Tânger Corrêa tem um plano com “amigos americanos” para aplicar em Portugal quando André Ventura chegar a primeiro-ministro. Tem como objetivo final a sustentabilidade económica do país e está pensado há anos. Mas o plano, que foi destapado num jantar comício perante militantes e jornalistas, é, afinal, secreto e os amigos não são assim tão amigos. E nem o presidente do Chega conhece o plano — ainda que para si o segredo possa ser desvendado.

O cabeça de lista do Chega às eleições europeias subiu ao palco para encerrar os discursos do segundo jantar-comício do partido em período de campanha eleitoral. Foi o primeiro em que participou — à hora do primeiro estava num debate televisivo a oito — e as expectativas eram elevadas. Começou por escolher uma piada sobre si próprio para aquecer o ambiente e agradeceu a André Ventura a escolha para número um da lista — uma decisão que apelidou de “irrefletida” e “sujeita a comentários depreciativos”.

E seguiu para criticar a “impreparação” dos adversários, o facto de “não perceberem nada de relações internacionais” e de “nunca os ter visto, ao longo de 40 e muitos anos de carreira, a negociar um tratado internacional, a representar Portugal e os portugueses, a fazer alguma coisa por Portugal e os portugueses”.

Tânger Corrêa, agora fora da vida de diplomata, disse ter mais para oferecer, nomeadamente um projeto pensado durante anos e que resolveu destapar a ponta naquele jantar-comício. “Tenho um plano gizado há anos com amigos americanos para que Portugal possa de uma forma sustentada garantir um plano de sustentabilidade económica para Portugal através do Atlântico”, contou, garantindo que o vai colocar em prática “no dia em que André Ventura for primeiro-ministro de Portugal”.

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Frisando que os EUA são o “maior vizinho de Portugal” e não Espanha, Tânger Corrêa sublinhou que o país tem de “ir buscar essa fronteira” porque é preciso conjugar as valências de Portugal ser um país europeu mas também atlântico. “No Atlântico somos centrais, na Europa somos periféricos e temos que saber conjugar estas duas valências. Este é o Portugal que queremos, não é o Portugal de mão estendida, dos pedintes, dos subsidiodependentes, é um Portugal por si próprio, sustentado, de gente que trabalha”, explicou o ex-embaixador.

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No dia seguinte, questionado sobre o plano apresentado em Santarém, começou por dizer que “amigos” — a palavra que usou na noite anterior — “é um bocado exagerado”, mas explicou que se trata de um “projeto muito antigo” no qual começou a trabalhar “muito antes do Chega existir” e muito antes de “sair do ativo”.

Os tais amigos são, segundo referiu, “principalmente com os presidentes de algumas fundações americanas”, mas “nada de político, apenas e tão só operacional”. Segundo foi contando, o projeto começou a ser construído na cabeça do ex-embaixador quando percebeu que o “movimento de alargamento” iria “remeter Portugal ainda mais para uma zona periférica” e pretendia que o país voltasse a “ganhar novamente uma centralidade existencial e civilizacional e sociológica”.

A solução é “muito simples“, segundo disse, já que considera que na “indústria, utilização e defesa do mar não se passa nada” e, portanto, era preciso agir. “Isto é um projeto faseado em que nós vamos ter que, de alguma forma, voltar a centralizar Portugal, voltar a dar aos portugueses aquilo que foi sempre a sua essência, que é o mar”, explicou.

E mais não diz, porque “o plano é secreto” e implicaria “institutos extremamente importantes”. Ainda aproveita para ironizar, dizendo que “é da teoria da conspiração, como dizem alguns”. Por enquanto, referiu apenas que “tem uma vertente económica, uma vertente social, uma vertente de defesa e uma vertente de recentralização muito importante de Portugal a nível do Atlântico” e uma data para o revelar: “Este projeto será revelado no dia em que André Ventura for primeiro-ministro.”

Mas “no dia em que André Ventura quiser o plano virá cá para fora”, garantiu Tânger Corrêa. O presidente do partido, mesmo ao lado, assegurou que não conhece o plano, mas garantiu que ficará à espera que este lhe seja apresentado “quando for primeiro-ministro”. Já fora da zona das declarações ao jornalista, Tânger Corrêa ainda descansou Ventura: “Se quiseres mostro-te o plano.”

Ventura não é primeiro-ministro e, pelo menos por enquanto, o plano com “amigos americanos” que Tânger Corrêa fez questão de trazer para a campanha vai ficar, afinal, numa gaveta fechada à chave. Talvez se abra para Ventura.

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