O líder da Iniciativa Liberal clarificou esta segunda-feira à tarde a posição face ao Chega e às eventuais moções de rejeição de um governo de esquerda. No debate das rádios, o líder do Livre considerou a sua resposta pouco clara. Horas depois, em Sines, Rui Rocha explicou: “A Iniciativa Liberal avaliará as condições de avançar, se for o caso, com a sua própria moção. Relativamente às de todos os outros partidos, analisaremos os fundamentos. Se nos parecerem razoáveis, cá estaremos para apreciar. Se não parecerem razoáveis, também estaremos cá tomar a posição devida”.

Ou seja, no limite não é já rejeitada a hipótese de ser viabilizada uma moção de rejeição apresentada pelo Chega, caso o PS vença as eleições e apresente uma coligação governamental com PCP, BE e Livre.

Perante a insistência dos jornalistas, recusou admitir cenários que supõem que Montenegro venha a fazer o contrário do que diz em relação ao Chega: “Foi claro, a partir de certa altura”. E demarcou novamente a IL do partido de André Ventura: “Tem a ver com questões fundamentais, de dignidade humana, e com uma visão do Estado, da sociedade e da economia completamente diferentes. Como é que posso ter algum entendimento com um partido profundamente estatista, com medidas que nem a esquerda moderada defende? Um partido que defende a greve dos polícias”. Voltou assim a sustentar a frase dita no debate das rádios: “Connosco o não foi sempre não e não há silêncios”.

Não quis comentar a participação de Passos Coelho na campanha da AD e recusou-se a avançar alternativas à privatização da Caixa Geral de Depósitos para financiar a reforma da Segurança Social, mesmo já tendo o PSD eliminado essa hipótese. “Não nos cabe fazer substituição de alternativas. (…) É a outra parte que tem de sugerir alternativas. Cabe-me apresentar as propostas da IL”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Questionado sobre se a privatização da CGD ficou fora dos dez pontos que propôs ao PSD para negociar uma coligação de forma a evitar radicalizar posições e se a reforma da segurança social seria uma linha vermelha para um eventual entendimento entre a AD e a IL, Rui Rocha não dramatizou: “Não vamos entrar agora nessa discussão dessas linhas”.

Na Argentina é difícil fazer pior, mas os exemplos são outros

No dia em que a Iniciativa Liberal apresentou um cartaz a responder ao do BE (Fazer o que nunca foi feito vs Fazer o que já foi feito em países liberais”), Rui Rocha recusou, em resposta à Rádio Observador, incluir a Argentina de Milei nos exemplos: “Nos exemplos liberais estamos a referir inspiração de Irlanda, Alemanha e Holanda.”

Sobre a Argentina de Milei, muito elogiada por exemplo pelo candidato presidencial da IL Tiago Mayan Gonçalves, Rui Rocha foi mais contido: “A Argentina foi várias décadas país socialista. Sofre as consequências de governação errada, que tem consequências sobre a vida dos argentinos. Depois de tudo o que aconteceu na Argentina com políticas erradas, não é difícil fazer melhor”.

A luta difícil para reeleger a deputada de Setúbal e o espaço de Carla Castro

A única ação de campanha da Iniciativa Liberal depois do debate das rádios foi levar o autocarro azul com a comitiva a uma reunião com um administrador do Porto de Sines, numa sala fechada aos jornalistas. Cá fora, o administrador recusou acrescentar declarações às de Rui Rocha, dizendo apenas que foi até agora o único pedido de um partido para visitar as instalações.

O líder da IL explicou que o Porto de Sines tem relevância estratégica no desenvolvimento do país: “Tratando-se de um porto público tem a funcionar um conjunto de concessões onde os privados asseguram a exploração e é um modelo de PPP que funciona bem, no sentido de trazer riqueza à região e ao país.”

Também estiveram presentes o líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, e os dois primeiros candidatos da IL pelo distrito de Setúbal, a deputada Joana Cordeiro e o assessor parlamentar Jorge Miguel Teixeira. O objetivo é a reeleição de uma deputada pelo distrito, que tem sete mulheres como cabeças-de-lista dos outros partidos. “Espero que não se ande a escolher mulheres como cabeças-de-lista para apelar às mulheres. Têm o seu mérito próprio e isso é positivo”, salvaguarda o candidato..

Na mesma linha, Joana Cordeiro recusa que venha a assumir o protagonismo feminino na IL, ocupando o espaço deixado pela ex-candidata à liderança Carla Castro: “Não há questão de ocupar espaço de ninguém. A questão de representação feminina ou masculina, independentemente de o deputado ser homem ou mulher, todos defendemos ideias”, disse ao Observador.

Uma das principais batalhas em Setúbal trava-se na área da saúde. Joana Cordeiro destaca a importância das propostas da IL, com o envolvimento de privados e do setor social para tentar resolver o facto de o Hospital do Barreiro e o de Almada funcionarem em rotatividade e de o Garcia de Orta não ter urgência obstétrica ao fim de semana.

O número 2, Jorge Miguel Teixeira, mostra-se confiante: “Se dissesse há dez anos que um partido liberal iria eleger um deputado por Setúbal ninguém acreditaria. Temos um grande potencial de crescimento”. Mas não se atravessa com a sua própria eleição já a 10 de março: “O segundo deputado poderá chegar, mas dizer quando isso poderá acontecer não é realista”.