O antigo congressista republicano George Santos declarou-se esta segunda-feira culpado em tribunal das 23 acusações que enfrentava. A admissão de culpa evita que vá a julgamento, que começava no próximo mês, mas o republicano não deverá conseguir evitar uma pena de pelo menos dois anos de cadeia, avança o New York Times.

As primeiras 13 acusações contra George Santos surgiram em maio do ano passado, quando foi detido e presente a tribunal pela primeira vez. Em outubro, os procuradores apresentaram dez novas acusações. Ao todo, o congressista, eleito por Nova Iorque foi acusado de 23 crimes, que iam de falsificar o seu currículo a fraude. A longa lista incluía mentiras sobre a sua herança cultural, as atividades extra-curriculares que fez na faculdade, falsificação de documentos para obter fundos para a sua campanha, roubos aos financiadores da sua campanha para o Congresso e utilização destes fundos para financiar atividades pessoais. Santos vinha a insistir há mais de um ano na sua inocência e alterou agora a sua posição.

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“Aceito total responsabilidade pelas minhas ações. Compreendo que as minhas ações traíram a confiança dos meus apoiantes e dos meus eleitores”, declarou o ex-congressista em tribunal. A sentença vai ser conhecida no dia 7 de fevereiro, mas o republicano já aceitou restituir 373,749.97 dólares (cerca de 333 mil euros), como reparações pelos crimes cometidos. Ainda assim, deverá enfrentar um pena de prisão que pode ir dos dois aos 20 anos de cadeia.

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Na sua acusação, os procuradores tinham classificado o esquema de Santos como uma tentativa “desesperada” de conseguir dinheiro, que acabou por se traduzir em mentiras, fraudes e roubos. Para além disso, criticaram o facto de ter utilizado as contas da sua campanha como o se fosse o seu “mealheiro pessoal”.

Foi precisamente esta última acusação que levou à sua expulsão do Congresso. Os democratas já tinham tentado aprovar uma resolução para retirar George Santos do Congresso, em maio de 2023, mas esta acabou chumbada. No final do ano, um parecer do comité de ética da Câmara dos Representantes revelou que tinha utilizado fundos públicos para financiar tratamentos pessoais de botox.

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Depois de estas informações terem vindo a público, os republicanos uniram-se aos democratas e a resolução foi aprovada. George Santos tornou-se o sexto congressista norte-americano na história a ser expulso do cargo, numa votação de mais de dois terços do Congresso, onde tinha chegado apenas no ano anterior. A sua ascensão em 2022, tinha sido apontada como um potencial ponto de viragem na política republicana: jovem, gay e latino — uma demografia pouco comum no partido republicano –, foi eleito pelo distrito de Queens e Long Island em Nova Iorque, tradicionalmente democrata, e contribuiu para uma maioria do partido republicano na Câmara dos Representantes.

O partido revelou-se satisfeito com a declaração de culpa, relata o New York Times. Os republicanos já tinham perdido o terceiro distrito de Nova Iorque para os democratas em fevereiro, depois de uma eleição extraordinária para substituir o lugar de Santos no Congresso. Mas agora enfrentam as urnas novamente pelos restantes lugares de Nova Iorque, numa eleição difícil, que os republicanos não querem ver manchada por ligações a George Santos.

*Editado por Cátia Andrea Costa