Cinquenta e sete anos de prisão. É essa a pena que Diogo Santos Coelho pode enfrentar se for extraditado para os Estados Unidos (EUA). E esse é o cenário cada vez mais provável. O ministro de Estado para a Segurança do Reino Unido, Tom Tugendhat, decidiu, sem ouvir os argumentos apresentados pela defesa, dar preferência ao pedido de extradição do hacker português para o outro lado do Atlântico, em vez de para Portugal, avança a CNN Portugal.

Segundo o mesmo jornal, o ministro britânico contrariou a decisão de um juiz que, após ter avaliado o pedido de transferência de Diogo Santos Coelho para Lisboa, feito no início de fevereiro, chegou a decretar a sua extradição para Portugal. Contudo, visto que havia um outro pedido dos EUA, o Ministério Público britânico decidiu que o caso teria de ser enviado para o ministro, este sim com autoridade para tomar uma decisão final sobre a extradição.

Hacker detido no Reino Unido quer ser extraditado para Portugal e não para EUA

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Assim que recebeu o processo, Tom Tugendhat recusou ouvir qualquer argumento apresentado pela defesa do jovem, de 24 anos, decidindo dar prioridade ao pedido de extradição feito pelo país onde o hacker é acusado dos crimes de conspiração, fraude no acesso a dispositivos e roubo de identidade agravado.

Agora, a defesa de Diogo Santos Coelho terá três meses para recorrer da decisão para o tribunal superior britânico (High Court of Justice). De acordo com o mesmo jornal, a decisão do juiz fica automaticamente suspensa, se for apresentado recurso.

O Observador contactou o advogado português do hacker, João Medeiros, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.

Diogo Santos Coelho foi preso há dois anos no Reino Unido, por suspeitas de ter criado a RaidForums, uma plataforma onde eram transacionadas grandes quantidades de dados roubados online, nomeadamente número de cartão de crédito, de contas bancárias e senhas de acesso. Em troca, recebia pagamentos em criptomoedas.

Um dos casos, segundo o mesmo canal, foi o da gigante de telecomunicações T-Mobile, que viu os dados de 50 milhões de utilizadores serem roubados e divulgados no tal fórum. A empresa terá pagado 252 mil euros em Bitcoins para reaver toda a informação.

A justiça britânica já tinha aceitado, no verão passado, o pedido de extradição para os EUA, mas a defesa de Diogo Santos Coelho recorreu, alegando que o hacker tinha sido diagnosticado com autismo e que corria risco de suicídio caso fosse enviado para uma prisão norte-americana.

“Muitas vezes fico acordado toda a noite a pensar: ‘O que me aconteceria se fosse para a América? E se eu cumprir uma longa pena e sair de lá um velhote?’ Não terei quaisquer perspetivas. Faz-me pensar qual é o sentido de viver quando não vou ter nenhuma vida na prisão ou se conseguir cumprir a pena e sair. Não vejo uma vida a ir para a América – seria uma perda de tempo tentar”, disse o jovem ao jornal britânico TheGuardian.