790kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Portugal v Uruguay: Group H - FIFA World Cup Qatar 2022
i

O guarda-redes do FC Porto estreou-se pela Seleção Nacional há pouco mais de um ano, em outubro de 2021

Getty Images

O guarda-redes do FC Porto estreou-se pela Seleção Nacional há pouco mais de um ano, em outubro de 2021

Getty Images

Diogo, o emigrante que nasceu na Suíça para crescer para o futebol em Portugal (e como se vai torcer pela Seleção em 3 localidades suíças)

É um pormenor bem guardado que muitos desconhecem — até os colegas. Diogo Costa nasceu na Suíça, só veio para a Vila das Aves aos 7 anos e, esta terça-feira, põe três localidades a apoiar a Seleção.

Nem William Carvalho, colega de equipa de Diogo Costa na Seleção Nacional, conhecia o detalhe. “O Diogo é um excelente guarda-redes, temos três excelentes guarda-redes. Nos últimos jogos tem jogado o Diogo, como podia jogar qualquer um dos outros dois. Em relação ao facto de o Diogo ter nascido na Suíça…. Por acaso nem sabia”, atirou o médio do Betis este domingo, na conferência de imprensa diária no Qatar.

Profundamente reservado, tímido no trato e sempre preocupado em resguardar a vida pessoal para esse mesmo propósito, o lado pessoal, a verdade é que Diogo Costa carrega no documento de identificação esse pormaiornasceu na Suíça, país para onde os pais tinham emigrado e que a Seleção Nacional enfrenta esta terça-feira nos oitavos de final do Mundial, e só viveu em Portugal a partir dos sete anos.

O guarda-redes do FC Porto é, aliás, um dos sete jogadores da convocatória de Fernando Santos que não nasceram em Portugal: num lote que inclui o próprio William Carvalho (Angola), Otávio (Brasil), Pepe (Brasil), Matheus Nunes (Brasil), Raphael Guerreiro (França) e Danilo Pereira (Guiné-Bissau). A Seleção Nacional é, por isso mesmo, a 9.ª equipa presente no Mundial do Qatar com mais jogadores nascidos noutro país que não aquele que representam, num ranking liderado por Marrocos (13) e que não integra Brasil, Argentina, Coreia do Sul e Arábia Saudita, onde todos os convocados nasceram nesse mesmo país.

Portugal v Uruguay - FIFA World Cup 2022 - Group H - Lusail Stadium

Diogo Costa foi crucial contra o Uruguai, ainda na primeira parte, ao evitar o golo de Bentancur

PA Images via Getty Images

De Rothrist à Vila das Aves para fazer nascer um guarda-redes que queria marcar golos

Diogo Costa, cuja maturidade em campo até mascara os parcos 23 anos que tem, nasceu em setembro de 1999 em Rothrist, uma localidade no cantão de Aargau, no norte da Suíça, entre Basileia e Zurique. Francisco da Costa e Armanda Meireles, os pais do guarda-redes, mudaram-se para o pequeno país do centro da Europa durante os anos 90 e tiveram o único filho bem perto das margens do rio Aar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O jogador do FC Porto viveu na Suíça até aos sete anos, tendo entrado na escola ainda em Rothrist e visitando Portugal apenas nas férias de verão. O divórcio dos pais, porém, separou a família e obrigou a atravessar fronteiras: Francisco ficou por terras suíças, onde ainda vive, e Armanda regressou ao Norte e à Vila das Aves acompanhada pelo filho. Mais de 15 anos depois, o pai de Diogo Costa está agora em Aarburg, bem perto de Rothrist, enquanto que o avô paterno do guarda-redes reside em Yvonand, um pequena localidade próxima do lago Neuchâtel.

Vitinha e Diogo Costa, os dois Pinheirinhos que começaram na “equipa mais pobre do país” e agora são campeões nacionais

Foi já em Portugal, quando chegou à vila avense, e acompanhado pela família materna que até aí só conhecia dos curtos períodos de férias, que o agora internacional português despertou para o futebol. Um dos principais responsáveis foi Vítor Mota, primo mais velho de Diogo e também ele guarda-redes — jogou no Bairro FC, da Associação de Futebol de Braga, até ao ano passado. “Ele era muito ligado à mãe e passávamos os dias a jogar futebol”, recordou Vítor, recentemente, ao zerozero.

O guarda-redes do FC Porto é, aliás, um dos sete jogadores da convocatória de Fernando Santos que não nasceram em Portugal: num lote que inclui o próprio William Carvalho (Angola), Otávio (Brasil), Pepe (Brasil), Matheus Nunes (Brasil), Raphael Guerreiro (França) e Danilo Pereira (Guiné-Bissau).

No AMCH Ringe, uma modesta associação desportiva da Vila das Aves, Diogo Costa deu os primeiros passos como jogador, como guarda-redes e como futuro talento — acompanhado, como já é sabido, por Vitinha, também ele formado no FC Porto e também ele internacional português presente no Mundial do Qatar. “O Vitinha e o Diogo Costa chegaram numa altura em que estávamos a renovar o espaço. Até porque nós éramos mesmo pobres, devíamos ser a equipa mais pobre do país”, contou em maio Adílio Pinheiro, treinador do Ringe que orientou os dois atletas, ao Observador.

A convite do presidente da Associação de Moradores do Complexo Habitacional de Ringe, o técnico começou o sonho do clube no início do milénio. Numa das primeiras equipas de Petizes, a da geração de 2004, era clara a qualidade do plantel — exceto numa posição muito específica. “Nessa equipa faltava-me um guarda-redes. E foi o avô do Diogo Costa que me disse: ‘O meu neto anda a jogar aqui na praceta, leva-o lá ao Ringe’. O miúdo veio para aqui, começou a treinar e começo a ver nele algum talento. Pensei: ‘Este gajo, se quiser ser guarda-redes, dava-nos um jeitaço'”. Mas havia um problema: Diogo, o jovem Diogo, não queria ser guarda-redes.

“Ele chegou a casa e foi dizer ao avô que eu o queria pôr à baliza, que não queria ir mais a Ringe”, recordou Adílio Pinheiro que, para amenizar os receios do pequeno jogador, deixou desde logo a garantia de que podia atuar em qualquer posição, até porque já jogava bem com os pés. Mas foi surpreendido: “No treino seguinte, apareceu-me vestido de guarda-redes, todo almofadado nas calças e nos joelhos”, lembrou o treinador. Nasceu assim uma espécie de acordo de cavalheiros: Diogo Costa seria o guarda-redes do Ringe, mas jogava metade do tempo na baliza e a restante metade à frente. Até porque, como explicou o técnico, ele “queria era marcar golos”.

Portugal v Ghana: FIFA World Cup 2022

O guarda-redes de 23 anos foi confortado pelos colegas, principalmente por Cristiano Ronaldo, depois do susto nos instantes finais contra o Gana

Anadolu Agency via Getty Images

Mas ninguém disse que, para marcar golos, era preciso jogar mais à frente. “Fomos jogar a um torneio a Santo Tirso e ele era o mais velho, com sete aninhos. Estávamos a jogar contra miúdos de 11, 12 anos. O certo é que fomos lá e limpámos tudo, foi tudo a eito. E ele, guarda-redes, foi o melhor marcador do torneio, marcava golos de uma baliza à outra! Eu às vezes tinha de gritar ‘não marcas mais golos, se queres marcar vais à frente!”. Mas ele continuava, explicou Adílio Pinheiro.

Atributos ofensivos que Diogo Costa só esconde, atualmente, no capítulo dos golos — mas que o ajudaram a desenvolver a boa qualidade de passe de jogo de pés que até permitiram que fizesse uma assistência para Galeno na Liga dos Campeões, no jogo do FC Porto contra o Bayer Leverkusen. “Com o Diogo nunca tive dúvidas. Jogava de cabeça levantada, punha a bola onde queria. Não me admira nada o que ele faz agora com os pés”, concluiu o treinador. Do Ringe, o guarda-redes seguiu para a Casa do Benfica da Póvoa do Lanhoso, aterrando nas camadas jovens do FC Porto já em 2011 e sempre com o objetivo de seguir os passos de Vítor Baía, o ídolo.

"Ele chegou a casa e foi dizer ao avô que eu o queria pôr à baliza, que não queria ir mais a Ringe", recordou Adílio Pinheiro que, para amenizar os receios do pequeno jogador, deixou desde logo a garantia de que podia atuar em qualquer posição, até porque já jogava bem com os pés. Mas foi surpreendido: "No treino seguinte, apareceu-me vestido de guarda-redes, todo almofadado nas calças e nos joelhos", lembrou o treinador.

De suplente a titular no FC Porto, de suplente a titular na Seleção: em menos de dois anos, Diogo Costa tornou-se indiscutível para todos

Diogo Costa agarrou a titularidade do FC Porto na época passada, atirando Marchesín para o banco de suplentes e potenciando até a saída do guarda-redes argentino para o Celta Vigo durante o verão. De lá para cá, depressa foi de diamante em bruto a certeza absoluta: foi um dos elementos fulcrais para a conquista do título em 2021/22, é indiscutível para Sérgio Conceição e tornou-se voz de comando de uma equipa que tem referências como Pepe, Marcano ou Otávio.

Diogo Costa deixou os portugueses de mãos na cabeça. Os três pecados que podiam ter custado caro a Portugal

O trajeto, naturalmente, levou-o até à Seleção Nacional. Depois de ser campeão europeu de Sub-17 e Sub-19 e chegar à final do Europeu Sub-21 — na famosa equipa dos Diogos do FC Porto, onde compartilhava o setor defensivo com Diogo Dalot, Diogo Queirós e Diogo Leite –, foi convocado pela primeira vez por Fernando Santos em agosto do ano passado. Não se estreou na primeira chamada, tendo ficado no banco nas partidas contra a Irlanda e o Azerbaijão a contar para o apuramento para o Mundial do Qatar, e só cumpriu a primeira internacionalização já em outubro e num particular contra os qataris.

Já este ano, porém, Diogo Costa foi o protagonista de um dos capítulos mais inesperados da história recente da Seleção. A 24 de março, em pleno Estádio do Dragão, foi o titular de Portugal contra a Turquia na meia-final do playoff de acesso ao Campeonato do Mundo. Cinco dias depois, na decisiva vitória contra a Macedónia do Norte, voltou a sê-lo. E a decisão estava tomada: Fernando Santos tinha abdicado de Rui Patrício, guarda-redes com mais de uma década de historial na seleção portuguesa e o titular no mítico Euro 2016, e preferia agora o jovem guardião do FC Porto.

Korea Republic v Portugal: Group H - FIFA World Cup Qatar 2022

Numa Seleção que tem referências como Ronaldo ou Pepe, Diogo Costa assumiu-se como titular indiscutível para Fernando Santos

Getty Images

Sem surpresas, Diogo Costa continuou a ser o titular na fase de grupos da Liga das Nações, foi convocado para o Mundial e é também a clara opção inicial no Qatar — até na partida de sexta-feira contra a Coreia do Sul, onde Portugal já estava apurado para os oitavos de final e a titularidade de Rui Patrício chegou a ser antecipada como mais do que provável. O guarda-redes de 23 anos, que é mesmo o mais novo a ter representado a Seleção Nacional num Campeonato do Mundo, é já um indiscutível para Fernando Santos. E está claramente ligado a dois dos momentos-chave daquela que é a prestação portuguesa, até agora, no Mundial.

Sete novos nomes com o guarda-redes português mais novo de sempre num Mundial: as estreias neste Portugal X Gana

Primeiro, aquele instante de arrepiar contra o Gana. Nos derradeiros segundos do primeiro jogo de Portugal no Campeonato do Mundo, já depois de João Félix e Rafael Leão terem anulado o empate de André Ayew e de Bukari ter encurtado novamente a desvantagem, Diogo Costa não reparou que tinha Iñaki Williams nas costas e procurou jogar com os pés. Teve sorte, foi apoiado por Danilo, evitou o golo e segurou a vitória mas não conseguiu esconder o desânimo já após o apito final — em imagens que se tornaram virais, com Cristiano Ronaldo a animar o colega de equipa e a pedir a Pepe que o ajudasse nessa tarefa. E Diogo Costa, dias depois, fez questão de recompensar.

Ainda na primeira parte da partida contra o Uruguai, quando o resultado estava ainda empatado sem golos, Bentancur passou por quase todos no corredor central e apareceu na cara do guarda-redes português — que, com uma mancha impressionante, parou o remate do médio do Tottenham, deixou as contas a zeros e abriu a porta à decisiva vitória portuguesa. “Foi neste momento que Portugal se qualificou para os oitavos. E sim, está certo, é uma defesa. Há que dar valor a este lance. Muito! Muito bem, Diogo Costa”, escreveu Iker Casillas no Twitter.

Depois de ser campeão europeu de Sub-17 e Sub-19 e chegar à final do Europeu Sub-21 — na famosa equipa dos Diogos do FC Porto, onde compartilhava o setor defensivo com Diogo Dalot, Diogo Queirós e Diogo Leite —, foi convocado pela primeira vez por Fernando Santos em agosto do ano passado.

Esta terça-feira, nos oitavos da primeira fase final em que marca presença com a Seleção Nacional, Diogo Costa vai defrontar a equipa do país onde nasceu, onde começou a falar, onde começou a aprender a ler e até onde, provavelmente, teve o primeiro contacto com o desporto onde agora é uma referência. Contra a Suíça, o guarda-redes português vai procurar evitar os golos daqueles que o viram dar os primeiros passos e potenciar os golos daqueles que o viram caminhar rumo ao sucesso. Independentemente do destino — e de só a futurologia ajudar a imaginar aquilo que poderia ter acontecido se Diogo tivesse ficado em terras suíças –, algo é certo: parte de Rothrist, de Aarburg e até de Yvonand estará a torcer por um rapaz da Vila das Aves.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora