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Passos nada fará para alimentar o leilão das candidaturas presidenciais
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Passos nada fará para alimentar o leilão das candidaturas presidenciais

LUSA

Passos nada fará para alimentar o leilão das candidaturas presidenciais

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Passos mantém-se na reserva, mas não para alimentar o peditório das presidenciais

Ex-primeiro-ministro não quer ser envolvido na corrida a Belém e vai fazendo saber que está fora. Mantém-se na reserva e assim ficará — a menos que o PSD precise dele para futuro pós-Montenegro.

O anúncio precoce da candidatura presidencial de Luís Marques Mendes obrigou todos os outros putativos candidatos à direita a mostrarem (parte) do seu jogo. Pedro Santana Lopes, que já em junho tinha assumido que estava a ponderar uma candidatura, manteve a marcação cerrada. Paulo Portas aconselhou juízo, mas não se retirou do campo. Durão Barroso, pelo contrário, acabou de vez com qualquer conversa. Rui Rio seguiu-lhe o exemplo. Até André Ventura veio fazer prova de vida, oscilando entre a promessa de entrar na luta e a promoção das alternativas “Gouveia e Melo” e “Pedro Passos Coelho”. Se o primeiro não mais falou sobre o tema desde o puxão de orelhas público de Silva Monteiro, ex-chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, Passos Coelho, por quem muitos ainda suspiram, vai dizendo a quem lhe pergunta que está onde sempre esteve: longe, muito longe, do carrossel presidencial.

Os mais próximos do antigo primeiro-ministro insistem que Pedro Passos Coelho não tem particular interesse pela função, que o tema da corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa (o tal “catavento de opiniões erráticas” que nunca abençoou) não lhe diz muito e que nada fará para alimentar o peditório. As candidaturas (e o cargo) devem estar reservadas a quem quer muito ocupar o Palácio de Belém e, a menos que o contexto se altere de forma muito drástica, não é esse o desejo do antigo primeiro-ministro. De resto, Pedro Passos Coelho nunca escondeu que não morre de amores pelo cargo de Presidente da República, que entende ter um perfil mais executivo e de assumir que o seu projeto para o país ficou inacabado.

Para já, o antigo primeiro-ministro tem-se mantido longe dos holofotes e das conversas (mais e menos públicas) sobre o seu eventual regresso. Mesmo que as suas ausências mereçam, também elas, as mais diversas leituras políticas: o facto de, ao contrário do que aconteceu em 2022, não ter marcado presença na Festa do Pontal organizada pelo partido chegou a ser apresentado como a prova provada de que os dois, Passos e Montenegro, já corriam em pistas diferentes.

[Já saiu: pode ouvir aqui o quinto episódio da série em podcast “Um Espião no Kremlin”, a história escondida de como Putin montou uma teia de poder e guerra. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui e o quarto episódio aqui.]

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Na verdade, o antigo primeiro-ministro sempre assumiu aquela aparição no Pontal 22′ como uma absoluta exceção e um sinal de apoio ao então novíssimo líder do partido. Por tudo isto, Passos sabe que qualquer intervenção que possa ter se presta às mais diferentes leituras e faz saber que não está interessado em ser envolvido em intrigas palacianas. O que não significa que seja indiferente aos apelos que vão surgindo, que tenha fechado esse capítulo para sempre ou que se tenha transformado numa espécie de eremita político. Pelo contrário.

Além das raras intervenções públicas que vai fazendo, dos almoços casuais que vai tendo ou dos encontros fortuitos que vão existindo – em julho, tomou o pequeno-almoço com Angela Merkel, a convite da antiga chanceler alemã, em passagem por Lisboa –, Passos não deixa de alimentar a ligação com os que sempre estiveram com ele. Ainda esta quarta-feira fez questão de marcar presença no aniversário de Miguel Relvas, a que não faltaram outras figuras do partido (Hugo Soares e Pinto Luz), fora do partido (Álvaro Beleza) e também da sociedade civil. Aos mais interessados no seu futuro político, e essas conversas surgem sempre, Passos vai repetindo o que sempre disse: está afastado, quer manter-se afastado e não está interessado em meter-se na vida do PSD. A menos que…

Há uma ideia que conforta os mais próximos de Montenegro: têm a certeza de que o antigo primeiro-ministro nunca será candidato contra o atual presidente do partido – certeza confirmada por quem conhece bem Pedro Passos Coelho. Um teria de sair para que outro tivesse caminho livre. Montenegro, pelo que vai dizendo em público e em privado, salvo num cenário de hecatombe nas próximas europeias, teria de ser atirado borda fora. Resta saber se contará com a tolerância do partido em caso de resultado "poucochinho"

Os nove meses que podem mudar tudo

A menos que o partido conclua que precisa de facto dele. Traduzindo: se Luís Montenegro não conseguir arrancar uma vitória sólida nas próximas eleições europeias, agendadas para junho de 2024, cenário que não é de todo impossível atendendo às sondagens, não faltará quem, no PSD, venha dizer que o atual líder não tem condições para vencer as legislativas de 2026 e tente convencer Pedro Passos Coelho a regressar como candidato a primeiro-ministro. Se nessas circunstâncias muito concretas o partido se voltar para ele como solução, e se entender que tem condições objetivas de disputar as eleições legislativas, Passos pode ponderar deixar o banco das reservas onde se sentou por vontade própria. Mas, no que depender dele, não mexerá um músculo para correr com Montenegro.

De resto, a existência do mito sebastiânico em torno de Passos não é ignorada pelos homens de Luís Montenegro – nem poderia ser, dada a insistência com que o nome do antigo primeiro-ministro é ventilado fora e dentro do partido sempre que o debate se centra no futuro do PSD. Como explicava o Observador ainda em março, a sombra “Passos” incomoda, cria ruído, atrapalha. Mas o núcleo duro da direção do PSD encolhe os ombros: a popularidade de Passos não se apaga, nem se combate; ultrapassa-se com trabalho de casa e, sobretudo, resultados nas urnas.

E é aqui que entram as europeias de 2024. No final de maio, em entrevista à RTP, para desconforto e estupefação de uma parte do partido, Luís Montenegro não escondeu que perder as eleições por poucochinho, atendendo aos resultados recentes do PSD, não seria um “mau resultado”. Rapidamente muitos no partido reconheceram que a entrevista não tinha sido bem conseguida e que aquela frase tinha sido, no mínimo, infeliz. Na última Universidade de Verão do partido, o líder social-democrata aproveitou para tentar corrigir o tiro e reafirmar o objetivo: as eleições para o Parlamento Europeu são mesmo para ganhar.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre o eventual regresso de Passos Coelho à política ativa.

Passos Coelho não quer Belém. E para São Bento?

Mas o Observador sabe que os dois cenários nunca deixaram de ser considerados. Aliás, Montenegro disse-o com todas as letras em entrevista ao Observador, em maio de 2022, ainda antes de ser presidente do PSD: “Não é obrigatório que, perdendo as eleições, o líder saia”. Ou seja, se o PSD vencer de forma convincente as próximas europeias, a conversa sobre a saída de Montenegro nem sequer se colocará e a legitimação do atual presidente ficará completa; perdendo, tudo dependerá dos números e do ar que se respirar no PSD – o mesmo partido que reelegeu Rui Rio depois de duas derrotas em eleições (europeias e legislativas) por números muito pesados.

Resta saber se o partido terá a mesma tolerância para com Luís Montenegro. Ao dia de hoje, as alternativas que poderiam existir à liderança do PSD estão condicionadas (Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz fazem parte da atual direção; Carlos Moedas tem um calendário quase impossível de compatibilizar com esse objetivo), fragilizadas (Jorge Moreira da Silva tentou e foi copiosamente derrotado); ou ainda não foram testadas (uma figura do rioísmo, como André Coelho Lima ou Paulo Mota Pinto, poderia ter esta aspiração). De qualquer forma, com estes ou outros nomes, pelo histórico que tem e pela popularidade de que ainda goza, Pedro Passos Coelho seria sempre de outro campeonato.

Mas até isso conforta os mais próximos de Montenegro: alguns dos mais destacados dirigentes do PSD têm a certeza de que o antigo primeiro-ministro nunca será candidato contra o atual presidente do partido – certeza confirmada por quem conhece bem Pedro Passos Coelho. Um teria de sair para que outro tivesse caminho livre. Montenegro, pelo que vai dizendo em público e em privado, salvo num cenário de hecatombe nas próximas europeias, não sairia pelo próprio pé e teria de ser atirado borda fora — e, nesta altura do campeonato, há muito pouca gente em condições óbvias de ser um candidato sério à liderança do partido.

Ora, Pedro Passos Coelho, garantem os mais próximos, não vai fazer nada para empurrar Luís Montenegro. Mas isso é só uma parte da história. Se ou quando o momento chegar, não faltará quem, no partido e fora dele, no espaço do centro-direita, alimente a narrativa de que um líder do PSD que não derrota um PS desgastado em europeias também não será capaz de o derrotar em legislativas – será preciso dar a vez a outro. Por outras palavras: os mais céticos sobre as hipóteses de Montenegro acreditam que o atual líder do PSD tem, nas próximas eleições europeias, uma última oportunidade de criar o momentum  para as legislativas. Seria muito estranho se assim não fosse. No entanto, pelos dados que existem hoje, insistem, a tarefa não será assim tão fácil. Falhando o objetivo, a pressão pública e interna sobre Montenegro será enorme.

Se tudo isto se conjugar, baterão à porta do antigo primeiro-ministro. Em 2016, depois de António Costa ter montado uma geringonça para afastar a coligação PSD/CDS, Pedro Passos Coelho recandidatou-se à liderança do partido assumindo que o seu projeto para o país tinha ficado a “meio”. Quando anunciou que estava de saída, em outubro de 2017, prometeu que não iria “andar a rondar”, mas deixou claro que não se calaria “para sempre” e que nunca deixaria de “lutar” pelo PSD e pelo país. Meses depois, no arranque de 2018 e numa das suas últimas ações públicas como presidente do partido, assumiu que, na política como na vida, era preciso “algum jogo cintura” e “uma gestão habilidosa do tempo”. “As pessoas, se forem demasiado rígidas, partem. Quando as circunstâncias não são as ideais, todos temos de fazer concessões”, sublinhava então.

Passaram mais de cinco anos desde que deixou a liderança do partido e desde que disse essas mesmas palavras. Como revelava aqui o Observador, Pedro Passos Coelho já foi desafiado por duas vezes a voltar à presidência do PSD, em 2021 (contra Rio e na vez de Rangel) e no arranque de 2022, por muitos que vieram a apoiar Luís Montenegro. Resistiu sempre ao canto da sereia, dizendo que não estava disponível, mas sem fechar essa porta em definitivo. Se os astros se alinharem, e fechada que está (aparentemente) a porta das das presidenciais, resistirá pela terceira vez aos apelos para regressar à liderança? Muito dependerá das tais circunstâncias. Faltam pouco mais de nove meses.

Em 2022, Passos decidiu dar um sinal de apoio a Montenegro na Festa do Pontal

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