790kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Estou preparada para dizer aos portugueses que sou capaz de ser primeira-ministra”

O CDS começa a acreditar que pode ser mais do que o PSD. Em entrevista ao Observador, Cristas assume ambição de ser primeira-ministra e diz ter os melhores protagonistas para um Governo.

    Índice

    Índice

O relógio marca 10h37 de domingo, 26 de novembro. Assunção Cristas cruza, por fim, o portão do condomínio onde vive, no Restelo. Segue em direção ao Volvo azul escuro que a levará até Peniche, para o encerramento da Escola de Quadros do CDS. Traz um blazer cinzento, uma camisa vermelha e uns saltos muito altos. Está ligeiramente atrasada e pede imediatamente desculpa ao motorista. Nota-se um subtil arrastamento na voz, sintoma do desgaste a que diariamente está sujeita. Afinal, é mãe de quatro crianças, líder partidária, deputada e, há menos de um mês, vereadora em Lisboa. Antes de entrar no carro, pede ao Observador — que a acompanhará nesta viagem de 105 quilómetros até à região Oeste –, para seguir à frente, no lugar do pendura. “É que no banco de trás tenho tendência para enjoar“, explica. Será uma entrevista invulgar, conduzida em andamento — do banco de trás para o banco da frente — ideal para contorcionismos e torcicolos. No final da viagem, não haveria acidentes lombares a registar.

— “Quando quiser, podemos começar a entrevista”, começa Assunção Cristas, pouco depois de colocar o cinto.
— “Tinha pensado em começar quando estivéssemos na autoestrada. Sempre é mais confortável…”
— “Ótimo, assim ainda tenho tempo de pôr batom. Saí à pressa de casa…”.

Já entregue à minúcia de aplicar maquilhagem em andamento, queixa-se de não ter tido tempo para ler os jornais. Pergunta pelo tema que abriu os noticiários e reage sem surpresa quando a resposta é a mais recente polémica dos vales de compras atribuídos ao grupo de pessoas selecionado para fazer perguntas ao primeiro-ministro. “É uma vergonha…“, começa por dizer, até que a indignação é subitamente interrompida por um telefonema do assessor de imprensa, Pedro Salgueiro, a perguntar se queria fazer alterações ao discurso enviado com antecedência. “Não, penso que não. Tem 15 minutos, é menos longo que o do ano passado. Acabei por cortar a parte do Bloco e do PCP. Tenho tanto para dizer sobre eles, mas preferi focar-me só no Governo e no PS“, explica.

Seria também assim na entrevista ao Observador. Tal como repetiria no discurso formal já perante os jotinhas do CDS, Assunção Cristas apontou todas as setas ao coração do Governo que, diz, governa apenas para “o show-off e para a fotografia“, liderado por um primeiro-ministro um tanto ou quanto “bonacheirão”, “incapaz de assumir responsabilidades” e de “lidar com a crítica”, como se vivêssemos ainda no “antigo regime“.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As críticas a António Costa são conhecidas, mas é nas curvas e contracurvas do IP6 em direção a Peniche que Assunção Cristas deixa perceber que o resultado alcançado em Lisboa abriu novas perspetivas ao CDS: afirmar-se como um partido capaz de “governar numa posição cimeira” e de ser “a primeira escolha dos portugueses“. Daí até dizer ao que vem é um passo natural: “Estou preparada, hei de preparar-me para dizer aos portugueses que sou capaz de ser primeira-ministra”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“O CDS está preparado para governar”

No momento particular que o partido atravessa, é difícil perceber onde acaba a convicção genuína do CDS em relação às suas reais possibilidades de disputar as próximas eleições legislativas e onde começa o discurso para consumo interno, para galvanizar as hostes e animar os mais fiéis. Onde acaba a ambição legítima e onde começa a ilusão de Assunção Cristas para chegar a primeira-ministra? Os democratas-cristãos nunca conseguiram ultrapassar a barreira dos 16% em eleições nacionais e é pouco provável que o venham a conseguir fazer nas próximas legislativas. A líder do CDS coloca a fasquia alta: deixar de ser um satélite do PSD.

A corrida autárquica em Lisboa ajudou a alimentar e a criar algumas expectativas. Perante a falta de comparência do PSD, com Cristas como protagonista principal, o CDS conseguiu um resultado histórico, retirando a maioria absoluta a Fernando Medina — com a ajuda do Bloco de Esquerda — e relegando os sociais-democratas para um humilhante quarto lugar. É mais difícil essas circunstâncias repetirem-se a nível nacional.

Mas é isso que galvaniza dirigentes e militantes. Existe neste momento a expectativa de que é possível chefiar um Governo. Diogo Feio — Diretor do gabinete de Estudos — ou Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular, sugeriram-no na sessão de encerramento da Escola de Quadros do partido. Diogo Feio foi o primeiro a colocar Cristas na linha de sucessão direta de António Costa.

“Temos um grande desafio pela frente. Temos de passar o que conseguimos em Lisboa para o nível nacional. Sabemos bem que queremos gerir expectativas. Mas há uma certeza que eu tenho: neste momento não encontro ninguém na política nacional que esteja melhor preparada do que Assunção Cristas para poder ser primeira-ministra do nosso país“, afirmou o democrata-cristão, que é simultaneamente diretor da Escola de Quadros e do Instituto Adelino Amaro da Costa.

Seria, ainda assim, Francisco Rodrigues dos Santos a colocar esse objetivo em termos mais claros: “Se Deus quiser, em 2019, faremos de Assunção Cristas primeira-ministra de Portugal“, atirou o líder da JP, para alegria dos jotinhas, que lhe respondiam em coro: “Portugal merece um governo do CDS, Portugal merece um governo do CDS”.

"Quando me candidatei à liderança do CDS, aquilo que trouxe como visão, como vontade, foi fazer crescer o partido e chegar a mais pessoas. E mostrar que o CDS pode ser a primeira escolha das pessoas"

De volta ao carro com a líder do CDS. A pergunta merece uma resposta cautelosa: é possível replicar no país o que os democratas-cristãos conseguiram em Lisboa? Assunção Cristas hesita, lembra que as “circunstâncias” na autarquia lisboeta “eram específicas”, mas não desarma: “A ambição que colocámos nestas eleições autárquicas é a mesma que vamos colocar nas legislativas“.

Isso significa vencer as eleições?
Vamos ter um CDS a lutar sempre pelo melhor que puder. Perguntavam-me muitas vezes em Lisboa [se era possível vencer] e eu dizia que sim. Sabia de onde partíamos, partíamos de 7%. Mas nunca quis pôr um número. Disse sempre que tínhamos de trabalhar para podermos exercer o cargo de presidente da Câmara de Lisboa. E conseguimos um resultado que muitos julgavam impossível.

Mas vê-se como primeira-ministra?
O resultado de Lisboa é muito encorajador. E anima-nos pensar que todo o trabalho de casa que fizemos em Lisboa, que foi intenso, feito com tempo, esse método de trabalho levou-nos a este resultado. Agora, o que temos de fazer é exatamente o mesmo: trabalhar para dizer aos portugueses que o CDS está preparado para governar e governar numa posição cimeira. Estou preparada, hei de preparar-me para dizer aos portugueses que sou capaz de ser primeira-ministra.

A competição com o PSD: “Temos as melhores ideias e os melhores protagonistas”

Apesar de gritaram palavras de ordem para Cristas chegar à chefia do Governo, ninguém assume esta disputa pela controlo do centro-direita com o PSD, a braços com uma mudança de liderança. Seria um erro político hostilizar abertamente o parceiro que permite ao CDS ir para o Governo. O resultado em Lisboa, mas também o protagonismo que a líder do CDS assumiu no Parlamento, liderando, debate quinzenal após debate quinzenal, a oposição à direita ao Governo socialista, causa desconforto aos sociais-democratas.

Não é de estranhar, aliás, que tanto Rui Rio como Santana Lopes se estejam a esforçar por reposicionar o partido ao centro, mais próximo da linha social-democrata do que da tendência mais liberal de Pedro Passos Coelho. Os dois estão conscientes de que é ali, ao centro, que vão disputar as eleições com o PS.

Cristas também o sabe. Sobre as diferenças entre os dois partidos, a ex-ministra da Agricultura lembra que o CDS nunca deixou de apresentar propostas próprias. Recusa entrar em exercícios de comparação entre Rui Rio e Santana Lopes, mas reafirma que é o CDS quem tem “as melhores ideias e os melhores protagonistas”.

"Temos as melhores ideias, os melhores protagonistas e as pessoas podem olhar para nós como a primeira escolha"

O que distingue neste momento CDS de PSD?
A forma de fazer política do CDS tem sido, desde a primeira hora, de apresentar medidas, trabalhadas, estudadas, concretas, trazendo para cima da mesa um conjunto de propostas que são aquelas que nós consideramos as nossas prioridades e vamos continuar a agir desta maneira. É evidente que em muitas matérias temos uma convergência de pontos de vista. Fizemos trabalho em conjunto, a sensibilidade do CDS é maior numas matérias, a do PSD, porventura, será maior noutras. Mas nunca olhamos para o PSD como um partido com o qual temos de fazer uma enorme competição. É um partido amigo, parceiro, com quem trabalhámos juntos no passado muitas vezes, com quem no Parlamento muitas vezes articulamos posições.

O PSD atravessa neste momento um processo de mudança de liderança. Entre Rui Rio e Santana Lopes, com que preferia trabalhar?
Como imagina, não posso comentar as questões internas do PSD. O que posso dizer é que o CDS trabalhará muito bem e com uma forte parceria, assim o PSD o queira, com qualquer um que venha a ganhar a liderança do partido.

Mas os dois candidatos já disseram que querem colocar o partido ao centro. Isso não prejudicará as ambições do CDS?
Já o disse de forma muita clara: entendemos que devemos ser parte de uma alternativa de centro-direita em Portugal e essa alternativa terá de ser com o PSD. Dito isto, entendo que a forma de conseguirmos alcançar essa alternativa de votos é fazer crescer o CDS. O PSD terá também a mesma ambição. Há um enorme espaço de crescimento, por exemplo, entre as pessoas que não votam. O CDS tem o espaço que tem tradicionalmente. E o que queremos é alargar esse espaço. O ónus e o trabalho está do nosso lado. Não olho para aquilo que os outros estão a fazer. Olho para aquilo que nós estamos a fazer. Temos as melhores ideias, os melhores protagonistas e as pessoas podem olhar para nós como a primeira escolha. E é isso que farei certamente.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

As comparações com Portas e a vontade de fazer crescer o partido

Para crescer ao ponto de disputar as legislativas e ganhar, o CDS terá naturalmente de disputar as eleições ao centro-direita — e isso significa alargar a sua base de apoio. Algo que Paulo Portas nunca conseguiu, apesar da popularidade que gozava no interior do próprio partido. No interior do CDS, a gravitas do antigo vice-primeiro-ministro era tal que se confundia com o próprio CDS; mas os anticorpos que gerava fora do partido nunca lhe permitiram crescer para lá do espaço tradicionalmente ocupado pelos democratas-cristãos.

Depois da sua saída de cena, ninguém sabia exatamente o que seria o CDS na era pós-Portas. Houve, mesmo entre destacados militantes, quem projetasse uma travessia no deserto para os conservadores e uma sucessão de disputas internas que tornariam o partido ingovernável. Cristas não seria mais do que uma líder de transição, até que chegasse o próximo e depois o outro.

Quanto a Paulo Portas, impôs a si mesmo a regra de não falar sobre política nacional. Apareceu brevemente na campanha eleitoral de Lisboa para apoiar Assunção Cristas e pouco mais. Agora, veste outro fato. Dedica-se à vida profissional e apenas participa quando é chamado a pronunciar-se sobre questões internacionais. Teve uma breve (e atribulada) passagem nesta Escola de Quadros do CDS, em que falou durante mais de uma hora sobre nacionalismos e populismos no mundo. Nada mais. Nem uma única referência à política portuguesa. Continua a ser venerado pelos democratas-cidadãos, sobretudo pelos jotinhas, mas um olhar atento à forma como se comportam perante Assunção Cristas leva a crer que o poder e a influência se transferiram para as mãos da atual líder. Talvez mais depressa do que se julgaria possível.

No interior do Volvo azul escuro, recostada no banco da frente, Cristas recusa comparações com o antecessor. Reconhece a importância de Paulo Portas e lembra que todos os líderes, anteriores e atuais, imprimiram o seu registo próprio ao partido. E acrescenta um “mas”: com ela, o CDS quer crescer e chegar a mais pessoas.

"O CDS está preparado para governar e governar numa posição cimeira. Estou preparada, hei de preparar-me para dizer aos portugueses que sou capaz de ser primeira-ministra"

Paulo Portas era talvez mais adorado no interior do CDS, mas gerava mais antipatia no exterior do partido; Cristas pode não ser tão popular entre militantes, mas consegue chegar a outras pessoas que jamais votariam no CDS de Paulo Portas. É assim?
Nunca me coloco nessa perspetiva das comparações e todos nós acrescentamos alguma coisa à história do CDS. Mas quando me candidatei à liderança do CDS, aquilo que trouxe como visão, como vontade, foi fazer crescer o partido e chegar a mais pessoas. E mostrar que o CDS pode ser a primeira escolha das pessoas. E sei de muitas pessoas que me dizem quando vou na rua ‘gosto muito de si, mas não é o meu partido’ ou ‘nunca votei no CDS, mas gostava de votar em si’. O meu grande desafio é dizer às pessoas: pode votar no CDS, porque o CDS é um partido que se está a abrir, que está a chegar a mais pessoas.

A garantia de que o partido se está a abrir, pressupõe que antes estivesse mais fechado. E o antes era Paulo Portas. Assunção Cristas, no entanto, não faz essa associação. Fala apenas num processo de renovação e assegura que a sua principal missão é dizer aos portugueses que “o CDS não é um partido de elites”.

“O CDS não é o tal partido que ainda está na cabeça de algumas pessoas: o partido elitista, dos ricos ou da direita. Queremos ser um grande partido de centro-direita. E queremos dizer que não somos um partido fechado ou de elites. Sei que é um caminho longo, difícil, porque não se mudam perceções de um dia para o outro. Há muitas vezes um voto tradicional, nem que seja não votar em nada. E o meu grande desafio é chegar às pessoas que não votam e não se revêm e dizer-lhes: ‘Há aqui um partido que está a renovar-se e que tem um discurso diferente e que vale a pena olhar com mais atenção. E acho que Lisboa nos deu um sinal positivo e de encorajamento”, explica.

"O CDS não é o tal partido que ainda está na cabeça de algumas pessoas: o partido elitista, dos ricos ou da direita. Queremos ser um grande partido de centro-direita. E queremos dizer que não somos um partido fechado ou de elites"

O Governo do “show-off” e o primeiro-ministro “bonacheirão”

Assunção Cristas tem um discurso que vai apresentar à Juventude Popular bem estudado. Tanto que tem dificuldade em libertar-se dele. No caminho até Peniche, aproveita os 106 quilómetros que percorre desde Lisboa para repetir uma série de críticas ao Governo socialista e a António Costa, cuja forma de atuar, “ligeira, inconsequente, de vistas curtas”, se limita a manter “o poder pelo poder”.

No dia em que o Governo celebra dois anos de mandato, que avaliação faz deste Executivo?
Há um aspeto que considero positivo: conseguiu governar com uma solução que muitos consideravam frágil. Sempre entendi que quem chega ao poder desta maneira tudo fará para o manter e, portanto, apesar das dificuldades, sempre achei que António Costa tinha habilidade necessária para permanecer no poder. Mas tem revelado uma forma de atuar ligeira, inconsequente e de vistas curtas, em muitos aspetos muito desadequada e grave. Revelou uma imensa incapacidade de lidar com a situação dramática dos fogos e com a morte de 113 pessoas. E se olharmos só para a legionela, por exemplo, nunca o ouvimos dizer nada sobre essa matéria. Morreram cinco pessoas em Portugal e na semana passada apareceram mais dois casos. O país parece já estar anestesiado. Morre mais uma pessoa e as pessoas dizem ‘ah, morreu mais uma’, como se fosse uma coisa natural e normal. Não é natural, nem é normal.

A líder do CDS não para. Fala de um Governo que “não se responsabiliza por nada“, seja com os incêndios, com o furto de Tancos, com o jantar da Web Summit no Panteão Nacional. “Está lá há dois anos e diz sempre que a culpa é dos outros. Tudo isto faz parte de um padrão. O Governo não assume responsabilidades e lida mal com a crítica. Às vezes ouço o primeiro-ministro e parece que estamos no antigo regime. Os que criticam, os que estão contra eles, então estão contra o país. Já não há nenhuma hipótese de fazer uma crítica ao Governo”, queixa-se.

"Cativações desta natureza são um logro, uma aldrabice, uma falta de transparência. Temos um Governo que propagandeia determinadas verbas e depois vamos ver que é um Orçamento que não é executa"

“Veja-se o caso da candidatura à Agência Europeia de Medicamento e do Infarmed”, continua Cristas. “São reflexos de uma certa estratégia de atirar o barro à parede para ver se cola. Se colar está resolvido, se não logo se vê. Isto mostra um desmoronar de credibilidade do Governo. O Governo navega à vista, procurando o que é que melhor lhe pode servir do ponto de vista da popularidade. É uma clara hierarquia de prioridades contrária ao interesse nacional”, insurge-se Cristas.

Daí até lembrar o caso que marcou a agenda política do último fim de semana é um passo — os vales de compras atribuídos ao grupo de pessoas escolhido para fazer perguntas ao Governo — é um passo:

“Neste momento, o Governo está desorientado. Há uma grande descoordenação. Monta estes números como montou hoje [domingo], em que contrata pessoas para irem lá fazer umas perguntas com dinheiro dos contribuintes, usando o Conselho de Ministros para fazer este show-off. Porque este é o Governo do show-off, é o Governo para a fotografia e não se preocupa a sério com as coisas mais profundas. É um Governo que em muitas circunstâncias só consegue cavalgar aquilo que está bem, mas depois em relação às questões que são difíceis, que são trágicas, não consegue”, acusa Cristas.

Para lá desses casos que enumerou, o Governo tem conseguido uma evolução positiva da economia. É prova de que o modelo económico funcionou?
Este Governo, tirando a estabilidade política, não fez mais nada de significativo para a garantir que a economia cresce.

O Governo dirá que isso não é verdade: que a política de devolução e aumento de rendimentos foi motor da economia…
Isso seria verdade se não olhássemos para economia e percebêssemos que os motores da animação da economia são as exportações e o investimento privado. Não é o consumo privado. E o que está a criar emprego é, por exemplo, o turismo. E o Governo não fez nada, pelo contrário. O pouco que fez até foi para estragar.
Quando olhamos para aquilo que era a economia a crescer a 1,6% em 2015, e como desacelerou em 2016 para 1,4%, com a tal política de devolução de rendimentos que o Governo apregoou, percebe-se que depois do Orçamento do Estado a narrativa passou a ser diferente. Passaram a falar das exportações e do investimento privado. E o investimento público teve a queda maior de sempre. Não há memória de uma queda tão grande na história da nossa democracia. Os dois cavalos de batalha do Governo — investimento público e consumo privado — falharam.

O Governo continua a ter uma austeridade encapotada, com impostos indiretos e com a questão das cativações, que significam muitas vezes um corte gritante nos serviços que são prestados. O primeiro-ministro é capaz de dizer com um tom muito bonacheirão e até jocoso que nunca fez um Orçamento Retificativo, mas não tem a coragem de assumir que faz uma execução retificativa todos os anos. Cativações desta natureza são um logro, uma aldrabice, uma falta de transparência. Temos um Governo que propagandeia determinadas verbas e depois vamos ver que é um Orçamento que não é executa. É um Governo de falta de transparência, que vive da artimanha, que vive da habilidade.

Mas o que é que o CDS faria de diferente? Há alguma dificuldade em perceber que alternativa oferece o partido…
Não acho que haja qualquer falhanço da política anterior. Pelo contrário. Muito do que agora se vive tem que ver com a política anterior e com as reformas feitas pelo anterior Governo. Se hoje estamos com o desemprego na casa dos 9%, por exemplo, resulta em grande parte da reforma das leis laborais do anterior Governo. Devíamos estar a baixar o IRC e a apoiar as empresas, mas o Governo insiste na falácia de que é preferível baixar o IRS ao IRC. Só o faz por puro sectarismo ideológico. Neste Orçamento do Estado, apresentámos várias medidas, em matéria como Segurança Social e Educação. O Governo disse que não a tudo isto. Não passa nada ou quase nada e às vezes até apresenta propostas exatamente iguais às nossas. Aqui se vê a pouca disponibilidade do Governo em estabelecer qualquer consenso que seja.

Assunção Cristas chega a Peniche às 11h40. O motorista ainda tentara uma entrada lateral do Hotel, mas percebe, ao telefone, que não era por ali. “Então, enganámo-nos?”, pergunta Cristas, interrompendo uma resposta ao Observador. O motorista confirma e explica que aquele gradeamento não costumava existir. Lança-se em manobras apressadas e devolve o carro à estrada. A entrada principal do hotel é a poucos metros. Pedro Salgueiro e Diogo Feio vão recebê-la ao carro. Depois dos cumprimentos habituais, pergunta se a sessão pode começar. “Ainda temos de os chamar para dentro, só depois é que estamos prontos”, respondem-lhe. “Então chamem, vá lá. Pediram-me para estar aqui às 11h30 e eu prometi lá em casa que chegava para a almoçar, tarde mas chegava“, responde Cristas.

Começam as movimentações para encaminhar os membros da Juventude Popular para o interior do auditório do hotel que servirá de palco à sessão de encerramento da Escola de Quadros do CDS. Uma sala ampla, decorada em tons de azul, com mesas de dois dispostas a toda a sua largura, cada uma com garrafas de água, blocos, canetas, bandeiras da JP e pequenos rebuçados de menta.

A líder do CDS aproveitou os 15 minutos de discurso — tal como tinha estimado — para lançar críticas ao Governo da “habilidade, da ligeireza, da falta de profundidade, da incapacidade de assumir responsabilidades” e da “arrogância democrática” e da “desorientação política”, numa intervenção que ia sendo pautada pelas palmas dos jovens militantes.

Ao contrário de Diogo Feio e de Francisco Rodrigues dos Santos, não mencionou uma única vez a expressão “primeira-ministra”. Mas assumiu a “ambição de chegar mais longe” a “médio e longo prazo”. Até onde chegará o CDS de Cristas?

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora