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Lagarde de mãos atadas com inflação "teimosa". BCE não deve descer tanto os juros quanto se previa

Guerras, inflação e trabalhadores a "correrem atrás do prejuízo". Subida dos preços não está a desacelerar tanto quando o BCE desejaria e, por isso, juros não devem baixar esta 5ª feira nem em abril.

Ainda não será esta quinta-feira que o BCE irá fazer a primeira descida das taxas de juro, dizem os analistas – os mesmos analistas que chegaram a prever, a dada altura, que o primeiro corte poderia ser anunciado já nesta reunião de março. A inflação não está a baixar ao ritmo que a autoridade monetária gostaria, num contexto de instabilidade geopolítica, e as negociações salariais – em que os trabalhadores um pouco por toda a Europa estão a “correr atrás do prejuízo”, tentando recuperar o poder de compra perdido com o surto inflacionista – fazem antever que a pressão de subida dos preços vai continuar demasiado forte.

O Conselho do BCE reúne-se esta quinta-feira, para o segundo encontro de 2024, e a expectativa consensual é que a autoridade monetária não irá fazer alterações relevantes nas taxas de juro e nas restantes ferramentas de política monetária. “Os riscos de cortar as taxas de juro demasiado cedo superam os riscos de cortar demasiado tarde“, diz Franck Dixmier, diretor global de investimentos em obrigações da Allianz Global Investors (Allianz GI), resumindo numa frase a situação delicada em que o Banco Central Europeu (BCE) se encontra neste momento.

A taxa de inflação – cujo controlo é a única missão do BCE – baixou para 2,6% em fevereiro, segundo a primeira estimativa do Eurostat. Mas além de a desaceleração ter sido menor do que a queda que tinha sido prevista pelos economistas (2,5%), o dado mais preocupante é que a inflação subjacente (a que exclui itens mais voláteis como a energia e as alimentação não-processada) surpreendeu com um valor superior a 3%. Os economistas apontavam para uma leitura nos 2,9%, pelo que a primeira estimativa do Eurostat – fixada em 3,1% – praticamente eliminou qualquer expectativa de que o BCE avance já em março para um corte das taxas de juro.

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“A inflação poderá revelar-se mais persistente do que o previsto“, admite Flavio Carpenzano, diretor de investimentos do Capital Group, destacando as possíveis perturbações nas cadeias de comércio mundiais causadas pela instabilidade no Mar Vermelho. Essas perturbações – como se viu em 2021 no pós-Covid e, depois, com a invasão da Ucrânia – podem transmitir-se muito rapidamente à economia e, fazendo subir os preços, à inflação. E com esta inflação “teimosa”, por muito que uma descida dos juros pudesse ajudar a combater a estagnação económica na zona euro, as mãos de Christine Lagarde estão atadas.

A própria presidente do BCE já admitiu que o pior que poderia acontecer era baixar as taxas de juro e, depois, a inflação voltar a subir e ser necessário subir os juros outra vez. Avanços e recuos como esses, se acontecessem, seriam muito danosos para a credibilidade do banco central e é por isso que Franck Dixmier, da Allianz GI, considera que a opção menos arriscada, neste momento, é adiar a primeira descida dos juros.

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"A inflação poderá revelar-se mais persistente do que o previsto", admite Flavio Carpenzano, diretor de investimentos do Capital Group.

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Para Lagarde, sinalizar que o BCE continua preocupado com a ameaça da inflação também é crucial porque, em alguns países como a Alemanha, ainda estão a ser negociados aumentos salariais para o próximo ano (fiscal). E a presidente do BCE já tem alertado que, se esses aumentos não se fundamentarem em subidas equivalentes no indicador da produtividade, são aumentos que apenas irão fazer subir os preços dos bens e serviços e, por essa razão, prejudicar as pessoas com menos recursos.

“O crescimento dos salários acelerou muito rapidamente no último ano, com os trabalhadores a tentarem, ansiosamente, recuperar algum do poder de compra perdido com a inflação muito elevada que existiu”, diz Flavio Carpenzano, do Capital Group. “A ronda que se avizinha, de negociação salarial em países como a Alemanha, será muito importante para avaliar o grau de aumento da massa salarial em 2024”, já que esse é um dos indicadores que o BCE utiliza para antecipar a evolução dos preços e para determinar o nível adequado de taxas de juro.

A expectativa deste analista é que, com “escassez generalizada de mão de obra” e um “aumento da atividade industrial”, provavelmente “as empresas vão ter de aceitar dar aos trabalhadores aumentos maiores dos salários”. Por essa razão, antes de baixar a taxa de juro, “o BCE irá, certamente, querer esperar por evidências mais concretas de que as empresas estão a absorver os aumentos salariais nas suas margens de lucro“. Se isso não acontecer, isto é, se além de salários maiores as empresas não abdicarem das suas margens, então os preços vão continuar a subir a um ritmo acelerado e o BCE tão cedo não irá conseguir baixar as taxas de juro.

Margens de lucro das empresas ameaçam “copo meio cheio” que Centeno vê na economia

Os analistas do banco holandês Rabobank também se têm tornado cada vez menos otimistas em relação à magnitude de cortes de taxas de juro que o BCE poderá fazer ao longo de todo o ano 2024. “A inflação no setor dos serviços continua teimosamente alta e os dados dos salários apontam no mesmo sentido”, diz o Rabobank, acrescentando que “o indicador do BCE para aumentos salariais negociados [na zona euro] desacelerou no quarto trimestre mas continua em 4,5%”.

É neste contexto que o Rabobank acredita que irá haver apenas dois cortes da taxa de juro em 2024, de 25 pontos base cada um. Ou seja, a expectativa deste banco é que a taxa de juro termine o ano em 3,5%, o que é uma visão mais pessimista do que a generalidade dos analistas. A perspetiva mais consensual é que o BCE reduza as taxas de juro entre três e quatro vezes ao longo deste ano, até aos 3,25% ou 3%, respetivamente. Mas até há poucas semanas os mercados acreditavam que a taxa de juro poderia terminar o ano de 2024 perto de 2,5%.

Esta revisão brusca das expectativas dos analistas teve impacto na cotação das taxas Euribor, os indexantes que costumam antecipar os movimentos das taxas diretoras definidas pelo BCE. A Euribor a 12 meses, que no final de janeiro baixou para a casa dos 3,5%, voltou a subir nos últimos dias para perto de 3,8%. E os outros dois indexantes mais usados nos créditos à habitação em Portugal – a 3 meses e a 6 meses – continuam acima de 3,9%.

Linha azul: Euribor 12 meses; Linha preta: Euribor 6 meses; Linha verde: Euribor 3 meses. FONTE: Euribor-rates.eu

A decisão do BCE é anunciada esta quinta-feira às 13h15, hora de Lisboa, e meia hora depois começa uma conferência de imprensa de Christine Lagarde onde a presidente do BCE poderá dar dicas ao mercado sobre se é ou não realista esperar uma redução em abril ou, como os analistas consideram mais provável, em junho. “Um ponto-chave a que teremos de estar atentos na conferência de imprensa é se Lagarde confirma, ou não, que houve um debate no Conselho do BCE sobre uma descida dos juros“, diz o Rabobank. Se essa confirmação for dada publicamente, é um sinal de que a descida dos juros pode estar mais próxima – e vice versa.

Também importante, diz Feliz Feather, economista da gestora Abrdn, será analisar as projeções macroeconómicas que o BCE atualiza trimestralmente e que cuja edição mais recente vai divulgar esta quinta-feira. Sendo provável que essas novas previsões macroeconómicas incluam revisões em baixa do crescimento, Felix Feather acrescenta que “é importante estar atento a quaisquer mudanças sobre as perspetivas de inflação no médio prazo, já que estas são cruciais para as decisões que o BCE toma em cada momento”.

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