Só quando a frase lhe saiu da boca é que Edmundo Martinho terá percebido a ironia acidental que esta continha, ou os double entendres humorísticos que dali podiam surgir. Estávamos numa audiência parlamentar, nos primeiros dias de janeiro de 2018, e o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa dava explicações sobre o possível investimento milionário no banco da Associação Mutualista Montepio — a Caixa Económica Montepio Geral. Edmundo Martinho dizia não compreender o alvoroço criado porque a instituição sempre teve investimentos no setor financeiro e, além disso, “a Santa Casa não pode, simplesmente, meter o dinheiro no banco“.

Ora, era precisamente disso que se estava a falar — meter dinheiro num banco — mas noutra perspetiva. Edmundo Martinho tentava explicar que fazia sentido diversificar as aplicações financeiras por causa das taxas de juro baixas (negativas, mesmo, contando com a inflação). Ou seja, não aplicar os recursos da Santa Casa em investimentos com um pouco mais de risco do que meros depósitos corresponderia, na realidade, a uma destruição de valor. Mas foram vários os deputados, presentes nessa audição, que deixaram escapar um sorriso sarcástico ao ouvir o provedor da Santa Casa dizer que esta não podia “meter o dinheiro no banco” — até porque não se estava a falar de pouco dinheiro, nem se estava a falar de um banco qualquer.

Passaram mais de seis meses desde esse dia. E está prestes a chegar ao fim o negócio que começou por ser de (muitos) milhões e agora não envolverá mais do que alguns tostões. É assinado esta sexta-feira, 29 de junho, o protocolo de venda de até 2% do capital da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) — até agora detida a 100% pela Associação Mutualista — a entidades de carácter social (um grupo onde a Santa Casa da Misericórdia assume um protagonismo natural).

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