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Livre/Tempo de Avançar, Agir/PTP/MAS e Bloco. Os três correm nestas legislativas inspirados pelo caminho do Syriza na Grécia
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Livre/Tempo de Avançar, Agir/PTP/MAS e Bloco. Os três correm nestas legislativas inspirados pelo caminho do Syriza na Grécia

Livre/Tempo de Avançar, Agir/PTP/MAS e Bloco. Os três correm nestas legislativas inspirados pelo caminho do Syriza na Grécia

O que esperam os amigos do Syriza nestas legislativas?

Um tornou-se amigo (mas manteve as distâncias). O outro anda desiludido. Há, no entanto, quem se tenha mantido fiel. No caminho para as legislativas, como andam os amigos do Syriza em Portugal?

27 de setembro de 2015. Na Feira do Relógio, em Lisboa, os ponteiros da coligação Agir/PTP/MAS não bateram cronometrados com o relógio da cabeça de lista por Lisboa. O principal rosto do movimento não conseguiu acompanhar a pequena comitiva que, às 9h30, já se preparava para se lançar a feirantes e populares à conquista de votos. António Madaleno, líder do PTP, assumiu as despesas da coligação e conduziu o grupo de oito pessoas feira adentro, perante a simpatia de uns, a indiferença de outros e a estranheza de uns quantos. “Este é o partido do filho do Paulo de Carvalho?”, perguntava um curioso, sem esperar pela resposta. Não, não é. “Este é o partido daquela que posou grávida”, comentavam entre si duas amigas noutra ponta feira. Falavam de quem? Joana Amaral Dias, claro. Mas, para vê-la, só à tarde, à porta da residência de Ricardo Salgado, em Cascais.

E à segunda tentativa foi de vez. A comitiva – desta vez, bem mais composta -, já aguardava em frente à casa do ex-líder do Banco Espírito Santo. Com o bombo a marcar o ritmo, o megafone no volume máximo e as vozes já bem afinadas, Joana Amaral Dias juntava-se à serenata observada à distância pelos dois agentes da PSP que estão a vigiar a casa de Ricardo Salgado – mais os quatro que se lhes juntaram. Salgado estás à janelaaa / Ouve bem com atençãoooo / Só me vou daqui emboraa / Quando fores para a prisãaoooo.

Não levaram uma prenda dele, mas o objetivo do protesto transformado em ação de campanha também não era esse. “Não podemos consentir mais esta política de dois pesos e duas medidas que só se serviu não para controlar o défice e a dívida, mas sim para dar com o chicote no lombo dos portugueses. Se há dinheiro para Ricardo Salgado e para para o BES” também tem de haver “dinheiro para honrar pensões e salários”, explicava Joana Amaral Dias aos jornalistas.

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72 duas horas antes, outra coligação usava o tema BES/Ricardo Salgado para atacar o ex-banqueiro e fazer mossa no Governo. A sede do Novo Banco, em Lisboa, servia de cenário. “Resgataram os bancos, resgatem as pessoas”, era o mote. Rui Tavares e o Livre/Tempo de Avançar, os protagonistas. “Durante os últimos quatro anos pouco se falou de dívida privada”, mas, na verdade, Portugal tem um dos “problemas de dívida privada mais altos do mundo, ao mesmo tempo que se resgatavam os bancos. E descobrimos que ao fim desses mesmo quatro anos que estamos agora a pagar os gastos do senhor Ricardo Salgado e do BES”, criticava o historiador e cabeça de lista da coligação por Lisboa.

Muito antes, quando a campanha ainda respondia pelo prefixo de pré, já alguém fazia da queda do banco – e não só -uma arma de arremesso. Em jeito de humor, Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda, respondia assim à provocação de Ricardo Araújo Pereira. A verdade é que isto é tudo muito bonito mas “há quem esteja na política por dinheiro, há quem esteja pelo negócio, nós [BE] estamos pelo convívio. Eu convivo com Passos Coelho, pergunto-lhe, por exemplo, pelos seus convívios com Dias Loureiro, pelos convívios na Tecnoforma com Miguel Relvas, pelos convívios com Ricardo Salgado Zeinal Bava”.

Os três são de esquerda, os três têm inimigos políticos em comum. Os três celebraram a dupla vitória do Syriza nas eleições gregas e querem capitalizar o efeito em Portugal. Os três querem ajudar a derrubar nas urnas a dupla Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, mas, olhando para as sondagens, só o conseguirão fazer se ajudarem António Costa a governar. Dois não estão dispostos a fazê-lo sem definir linhas vermelhas que o PS dificilmente aceitará. O outro não quer conversas com os socialistas, ponto. Na entrada para a reta final desta corrida às urnas, que balanço fica da campanha de Bloco de Esquerda, Livre/Tempo de Avançar e Agir/PTP/MAS?

Rui Tavares: Com o Livre/Tempo de Avançar na Assembleia, “nada voltará a ser como dantes na política em Portugal” 

O partido de Rui Tavares e o movimento de Ana Drago e Daniel Oliveira, todos ex-bloquistas, juntaram-se para ocupar um lugar que, acreditavam, estava vazio no espetro político português: uma esquerda que sendo esquerda queria ajudar a governar. Um pouco à semelhança do que aconteceu na Grécia, quando a ala mais moderada do Syriza deixou o partido, formou a Esquerda Democrática (Dimar) e piscou o olho ao partido socialista grego. Mas as mesmas eleições que ditaram a vitória de Alexis Tsipras, acabaram por fragilizar o Dimar, dando-lhe uma votação residual.

Apesar deste resultado menos feliz do partido homólogo na Grécia, o historiador não deixou de celebrar a vitória do Syriza, o que, na altura, lhe valeu duras críticas de Luís Fazenda. “Rui Tavares e e companhia alargada” querem “’embandeirar em arco da governação’ com a vitória do Syriza, quando nem sequer defendem para lusa aplicação nenhum dos pontos fundamentais do seu programa. Por cá há mais queda para a comédia”, escreveu então o fundador do Bloco.

Na verdade, e apesar de ter festejado a vitória dos gregos do Syriza, o rosto do Livre/Tempo de Avançar foi apontando alguns erros estratégicos ao Governo grego. Criticou, desde logo, a coligação com os nacionalistas dos Gregos Independentes e a linha assumida pela dupla Tsipras/Varoufakis à mesa das negociações, por vezes demasiado dura. Rui Tavares vê no Syriza um amigo, mas manteve sempre as distâncias.

Apesar de todas as diferenças, a 20 de maio, quando as negociações entre Atenas e credores estavam muito longe de estar concluídas, Rui Tavares declarava, em entrevista ao Observador, o apoio aos gregos. “Não há milagres, não há viradas de jogo que ocorram em apenas um dia. Agora, acho que a experiência do Syriza no Governo grego tem sido uma excelente prova que o caminho é árduo mas que se pode fazer”.

Mais de quatro meses depois, falhadas as negociações entre gregos e credores, convocado um referendo, desenhado um acordo que trazia ainda mais austeridade e novas eleições, Rui Tavares, em entrevista ao jornal Sol, era desafiado a revelar se se revia no Syriza atual ou pós-acordo. O cabeça de lista do Livre/Tempo de Avançar por Lisboa fugia à questão e preferia lembrar o que dissera Alexis Tsipras. “‘Temos de aguentar firmes”. E explicava porquê: “Vejo a mudança na Europa como uma corrida de longo curso. Uma perna é o um movimento progressista de cidadãos que pensa que esta Europa assim não serve (…) Não vamos virar o jogo de um momento para o outro, mas nós vamos começar a fazê-lo a partir de 4 de outubro”.

A renegociação da dívida não pode ser "deixada envergonhadamente à porta do Conselho Europeu como deseja o PS".
Rui Tavares, em declarações ao Observador

Resta saber se vão começar a virar o jogo com ou sem o PS. É que há, pelo menos, uma questão que pode colocar areia na engrenagem de um eventual acordo com os socialistas – isto, claro, se o Livre/Tempo de Avançar conseguir eleger deputados. Esse grão de areia chama-se “reestruturação da dívida pública“. António Costa não quer fazer disso uma bandeira do PS. Mas o que diz o historiador?

Em declarações ao Observador, Rui Tavares lembrou que a “renegociação da dívida está em cima da mesa. E toda a gente o diz – a Comissão Europeia, o FMI, o Governo alemão, todos os governos que não encaram eleições daqui a uma semana o dizem claramente: a partir do mês de outubro vai-se falar de reestruturação e de renegociação da dívida e não só da grega em geral da União Europeia”.

“Aquilo que Pedro Passos Coelho está a esconder aos portugueses é que há uma escolha muito clara no dia 4: ou temos um Governo que fez tudo para dificultar a renegociação da dívida e esteve sempre do lado dos credores, ou teremos uma maioria no Parlamento capaz de suportar um Governo que queira ter a discussão da reestruturação e da renegociação da dívida não deixada envergonhadamente à porta do Conselho Europeu como deseja o PS“.

O historiador não fecha, ainda assim, as portas a um eventual entendimento eleitoral com o PS. “Nós temos um cenário pós-eleitoral muito claro na nossa cabeça. Um cenário em que todas as forças antiausteridade, progressistas, com as suas diferenças, com as suas matrizes e o seu passado, se sentam à mesa e a partir de dia 5 outubro, [ajudam a construir] uma maioria de esquerda, que vai estar no Parlamento, assumir as suas responsabilidades e construir um programa conjunto para uma maioria parlamentar e para uma governação ancorada à esquerda“.

A proposta do Livre/Tempo de Avançar será suficiente para convencer o eleitorado? Ao Observador, Rui Tavares não esconde que o objetivo é eleger “um grupo parlamentar, quanto mais numeroso melhor” e diz estar ” muito contente” com a forma como a coligação está a chegar aos portugueses. Dos Açores ao interior do país, de Lisboa ao Porto, “há uma grande disponibilidade das pessoas para aceitarem a nossa propaganda e as nossas ideias”.

O grande problema aqui, continua, “é este rolo compressor, esta espécie de cartelização das televisões nomeadamente pelos partidos parlamentares, como se estivéssemos a escolher um novo parlamento com o velho parlamento sentado em cima da mesa“.

O Livre/Tempo de Avançar assume a vontade de "construir um programa conjunto para uma maioria parlamentar e para uma governação ancorada à esquerda".
Rui Tavares

Com o Livre/Tempo de Avançar na Assembleia, diz Rui Tavares, “nada voltará a ser como dantes na política em Portugal“. “[Será] uma pedrada no charco que limpa o lodo, que clarifica as águas e que empurra a política portuguesa no bom sentido”.

As sondagens, no entanto, parecem não trazer boas notícias para a candidatura liderada por Rui Tavares e Ana Drago: em todos os cenários até agora traçados, o mais otimista é o que dá a eleição de apenas um deputado à coligação. Serve de pouco àqueles que muitos diziam ser o potencial parceiro de coligação de António Costa.

Joana Amaral Dias: “O Agir vai existir depois de 4 de outubro”

Numa situação mais difícil parece estar a coligação Agir/PTP/MAS. Nenhuma das sondagens até agora realizadas atribui qualquer assento parlamentar à força política liderada por Joana Amaral Dias. Ao Observador, a ex-bloquista reconhece que a luta do Agir tem sido dura, mas não esconde que gostava “de eleger [deputados] e de ter representação parlamentar. De preferência até ter um grupo parlamentar”. Ainda assim, deixa uma garantia: “De qualquer maneira, mesmo que não consigamos eleger, o Agir vai existir depois de 4 de outubro. Continuará na luta por uma sociedade mais justa e mais igual”.

Uma luta que tem sido tudo menos convencional. Em agosto, a psicóloga anunciou a gravidez de risco e admitiu que talvez não pudesse acompanhar todas as ações do partido. Quase dois meses depois, a ex-bloquista posava nua para duas revistas. O Agir saltava para as primeiras páginas, mas a ousadia de Joana Amaral Dias deixava os parceiros da coligação furiosos.

Muito antes, já tinham dado nas vistas depois de terem colocado a placa “Vendido” no Parlamento. Pelo meio, ainda hastearam a bandeira da Grécia no Castelo de São Jorge e receberam Passos Coelho com a bandeira da Alemanha.

"A história da Grécia ainda não terminou (...) A procissão ainda vai no adro (...) A premissa tem de ser posta ao contrário: ou acaba a austeridade, visto que ela não funciona, ou sai a Alemanha do euro".
Joana Amaral Dias, em declarações ao Observador

Estas duas últimas ações traziam ecos de uma batalha que estava a ser travada em Atenas. Uma luta que não era estranha ao Agir. O movimento político assumiu desde o início a inspiração do Syriza – na altura da apresentação da candidatura, elementos do Podemos espanhol e do partido grego marcaram presença na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa.

Em maio, em entrevista ao Observador, Joana Amaral Dias descrevia assim a luta de Alexis Tsipras: “A audácia do Syriza é uma audácia porque põe o dedo na ferida. É possível construir uma alternativa. Para haver uma democracia é preciso haver uma alternativa. (…) O caminho é difícil, mas isso já sabíamos. (…) Porque é de um braço de ferro que se trata. É a democracia contra os déspotas. E quando nós temos um braço de ferro entre a democracia, neste caso a democracia grega, e um poder anti-democrático”.

Meses depois, Alexis Tsipras passava de inspiração, a desilusão. De amigo, àquele estranho que vestiu fato e gravata e cedeu aos alemães. A 22 de setembro, em entrevista ao jornal i, Joana Amaral Dias criticava o Syriza que se deixou “aprisionar na história dos vencedores“. O grande erro de Tsipras? “Quem usa a linguagem e o pensamento dos carrascos, não pode esperar ganhar a batalha“.

A ex-bloquista não escondia a desilusão com o primeiro-ministro grego, mas “se calhar não tanto como algumas pessoas”. E explicava porquê: “Sempre tive algumas reservas em relação à condução de todo o processo. E também tinha consciência que esta luta só podia ser o caminho das pedras. Fiquei desiludida, estou desiludida, mas dentro das minhas expectativas que eram baixas”.

Em declarações ao Observador, Joana Amaral Dias reitera o sentimento de “desencanto” com Alexis Tsipras, mas, sobretudo, “com a situação da Europa, que deixou países como Portugal, a Espanha e a Grécia completamente isolados.

“A Grécia já deu três sinais muito fortes de que quer outro caminho verdade é que uma luta absolutamente desigual, é uma luta de David contra Golias. Estamos perante um país que está sozinho e que se ergue numa Europa absolutamente antidemocrática e perante um poder hegemónico e ditatorial de Angela Merkel e da Alemanha”.

Mas “a história da Grécia ainda não terminou“, continua. “As últimas eleições deram uma nova legitimidade a Alexis Tsipras e, portanto, a procissão ainda vai no adro. Agora o que não podemos aceitar é a chantagem dos credores e da Alemanha que nos diz: ‘Ou saem do Euro ou aceitam a austeridade’. Não podemos aceitar isso, porque a austeridade já provou que não resulta. Nós não podemos aceitar [essa] premissa. Se calhar a premissa tem de ser posta ao contrário: ou acaba a austeridade, visto que ela não funciona, ou sai a Alemanha do euro”. Joana Amaral Dias está desiludida com o amigo Syriza, mas não o deixa cair.

Um amigo que teve em Passos Coelho um dos principais opositores, acusa a psicóloga. “Pedro Passos Coelho acha que os povos não têm direito à soberania. Pedro Passos Coelho está em genuflexão e subserviência perante a Alemanha. Pedro Passos Coelho prefere proteger os interesses germânicos do que os interesses portugueses. E isso tem sido evidente em todo o caminho”.

É, por isso, preciso afastar Passos e Portas da condução dos destinos do país. E, então, voltamos à casa de partida: se chegar ao Parlamento, o Agir está disposto a apoiar um Governo liderado pelo PS? A resposta de Joana Amaral Dias não deixa qualquer margem para dúvidas.

Excluímos liminarmente [essa hipótese]. O Agir, desde o princípio, deixou muito claro que nunca fará, em circunstância alguma, alianças com quem nos trouxe ao abismo. E, portanto, PS, PSD e CDS estão absolutamente eliminados da possibilidade de alianças ou coligação”.

"O Agir, desde o princípio, deixou muito claro que nunca fará, em circunstância alguma, alianças com quem nos trouxe ao abismo" - PS incluído.
Joana Amaral Dias

Catarina Martins: O Syriza mostrou a Passos e companhia que “estavam enganados”

Numa campanha em que a crise grega serviu de arma de arremesso entre uns e outros, e mesmo depois de ter admitido que não concorda com “o plano de austeridade” aprovado pelo Governo grego, Catarina Martins não deixou de saudar o esforço de Alexis Tsipras. O irmão gémeo do Syriza em Portugal manteve-se fiel ao ADN e não deitou a toalha ao chão.

Em declarações ao Observador, no dia em fez campanha a bordo do Metro Sul do Tejo, Catarina Martins afirmou que o Syriza mostrou aos líderes europeus que, se achavam que só podiam haver governos da troika, “estavam enganados“.

O discurso inflamado contra a “subserviência” da Europa à Alemanha, foi-lhe valendo críticas ao centro durante a corrida eleitoral, com PS e coligação a não hesitarem em agitar o fantasma do Syriza e a colarem o Bloco ao partido de Alexis Tsipras.

"Se o PS tem o seu programa flexibilização de despedimentos e congelamento de pensões, o partido que pode defender as pensões e o emprego é o Bloco".
Catarina Martins, em declarações ao Observador

No debate com António Costa, o líder socialista disse que “o Bloco de Esquerda devia ter alguma humildade” depois do que aconteceu na Grécia com o Syriza; no frente a frente com Paulo Portas, o centrista confrontou-a com as derrotas de Tsipras; já em campanha, Passos defendeu que até o Syriza teve de mudar para permanecer no Euro.

A tudo isto, Catarina Martins respondeu sem deixar cair o legado dos gregos. Lembrou a Costa que o socialista tinha ficado feliz aquando da eleição do Syriza e assegurou que aprender com a Grécia não significa “desistir do país”; disse que Portas talvez gostasse “do beco sem saída”, mas preferia estar “solidária com quem tenta acabar com ele“; e a Passos, que o “programa que está a ser executado na Grécia não é o programa do BE. É o vosso [PSD/CDS/troika] programa”.

Toda a crise grega e o resultado das negociações poderiam ter hipotecado as hipóteses do Bloco – Alexis Tsipras venceu um referendo que rejeitava a austeridade como solução e acabou por aceitar o dobro da austeridade. O desfecho obrigou Catarina Martins a demarcar-se do programa negociado entre o Governo grego e os credores e a encontrar um caminho próprio.

A porta-voz do Bloco foi dos Açores a Paris, encheu comícios em Faro e Lisboa, organizou churrascos em Setúbal, provou caldo verde em Braga e desfilou no Porto, onde é cabeça de lista. Catarina calcorreou quilómetros pelo país, antes e depois de ter somado pontos em todos os debates com os principais líderes políticos – usou os cortes na Segurança Social e não largou Costa, Portas e Passos.

Agora, as sondagens colocam o Bloco perante um cenário difícil: aceitar a vitória da coligação Portugal à Frente e mais um mandato de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas ou ajudar António Costa governar com estabilidade? Numa altura em que o partido enfrenta a concorrência de uma coligação de dissidentes do Bloco que surgiu no espetro político português para se apresentar, precisamente, como uma esquerda que quer fazer parte da solução, os bloquistas vão dar mão ao PS ou manter o rótulo que lhes foi colado de partido de protesto?

https://twitter.com/ObsEleicoes/status/646707476386213890/photo/1?ref_src=twsrc%5Etfw

Ao Observador, a bloquista foi taxativa: se o secretário-geral do partido abdicar de algumas bandeiras, então Bloco e PS podem conversar. “Eu julgo que os partidos devem fazer escolhas. As escolhas do BE são claras: defender o país, defender as pensões, defender os salários, defender a Segurança Social e o PS responde com congelamento de pensões, com corte na TSU, com flexibilização de despedimento. Eu já disse a António Costa a disponibilidade do BE. Mas as pessoas hoje sabem: se o PS tem o seu programa flexibilização de despedimentos e congelamento de pensões, o partido que pode defender as pensões e o emprego é o Bloco“.

Catarina Martins repetia assim um repto já lançado no debate com António Costa. “As pessoas colocam grande esperança neste debate e, portanto, quero dizer-lhe o seguinte: se o PS estiver disponível para abandonar a ideia de cortar 1660 milhões de euros nas pensões, abandonar o corte da TSU, que ofende as pessoas, e de um regime conciliatório, que é uma forma de flexibilizar os despedimento, no dia 5 de outubro, eu cá estarei para que possamos conversar sobre um governo que possa salvar o país”. 

Mas Costa deixou Catarina sem resposta. Talvez por isso, as portas do diálogo parecem-se ter-se fechado para o líder socialista. No último domingo, no comício do BE em Lisboa, a coordenadora do Bloco arrasava o PS, “a desilusão destas eleições“, e o secretário-geral do partido, que está “aflito” a “pedir a maioria absoluta para um programa que não é capaz de explicar“.

Perante figuras ilustres do partido, como Francisco Louçã, Fernando Rosas e João Semedo, Catarina Martins endurecia o discurso e jogava todos os trunfos contra o PS – chegou mesmo a acusar António Costa de já ter “estabelecido [compromissos]” com a chanceler alemã, Angela Merkel, para “continuar a estratégia de subserviência“.

Os gregos provaram a Passos e companhia que "estavam enganados" quando pensavam que só podiam haver governos da troika.
Catarina Martins

Uma estratégia que o Bloco não aceitará porque recusa escolher um caminho que acabe em “desilusão”. Uma estratégia que o Agir rejeita porque não se imagina “a dormir com o inimigo”. E uma estratégia que dificilmente o Livre/Tempo de Avançará apoiará, porque é preciso encontrar uma alternativa. A 4 de outubro, o destino dos três amigos do Syriza poderá ser muito diferente e cruzar-se ou não com o do socialistas.

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