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O elenco e a equipa técnica de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", após o final da cerimónia

Getty Images for Vanity Fair

O elenco e a equipa técnica de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", após o final da cerimónia

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E se os melhores filmes não recebessem nenhuma estatueta? (Os Óscares vistos do sofá e de pijama)

Noite de segundas oportunidades, para premiar atores regressados e gente que esperou décadas para aqui chegar. Parte boa? Chegará o dia de João Gonzalez. Parte menos boa? Tudo em Todo o Lado. Mesmo.

So, we meet again, camarada leitor. Os resistentes, aqueles que, ano após ano, se apresentam ao serviço para a maratona dos prémios da Academia e dos intervalos do Mário Augusto. Os que amam demasiado o cinema para resistir a dizer mal dele. Em direto, pelos nossos olhos e pela nossa boca, como só um português tem direito a criticar Portugal, um filho uma mãe, um benfiquista as tatuagens do Rafa. Não interessam os vestidos e os penteados da passadeira vermelha para o Dolby Theatre; queria ver era esses pijamas, essas pantufas, quem tem a melhor mantinha, o melhor balde de pipocas, que cerveja escolheram para a grande noite, que sais minerais para se apresentarem amanhã no escritório.

Ah, valentes. Caímos juntos, mas não cederemos um metro nas trincheiras do nosso amor às fitas. Mesmo que saibamos que isto não importa. Que tantas vezes não distinga os melhores. Que o cinema passe por estranhas transformações, tente agradar a quem consome vídeos de 15 segundos num ecrã liliputiano e, ao mesmo tempo, mostrar-lhes à força de que o grande ecrã é capaz de mais, como um restaurante de três estrelas Michelin que de repente tentasse concorrer com a cadeia de fast food. Que a Academia premeie mais o mérito das causas sociais do que o mérito artístico. Que esta noite seja o pináculo do politicamente correto, em que todos se esforçam tanto para que tudo pareça tão perfeito que depois, obviamente, dê m****. Somos dos filmes. O cinema fez parte tão incomensurável da nossa educação. Podemos ser o que quer que tenhamos escolhido na vida – poetas, carpinteiros, dentistas, cabeleireiros, astrónomos, repositores de stock. A noite em que subimos ao palco para receber um Óscar resistirá, até ao fim, como paradigma do sonho de uma carreira realizada. Caramba. Isto é mais pesado do que eu pensava.

Este ano, ainda por cima, temos pela primeira vez um filme português na corrida. Não precisamos de descobrir aquele lusodescendente na equipa dos efeitos especiais para ter por quem torcer. Aquele sonoplasta que ainda vem a ser primo de uma senhora que uma vez viveu num T2 em Alcoutim. Temos o maravilhoso “Ice Merchants” do João Gonzalez a lutar pela vitória entre as melhores curtas de animação – e a mostrar como a beleza reside, tantas vezes, na simplicidade e no minimalismo, e como isso é mais difícil do que o excesso exibicionista onde cabe sempre mais um truque estridente com que os pesos-pesados chocalham, tonitruantes, ao entrar na sala.

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MIchelle Yeoh e Brendan Fraser, os distinguidos com os Óscares para Melhor Atriz e Melhor Ator

Variety via Getty Images

Já não fazemos apostas – isso era no tempo em que ainda acreditávamos no Pai Natal dos filmes. Agora, fazemos declarações de interesses. Prévias, descaradas, assumindo os nossos gostos e que ficaremos sozinhos com eles na derrota, sem qualquer problema. “Tár”, “Os Espíritos de Inisherin” – entreguem tudo a estes dois. Nas categorias a que não concorram, distribuam as estatuetas pelo brilhante “Triângulo da Tristeza”, pelo belo “A Oeste Nada de Novo”, pela nobreza galante de “Top Gun: Maverick”, pela coragem do tom menor de “Aftersun”, do “Pinóquio de Guillermo del Toro” e até de “The Batman”, se ainda sobrar qualquer coisa.

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Mas “Tár” e “Os Espíritos de Inisherin”, dizíamos. Principalmente estes. Mil vezes a coragem de refletir sobre o nosso tempo e contar uma história do que a sofreguidão de disparar estímulos a cada 30 segundos com medo de que o público se desinteresse de “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” (só o título é uma agonia) e de toda a estética “Marvel” e afins que infecta a Hollywood contemporânea. Já mal se consegue apanhar um filme pequeno, com poucos atores, que chegue ao tutano da sua história. Entre os dez nomeados a Melhor Filme só dois têm menos das duas horas convencionais. Sofre-se de gigantismo, senão de priapismo. Como o carrão comprado na crise meia-idade; os implantes da cirurgia estética; o exibicionismo que faz em grande já não que sabe fazer de outra maneira; a arte que tenta compensar a falta de génio mergulhando em esteroides.

No fim da noite, o que quer que aconteça, se ainda não viu, tome nota de ir ver Cate Blanchett e Todd Field, Martin McDonagh e todo o seu elenco (animais incluídos), Tom Cruise, Ruben Ostlund e João Gonzalez, Paul Mescal e não aquele rapaz disfarçado de Elvis. E, claro, depois da Covid e de um ano em que já pôde voltar a haver contacto (ver aqui aquele smiley de ar blasé), é torcer para que fait divers algum nos distraia do essencial: dos filmes que nos salvam a vida, dos discursos que inspirem o mais anónimo dos indivíduos, no mais remoto dos lugares, a ser, amanhã, um humano um pouco melhor.

Sem grandes surpresas, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” arrebatou a noite dos Óscares

23h30: Mário Augusto e duas especialistas em moda explicam-nos que, este ano, a passadeira vermelha é champanhe – para realçar os looks, acrescentam. Como é que isso se coaduna com o facto de, agora, as cortinas que fazem o fundo – que é o que as câmaras apanham, ao contrário do chão – serem vermelhas, fica para cada um resolver. Destacam o facto de, este ano, toda a gente estar a apostar muito na cor, no preto e no branco. E na transparência. Vejam e aprendam, miúdos: é impossível errar.

23h45: Salma Hayek, Jennifer Connelly e Angela Bassett já eram lindas quando eu sonhava casar com elas, mas era demasiado novo. Quase 30 anos depois, continuam lindas, mas agora são elas que são demasiado novas para mim.

00h00: Bendita mudança de hora nos Estados Unidos que faz isto começar mais cedo. A habitual montagem dos filmes mais nomeados, com um ou outro behind the scenes, acaba com Jimmy Kimmel a chegar à cerimónia à boleia do caça de Maverick. O monólogo de abertura é competente, apenas isso. Enaltece o regresso às salas de cinema, o sítio para onde os filmes foram feitos, recorda “O Rapaz da Pedra Lascada”, fita esquecida que, há 32 anos, juntou dois dos atores nomeados este ano: Brendan Fraser e Ke Huy Quan. A melhor piada vai para John Williams: 91 anos “and he’s still scoring”.

A previsibilidade da vitória de “Navalny” é compensada pela justeza da causa. Iulia, esposa de Alexei Nalvany, o opositor de Putin que continua preso depois de uma tentativa falhada de envenenamento, vem ao palco: “O meu marido está na prisão só por dizer a verdade, só por defender a democracia. Sonho com o dia em que sejas livre, em que o nosso país seja livre. Stay strong, my love.”

00h10: Kimmel destaca o facto de haver cinco irlandeses entre os atores nomeados, o que aumenta consideravelmente a probabilidade de voltar a haver porrada. Foram quase dez longos minutos até sair a primeira piada ao caso Will Smith vs. Chris Rock.

00h15: E à 95.ª entrega dos Óscares da Academia, eis que os comentadores da RTP, Mário Augusto e Patrícia Müller, decidiram voltar a falar por cima dos apresentadores da cerimónia. Afinal, onde é que está o Will Smith quando ele é preciso?

00h16: Dwayne Johnson já foi lutador profissional e já fez muitos filmes violentos, mas nada tão agressivo como este casaco de seda salmão. Com Emily Blunt, anuncia os nomeados para melhor filme de animação, categoria que este ano abre a cerimónia talvez no intuito de mandar as crianças para a cama antes que haja pancadaria.

00h18: Vence o esperado “Pinóquio de Guillermo del Toro”. O realizador, emocionado, dedica o filme aos pais, e diz que “Animação é cinema, não um género”. Um bom augúrio, dizemos nós aqui no team “Ice Merchants”.

00h26: Ariana DeBose e Troy Kotsur, vencedores no ano passado, vêm entregar os Óscares de melhor atriz e melhor ator secundários. Três minutos depois, sofremos três derrotas numa só categoria: nem Brendan Gleeson (que, aliás, devia ser candidato era a ator principal), nem Barry Keoghan, nem Judd Hirsch (o único Óscar que daríamos a “The Fabelmans”) são o melhor Ator Secundário. Como previsto por todas as apostas, a estatueta vai para Ke Huy Quan, que conhecemos criança em “Indiana Jones e o Templo Perdido”, “Goonies” e na já citada “Pedra Lascada”. Todavia, e mesmo contrariados, é impossível não ficar do lado dele no discurso emocionado em que recorda o seu trajeto, como esteve quase a desistir e incentivando todos a acreditarem que, um dia, o seu momento efetivamente chegará.

Dois Daniels, kung fu e drama no multiverso dos Óscares: como um improvável favorito fez a Ásia vencer em Hollywood

00h36: Jamie Lee Curtis limpa o segundo para “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”. É a esperada Melhor Atriz Secundária e também faz um discurso à altura da carreira. Agradece a quem apoiou, ao longo dos anos, os seus filmes “de género” e, emocionada como uma jovem, aos pais, os míticos Janet Leigh e Tony Curtis. “I just won an Oscar!” Depois de alguns anos de malta blasé, saúda-se o regresso da gratidão e do espanto.

00h48: Riz Ahmed e Questlove, vencedor do ano passado, vêm entregar o Óscar de Melhor Documentário, a categoria em que se deu a willsmithada. A previsibilidade da vitória de “Navalny” é compensada pela justeza da causa. Iulia, esposa de Alexei Nalvany, o opositor de Putin que continua preso depois de uma tentativa falhada de envenenamento, vem ao palco: “O meu marido está na prisão só por dizer a verdade, só por defender a democracia. Sonho com o dia em que sejas livre, em que o nosso país seja livre. Stay strong, my love.”

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Jamie Lee Curtis agradeceu a quem apoiou, ao longo dos anos, os seus filmes “de género” e, emocionada como uma jovem, aos pais, os míticos Janet Leigh e Tony Curtis. “I just won an Oscar!”

Variety via Getty Images

00h54: A melhor curta-metragem de imagem real é “An Irish Goodbye”. A Irlanda que ganhe alguma coisa esta noite. James Martin, um dos protagonistas, faz anos hoje e os companheiros põem o Dolby Theatre a cantar-lhe os parabéns.

01h00: Patrícia Müller diz qualquer coisa que termina em “o dream existe”. Perdemos o resto, mas temos pena.

01h02: “A Oeste Nada de Novo” leva o Óscar de Melhor Fotografia, que é aquela categoria que muita gente continua convencida ser sobre paisagens.

01h07: David Byrne sobe ao palco para a interpretação de “This is a Life”, candidata a melhor canção original. Sempre com aquele seu ar de Rui Reininho escocês.

01h15: Jennifer Connelly e Samuel L. Jackson, num caso claro de excesso de estilo por metro quadrado, entregam o Óscar de Melhor Caracterização e Cabelos ao favorito “A Baleia”. Uma das premiadas demora tanto tempo a chegar ao palco que já só tem tempo de dizer “obrigado” antes de levar com a música.

01h24: Jimmy Kimmel traz ao palco aquela que diz ser a burrinha de “Os Espíritos Inisherin”. Mário Augusto insiste em baralhar o género ao pobre do bicho.

“Ice Merchants” sem Óscar, mas “muito felizes”: “Metemos o pé na água, que venham outros e mergulhem”

01h25: Paul Dano e Julia Louis-Dreyfus vêm entregar o Óscar de Melhor Guarda-Roupa. Daqueles que, às vezes, nos fazem duvidar se não borrifaram nos cartões que lhes entregaram e fizeram o seu próprio texto. Estatueta para “Black Panther: Wakanda para Sempre”, que é como quem diz: o “Elvis” continua a levar na pá. Ruth Carter, a galardoada, agradece aos Óscares por “reconhecerem o super-herói que é a mulher negra”.

01h30: Deepika Padukone apresenta “Naatu Naatu”, canção nomeada por “RRR” e primeira canção de um filme indiano a chegar aos Óscares. Segue-se a atuação e o momento em que Bollywood toma, finalmente, o palco de Hollywood.

01h40: Salma Hayek e António Banderas, tão bonitos como no tempo de “Desperado”, vêm entregar a “A Oeste Nada de Novo” o Óscar de Melhor Filme Internacional – ou, como também é conhecido, o “Já que não Vais Levar o de Melhor Filme em Geral”.

01h50: Elizabeth Olsen e Pedro Pascal entregam o Óscar de Melhor Curta Documental ao bonito “The Elephant Whisperers”, que está há uns tempos valentes escondido aí em casa nas vossas Netflixes (sim, está um elefante na sala). A jovem realizadora Kartiki Gonsalves e o seu belo nome agradecem em nome da “empatia para com outros seres vivos”.

Diz Hugh Grant: “Estamos aqui para duas coisas. A primeira é para falar da importância de usar um bom hidratante. A Andie [McDowell] fez isso todos os dias nestes últimos 29 anos, eu nunca usei um na vida. Resultado: ela continua linda; eu, basicamente, um escroto.” Foi tão bom que alguém, algures, estará a pensar voltar a juntar os dois num filme, diz-vos aqui o tio.

01h52: Com a bandeira na janela e de pé para o Hino Nacional, levamos com o desgosto de um puto de escola rejeitado pela primeira miúda a quem já chamava de namorada antes sequer de a própria saber. O Óscar para Melhor Curta de Animação vai para “The Boy, the Mole, the Fox, and the Horse”, em vez de “Ice Merchants”. Não vimos o vencedor, mas imediatamente reputamos o caso de roubalheira.

01h56: Lady Gaga tem um dom para roubar toda a atenção com os seus momentos nos Óscares. E fá-lo com muito pouco. De t-shirt preta e cabelo apanhado como quem estivesse aqui ao nosso lado no sofá a ver os Óscares e não lá, canta “Hold My Hand”, canção de “Top Gun: Maverick”, que dedica a Tony Scott. Não é o “Take My Breath Away”, mas deem coisas a “Top Gun”, poramordedeus.

02h06: 29 anos depois de “Quatro Casamentos e um Funeral”, Andie MacDowell e Hugh Grant surgem lado a lado noutro momento que juraremos ter sido escrito pelos próprios. Diz Hugh Grant: “Estamos aqui para duas coisas. A primeira é para falar da importância de usar um bom hidratante. A Andie fez isso todos os dias nestes últimos 29 anos, eu nunca usei um na vida. Resultado: ela continua linda; eu, basicamente, um escroto.” Foi tão bom que alguém, algures, estará a pensar voltar a juntar os dois num filme, diz-vos aqui o tio. A segunda coisa que vieram fazer foi entregar o Óscar de Melhor Design de Produção a “A Oeste Nada de Novo”, que os nossos comentadores tinham garantido há pouco que de certeza já não levava mais nada.

02h10: O Óscar de Melhor Banda Sonora Original é o quarto para “A Oeste Nada de Novo”, só por causa das coisas. O compositor Volker Bertelmann, que eu tenho quase a certeza de que também fez o meu esquentador, vem receber a estatueta. Esta é a 48.ª vez que John Williams, cinco vezes vencedor, é nomeado e não ganha, uma estranha forma de ser, provavelmente, o maior derrotado de sempre da história dos Óscares.

02h21: Elizabeth Banks e uma imitação do seu “Cocaine Bear” vêm entregar o Óscar para Melhores Efeitos Especiais. “Tens de esperar pela festa pós-cerimónia, como toda a gente”, diz Banks para o urso. “Sem Efeitos Especiais”, cujo Óscar entrega a “Avatar: o Caminho da Água”, “o ‘Cocaine Bear’ teria sido um ator qualquer dentro de um fato de urso… cocainado.” A prova de que as duas piadas de Banks foram excelentes é que muito pouca gente na sala se ri.

02h24: Jimmy Kimmel vai falar com a Nobel da Paz Malala Yousafzai. Leva com um: “Eu só falo sobre paz”. Mas, instantes depois, há o pormenor hilariante, e muito pouco politicamente correcto, de se ver o “Cocaine Bear” de roda de Malala (o Paquistão é um dos maiores produtores de ópio do mundo).

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Lady Gaga tem um dom para roubar toda a atenção com os seus momentos nos Óscares. Desta vez cantou "Hold My Hand", de "Top Gun: Maverick"

WWD via Getty Images

02h28: Rhianna canta “Lift Me Up”, de “Black Panther: Wakanda para Sempre”, ocasião para recordar Chadwick Boseman.

02h37: O momento da noite em que se percebe que “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” vai mesmo ganhar tudo e “Tár”, “Os Espíritos de Inisherin” e “Triângulo da Tristeza” absolutamente nada. O Óscar de Melhor Argumento Original era, uma vez chegados a este ponto da noite, a sua melhor hipótese de mudar o jogo. Não vai acontecer. Daniel Scheinert e Daniel Kwan, realizadores e argumentistas do filme-sensação da temporada de prémios, sobem pela primeira vez ao palco. Scheinert agradece aos professores que teve na escola; Kwan confessa que a sua síndrome de impostor está nos píncaros.

02h42: O Óscar de Melhor Argumento Adaptado vai para “A Voz das Mulheres”, que Mário Augusto diz que se vai estrear em Portugal para a semana, o que é curioso, porque acabámos de o ver num cinema de Alvalade mesmo antes de vir acompanhar esta cerimónia.

02h50: Janelle Monáe e Kate Hudson vêm de “Glass Onion” entregar, finalmente, um Óscar a “Top Gun: Maverick”, o filme que assumiu o risco de esperar dois anos na gaveta para estrear em sala em vez de nas plataformas de streaming e que, com isso e o estrondoso sucesso de bilheteira que foi, poderá ter salvado o cinema como o conhecemos. A estatueta distingue o Melhor Som, esse cuja velocidade Tom Cruise suplanta em mais de dez vezes no filme.

Crónica. Nos Óscares o frenesim compensa

02:54: Finalmente, Mário Augusto abriu o sms em que alguém o avisa de que “A Voz das Mulheres” já estreou na semana passada.

02h55: “Naatu Naatu” ganha o Óscar de Melhor Canção. O compositor M. M. Keeravani não faz um discurso de agradecimento; canta um discurso de agradecimento.

02h57: John Travolta, com aquele ar de quem, há dois anos, pensávamos que se estava a preparar para um papel, mas agora percebemos que não, dá entrada a Lenny Kravitz, que vem com o ar de Lenny Kravitz cantar no “In Memoriam”. Este ano, lembramos Olivia Newton-John (e agora percebemos a presença de Travolta), Irene Papas, Kirstie Alley, Ray Liotta, Angelo Badalamenti, Irene Cara, Jean-Luc Godard, Burt Bacharach, Angela Lansbury, Wolfgang Peterson, Gina lollobrigida, Vangelis, James Caan e Raquel Welch, entre outros.

03h05: Zoe Saldana e Sigourney Weaver, heroínas de James Cameron (que ficou em casa, como Tom Cruise e nós, a ver isto em pijama), vêm entregar o Óscar de Melhor Montagem a “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”. Paul Rogers, o galardoado, diz: “Isto é só o meu segundo filme, isto é uma loucura.” Também suspeitamos que sim.

03h25: A hora a que os Óscares vão, simplesmente, desprezar uma das melhores interpretações de todos os tempos. Como previsto (nesta altura, há tanta expectativa em saber quem vai ganhar isto como em ver a que horas os ponteiros do relógio chegam às 4 da manhã), Michelle Yeoh, de “Tudo em Todo o Lado Ao Mesmo Tempo”, e não a suprema Cate “Lydia Tár” Blanchett, ganha o Óscar de Melhor Atriz.

03h09: Alguém aqui sabe que piada fez Jimmy Kimmel? O Mário Augusto estava a falar.

03h10: Idris Elba e Nicole Kidman, mais um caso de excesso de estilo, vêm entregar o Óscar de Melhor Realização. Nas janelinhas onde vemos os nomeados, Martin McDonagh, Todd Field, Ruben Östlund e Steven Spielberg já nem se esforçam por fingir expectativa. A estatuetas vão para Daniel Kwan e Daniel Scheinert por “Tudo em Todo o Lado Ao Mesmo Tempo”.

03h18: Jessica Chastain e Halle Berry vêm, de mão dada, para entregar os Óscares aos atores principais. (Sim, a Halle Berry está a substituir o Will Smith, repararam?) Vence o favorito Brendan Fraser, confirmando o nulo para “Elvis”, a pena de não ver um Paul Mescal levar isto ou de se fazer o mínimo de justiça pelo elenco de “Os Espíritos de Inisherin” – mas quem acreditava nisso nesta altura? Fraser, com uma expressão, na verdade, não muito diferente da que carrega no filme, faz um discurso pouco fluído, toldado pela mesma emoção que, ao mesmo tempo, lhe dá interesse: a gratidão perante uma segunda oportunidade na carreira.

03h25: A hora a que os Óscares vão, simplesmente, desprezar uma das melhores interpretações de todos os tempos. Como previsto (nesta altura, há tanta expectativa em saber quem vai ganhar isto como em ver a que horas os ponteiros do relógio chegam às 4 da manhã), Michelle Yeoh, de “Tudo em Todo o Lado Ao Mesmo Tempo”, e não a suprema Cate “Lydia Tár” Blanchett, ganha o Óscar de Melhor Atriz. No discurso, Yeoh, 60 anos, arranca uma ovação com a referência implícita ao comentário de Don Lemon, pivô da CNN, semanas atrás, acerca da candidata republicana Nikki Haley: “Senhoras, nunca deixem que vos digam que já passaram do vosso melhor.”

03h30: Harrison Ford vem confirmar que os três melhores filmes do ano – “Tár”, “Os Espíritos de Inisherin” e “Triângulo da Tristeza” – não recebem um único Óscar, entregando a estatueta de Melhor Filme ao mais que anunciado “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”. Mas vale a pena ver o reencontro de Ford com Ke Huy Quan em palco, 39 anos depois de “Indiana Jones e o Templo Perdido” – e Spielberg, na plateia, emocionado com isso. Daniel Kwan diz que as nossas histórias podem não estar a acompanhar a velocidade a que o mundo está a mudar. Talvez tenha razão. Um dia, reveremos este filme para perceber que encanto nos possa ter escapado – mas, antes, há muitos, muitos clássicos para ver pela primeira vez.

03h35: Terminam os Óscares 2023. “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” ganhou sete, “A Oeste Nada de Novo”, quatro; “A Baleia”, dois. O urso já pode ir dar no pó.

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