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Christine Lagarde sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.
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Christine Lagarde sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.

STEPHANIE LECOCQ/EPA

Christine Lagarde sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.

STEPHANIE LECOCQ/EPA

BCE sobe juros (enquanto é tempo) e admite recessão em 2023, num cenário "muito negro"

BCE prevê "estagnação" mas admite, pela primeira vez, que pode ser ainda pior: um cenário "muito negro", embora menos provável, de recessão. Até chegar lá, juros vão continuar a subir.

Os olhos húmidos de Christine Lagarde faziam o possível para tentar esconder que este terá sido um dos mais difíceis (e ingratos) encontros com jornalistas desde que a francesa assumiu a liderança do BCE. Enquanto explicava o porquê de o BCE ter optado pela maior subida de sempre nas taxas de juro, Lagarde não resistiu a um desabafo: o banco central não tem meios para baixar os preços da energia, não consegue acabar com a guerra na Ucrânia nem lhe cabe a si fazer as mudanças geopolíticas que são necessárias. “Esse é um trabalho que tem de ser feito por outras pessoas, não por nós“, atirou, antes de rapidamente dar a ressalva: “Nós iremos, porém, fazer o nosso“.

Embora tenha confessado alguma impotência perante os acontecimentos que diz estarem na base da inflação “extremamente elevada” que a zona euro vive, Christine Lagarde garantiu, no entanto, que não irá faltar determinação no Conselho do BCE para dar o seu “contributo” para controlar a subida dos preços. E que “contributo” será esse? Depois desta histórica subida de 75 pontos-base nas taxas de juro, virão outras nos próximos meses – logo se verá com que intensidade, isso será decidido “reunião a reunião”.

A intenção do BCE é declarada: Lagarde admitiu que o controlo da inflação irá passar por “conter a procura” económica. E taxas de juro mais altas vão ajudar a criar condições para que esse arrefecimento ocorra – sim, porque o BCE e Lagarde reconhecem agora que a inflação há muito deixou de ser apenas um fenómeno importado e resultante de problemas nas cadeias globais de abastecimento de bens, já que os preços também estão a disparar nos serviços e em outras áreas da economia.

BCE sobe juros e prevê recessão em cenário adverso “muito negro”

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Mas qual é o risco de que essa “contenção da procura” na economia acabe por contribuir para uma recessão? Oficialmente, o BCE continua a agarrar-se a uma previsão de um crescimento de 0,9% na economia da zona euro em 2023 – uma previsão que foi revista em baixa mas continua a ser pouco credível aos olhos da maior parte dos economistas dos bancos de investimento. Pela primeira vez, porém, admitiu-se um cenário alternativo, mais adverso: um cenário “muito negro” que irá significar uma recessão de 0,9% no próximo ano, uma projeção simétrica em relação ao chamado “cenário-central”.

Anna Stupnytska, economista da gestora Fidelity International, resume em poucas palavras a decisão do BCE: “À medida que a crise energética global se desenvolve, com a Europa a sofrer o impacto mais gravoso, o BCE aproveitou esta oportunidade para antecipar o aperto da política monetária e fazê-lo antes que os danos económicos causados pelo choque energético se tornem demasiado grandes“.

Antes que esse momento chegue, diz a economista, foi “importante” para o BCE dar este passo de aumentar os juros em 75 pontos-base, o maior aumento da história da zona euro. E foi “importante especialmente tendo em conta as questões relacionadas com a credibilidade do BCE” enquanto banco central que leva a sério o seu mandato (único) de manter controlada a subida dos preços. “Acreditamos que está a fechar-se muito rapidamente a ‘janela’ de oportunidade para se fazerem novos aumentos”, acrescenta Anna Stupnytska, lembrando que é inevitável que “a realidade das perturbações energéticas” acabe por se afirmar.

Christine Lagarde teve de defender a opção do BCE de subir os juros em 75 pontos-base

EMILY_PIWOWAR/ECB

2023. Economia cresce 0,9% ou cai 0,9%?

A gravidade dessas perturbações energéticas é o que irá determinar se no próximo ano a economia cresce 0,9%, como o BCE acredita, ou se cai 0,9%, como o BCE receia. Antes disso, porém, nesta segunda metade de 2022 os efeitos já se irão sentir: “depois de uma recuperação na primeira metade de 2022, os dados recentes apontam para um abrandamento significativo no crescimento económico da zona euro, prevendo-se que a economia estagne na fase final deste ano e no primeiro trimestre de 2023”, diz o BCE.

No próximo ano, o grande risco está “relacionado com a possibilidade de constrangimentos mais graves no fornecimento de energia à Europa, associado a um eventual inverno mais frio – que promova maior procura por aquecimento, levando a subidas maiores dos preços da energia e cortes na produção piores do que antecipamos”, afirmaram os economistas de Frankfurt, liderados por Philip Lane, na nova bateria de projeções económicas divulgadas esta quinta-feira.

Dada a incerteza criada pela guerra na Ucrânia, que se arrasta há quase 200 dias, os economistas simularam, também, esse cenário adverso que foi descrito por Christine Lagarde como “muito negro” – e onde se admite a tal contração de 0,9% na economia europeia em 2023.

Inflação, risco de recessão e euro em queda. Numa “situação incrivelmente difícil”, BCE vai avançar com nova subida das taxas de juro

Nesse cenário, “prevê-se um corte completo do gás russo, bem como o fornecimento de petróleo à zona euro, através do mar”, e, por outro lado, essa simulação parte do pressuposto de que não existe nenhum ou quase nenhum grau de substituição por outras fontes alternativas de gás e de energia. Também foi incorporado um aumento dos preços das matérias-primas e uma deterioração significativa da estabilidade no setor financeiro – tudo variáveis que não estão previstas no “cenário central”, ou não com tanta gravidade.

“Este cenário adverso iria implicar um crescimento económico abaixo da média, na zona euro, em 2022, e uma contração em 2023, seguido por uma recuperação robusta, embora incompleta, em 2024”, conclui o BCE. O que também não está incluído no cenário adverso é “possíveis medidas de política monetária e decisões por parte dos governos que ajudem a estabilizar a produção bem como proteger aqueles que têm menores rendimentos” – a este propósito, aliás, Lagarde sublinhou que as medidas estatais contra a inflação devem ser devem ser temporários e não devem piorar a inflação.

Decisão do BCE confirma "momento de incerteza", diz Governo

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A decisão do BCE “confirma” o momento “de incerteza que vivemos”, comentou Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, na conferência de imprensa após o Conselho de Ministros desta quinta-feira.

“É mais um elemento desse momento de incerteza e justifica a forma como o Governo semana após semana tem procurado avaliar as condições e os problemas que tem por resolver e fazer propostas e apresentar medidas para lhe responder”, continuou, garantindo que “é um processo que temos procurado acompanhar”, mostrando “abertura para aprovar medidas para fazer face a uma situação difícil”.

O tempo dirá se a realidade se move mais no sentido da previsão “central”, de um crescimento de quase 1% em 2023, ou se o cenário adverso se torna mais provável. Mas os economistas, como Holger Schmieding, do Berenberg Bank, tendem a apostar mais numa “recessão grave“, o que acabará por levar o BCE a abrandar nas subidas de juros.

“Parece-nos provável que, assim que o BCE se aperceber da gravidade da recessão que acreditamos que irá gerar-se, o BCE acabará por travar na subida dos juros algures durante o início de 2023”, afirma o economista Holger Schmieding. Para já, porém, o BCE “demonstrou que quer lutar contra a inflação – e quer ser visto como um banco central que combate a inflação“.

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