Viajar por seis países asiáticos durante oito meses com duas crianças de dois e cinco anos pode parecer uma aventura logística e emocional para muitos. Sofia Mesquita e Mário Ribeiro fizeram isto mesmo com apenas duas mochilas e uma viagem de ida para a Tailândia: estas são razões suficientes para o nome Descomplicados.
É assim que se chama a página de Instagram e o podcast onde contam as suas histórias de viagens em família, dão dicas, e mostram que uma viagem com significado vai além de tirar fotografias em monumentos famosos e praias idílicas. “Gostamos de explorar sem programar, deixar acontecer. Chegar a um sítio e tentarmos inserir-nos na cultura local, é normalmente o que nos deixa mais felizes”, conta Sofia.
A viagem dos quatro aventureiros pela Ásia começou em Novembro de 2023, terminou em julho e é a prova de que uma história destas não precisa de ser um longo projeto de vida. Para Sofia e Mário apareceu apenas uns anos antes.
“Na verdade, viajar em família não era uma coisa que tínhamos idealizado desde sempre. Foi algo que aconteceu após o Covid, acho que o facto de termos ficado ‘presos’ a casa tanto tempo nos deu uma vontade grande de sair. Em março de 2021, estava já a pandemia a acalmar, decidimos fazer a primeira viagem os quatro, fomos até à Madeira. Ficámos logo com o bichinho e em agosto do mesmo ano fizemos uma viagem incrível de 15 dias às Maldivas, tinha o mais pequenino ainda sete meses. Depois desta não conseguimos parar. Percebemos que viajar era algo que adorávamos fazer, e que o facto de termos crianças não era impedimento nenhum, que na verdade era muito bom porque vivenciávamos coisas incríveis em família”, lembra Sofia.
Menos planos, mais liberdade
Encheram duas malas de 30 litros — ou seja, malas que cabem debaixo do assento em qualquer companhia aérea — com roupa para os quatro, dois computadores, produtos de higiene e medicamentos e partiram num projeto de dez meses que acabou por durar oito. “Nós preferimos ir sem planos e sem expectativas, cria-nos mais ansiedade ter as coisas planeadas do que não ter. Fomos tomando as decisões no momento, tanto de alojamentos, de tempo em cada local, de sítios a visitar, próximos países, etc. Sentimo-nos muito mais livres assim”, explica.
A descolagem para Phuket, na Tailândia, fez-se dois meses depois do aniversário de Maria Rita, com cinco anos na altura, e o plano era celebrar os três anos de Simão já na Ásia. O Natal foi outra das celebrações e um dos momentos inesquecíveis. “Foi nas Filipinas, num jantar com cerca de 100 pessoas de todo o mundo. Para além disso, adaptámos à nossa tradição, comprámos prendas, montámos uma árvore no quarto do hotel e deixámos bolachinhas e leite para o pai natal. Eles adoraram!”
Quando Sofia fala desta viagem pela Ásia (que teve um salto à Austrália pelo meio) uma das ideias que mais aparece é a de adaptação. É aí que o descomplicar permite uma viagem feliz para todos, qualquer que seja a idade. “Temos só de adaptar, e fazer os possíveis para agradar a todos. Se alguém nos diz que faz determinada atividade em meio dia, já sabemos que para nós será num dia inteiro, porque temos crianças. No que diz respeito aos roteiros, vamos adaptando, e tentamos fazer atividades para a família, em que todos possam participar de alguma forma. Claro que procuramos muitas vezes atividades para as crianças, coisas que sabemos que gostam. Por exemplo, na Tailândia, fomos a um Parque incrível, o Carnival Magic, em Phuket, porque achámos que eles iam adorar, mas afinal nós também adorámos! Foi uma experiência incrível para eles e para nós!”
Para os Descomplicados estes programas que incluem toda a família passam por “experienciar a essência do sítio e fugir de pontos muito turísticos, tornar as nossas experiências únicas sem ter de fazer o que todos fazem”. Segundo a experiência desta família, fazer isto na Ásia parece particularmente fácil e recompensador: “O que mais nos marcou foi sem dúvida a simpatia do povo local e a forma simples e calma de viver, sentimos sempre um ambiente de paz, sem stress e sem correrias”, afirma Sofia.
Uma família mais unida
Sofia, Mário, Maria Rita e Simão viajaram pela Tailândia, Malásia, Filipinas, desviaram-se do continente asiático num voo até à Austrália, voltaram para Taiwan, Vietname, Indonésia e regressaram finalmente a Portugal a partir da Tailândia. “Nós somos apaixonados pela Ásia, pelo clima, a segurança, a cultura e pelo povo. Acho que o que atrai mais na Ásia são os cenários paradisíacos e o clima tropical. Mas se juntarmos a isso o povo supersimpático e a oferta cultural gigante, este continente torna-se muito interessante.”
Entre a apanha de arroz numa plantação em Chiang Mai, no norte montanhoso da Tailândia, ver um filme numa piscina de bolas em Bangkok, no mesmo país, ou até mesmo uns tempos de escola indonésia para os miúdos, as diferenças culturais motivam o crescimento das crianças. Assistir a isto é uma das grandes recompensas de uma viagem como esta. Outra, são os momentos inesquecíveis em família: “passarmos tempo juntos num ambiente diferente fortalece o vínculo entre pais e filhos. Notamos que os nossos filhos se tornaram muito mais curiosos quando os introduzimos num novo lugar e incentivamos o espírito de descoberta”, conta Sofia.
É claro que estar longe de casa durante um longo período de tempo também intensifica os medos que já se sentem naturalmente, todos os dias, como o medo de uma doença, afirma Sofia. Porém, a coragem e as experiências inesquecíveis falam mais alto no final.
“Faltou-nos visitar outros países, faltou-nos força para ver mais, o cansaço também tomou conta de nós, a certa altura precisámos de abrandar e de parar num só local por mais tempo. Mas deixou-nos com a certeza de que queremos voltar e conhecer muito mais do que a Ásia tem para oferecer. A viagem foi incrível e sem dúvida inesquecível, uma experiência para a vida que nos marcou muito, que nos ensinou muito, que nos deixou mais fortes, mais unidos”, assim recorda.
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