J. Michael Evans, presidente da Alibaba, deixou o conselho de administração da Farfetch, uma decisão que teve efeitos imediatos. A informação consta de uma comunicação feita pela empresa de José Neves à SEC, o regulador do mercado de capitais dos EUA.

Evans estava no conselho da plataforma de comércio eletrónico de luxo devido à ligação comercial entre a Farfetch e a Alibaba – em 2020, a empresa chinesa juntou-se à Richemont para investirem na companhia luso-britânica e abrir caminho à expansão da Farfetch no mercado chinês.

Na nota à SEC, a Farfetch dá conta da saída, mas não apresenta motivos para o afastamento. Explica, no entanto, que Evans apresentou a demissão do cargo a 30 de novembro. Dois dias antes, o jornal britânico Telegraph avançou que José Neves estaria a ponderar retirar a Farfetch da bolsa de Nova Iorque.

Farfetch estará a estudar saída da bolsa. Dona da Cartier pondera rever acordo que tem com a empresa

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A demissão do senhor Evans do conselho de administração não foi resultado de qualquer desacordo com a companhia ou com as suas operações, políticas ou práticas”, faz questão de explicar a companhia. “Ele sai com um agradecimento sincero a todos aqueles que contribuíram para o ‘board’ e para a companhia (…)”.

Evans é presidente da Alibaba desde agosto de 2015 e integrava o conselho de administração da Farfetch desde o final de 2020. O acordo de investimento conjunto da Alibaba e da Richemont foi anunciado em novembro desse ano e já na altura foi explicado que a tecnológica chinesa nomearia um executivo para o ‘board’.

Foi devido ao investimento feito no fim de 2020 que a Farfetch ganhou, meses mais tarde, uma loja no T-Mall, o portal de compras da Alibaba, alcançando mais consumidores na China. Embora os Estados Unidos sejam o principal mercado da empresa de José Neves, a China foi conquistando relevância na estratégia da Farfetch.

Farfetch lança uma nova loja digital com o grupo chinês Alibaba

A empresa continua em silêncio em relação aos rumores sobre a saída de bolsa. Esta semana, o site Business of Fashion avançou que a empresa estaria à procura de um “cavaleiro branco” para evitar uma situação de colapso e até que estaria a explorar a hipótese de venda de áreas de negócio, como a New Guards Group. Em 2019, a Farfetch comprou a empresa que controla marcas como a Off White ou a Palm Angels por 675 milhões de dólares.

Silêncio da Farfetch sobre possível saída de bolsa e divulgação de resultados leva analistas a antecipar más notícias

Na semana passada, a Farfetch cancelou a apresentação de resultados do terceiro trimestre. Nas contas mais recentes, conhecidas em agosto, foi não só revelado um prejuízo de 281 milhões de dólares como também uma liquidez financeira frágil face aos elevados custos da companhia.

No fim de junho, a liquidez da empresa, entre dinheiro e equivalentes, era de 453,8 milhões de dólares, de acordo com o relatório e contas da companhia. “Durante os seis meses terminados a 30 de junho de 2023, o dinheiro e equivalentes diminuiu 287,2 milhões em comparação com a diminuição de 788,1 milhões” durante o primeiro semestre do ano anterior.

Farfetch enfrenta ação coletiva nos EUA. Advogados alegam que “afirmações enganadoras” iludiram investidores

A empresa explicou que “esta diminuição na saída do fluxo de caixa foi impulsionada primariamente pelas iniciativas de redução de custos”, enumerando questões como “uma redução geral da atividade de investimento”. A Farfetch tem um passivo de 2,8 mil milhões de dólares, sendo 969 milhões de dólares de curto prazo.