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A reconstituição do que aconteceu no troço onde o atleta desapareceu (ANA MARTINGO/OBSERVADOR)
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A reconstituição do que aconteceu no troço onde o atleta desapareceu (ANA MARTINGO/OBSERVADOR)

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

A reconstituição do que aconteceu no troço onde o atleta desapareceu (ANA MARTINGO/OBSERVADOR)

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

Marílio foi visto a sair do percurso a um quilómetro da meta e encontrado com ajuda de chip. O que aconteceu ao atleta que morreu em prova

Atleta de trail que morreu em prova tinha caído a 2,5 km da meta. Mais à frente foi visto a sair do percurso e a passar por cima de uma fita. Chip ajudou a encontrar corpo. Hipótese de crime afastada.

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As buscas já iam no terceiro dia quando surgiu uma nova pista: um atleta lembrou-se que tinha visto outro atleta durante a prova a passar por cima de uma fita que impedia a passagem e a sair do percurso estipulado. Não conseguia afirmar com certeza que era Marílio Costa Leite, mas que tinha visto alguém a sair do trilho, disso estava seguro. Até porque o chegou a avisar: “Não vás por aí. Não é por aí que é para ir”. Mas a resposta foi perentória: “Não, eu vou por aqui”. Terá sido a última vez que o homem de 49 anos foi visto. “Evidencia que ele aí já não ia bem”, acredita um dos colegas de equipa, Fábio Silva, em declarações ao Observador.

Aconteceu junto à Capela de São Clemente, a apenas um quilómetro da meta do Trail das Capelas, em Soalhães, uma freguesia do concelho de Marco de Canaveses. As autoridades acreditam que terá sido aqui que o atleta de 49 anos se desorientou e saiu do percurso. Antes disso, cerca de 1,5 quilómetros antes, já tinha parado por se sentir fatigado, sendo mesmo auxiliado por um outro atleta. À meta, nunca chegou. Desapareceu e durante mais de dois dias autoridades, amigos e voluntários procuraram por ele: acabou por ser encontrado morto a 600 metros do percurso.

A reconstituição do que aconteceu no troço onde o atleta desapareceu (ANA MARTINGO/OBSERVADOR)

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

O Ministério Público abriu um inquérito — algo que é, porém, habitual nestes casos. Até porque não há para já indícios de crime. Embora não se saiba ainda o resultado da autópsia, a tese da GNR, que está com o caso, é a de que terá acontecido um acidente. “Acreditamos que, perante a fadiga, se pode ter desnorteado e alterado o percurso. A autópsia dará mais argumentos científicos, mas não há qualquer previsibilidade de que tenha acontecido outra coisa que não um acidente”, explicou ao Observador o major Francisco Martins, do Comando Territorial do Porto da GNR. Mas como é que este “acidente” foi acontecer?

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Ministério Público confirma abertura de investigação a morte de atleta durante prova em Marco de Canaveses

Após cair duas vezes, foi ajudado por um atleta. Mas mandou-o seguir porque ficaria à espera da sua equipa — o que não fez

Algo começou a correr mal a 2,5 quilómetros da meta. A prova começou às 9h00, a partida foi junto à Igreja de São Martinho de Soalhães — que era também a meta, por ser um percurso circular. Marílio Costa Leite participava no trail curto, de 17 quilómetros e deveria cruzar a meta por volta das 15h00. Mas desapareceu cerca de uma hora antes.

Marílio estava quase a terminar a prova, quando caiu duas vezes a passar a zona das Pedras Brancas, uma descida íngreme feita com cordas, e acabou por ir, desorientando, contra uns arbustos. Nesse momento, estava no quilómetro 14,5 e estava já há cinco horas na prova. Um atleta de outra equipa que vinha atrás de si reparou e “auxiliou-o a chegar a uma pedra em granito onde se sentou“, conta ao Observador Josias Manué, coordenador da Proteção Civil de Marco de Canaveses. A esse atleta, Marílio terá dito que “tinha os membros inferiores bastantes trémulos”. “Estava visivelmente em quebra em termos de capacidade física”, adiantou.

Preocupado, o atleta perguntou-lhe “se queria que chamasse alguém” ou “que ficasse ali com ele”, conta o colega de equipa Fábio Silva ao Observador. Mas o homem de 49 anos terá descansado o atleta e “disse que ia ficar à espera da sua equipa, que estaria a cerca de três ou quatro minutos dali“. E o atleta continuou a prova. “Quando estas coisas acontecem, acreditas que a pessoa vai esperar”, adianta Fábio Silva. Mas não aconteceu: Marílio Costa Leite não esperou pelos colegas de equipa e continuou a prova.

⚠️⚠️COMUNICADO⚠️⚠️O Marilio Leite não cruzou a meta do Trail Rota das Capelas no dia de ontem, e o seu paradeiro…

Posted by Trail Rota das Capelas on Monday, July 19, 2021

A última fotografia tirada a Marílio Costa Leite, partilhada na página de Facebook do Trail das Capelas, foi precisamente na zona das Pedras Brancas, pouco antes de cair. Durante dois dias, as autoridades e os voluntários que estavam a participar nas buscas acreditavam que tinha sido aqui, a 2,5 quilómetros da meta, que o atleta tinha sido visto pela última vez. Mas uma pista que chegou mais tarde veio mostrar o contrário.

A apenas um quilómetro de cruzar a meta, Marílio passou por cima de uma fita que impedia a passagem e saiu do trail

Depois de ter sido ajudado na zona das Pedras Brancas, Marílio ainda percorreu mais um quilómetro e meio dentro do percurso. Terá saído do trail exatamente junto à Capela de São Clemente, a apenas um quilómetro de cruzar a meta. “Havia uma zona com uma fita que estava a cortar a passagem para outro trilho que vinha ter à estrada, mais abaixo”, explica ao Observador o colega de equipa Fábio Silva. Segundo um atleta que o viu nesse momento, Marílio tropeçou nessa fita, caiu e passou por cima dela, saindo do percurso — percurso esse que previa que os atletas passassem por dentro da capela.

[A Capela de São Clemente onde Marílio Costa Leite se terá desviado do percurso]

Fábio Silva seguia atrás, mas já não viu o colega. “Eu subo para a capela, ele vai para a rua de baixo e eu não o vejo. Foi uma questão de tempo. É angustiante, porque se eu chegasse um minuto mais cedo se calhar cruzava-me com ele na altura que ele decidiu ir por aquela fita”, conta ao Observador. Acredita que, naquele momento, Marílio “já não ia nele”. E tem uma explicação para isso: ao longo do percurso há fitas penduradas em árvores ou pedras para que os atletas saibam que estão no caminho certo. “Nós estamos habituados: se estamos 100 metros sem ver uma fita, voltamos para trás. Todos nós já nos perdemos em trilhos e voltamos atrás. Se ele não volta, é porque já não estava bem”.

"Eu subo para a capela, ele vai para a rua de baixo e eu não o vejo. Foi uma questão de tempo. É angustiante porque se eu chegasse um minuto mais cedo se calhar cruzava-me com ele na altura que ele decidiu ir por aquela fita"
Fábio Silva, colega da equipa de Marílio Costa Leite

Os colegas da equipa que seguiam atrás de Marílio estavam atentos — a qualquer momento podiam cruzar-se com ele, porque estaria, como seria de esperar, a fazer o percurso estipulado. Mas até à meta nem sinal. Só podia significar que tinha cruzado a meta muito antes da equipa. “Não me tendo cruzado com ele, chegando à meta, a primeira coisa que faço é perguntar onde está o Marílio. Deixei chegar mais elementos da equipa e ele não aparece. Começo a ficar muito preocupado”, conta Fábio Silva ao Observador.

As buscas começaram logo ali. No domingo, duraram até às 4h00 da madrugada e só pararam devido à falta de visibilidade. Continuaram na segunda-feira e na terça-feira foi encontrado o seu dorsal, isto é, o elemento de identificação que cada um dos atletas usa nas costas ou no peito.

Dorsal estava a 100 metros em linha reta do local onde foi encontrado o corpo. Marílio caiu de uma ravina de cinco metros de altura

Ao terceiro dias de buscas, uma equipa de cronometragem lembrou-se de uma forma para ajudar a procurar o atleta: localizá-lo através do chip que os atletas levam no dorsal. As esperanças não eram muitas até porque o objetivo deste sistema é apenas comprovar a passagem dos atletas em locais específicos do percurso e controlar tempos e, por isso, tem alcance apenas num raio de 20 metros.

Ainda assim, foi suficiente. “Percorremos o caminho desde o sítio onde foi tirada a foto, com uma antena virada para cada lado, até à meta”, conta Fábio Silva. Mas sem sucesso. Depois, seguiram pelo caminho que Marílio poderia ter percorrido quando passou por cima da fita, junto à Capela de São Clemente, quando se desviou do trail. Foi quando o sistema deu sinal.  O dorsal foi encontrado a 100 metros do corpo em linha reta. Depois de encontrado, não passou muito até que o corpo fosse encontrado também. Eram 21h00 de terça-feira.

Depois de sabermos da triste notícia, aquela que ninguém queria ouvir, a Organização do Trail Rota das Capelas não pode…

Posted by Trail Rota das Capelas on Tuesday, July 20, 2021

As autoridades acreditam que, depois de sair do trail, Marílio percorreu uma estrada de terra batida. Depois, terá passado o Caminho Municipal 1254, onde existe uma zona com habitações, e caído numa ravina de cinco metros de altura. O local onde o corpo foi encontrado estava a 50 metros abaixo desse Caminho Municipal e a 600 metros do percurso da prova.

Marílio tinha passado numa zona de abastecimento. Equipa acredita que atleta que o auxiliou não podia ter feito mais nada

As dúvidas ainda são muitas. A equipa afasta a hipótese de o atleta estar desidratado ou a de que estivesse há várias horas sem se alimentar. Fábio Silva explica que havia várias zonas de abastecimento ao longo da prova, onde os atletas podiam beber água e pegar em comida para comer em andamento: fruta e até gomas. Das várias zonas de abastecimento, há uma cuja passagem é obrigatória. Por isso, tudo indica que Marílio terá passado por lá.

"É normal acontecer. Já passei por muita gente cansada, muita gente já caiu a minha frente. O atleta que ganhou a prova, caiu à minha frente. Caiu numa descida e perguntei se ele estava bem. Disse: 'Sim, sim, vou continuar'. O que podemos fazer?"
Fábio Silva, colega da equipa de Marílio Costa Leite

Também põem de parte qualquer negligência por parte do atleta que o ajudou na zona das Pedras Brancas. É certo que o regulamento do Trail das Capelas é claro quanto a isso — “não prestar assistência a um participante que esteja a necessitar de ajuda” é a infração mais grave de todas e pode resultar em “desclassificação e erradicação de futuras edições” —, mas não só tudo indicava que fosse só cansaço, como o próprio Marílio garantiu ao atleta que iria esperar pela equipa. “É normal acontecer. Já passei por muita gente cansada, muita gente já caiu à minha frente. O atleta que ganhou a prova, por exemplo, caiu à minha frente. Caiu numa descida e perguntei se ele estava bem. Disse: ‘Sim, sim, vou continuar’. O que podemos fazer?”.

Muitas das dúvidas ainda persistem podem ser esclarecidas com a autópsia: desde logo, perceber se Marílio se sentiu mal e acabou por cair ou se a causa da morte foi  mesmo uma queda.

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