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O fantasma do Natal passado, a sombra de Thatcher e a frase de Eminem. Os candidatos tory suaram no último frente-a-frente na TV

A ideia de que Rishi Sunak "traiu" Boris Johnson voltou a assombrar o ex-ministro, que segue em desvantagem. Mas Margaret Thatcher e a economia deram-lhe um empurrão e deixaram Liz Truss em apuros.

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Liz Truss partiu para este último frente-a-frente televisivo como a clara favorita. As sondagens revelam que a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros de Boris Johnson segue com uma vantagem esmagadora de 34 pontos percentuais face ao antigo colega da pasta das Finanças, Rishi Sunak.

A sessão desta quinta-feira — não um debate clássico, mas uma série de perguntas colocadas por eleitores e por uma jornalista — assumia-se, por isso, como um desafio fácil para a candidata. Hora e meia depois, porém, era possível perceber que o inesperado aconteceu. Questionados por Kay Burley sobre quem venceu o encontro, a larga maioria dos eleitores conservadores presentes na sala optou pelo antigo ministro das Finanças, Rishi Sunak.

New Allegations Of Downing Street Party During First Lockdown

Liz Truss tem uma vantagem de 34 pontos percentuais nas sondagens

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Não é certo se será suficiente para mudar o rumo da campanha; mas Sunak conseguiu sobreviver mais um dia para continuar a lutar. A 5 de setembro, será anunciado quem é que os tories escolheram para liderar o seu partido e, por inerência, os destinos do país no cargo de primeiro-ministro. Até lá, muita água ainda pode correr. E os temas que marcaram este frente-a-frente irão certamente continuar a ser invocados por Truss e Sunak.

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Boris Johnson, o fantasma do Natal passado que ensombra Sunak

“O que é para si a honestidade?” Foi com esta pergunta que a jornalista da Sky News, Kay Burley, introduziu o tema que tem assombrado Rishi Sunak desde o primeiro momento desta campanha. A sua demissão do cargo de ministro das Finanças pôs em marcha o processo de afastamento de Boris Johnson e deixou o candidato refém da perceção de que “traiu” o seu primeiro-ministro por acalentar ambições de o substituir.

“É sem dúvida uma narrativa que tem alguma tração entre os membros [do partido]. É o velho problema: aquele que segura a faca acaba por nunca usar a coroa”, desabafava um aliado de Sunak esta quinta-feira de manhã nas páginas do Daily Telegraph. Uma profecia que se concretizou totalmente no evento da noite, quando um dos eleitores presentes atirou, de forma irritada, uma acusação a Sunak: “Espetou a faca no Boris por interesse próprio!”, disse uma voz no estúdio.

First UK Cabinet Meeting Held As MPs Return From Summer Recess

A demissão de Rishi Sunak do governo de Boris Johnson tem sido encarada por muitos conservadores como uma traição

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Consciente de que esta perceção não o favorece, Sunak partiu para o contra-ataque e ensaiou uma defesa da sua posição, endurecendo a retórica face a Johnson pela primeira vez. “Sim, trabalhei com o primeiro-ministro e estou muito orgulhoso do que alcançámos. Mas chegou a um ponto em que era demasiado difícil para mim continuar no governo”, começou por explicar.

Sunak ensaiou uma primeira justificação citando as diferenças entre os dois “na política económica”, mas acabou por mostrar os dentes. Nunca mencionando o Partygate — o escândalo de festas em Downing Street que começou por eventos singelos como um quizz de Natal e acabou com vinho tinto espalhado pelas paredes da residência oficial do primeiro-ministro —, Sunak começou por falar num “problema ético” em que o governo se viu envolvido e com o qual não pôde concordar.

A “pior crise de sempre” de Boris Johnson parece não ter fim. E podem ser os próprios tories a pôr fim ao “pesadelo”

Mas, ao ouvir mais perguntas e ao ser acusado de “traição” por um dos conservadores presentes, Sunak partiu para o ataque: “Não olhemos para o passado com óculos cor-de-rosa. Vejam o que aconteceu com o caso de Chris Pincher”, disse, referindo-se ao membro do governo cujo passado de assédio sexual era conhecido pelo primeiro-ministro. “Não podia defender aquilo, 60 membros do governo não quiseram defender aquilo e é por isso que estamos aqui.”

Já a adversária Liz Truss teve a vida mais facilitada, por sempre ter sido uma apoiante leal de Boris Johnson. Mas até a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros tropeçou ao ser confrontada com este tema e foi assombrada por este fantasma. Confrontada com a investigação de que o primeiro-ministro ainda é alvo nos Comuns, sobre se terá mentido ao Parlamento, Truss foi inicialmente taxativa: “Não vou fazer pré-julgamentos”, repetiu várias vezes a candidata.

“Não olhemos para o passado com óculos cor-de-rosa. Vejam o que aconteceu com o caso de Chris Pincher”, disse Sunak, referindo-se ao membro do governo cujo passado de assédio sexual era conhecido pelo primeiro-ministro. “Não podia defender aquilo, 60 membros do governo não quiseram defender aquilo e é por isso que estamos aqui”.

Pouco depois, porém, esvaziava a própria investigação, dizendo que está convicta de que o primeiro-ministro não mentiu aos deputados. E voltou à defesa aguerrida de Boris, relembrando o seu legado no Brexit, as vacinas contra a Covid-19 e o apoio à Ucrânia. “Sim, ele cometeu erros, mas é errado caracterizá-lo [como alguém que enganou o país]”, decretou.

“Vocês concordam?”, perguntou Kay Burley à audiência. “Sim, sim!”, responderam alguns de imediato. “Não!”, respondeu um coro audível de outros participantes. “Estão divididos, portanto”, concluiu a jornalista.

Truss tem os colegas de governo do seu lado. Mas Sunak conta com “os princípios do Thatcherismo”

Outro dos tópicos que assombrava esta série de perguntas televisivas era já evidente pelas manchetes dos jornais logo pela manhã: a falta de apoios de figuras de peso do Partido Conservador a Rishi Sunak. Sajid Javid, o outro ex-ministro cuja demissão acompanhou a de Sunak, anunciou o seu apoio a Liz Truss esta quinta-feira. Logo ele, visto como muito próximo de Sunak, o homem que em tempos lhe chamou “Mestre Jedi”, como relembrou a revista Spectator.

É um sintoma das sondagens que dão como quase certa a vitória de Liz Truss e que têm empurrado tories indecisos a juntarem-se ao lado da provável vencedora, de olho nos lugares no seu futuro governo. Membros da campanha de Truss revelaram inclusivamente ao Telegraph que estão a tentar convencer alguns apoiantes de Sunak a trocarem de lado.

Perante este cenário, não é de admirar que a primeira pergunta que um eleitor presente em estúdio colocou ao ex-ministro das Finanças tenha sido a de se está a pensar desistir da corrida. “Não”, respondeu taxativamente o candidato. “Estou a lutar por aquilo em que acredito”, garantiu. Sunak não conseguiu explicar por que razão a maioria dos antigos colegas do Conselho de Ministros não estão a seu lado, mas garantiu que, em caso de vitória, não guardará qualquer rancor: “Nada de fações, nem ‘quem apoiou quem’ nesta corrida. Temos de estar unidos”, disse, sublinhando que os verdadeiros adversários são “Keir Starmer e o Partido Trabalhista”.

Rishi Sunak Delivers the Summer Statement

Sunak tem usado a experiência como ministro das Finanças para tentar passar a imagem de proximidade com o Thatcherismo

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E, embora não tenha ex-colegas como Sajid Javid a seu lado, Sunak também tem alguns aliados relevantes dentro do Partido Conservador, mesmo que menos sonantes. O candidato soube usá-los com enorme mestria, ao invocar um dos nomes mais sagrados para os tories: Margaret Thatcher. É que ele conta com o apoio não apenas de um, mas de dois antigos ministros das Finanças da antiga primeira-ministra. São eles Geoffrey Howe e Nigel Lawson, este último autor de um recente artigo de opinião onde afirma que Sunak “recusou embarcar em gastos ao estilo de [Jeremy] Corbyn, alimentados a dívida” e que é “guiado pelos princípios do Thatcherismo”.

Antes dele, Liz Truss também tinha tido o nome de Margaret Thatcher invocado em estúdio por uma eleitora, mas não a seu favor. “Não quero ver os meus filhos e netos sobrecarregados com uma enorme dívida, numa altura de taxas de juro crescentes. A principal coisa em que Margaret Thatcher acreditava era em dinheiro sensato. [A sua política] não é a de uma economia sensata”, acusou Jill, uma conservadora de Tunbridge Wells que se mostrou perturbada pelas propostas de redução de impostos avançadas por Liz Truss e usou Thatcher contra a candidata — ela própria uma admiradora confessa da antiga primeira-ministra, que tantas vezes já tentou emular na postura pública que assume.

Os ziguezagues de Truss na economia e não só. “A verdadeira Liz Truss pode levantar-se?”

Foram precisamente as propostas económicas de ambos os candidatos que marcaram a noite, tendo em conta a forma como divergem tão radicalmente. Truss quer reduzir impostos e não considera cortar a dívida pública uma prioridade; Sunak prefere “contas certas”.

As propostas de Truss são particularmente populares numa altura em que o Reino Unido atravessa uma crise económica: ainda esta quinta-feira o Banco de Inglaterra anunciou que a inflação está nos 13% e que, por isso, as taxas de juro irão subir. Sabendo disso, Truss martelou várias vezes a ideia de que consigo não haverá aumento de impostos e propôs até a redução do “seguro nacional”, uma contribuição semelhante à que os portugueses pagam à Segurança Social.  “É altura de sermos ousados”, atirou a candidata. “Não podemos chegar ao crescimento cobrando impostos.”

Mas quando Rishi Sunak entrou em estúdio atacou ferozmente as propostas da adversária. Puxando dos galões como antigo ministro das Finanças, acusou Truss de irresponsabilidade e disse que o programa traria “miséria a milhões de pessoas”.

Depois de ter apresentado um plano para indexar o salário dos funcionários públicos ao custo de vida por região, Truss acabou por recuar perante a impopularidade da medida. Na noite de quinta-feira, foi massacrada por um dos eleitores presentes: “Peça desculpa por uma proposta que é francamente ofensiva.”

“Não é a carga fiscal que provoca recessão, isso está simplesmente errado”, afirmou. “O que provoca recessão é a inflação, essa é a raiz dos problemas”. A política de Truss, acrescentou, “não está certa, não é responsável e certamente não é conservadora” — um sound byte que arrancou palmas à audiência de tories.

Além de Sunak ter conseguido marcar pontos nesta área, a própria Liz Truss tropeçou com uma das propostas que apresentou para poupar na despesa pública: depois de ter apresentado um plano para indexar o salário dos funcionários públicos ao custo de vida por região, Truss acabou por recuar perante a impopularidade da medida. Na noite de quinta-feira, foi massacrada por um dos eleitores presentes: “Peça desculpa por uma proposta que é francamente ofensiva.”

Ao ser entrevistada pela jornalista Kay Burley, Truss também não conseguiu sequer explicar como é que a medida iria trazer quase nove mil milhões de libras aos cofres do Estado, como anunciou. “Não tenho os detalhes”, limitou-se a dizer, depois de ter repetido várias vezes que recuou por simplesmente ter “mudado de ideias”.

Rishi Sunak And Liz Truss Take Part In The BBC Leadership Debate

A audiência presente em estúdio deu a vitória a Rishi Sunak

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A imagem de que Truss “muda de ideias” frequentemente foi explorada pela entrevistadora. Burley relembrou que, antes de entrar no Partido Conservador, Liz Truss fez parte dos Liberais Democratas, que foi contra o Brexit e agora é favor, e que quis abolir a monarquia e hoje diz ser uma apoiante da Rainha.

“Quando mudo de ideias, explico porque mudei e é isso que vou fazer como primeira-ministra”, justificou-se a certa altura a antiga ministra de Boris Johnson. O dano, porém, já estava feito. “A verdadeira Liz Truss pode levantar-se?”, perguntou a jornalista no final da entrevista, parafraseando a frase de uma música do rapper Eminem para ilustrar a imagem de cata-vento que se colou à candidata. Truss riu-se, bem-disposta. Mas Kay Burley deu a estocada final: “Notei que não se levantou.”

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