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Ruslan Edelgeriyev tem 47 e é, desde junho de 2018, conselheiro de Vladimir Putin e representante especial da Rússia para os Assuntos Climáticos

Corbis via Getty Images

Ruslan Edelgeriyev tem 47 e é, desde junho de 2018, conselheiro de Vladimir Putin e representante especial da Rússia para os Assuntos Climáticos

Corbis via Getty Images

O "checheno literato" que cresceu com Kadyrov (e às vezes sugere atirar pessoas pela janela) que veio a Lisboa representar Putin

Ruslan Edelgeriyev é o representante de Vladimir Putin na Cimeira dos Oceanos, em Lisboa. Filho de uma professora que deu aulas aos Kadyrov, cresceu com Ramzan e foi primeiro-ministro da Chechénia.

Quando, há quatro anos, Vladimir Putin chamou o então primeiro-ministro checheno a Moscovo e lhe anunciou que passava a contar consigo, não apenas como conselheiro presidencial, mas também como representante especial para os Assuntos Climáticos, Ramzan Kadyrov, o Presidente da República da Chechénia, publicou no Telegram um texto a agradecer a honra, assegurar lealdade ao Kremlin e a felicitar o “IRMÃO” — assim, em maiúsculas.

“É um estadista excecionalmente responsável, capaz e talentoso”, escreveu Kadyrov, também conhecido como o “soldado raso” de Putin, sobre Ruslan Edelgeriyev, o homem que esta semana está em Lisboa, em representação da Rússia e do Presidente da Federação na Cimeira dos Oceanos.

Não foi um toque inadvertido na tecla do caps lock: nascidos ambos em Tsentoroy, a vila a cerca de 50 quilómetros de Grozny cujo nome foi entretanto mudado para Akhmat-Yurt, em honra do mufti separatista que acabou por se alinhar com o Kremlin e ser proclamado primeiro presidente da Chechénia, Ramzan e Ruslan são amigos praticamente desde sempre.

Russian President Vladimir Putin Marks National Unity Day In Moscow

Ramzan Kadyrov, líder da República da Chechénia

Getty Images

Aliás, antes mesmo de nascerem, já estavam ligados: Vera Afanasievna Deryabina, a mãe do enviado de Vladimir Putin a Lisboa, deu aulas de química e de biologia a Akhmat Kadyrov, pai de Ramzan, assassinado em Grozny no Dia da Vitória de 2004, somente um ano depois de assumir os destinos da recém-reconhecida república russa.

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Conselheiro de Putin vem a Lisboa, à conferência dos Oceanos

Anos mais tarde, já reitora do liceu local, Vera Deryabina, que em 2008 seria eleita para o Parlamento da Chechénia, também foi professora do filho, atualmente com 47 anos, e do atual líder checheno, dois anos mais novo, considerado “como um filho” por Vladimir Putin — o que, por associação de ideias, fará de Ruslan Edelgeriyev, se não parte da prole do presidente russo, pelo menos membro da sua família alargada.

Antes de morrer, num acidente de carro em 2019, aos 73 anos, a professora, que chegou a ser agraciada duas vezes por Ramzan Kadyrov, por “Serviços à República Chechena” e com a medalha “Nenan Siy”, “Glória Materna”, ainda deu aulas aos filhos do Presidente. “Professora de três gerações da família Kadyrov morre em acidente”, titulou a TASS na altura — a referência ao filho conselheiro de Vladimir Putin surgia apenas na última frase do texto.

“Abubakar Said-Khuseinovich tem uma vasta experiência de trabalho nos mais altos cargos da República Chechena”, ressaltou Ramzan Kadyrov

O único checheno capaz de chegar ao Kremlin?  “Não é um irmão da floresta com uma metralhadora”

Um dos cinco filhos de Deryabina e de um professor de educação física que as biografias não nomeiam, Ruslan Sayd-Khusaynovich Edelgeriyev nasceu a 4 de dezembro de 1974 e tem no currículo três licenciaturas em 14 anos: a primeira em jurisprudência, no Instituto de Direito de Krasnodar, do Ministério de Assuntos Internos da Rússia; a segunda em tecnologia para a produção e processamento de produtos agrícolas, na Universidade Estatal da Chechénia; e a última em horticultura, na Universidade Agrária do Estado de Kuban, também em Krasnodar.

“Abubakar Said-Khuseinovich tem uma vasta experiência de trabalho nos mais altos cargos da República Chechena”, ressaltou Ramzan Kadyrov, acusado de inúmeras violações dos direitos humanos, incluindo torturas e execuções extrajudiciais, no texto que publicou em junho de 2018 no Telegram, tratando o amigo por outro dos nomes por que é conhecido, Abubakar. “Nos últimos seis anos, liderou o governo da República da Chechénia. Conseguiu organizar o trabalho do Gabinete de Ministros e mobilizar todos os ministérios e departamentos para resolver problemas globais de desenvolvimento da economia, da esfera social e de atração de investimentos.”

Entrevistada na mesma altura pelo RTVI, canal de televisão internacional russófono (que não emite na Rússia), uma fonte próxima do governo checheno descreveu o recém-nomeado conselheiro de Putin para os Assuntos Climáticos como um político inteligente e europeizado, dono de um russo irrepreensível, “praticamente sem sotaque”, e muito provavelmente o único checheno capaz de receber uma indicação para Moscovo.

“Há pouco fui nomeado, pelo Presidente da Rússia Vladimir Putin, como o negociador principal sobre as três convenções de Rio de Janeiro, o que reflete a abordagem unificada do nosso país aos problemas ecológicos e climáticos. Além disso, tenho chefiado o grupo de trabalho intersetorial sobre as alterações climáticas e desenvolvimento sustentável”, escreveu Edelgeriyev

“É um checheno literato, não um irmão da floresta com uma metralhadora”, disse o entrevistado, sob anonimato. “Este é um importante reconhecimento de Putin: Kadyrov está a formar a sua própria intelligentsia, que pode representar não só Grozny em Moscovo mas também Moscovo no mundo”, previu ainda na altura, quatro anos antes de Ruslan Edelgeriyev aterrar em Lisboa para a Conferência dos Oceanos.

Desde então, foram várias as ocasiões em que representou Vladimir Putin em conferências internacionais sobre o clima, incluindo a COP26, em 2021, em Glasgow — e foi isso mesmo que explicou esta segunda-feira, por escrito, às perguntas enviadas pela agência Lusa.

“Há pouco fui nomeado, pelo Presidente da Rússia Vladimir Putin, como o negociador principal sobre as três convenções de Rio de Janeiro, o que reflete a abordagem unificada do nosso país aos problemas ecológicos e climáticos. Além disso, tenho chefiado o grupo de trabalho intersetorial sobre as alterações climáticas e desenvolvimento sustentável”, escreveu Edelgeriyev, garantindo que, não obstante as “complicações” a curto prazo que as sanções do Ocidente poderão causar, a meta de Putin para a neutralidade carbónica — 2060 — será cumprida.

Ruslan Edelgeriyev, que entre 1992 e 1994, ainda antes da primeira guerra da Chechénia, serviu nas Forças Armadas da Federação Russa, é muito mais discreto. Como a mãe, também foi distinguido pela República da Chechénia, mas com a Ordem Akhmat Kadyrov.

Questionado sobre se teme alguma espécie de boicote à participação russa na cimeira, que arrancou nesta segunda-feira com milhares de participantes e representantes de 140 países, Ruslan Edelgeriyev assumiu-se como um “adepto de diálogos construtivos”, que até reconhece que as relações de Moscovo “com muitos países ocidentais estão num nível baixo”, o que não invalida que o assunto em cima da mesa não possa ser tratado como estava previsto — e não apenas porque, como ressalvou, “o mundo não se limita ao Ocidente”.

“Espero que colegas de outros países também coloquem a resolução dos problemas globais de desenvolvimento sustentável à frente das ambições políticas”, escreveu, diplomático, como quem o conhece diz que é costume. “Pessoas como ele são definitivamente necessárias às negociações. De vez em quando ele sugere ‘atirar este tipo pela janela’. Mas só a brincar, claro”, disse à RTVI um funcionário do governo checheno, também em 2018.

De chefe da polícia a conselheiro de Putin (com uma passagem pela chefia do governo pelo meio)

Antes de se dedicar às alterações climáticas e de se mudar, com a mulher e os seis filhos, para a Rússia, Ruslan Edelgeryiev foi primeiro-ministro da República da Chechénia, cargo que manteve entre 24 de maio de 2012 e 22 de junho de 2018, sem grande história nem salário — segundo a agência russa TASS, só há quatro anos é que o rendimento que declara disparou, de 1,77 milhões de rublos em 2017 para 6,574 milhões em 2020.

Nos quatro anos antes de chegar ao posto mais alto do governo checheno, Edelgeryiev tinha acumulado com o cargo de ministro da Agricultura a sua vice-presidência mas até ao fim de dezembro de 2007, então com 33 anos, o agora conselheiro de Putin trabalhou sempre nas forças da autoridade, tanto da Rússia como da Chechénia.

Esta segunda-feira, quando questionado sobre de que forma o conflito em curso na Ucrânia pode colocar em causa as políticas ambientais comuns, respondeu com o exemplo da Guerra Fria e recordou que, até então, os blocos de Leste e de Ocidente “cooperavam no domínio da proteção ambiental”.

Foi polícia no departamento de assuntos internos da cidade de Slaviansk do Kuban, em Krasnodar; foi funcionário do departamento de polícia distrital do distrito checheno de Kurchaloevsky; e foi, durante sete meses apenas, em Grozny, chefe de departamento das SOBR Terek, a conhecida força de elite da Chechénia, que assegura a proteção das instituições do governo e é liderada por Abuzayed Vismuradov, que no ano passado foi sancionado pela União Europeia, pelo envolvimento em atos de repressão contra membros da comunidade LGBTQ no país — e que é outro dos amigos de infância de Ramzan Kadyrov.

Ruslan Edelgeriyev, que entre 1992 e 1994, ainda antes da primeira guerra da Chechénia, serviu nas Forças Armadas da Federação Russa, é muito mais discreto. Como a mãe, também foi distinguido pela República da Chechénia, mas com a Ordem Akhmat Kadyrov.

Esta segunda-feira, quando questionado sobre de que forma o conflito em curso na Ucrânia pode colocar em causa as políticas ambientais comuns, respondeu com o exemplo da Guerra Fria e recordou que, até então, os blocos de Leste e de Ocidente “cooperavam no domínio da proteção ambiental”. Depois, continuou, em modo diplomacia ativado: “Se não estamos unidos mesmo nas coisas tão óbvias, como a prevenção das alterações climáticas globais, então como podemos falar das coisas mais complexas?”.

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