[Este artigo faz parte da série de nove trabalhos “Os candidatos vistos à lupa” que o Observador irá publicar até ao dia das eleições]
Num partido com cerca de oito anos e onde quase todos parecem ter dado os primeiros passos na política ativa — à exceção do rosto mais conhecido, claro está — é difícil traçar perfis políticos. O Livre escolhe os cabeças de lista nos vários distritos através de eleições primárias e entre os membros e apoiantes do partido os nomes vão-se repetindo o que lhes garante maior pontuação (a votação é feita com atribuição de pontos) e um lugar cimeiro nas listas do partido.
É inevitável associar o nome de Rui Tavares ao Livre. É frequentemente identificado como “líder” do partido ainda que no Livre não haja essa figura — a liderança do partido é do grupo de contacto, a direção –, a quantidade de vezes em que é candidato pelo partido e o facto de ter história na política fazem de Rui Tavares a cara do Livre.
Foi eurodeputado, eleito nas listas do BE para o Parlamento Europeu em 2009 desvinculou-se mais tarde e desempenhou o mandato até 2014 na qualidade de independente. Vínculos oficiais a outros partidos nunca teve. É historiador, “apaixonado pelo iluminismo” e nos mais próximos há quem brinque com a condição de “rato de biblioteca” sempre à procura de mais informação sobre o iluminismo “a grande paixão da vida”.
A somar ao iluminismo, tem dois filhos e há quem veja no facto de ter sido pai mais tarde a justificação para a “dedicação a 100%” aos filhos. Aquilo que muitos não sabem é que é um fervoroso adepto do Benfica, cujos jogos acompanha atentamente.
Académico, licenciado em História na variante de História da Arte pela Universidade Nova de Lisboa e mestre em Ciências Sociais pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, doutorou-se depois em História em Paris, na École des Hautes Études en Sciences Sociales. Nos Estados Unidos já foi “Visiting Scholar” na Brown University, em Providence, Rhode Island e desde 2020 é visiting professor na Universidade de Massachusetts.
Na política, incompatibilizou-se com Francisco Louçã — que teve como consequência o mandato na condição de independente em Bruxelas — e viu sair Joacine Katar Moreira do partido, com a respetiva perda de representação parlamentar, mas recusa que esses dois exemplos signifiquem que é uma pessoa de difícil trato. No seio mais próximo corroboram: “Pelo contrário, talvez achem que há espaço para manipular tendo em conta a forma de ser, mas depois não há”.
Diz-se libertário e “inesperadamente deputado no Parlamento Europeu”, ao longo dos anos já assinou também vários livros e no que diz respeito a hobbies mais comuns não lhe são conhecidos muitos além da leitura voraz.
É o cabeça de lista pelo círculo de Lisboa, depois de ter esmagado os outros candidatos na corrida interna do partido, e o Livre tem a firme convicção que conseguirá não só manter esse lugar (conquistado em 2019) como alargar a representação nas bancadas da esquerda constituindo uma bancada parlamentar.
Em Lisboa, Rui Tavares faz-se acompanhar pela deputada municipal e deixa braço direito livre para Setúbal
O número dois em Lisboa é Isabel Mendes Lopes. A lisboeta é atualmente deputada do Livre na Assembleia Municipal de Lisboa e está no terceiro — e último — mandato na direção do partido. Desde 2015 que é membro do grupo de contacto, mas antes de integrar o partido não se lhe conhece outra atividade na política nacional. Nas primárias do partido Isabel Mendes Lopes ficou em 3.º lugar, atrás de Rui Tavares e Carlos Teixeira, mas vai a sufrágio em lugar considerável “elegível” pelo partido.
Profissionalmente trabalha na área dos transportes, na Infraestruturas de Portugal, é licenciada em engenharia civil e especializada em transportes e planeamento. Com três filhas, diz-se “particularmente preocupada com as questões de aprofundamento da democracia e construção de uma sociedade mais justa e digna, onde a distribuição da riqueza, do tempo e das oportunidades seja equitativa”. Em 2019, quando tomou posse para o último mandato na direção do partido levava a filha mais nova no marsúpio, uma imagem que se repetiu, aliás, em várias manifestações e iniciativas do partido.
Fez teatro durante vários anos e, como grande fã de livros infantis, atualmente ainda consegue encaixar na agenda iniciativas de leitura de histórias aos mais novos como é o caso da “hora do conto” promovida pela Associação de Residentes de Telheiras, onde vive.
Enquanto deputada municipal do partido, um dos temas que quer desenvolver ao longo do mandato é o da participação das crianças nos processos de participação. Tem por objetivo apoiar à concretização da ideia da presidente da Assembleia Municipal, Rosário Farmhouse, de criar uma assembleia das crianças de Lisboa.
Paulo Muacho é o braço direito de Rui Tavares na Câmara Municipal de Lisboa, uma espécie de homem sombra discreto, que dedica 100% do tempo ao partido. Advogado, deixou o escritório onde trabalhava para ser funcionário do Livre, na condição de assessor político. Foi um dos membros que fundou o partido pelo qual agora se candidata e um dos fundadores do Núcleo Territorial do Distrito de Setúbal do Livre.
Antecedeu na Assembleia Municipal de Lisboa a Isabel Mendes Lopes, no mandato entre 2017 e 2021, onde se bateu pela perspetiva metropolitana e regional, além das fronteiras da cidade em si mesma.
O candidato do Livre por Setúbal, onde o partido só tem hipótese se o PAN perder o deputado (em 2019 foi Cristina Rodrigues que o PAN conseguiu eleger em Setúbal), é um dos mais europeístas entre os membros do Livre e defende com afinco o federalismo europeu e as causas dos Direitos Humanos.
Dentro do partido reconhecem que “é um dos motores que manteve o partido a funcionar”, mesmo nos momentos mais difíceis e quando desmobilizar era o “mais apetecível”.
A norte, o cabeça de lista é da cooperativa (e o mesmo de 2019)
Pelo Porto, Jorge Pinto volta a candidatar-se ao círculo a que já concorreu em 2019. É de Amarante e trabalha atualmente nas instituições europeias em Bruxelas. Formado em engenharia do ambiente e doutorado em filosofia social e política também já editou uma banda desenhada sobre Amadeo de Souza-Cardoso, seu conterrâneo, intitulada “Amadeo – A Vida e Obra entre Amarante e Paris”.
Ex-militante socialista foi durante a liderança de José Sócrates que acabou por se afastar do Partido Socialista, onde militou entre os 18 e os 25 anos. Está no Livre desde a fundação do partido. Entre 2014 e 2020 fez parte da direção e atualmente é membro da Assembleia. No percurso identifica “três grandes momentos definidores: a luta do povo timorense, o acidente do Prestige e a candidatura de Giuliano Pisapia à câmara de Milão” que acompanhou “por dentro”.
Para avançar com a candidatura pelo distrito do Porto, Jorge Pinto pediu autorização a Bruxelas, que respondeu por escrito ao candidato do Livre permitindo que tivesse avançado com a candidatura. Além da profissão, Jorge Pinto participa ainda ativamente em várias cooperativas onde se inclui um supermercado-cooperativa em Bruxelas. Não será de estranhar encontrar o agora candidato atrás da caixa no supermercado ou na reposição de stock já que dedica 4 horas por mês às tarefas necessárias na cooperativa.
Na área social, colabora com uma associação de refugiados na capital da Bélgica, onde ajuda na distribuição de comida nas ruas da cidade. Diz-se fã incondicional de desporto, mas apelida-se “verdadeiramente mau em tudo”. Do kickboxing ao clube de pesca, passando pelo atletismo e andebol, Jorge Pinto já experimentou um pouco de tudo.