade e nas instituições”.

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No seu entender, muitas destas idas à urgência poderiam ser evitadas com “equipas de saúde suficientes, que pudessem dar apoio no domicílio, ou o acesso fácil a médico nas instituições com doentes ou idosos com multimorbilidades ao seu cuidado”.

Defende também que a organização de “um melhor acesso aos cuidados primários poderia evitar as idas à urgência de doentes com descompensações das suas doenças crónicas ou dos que não têm sequer médico de família”.

Nas urgências, defende, os internistas devem dedicar-se às tarefas que lhes competem, da avaliação e tratamento do doente complexo com condições clínicas de urgência ou emergência.

Para a SPMI é necessário “um maior investimento” nos cuidados de saúde primários, criando mais Unidades de Saúde Familiares e reduzindo a população sem médico de família, e nos hospitais, “garantindo médicos qualificados e em número adequado, bem como os outros profissionais de saúde”.

“É importante alterar o modelo de financiamento dos hospitais e permitir mais autonomia para contratações e aquisição de equipamentos, e haver entidades que avaliem resultados e validem opções”, salienta.

Defende ainda que os internistas e os internos desta especialidade têm de ser valorizados através de “medidas justas” que podem passar por incentivos e por salários adequados.

Têm também de se sentir acolhidos em serviços que tenham condições para desenvolver trabalho em equipa, com tempos para formação, discussões clínicas, investigação e em que consigam conciliar a vida profissional com a vida familiar e social.

“A organização é importante e devem ser dadas condições aos serviços para se conseguirem organizar internamente com equipas sólidas, sem dispersão de tarefas, com recursos médicos suficientes e equipamento adequado”, defende a SPMI.