Luís Montenegro vai iniciar um périplo de visita a líderes europeus já na próxima semana. Antes da reunião do Conselho Europeu — que decorre a 17 e 18 de abril e onde vai estar com mais 26 chefes de Estado de Governo — o primeiro-ministro vai a Madrid encontrar-se já na segunda-feira, 15, com o homólogo socialista Pedro Sánchez. Ao que o Observador apurou a diplomacia portuguesa chegou a planear um encontro com Emmanuel Macron, em Paris, já na próxima semana, mas como a agenda é apertada a ida ao Eliseu está agora prevista para maio.

A agenda internacional prevista para a próxima semana era tão intensa, que o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, sugeriu abdicar no debate preparatório do Conselho Europeu na próxima semana, o que caiu mal junto do PS. Os socialistas, através do vice-presidente da AR Marcos Perestrello, lembraram de imediato na conferência de líderes que “a agenda do primeiro ministro não pode esquecer as obrigações parlamentares” às quais “deve ser dada prioridade”.

A visita a Espanha é simbólica porque estabelece o país vizinho como uma das prioridades da política externa portuguesa. Montenegro não vai tão longe como Sócrates, que chegou a assumir como desígnio “Espanha, Espanha, Espanha”, mas quer dar um sinal político.

O ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Rangel — que em novembro, nas Cibelles, em Madrid, fez o célebre discurso do “España no te mates!” (contra o facto de Sánchez fazer um acordo com independentistas) — já fez questão de lembrar, agora como ministro dos Negócios Estrangeiros, que Espanha é um parceiro privilegiado.

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À saída da reunião da NATO, no dia 4, Paulo Rangel revelou que teve uma reunião com José Manuel Albares, o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, e antecipava que estavam a “preparar aquela que será em princípio a primeira deslocação externa do primeiro-ministro, que será justamente a Madrid”. A deslocação à Moncloa já está agora confirmada para a tarde segunda-feira, às 17h00 de Espanha (16h00 em Portugal).

O governo espanhol já informou que na agenda dos encontros de Sánchez com os líderes europeus na próxima semana estará a “preocupação pela situação de Gaza e a necessidade de impulsionar o reconhecimento da Palestina como Estado”. Já esta terça-feira, no Fórum La Toja, Rangel definiu como prioridades das relações entre Portugal e Espanha as “alterações climáticas, a água e energia”, lembrando que “estão na frente da agenda da transição ecológica e que “marcarão o compasso da saga europeia e da relação bilateral” entre os dois países.

A reação de Sánchez, quase um mês depois de Feijóo

Pedro Sánchez felicitou Luís Montenegro pela formação de Governo dois dias depois da tomada de posse, lembrando que “Portugal é um país irmão a que nos unem profundos laços históricos de cooperação e amizade. Continuaremos a trabalhar juntos como parceiros estratégicos e aliados”. Nessa mesma publicação, o presidente do governo espanhol escreveu em português: “Parabéns e boa sorte.”

A reação do socialista Sánchez — amigo e companheiro de batalhas de António Costa — foi cautelosa e apenas ocorreu após o governo tomar posse. O primeiro-ministro espanhol gravou, aliás, um vídeo de apoio Pedro Nuno Santos na campanha eleitoral e, no congresso dos socialistas europeus, prometeu ajudar o sucessor de Costa a vencer as legislativas em Portugal.

Neste contexto, na noite eleitoral, apenas o líder do PP espanhol (da família política do PSD), Alberto Feijóo tinha felicitado Montenegro:  “Alegra-me ver que os nossos irmãos portugueses escolheram o único projeto credível para a mudança em Portugal”, escreveu no X (antigo Twitter). O PP espanhol tem, aliás, excelentes relações com o PSD.  Esteban González Pons, amigo e companheiro de várias lutas de Rangel na Europa, é próximo de Feijóo.

A ida de Montenegro a França também é simbólica tendo em conta as estreitas relações com o país e o facto de ser um país onde Portugal tem vários portugueses emigrante e luso-descendentes. Outra das prioridades diplomáticas de Luís Montenegro é a Ucrânia, tendo falado do apoio a Kiev no seu discurso de posse. No dia seguinte, Volodymyr Zelensky agradeceu e elogiou o primeiro-ministro pelo apoio. Logo no primeiro Conselho de Ministros do novo governo, o ministro da Presidência foi questionado sobre uma deslocação de Montenegro à Ucrânia, mas optou por não responder à pergunta de forma direta.