Siga aqui o artigo em direto sobre o atentado contra Donald Trump 

O antigo presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso condenou esta segunda-feira a tentativa de assassinato do ex-presidente norte-americano Donald Trump, no sábado durante um comício, lamentando o ponto a que chegaram “algumas das democracias” no mundo.

Donald Trump. “Ouvi um zumbido, tiros e senti imediatamente uma bala a rasgar a pele”

Falando à margem do Eurafrican Forum, evento que decorre esta segunda-feira em Carcavelos, nos arredores de Lisboa, o antigo primeiro-ministro português destacou a “ironia muito trágica” relacionada com o facto de Trump, que tem sido um defensor da liberalização do porte de armas, “estivesse a centímetros de morrer” com um tiro de uma arma que se consegue comprar facilmente nos Estados Unidos.

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É algo que, obviamente, todos temos de condenar. Condenar toda a violência que há na política hoje, nomeadamente nos Estados Unidos. Temos vindo a assistir à brutalização da política e da linguagem política, à banalização da violência, até à trivialização da morte, o que é, ao fim e ao cabo, desvalorizar a vida. Isso é preocupante porque todos nós precisamos (…) de uma grande democracia americana forte“, afirmou.

O mapa que explica o que aconteceu no atentado contra Donald Trump

Para Durão Barroso, os Estados Unidos continuam a ser o país mais influente no mundo e é importante para aqueles que querem liberdade e democracia no mundo que o país possa ter um papel de liderança.

“Os Estados Unidos, obviamente, preocupa-nos, preocupa-nos imenso, não apenas pelos Estados Unidos, mas também pelo sinal que isso dá acerca do estado de saúde de algumas das nossas democracias. É algo muito preocupante. Felizmente, [Trump] não foi atingido mortalmente, mas há a lamentar a morte de uma das pessoas que estava no comício, além do próprio homicida ter sido morto pela polícia”, realçou.

O ataque a Donald Trump imagem a imagem, segundo a segundo

“Não deixa de ser uma ironia, uma ironia trágica, uma ironia muito trágica, que o ex-presidente dos Estados Unidos, que tem sido sempre um grande defensor da liberalização das armas, estivesse a centímetros de morrer através de um tiro de uma arma dessas que está nas mãos, neste caso, de um jovem de 20 anos. Isto devia fazer-nos refletir [sobre] qual é o sentido de se permitir que haja armas, espingardas, espingardas automáticas, livremente, na população”, argumentou.

Durão Barroso disse ainda ser “muito preocupante o estado de ódio que se vive hoje em dia nos Estados Unidos”, sublinhando que conhece “relativamente bem” o país, tendo passado quase quatro anos entre as universidades de Georgetown e de Princeton.

Devo dizer que nunca vi uma situação tão polarizada, tão fragmentada, como aquela que existe hoje em dia nos Estados Unidos. Talvez seja o período pior em termos de polarização política desde a Guerra Civil norte-americana.

“Assassinar ou tentar assassinar políticos não é uma novidade. Aliás, Abraham Lincoln [16.° presidente dos Estados Unidos, de 4 de março de 1861 a 15 de abril de 1865, dia em que foi assassinado] foi um (deles). Mas, infelizmente, hoje em dia vê-se um discurso político de uma violência que nos deve fazer refletir a todos, não apenas nos Estados Unidos”, sustentou.

O antigo presidente da Comissão Europeia lembrou também que, há pouco tempo, na Europa, houve um atentado contra o primeiro-ministro da Eslováquia, Roberto Fico, e a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, foi agredida por um homem no centro de Copenhaga, no início de junho.

Primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, atingido a tiro

“Algo vai mal nas nossas democracias quando as pessoas pensam que é através da violência e até dos assassinatos que podem realizar-se o objetivo”, concluiu.

Trump, 78 anos, sofreu ferimentos ligeiros numa orelha durante um ataque a tiro de que foi vítima durante um comício de pré-campanha para as presidenciais norte-americanas de novembro, que decorria no estado da Pensilvânia.

Duas pessoas morreram no ataque, incluindo o atirador, identificado pela polícia federal norte-americana (FBI) como Thomas Matthew Crooks, 20 anos, que abriu fogo a partir de um telhado perto do local do comício.

Outras duas pessoas ficaram feridas no ataque.