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Luís Costa, ou DJ Magazino, de 42 anos, luta contra uma Leucemia desde dezembro de 2019
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Luís Costa, ou DJ Magazino, de 42 anos, luta contra uma Leucemia desde dezembro de 2019

Vera Marmelo

Luís Costa, ou DJ Magazino, de 42 anos, luta contra uma Leucemia desde dezembro de 2019

Vera Marmelo

À espera de transplante de medula, Magazino esteve em coma por causa da Covid, recuperou e voltou a testar positivo

Depois de mais de um mês em coma após diagnóstico de Covid-19 e 2 testes negativos, Magazino testou novamente positivo. Seriam ainda vestígios do vírus. Esta semana, DJ voltou testar negativo.

O anúncio foi feito pelo próprio Luís Costa, conhecido como DJ Magazino, nas redes sociais. Depois de, em dezembro de 2019, lhe ter sido diagnosticada uma leucemia, ter contraído o novo coronavírus no Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (IPO de Lisboa), ter tido uma infeção hospitalar e ter estado em coma durante mais de um mês, o jovem voltou a testar positivo para a Covid-19 e foi transferido de novo para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Entretanto, já voltou a ter dois testes negativos e regressou, na quarta-feira, ao IPO.

Parece incrível mas é verdade, voltei a testar positivo ao COVID-19. Ao fim de vários testes negativos e a recuperar…

Posted by MAGAZINO on Thursday, September 10, 2020

Ao que o Observador apurou, não se tratou de um caso de reinfeção, mas sim de vestígios do vírus que ainda permanecem no corpo do doente. O protocolo do IPO obrigou, ainda assim, a que deixasse de fazer ali o tratamento que tinha em curso, por ser um hospital livre de Covid-19 — ao contrário do Santa Maria, por exemplo, que tem circuitos para doentes com e sem a doença.

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Foi mais um contratempo no tratamento oncológico que, desde o diagnóstico, tem sido muito condicionado pela pandemia. Pelo meio, uma surpresa: por causa da leucemia, Luís Costa precisa de um transplante de medula e descobriu que tinha sido encontrado um dador compatível quando acordou do estado de coma.

Resultado positivo será apenas o “esqueleto do vírus”

Em declarações ao Observador, no início desta semana, quando o DJ ainda estava internado no Hospital de Santa Maria, Sandra Braz, coordenadora da Unidade de Internamento de Contingência da Infeção Viral Emergente, do Centro Hospitalar de Lisboa Norte — a que pertence o hospital —, explicou que os doentes com infeção por SARS-CoV-2 “por vezes” voltam a ter testes positivos, mesmo depois de cumprirem “os critérios de cura laboratorial” definidos pela Direção-Geral de Saúde (DGS). Isto é, depois de terem dois testes negativos com intervalo mínimo de 24 horas, no caso dos internados — que foi o caso do DJ — e, para os doentes em ambulatório, um teste negativo.

De acordo com a especialista em Medicina Interna, era necessário ter “muita cautela” a interpretar este teste positivo, porque uma reinfeção e “um teste laboratorial positivo, pouco tempo depois de uma infeção com critérios de cura”, são coisas diferentes.

“Isso significa que ainda há excreção viral intermitente, mas não é uma partícula viral com infecciosidade, portanto podemos dizer que o que ele está excretar é o esqueleto do vírus, não é a partícula viral”, explicava na altura.

Apesar de ainda não haver estudos “robustos”, esta é uma hipótese levantada por vários autores, refere Sandra Braz: o facto de os doentes assintomáticos terem um teste positivo, semanas após testes negativos, não significa que o paciente esteja infetado “e muito menos” que o material detetado no teste de PCR — que recolhe material genético na naso-faringe — “constitua um risco para o próprio ou para terceiros”. Ou seja, continua a identificar-se material genético, mas isso não significa que seja o “vírus como partícula”. “É como identificar o esqueleto apenas”.

"Isso significa que ainda há excreção viral intermitente, mas não é uma partícula viral com infecciosidade, portanto podemos dizer que o que ele está excretar é o esqueleto do vírus, não é a partícula viral"
Sandra Braz, coordenadora da Unidade de Internamento de Contingência da Infeção Viral Emergente, do Centro Hospitalar de Lisboa Norte

“Isto é apenas um dado laboratorial, até porque [o doente] não tem qualquer sintoma de infeção por SARS-CoV-2 neste momento”, afirmou a médica, acrescentando que Magazino não estava a receber tratamento para a Covid-19, precisamente por não ser considerado um caso de reinfeção, estando apenas a ser tratada a sua doença oncológica.

Tal como o DJ explicou nas suas publicações no Facebook e no Instagram, este teste positivo ocorreu há cerca de duas semanas, depois de vários negativos. Uma situação que se explica precisamente pela “excreção intermitente”, isto é, a excreção pode não ter ocorrido quando foram realizados os testes anteriores. “Pode haver ainda material genético nas células que intermitentemente surge“, acrescentava, na altura, a médica ao Observador.

Mas se o DJ não constituía um risco para outros, por que motivo foi transferido para o Hospital de Santa Maria e não permaneceu no IPO de Lisboa, onde estava internado? Por precaução. Segundo Sandra Braz, apesar de se assumir que não há risco de infecciosidade, este ainda é um “assunto em debate” na comunidade científica internacional e a opção dos médicos foi a prevenção: “Preferimos agir com cautela e no caso do IPO, que foi definido que seria um hospital Covid Free [sem casos de Covid-19], apesar de não termos qualquer convicção de que o doente tenha infeção, ele foi retirado de lá e foi para o nosso internamento”, indicou a coordenadora da Unidade de Internamento Covid-19 do Hospital de Santa Maria.

“O doente tem de ser avaliado como um todo e se está assintomático e se já tem critérios de cura, de acordo com normas que temos em Portugal, então temos de considerar que não há reinfeção“, acrescentou.

A alta ou permanência de Magazino na unidade hospitalar dependia da situação clínica relacionada com a sua doença hematológica e da opinião dos especialistas em Hematologia do IPO de Lisboa, que estão em contacto diário com os médicos do Santa Maria: “O doente, antes de tudo, é um doente hematológico”, disse Sandra Braz ao Observador, ainda Luís Costa estava internado no seu hospital. Na quarta-feira, depois de ter tido dois testes negativos à Covid-19, regressou ao IPO de Lisboa, avançou o agente do DJ ao Observador.

"O doente tem de ser avaliado como um todo e se está assintomático e se já tem critérios de cura, de acordo com normas que temos em Portugal, então temos de considerar que não há reinfeção"
Sandra Braz, coordenadora da Unidade de Internamento de Contingência da Infeção Viral Emergente, do Centro Hospitalar de Lisboa Norte

92 dias num quarto de hospital, quimioterapia, Covid-19, passando pelo coma, até aos 2 testes negativos

A luta de Luís Costa contra uma leucemia começou ainda em 2019. Tal como relatou à revista Vogue, num texto escrito na primeira pessoa, o diagnóstico foi feito no dia 2 de dezembro, após uma ida ao hospital devido a um “cansaço extremo”. Só mais tarde, depois de começar a quimioterapia por via oral, é que um médico lhe disse que iria precisar de um transplante de medula óssea, altura em que foi transferido para o IPO de Lisboa.

Em lágrimas depois da confirmação do diagnóstico por parte do instituto, esteve uma semana em casa em que o apoio dos amigos fizeram com que mudasse, por completo, a sua atitude perante a doença: começou a focar-se apenas na cura e não no problema de saúde.

“Recuperei peso, comecei a caminhar, a andar de bicicleta, a comer muito bem. Empenhei-me a fundo, porque este é, sem dúvida, o momento mais importante da minha vida. Fui adiando ao máximo a quimioterapia porque ainda não tinha dador de medula óssea compatível comigo, mas cheguei a um ponto em que o meu corpo já não aguentava mais e a minha médica do IPO (Dra. Francesca Pierdomenico) chamou-me para ser internado entre seis a sete semanas, para enfrentar um primeiro ciclo de quimioterapia“, recorda o DJ português à Vogue.

"Empenhei-me a fundo, porque este é, sem dúvida, o momento mais importante da minha vida. Fui adiando ao máximo a quimioterapia porque ainda não tinha dador de medula óssea compatível comigo, mas cheguei a um ponto em que o meu corpo já não aguentava mais (...)"
DJ Magazino, "A cabeça manda, e o corpo reage", revista Vogue

De mala em punho, com uma pedaleira, um órgão, livros, um bloco de notas e um iPad, Magazino deu entrada no IPO de Lisboa a 2 de junho, mas a estadia acabou por ser mais curta do que antecipava. Duas semanas depois, após um caso de Covid-19 entre os funcionários do serviço de Hematologia, todos os doentes foram testados e o DJ, de 42 anos, foi um dos pacientes que teve um teste positivo. Acabou por ser transferido para o Hospital de Santa Maria, onde foi internado num quarto em isolamento, numa ala dedicada a doentes infetados com o novo coronavírus.

Covid-19: Oito profissionais e 12 doentes internados no IPO de Lisboa infetados

Além da Covid-19 e da quimioterapia, o DJ contraiu uma bactéria hospitalar e o seu estado de saúde foi piorando, até ser transferido para uma unidade de cuidados intensivos e ter ficado em coma.

“O diagnóstico era grave. Passados 30 e poucos dias acordaram-me. Foi um dia muito complicado. Lembro-me de ter enfermeiros à minha volta, só lhes via os olhos, estavam vestidos como se fossem para o espaço, não sabia o que estava ali a fazer, não me reconhecia, não me conseguia mexer, e não conseguia falar. Eles tentavam explicar-me quem era com uns vídeos meus a tocar, depois pedi para me ver no telefone e não tinha cabelo, não combinava com a pessoa que estava nos vídeos e eu não reconhecia nem um nem outro”, lê-se no seu texto para a Vogue, onde a acrescenta que as únicas memórias que tem do tempo em coma são “o mar a bater muito forte e um turbilhão de cores infinito a envolver-me o corpo”.

Foi ainda durante o coma que chegou uma boa notícia: foi encontrado um dador compatível, graças às “campanhas de apelo à doação” feitas pelos amigos, conta. Uma notícia que, segundo relatam os médicos, o fez “esboçar um sorriso”.

"Lembro-me de ter enfermeiros à minha volta, só lhes via os olhos, estavam vestidos como se fossem para o espaço, não sabia o que estava ali a fazer, não me reconhecia, não me conseguia mexer, e não conseguia falar."
DJ Magazino, "A cabeça manda, e o corpo reage", revista Vogue

Depois de ter estado à beira da morte, Luís Costa começou a recuperar lentamente a sua autonomia. Começou a andar, a comer sozinho — perdeu 21 quilos durante este processo — a lavar os dentes, a conseguir ler e escrever, e a abrir uma lata, como explica num post de Facebook, a 16 de agosto.

Rumo à recuperação! 15 dias depois de ter acordado do coma já há melhoras fantásticas ????O que não fazia e já consigo…

Posted by MAGAZINO on Sunday, August 16, 2020

Mas só em finais de agosto — 88 dias depois de ter entrado no IPO de Lisboa —, foi dado como curado, após dois testes negativos à Covid-19.

“Agora rumo ao IPO para preparar a próxima fase, a mais importante, mas agora com um dador compatível, só dependo de mim. A meta é clara e o objetivo é chegar ao destino e não a velocidade a que lá chego”, lê-se numa publicação feita nas redes sociais, a 28 de agosto.

Adeus Covid!!! Perdi a conta aos testes que fiz mas finalmente fiz 2 negativos seguidos. Agora rumo ao IPO para…

Posted by MAGAZINO on Friday, August 28, 2020

Nem duas semanas depois, recebeu o teste positivo ao novo coronavírus. Pelo meio — antes de dar início a um novo ciclo de quimioterapia para fazer o transplante — e depois de 92 dias num quarto de hospital, esteve por casa, mas apenas durante um dia e meio: “Em vez de uma semana inteira de precária em casa, fiquei 1 dia e meio, ontem à noite tive uma pontada de dor nas costas e febre altíssima, chamei o INEM e voltei para o IPO. Uma infeção que ainda estou a resolver com muita calma. Apesar disso o dia e meio fora daqui soube-me pela vida e sinto-me muito grato por ter feito o que me apetecia. No entanto, aqui, e pensando de uma forma realista sinto-me melhor, mais seguro e extraordinariamente acompanhado“, refere o DJ novamente no Facebook e Instagram.

Na véspera de testar novamente positivo, partilhou uma fotografia do seu quarto no IPO de Lisboa, numa publicação onde agradece as mensagens de apoio e onde relata o seu dia a dia. O seu último post nas redes é a dar conta do seu internamento no Hospital de Santa Maria: “Entrei pelo meu pé, a andar, espero dentro de dias voltar a sair, a andar, assim que voltar a testar negativo.”

Malta, tenho recebido cartas com testemunhos incríveis, lindos e que me têm enchido de alento. Não consigo responder a…

Posted by MAGAZINO on Wednesday, September 9, 2020

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