O ex-presidente norte-americano Donald Trump desassociou-se esta sexta-feira do Projeto 2025, um programa governamental desenvolvido por grupos ultraconservadores caso o republicano regresse à Casa Branca, qualificando algumas das propostas de ridículas.

“Não sei nada sobre o Projeto 2025. Não tenho ideia de quem está por trás dele. Não concordo com algumas das coisas que dizem e algumas das coisas que dizem são absolutamente ridículas e abismais”, disse Trump na rede Truth Social.

O magnata nova-iorquino desejou “sorte” aos autores desse plano, mas insistiu que “não tem nada a ver com eles”.

O Projeto 2025, promovido pela Heritage Foundation, um ‘think tank’ de extrema-direita, propõe um roteiro para uma mudança radical na Administração norte-americana se Trump vencer as eleições de 5 de novembro.

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Os seus planos incluem o desmantelamento de várias agências do governo federal e a demissão de milhares de funcionários públicos para os substituir por pessoas leais a Trump que, sem objeções, aplicariam uma agenda de extrema-direita.

Trump lidera as sondagens contra o seu rival, o Presidente democrata, Joe Biden, muito criticado pela prestação no debate eleitoral de 27 de junho. Contudo, o republicano precisa de convencer os eleitores indecisos e moderados para garantir a sua vitória em novembro.

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O presidente da Heritage Foundation Kevin Roberts, que lidera o Projeto 2025, disse na terça-feira no ‘podcast’ “War Room” (Sala de Guerra) de Steve Bannon, ideólogo de Donald Trump, que os republicanos estão “no processo de retomar o país”.

Os democratas estão “apopléticos neste momento” porque a direita está a ganhar, disse Roberts ao ex-deputado Dave Brat, o anfitrião convidado do ‘podcast’, uma vez que Bannon está a cumprir uma pena de prisão de quatro meses por não cooperar com a comissão parlamentar que investiga a invasão ao Capitólio após a posse do democrata Joe Biden na Casa Branca.

Estamos no processo da segunda Revolução Americana, que permanecerá sem sangue se a esquerda permitir que o seja”, comentou ainda.

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O seu apelo à revolução e a vaga referência à violência incomodaram alguns democratas, que o interpretaram como uma ameaça.

James Singer, porta-voz da campanha de reeleição do Presidente Joe Biden, referiu-se ao feriado de 4 de julho desta semana numa declaração enviada por correio eletrónico.

“Há 248 anos, amanhã [quinta-feira], a América declarou independência de um rei tirânico, e agora Donald Trump e seus aliados querem torná-lo um às nossas custas”, disse Singer, acrescentando que Trump e os seus aliados estão “a sonhar com uma revolução violenta para destruir a própria ideia da América”.

“Isto é arrepiante”, escreveu a antiga candidata democrata à presidência Marianne Williamson, na plataforma social X, continuando: “A ideia deles de uma segunda Revolução Americana é desfazer a primeira“.

Roberts, cujo nome Bannon recentemente apresentou ao jornal The New York Times como uma opção potencial de chefe de gabinete para Trump, também disse no ‘podcast’ que os republicanos deveriam ser encorajados pela recente decisão de imunidade do Supremo Tribunal.

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O líder conservador disse que a decisão judicial — que dá aos presidentes ampla imunidade de acusação — é “vital” para garantir que um chefe de Estado não tenha que “adivinhar, adivinhar triplamente cada decisão que está a tomar na sua capacidade oficial”.

Heidi Beirich, co-fundadora do Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo, disse que os comentários de Roberts sobre uma “segunda Revolução Americana” são “um pouco aterradores mas também elucidativos”.

O manual de 1.000 páginas do Projeto 2025 apela a mudanças de grande alcance na administração norte-americana, incluindo o retrocesso das proteções para a comunidade LGBTQ e a infusão do cristianismo mais profundamente na sociedade.

“Roberts, a Heritage Foundation e os seus aliados no Projeto 2025 querem reordenar a sociedade americana e mudá-la fundamentalmente”, disse Beirich.

Roberts, acrescentou, “disse a parte silenciosa em voz alta”.