790kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Alma Rivera e Duarte Alves são os candidatos considerados elegíveis mais jovens e estão em lugar de grande destaque
i

Alma Rivera e Duarte Alves são os candidatos considerados elegíveis mais jovens e estão em lugar de grande destaque

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

Alma Rivera e Duarte Alves são os candidatos considerados elegíveis mais jovens e estão em lugar de grande destaque

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

PCP. Da jota ao Parlamento, os jovens na linha da frente e uma curiosa lista de não elegíveis (por agora)

PCP pouco mexe nos candidatos a deputados com mais hipóteses para serem eleitos, mas deixa pistas relevantes nos não elegíveis. Líder parlamentar em risco. Todos se cruzam antes na jota.

[Este artigo faz parte da série de nove trabalhos “Os candidatos vistos à lupa” que o Observador irá publicar até ao dia das eleições]

O que têm em comum os nomes que chegam às listas do PCP? Pergunte-se a quem se perguntar dentro do partido, a resposta inicial é a mesma: uma garantia de que aqui a “lógica” não é a mesma dos outros partidos, que ninguém “luta” por lugares e que os membros do partido são chamados pelos órgãos internos a desempenhar a “tarefa”, como se diz no léxico comunista, para a qual são necessários a cada momento, neste caso a de se candidatarem a lugares de deputados nas eleições de 30 de janeiro.

Há, no entanto, pontos comuns visíveis nos percursos dos militantes que se candidatam pelas listas do PCP – e uma formação política que é quase sempre feita e consolidada já dentro do partido e, na maior parte das vezes, logo na Juventude Comunista Portuguesa. Assim é com a nova geração, a entrar na casa dos 30 anos, a que o PCP quer dar um destaque cada vez maior, mas também com os deputados que, com quarenta e poucos anos, ocupam agora a linha da frente parlamentar – são os mesmos que há uns anos se cruzavam na JCP e no associativismo estudantil e que vieram substituir históricos como Honório Novo ou Odete Santos.

Analisando à lupa as listas de nomes que vão a votos, praticamente não há novidades, pelo menos no que toca aos lugares elegíveis – quanto aos outros, que atendendo a precedentes do próprio PCP podem ainda assim conseguir assento no Parlamento, a história inclui regressos e alguns dos nomes mais falados para uma futura liderança. Entre os elegíveis, não há espaço para independentes (essa aposta é sobretudo feita nas eleições autárquicas) nem há grande peso reservado para o setor sindical: o partido aposta na prata da casa.

Para a tarefa de compor as listas, os critérios do PCP passam, sobretudo, por cobrir vários setores laborais (transportes, setor produtivo, comércio…), diferentes formas de emprego (o PCP divide-as entre empregados, trabalhadores por conta própria, pequenos empresários, ‘intelectuais’, operários e estudantes) e, cruzando estas categorias, encontrar pessoas que consigam fazer a ponte para diferentes setores laborais e segurar áreas importantes para o PCP. Por isso mesmo, é particularmente importante que sejam trabalhadores respeitados e ouvidos nos seus setores – se já tiverem alguma projeção e experiência noutras ‘lutas’, sejam sindicatos, associações, etc, melhor.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A nova geração

Há dois nomes que se destacam por dois números: a pouca idade que têm e o lugar de destaque que ocupam nas listas. No caso, Alma Rivera e Duarte Alves, respetivamente a segunda e o terceiro candidatos da lista de Lisboa, são dois jovens que entraram diretamente para os lugares antes ocupados por dois dos nomes mais mediáticos do PCP (casos de Rita Rato, que passou para lugar não elegível em 2019 e é agora diretora do Museu do Aljube, e Miguel Tiago, que saiu do Parlamento em 2018 e regressa agora à lista de Lisboa).

Entrevista ao deputado do PCP Duarte Alves, na Assembleia da República. Lisboa, 18 de novembro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Duarte Alves é uma das novas apostas do PCP. Juntou-se à jota durante a faculdade

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O partido preocupou-se desde cedo em dotar Duarte Alves, que tem agora 31 anos e é economista, de experiência na Assembleia: o jovem comunista foi assessor parlamentar antes de chegar a oportunidade de substituir Miguel Tiago nas pesadas pastas de orçamento e finanças, que coordena em nome do partido, e nas comissões de inquérito, tendo participado na última ao Novo Banco. A aposta em Duarte foi de tal forma séria que para garantir a chegada ao Parlamento foi preciso que quatro candidatos à sua frente abdicassem dos seus lugares, uma vez que estava em décimo pela lista de Lisboa. Em 2019 daria o considerável salto para o terceiro lugar, que agora mantém. Tudo isto depois de ter feito a ‘recruta’ na jota, onde pertenceu à direção nacional, ao secretariado e à comissão política, e de ter representado os alunos do ISEG, onde tirou o curso, no Conselho Pedagógico.

A outra aposta da nova geração é Alma Rivera, outra jovem comunista (30 anos) que deu um salto considerável nas listas (de sexto por Lisboa em 2015 passou para segundo em 2019, o lugar que agora mantém, logo a seguir a Jerónimo de Sousa) e conseguiu a eleição numa bancada bastante diminuída. A jurista, que nasceu nos Açores e tirou Direito em Coimbra, é outro ‘produto’ de destaque da JCP, de cuja direção ainda faz parte, mas já integra o Comité Central do Partido. Tal como Duarte, é responsável pela coordenação da bancada numa comissão parlamentar, neste caso a do Ambiente.

Alma Rivera discursou em representação do PCP no 25 de Abril deste ano

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A linha da frente que substituiu os históricos

A geração acima ocupa, hoje em dia, a linha da frente da bancada comunista mas começou a conhecer os corredores do Parlamento quando tinha uma idade semelhante à de Alma e Duarte. Mais uma vez, apostas vindas diretamente da jota, onde os novos quadros se foram formando e sendo puxados para o Parlamento. Boa parte deles cruzaram-se, de resto, na JCP – alguns ainda eram alunos no ensino secundário quando começaram a aproximar-se do partido.

É o que acontece com a geração dos quarenta e poucos anos, agora encarregue de tratar de muitos dos principais dossiês do partido. O maior destaque é obviamente João Oliveira, o líder parlamentar comunista, de 42 anos. O deputado, que é uma das caras mais conhecidas do PCP, passou pela jota e já trabalhava como advogado em Évora quando entrou no Parlamento, em 2007, para substituir o histórico comunista Abílio Fernandes (que logo nas primeiras autárquicas, em 1976, conquistava a Câmara Municipal de Évora).

Será, de resto, um dos ativos mais valiosos do PCP, um dos nomes mais apontados para uma futura sucessão a Jerónimo de Sousa e uma das vozes comunistas mais ouvidas – ainda recentemente, quando o partido entrou em choque com o PS por causa do Orçamento e optou pela postura (inédita) de falar das negociações em público, Oliveira foi quase sempre o escolhido para se desdobrar em entrevistas e declarações.

É uma espécie de todo o terreno parlamentar e é deputado há cinco legislaturas seguidas, pelo que esta eleição traz um perigo sério para a bancada: em 2019 viu o seu lugar em risco, tendo sido o último deputado a ser eleito no seu círculo, com 13.890 votos. A disputa em Évora será certamente um dos pontos que mais preocuparão os comunistas na noite de 30 de janeiro.

A substituição de Abílio Fernandes por João Oliveira deu-se, aliás, na mesma altura em que saiu a também histórica Odete Santos e deu lugar a Bruno Dias (hoje com 45 anos) no círculo de Setúbal. Na altura, o líder da bancada parlamentar era Bernardino Soares e explicava as decisões com a “necessidade de renovação sustentada do grupo parlamentar”. Bruno Dias, que já tinha sido deputado antes – entrou também para substituir, em 2001, Otávio Teixeira – estudou ciências de comunicação, fez parte da direção da JCP e chegou a trabalhar, também na área da comunicação, na autarquia comunista do Barreiro. E o partido continua a mostrar que é um ativo valorizado no Parlamento: há dois anos, quando a bancada comunista mirrou e não conseguiu ser eleito por Setúbal, saiu o histórico Francisco Lopes para dar lugar a Bruno Dias — pela terceira vez, teve a responsabilidade de a substituir um peso pesado do partido.

Mais tarde, mas também com a aposta na renovação em mente e com os olheiros do partido atentos à JCP, chegaria ao Parlamento a ex-membro da direção da jota Diana Ferreira. A deputada, que hoje tem 40 anos, entrou em 2014, um ano depois da saída da deputada Paula Batista, que tinha vindo substituir o histórico Honório Novo. Na altura, com 33 anos, tornava-se a segunda deputada mais nova do PCP, depois de Rita Rato (31), e voltava a ajudar a baixar a média de idades do grupo parlamentar. Hoje em dia, é cabeça de lista pelo Porto e coordena a bancada numa das comissões mais relevantes para o PCP, a do Trabalho e Segurança Social.

Ainda da mesma geração é Paula Santos, 41 anos, licenciada em química tecnológica e cabeça de lista por um dos círculos mais importantes para o partido, o de Setúbal. Já está no Parlamento há quatro legislaturas e foi subindo na lista (há dois anos era encabeçada pelo histórico Francisco Lopes) e no partido, cujo Comité Central integra. Quando o líder parlamentar, João Oliveira, foi pai, foi Paula Santos quem assumiu o papel de presidente interina da bancada. Mas, muitos anos antes, era dirigente estudantil (da mesma geração de João Oliveira, Miguel Tiago ou Rita Rato) e ganhou experiência política como vereadora no Seixal.  Mais uma vez, esteve na direção da JCP.

Os não elegíveis

Algumas das caras mais conhecidas do PCP não estão, no entanto, em lugares elegíveis, ou dão a cara pelas listas sem as integrarem. São os casos de dois dos nomes mais falados para virem a suceder a Jerónimo – João Ferreira, líder destacado no ‘mercado’ de apostas sobre a sucessão, e Bernardino Soares – mas também do ex-deputado Miguel Tiago.

João Ferreira é vereador do PCP em Lisboa e o nome mais falado para suceder a Jerónimo. Vai em décimo por Lisboa

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A entrada mais curiosa será a de João Ferreira: o homem que as bases acarinham e que os adversários políticos descrevem como muito preparado, ortodoxo e reservado já foi candidato a quase tudo e entra agora na lista de Lisboa, embora em lugar claramente não elegível. Ferreira tinha sido eleito eurodeputado consecutivamente desde 2009, mas deixou Bruxelas no verão para se dedicar exclusivamente ao cargo de vereador (sem pelouros) em Lisboa, aproximando-se da política nacional, meses depois de ter entrado na Comissão Política do Comité Central, um dos órgãos mais restritos do PCP.

A nova aproximação é, para já, remota – vai em décimo lugar – mas, como vimos no caso de Duarte Alves, não é impossível que o partido venha a querer saltar alguns lugares para puxar Ferreira para o Parlamento. Se a ideia for trazer músculo político à bancada o PCP poderá optar por saltar menos lugares até chegar ao sexto (caso não o eleja), onde voltou a entrar Miguel Tiago, que tinha saído do Parlamento em 2018.

Bernardino Soares é outro dos nomes sempre apontados para a liderança, tendo sofrido uma derrota pesada em outubro, quando perdeu a Câmara de Loures para o PS. Passou a tratar internamente da pasta da Saúde no PCP e é agora mandatário, e não membro, da lista (chegou a ser líder parlamentar bastante jovem, com 35 anos).

Miguel Tiago saiu do Parlamento em 2018, com críticas fortes. Depois de ter sido candidato por um círculo em que o PCP não elege (Viseu), está de volta à lista de Lisboa

TIAGO PETINGA/LUSA

Todas estas caras são bem conhecidas e todas passaram, sem surpresas, pela JCP – Miguel Tiago foi puxado pela primeira vez para as listas em 2005, depois de o partido ter notado a sua atividade intensa no associativismo estudantil e o destaque mediático que já na altura conquistava; Ferreira tem contado em entrevistas que entrou na JCP aos 16 anos, depois de ter procurado a sede na lista telefónica; e Bernardino Soares fez parte da direção da jota até 1999. Mais uma vez, uma série de nomes construídos desde bem cedo no contexto do partido.

A geração mais velha

O PCP pode gabar-se de ter uma bancada consideravelmente renovada, mas por trás disso mantém uma rede que conhece o Parlamento como uma segunda casa, nalguns casos com uma experiência acumulada há décadas.

O caso mais evidente é o de Jerónimo de Sousa, uma vez que há muito deixou as funções de operário metalúrgico, onde o estilo reivindicativo foi notado pelos olheiros do partido – aqui, sim, não havia ainda a escola da jota – para se sentar no Parlamento, ainda nos tempos da Assembleia Constituinte. Quanto à liderança do partido, de que se ocupa há 17 anos, está farto de que os jornalistas lhe perguntem quando é que sai. Nos últimos meses, a pergunta transferiu-se para o campo parlamentar: seria Jerónimo, mais uma vez, o cabeça de lista por Lisboa ou daria um primeiro sinal de despedida ao passar o testemunho a um eventual sucessor? O líder avisou que não haveria grandes novidades e cumpriu: volta a liderar a lista nas segundas legislativas depois de ter ficado inevitavelmente associado à decisão histórica de entrar na geringonça.

Desta vez, Jerónimo apresenta-se às eleições depois de um ciclo ininterrupto de perdas eleitorais – a bancada mirrou de 15 para 10 lugares – e à espera para ver o efeito da decisão de chumbar o orçamento. Além de ser um dos parlamentares com mais histórico na Assembleia, é o líder comunista que conseguiu manter boas relações com o PS – como o próprio Álvaro Cunhal, em vários momentos decisivos, fez – e com António Costa, pelo menos até aqui; mas no PCP, por muito que Jerónimo seja o líder, a decisão é do coletivo.

Em termos de experiência parlamentar o outro exemplo a ter em conta é o de António Filipe, que tem 58 anos e está desde a quinta legislatura no Parlamento – são dez legislaturas seguidas. É uma das caras mais conhecidas do partido, membro do comité central, jurista, professor de universitário e natural de Lisboa (por onde começou por se candidatar, antes de passar ao distrito de Santarém).Foi vice-presidente da Assembleia da República até agora. No Facebook, é hiper ativo a desmentir o PS – mas também se destacou nesta sessão legislativa por ter feito uma publicação em que criticava o Bloco por ter chumbado o anterior orçamento, elogiando a atitude “responsável” do PCP. As fontes oficiais do PCP lembraram que as redes sociais do deputado não representam (necessariamente) as posições do partido, mas concordaram com o conteúdo – e no PCP António Filipe é sempre uma voz a ter em conta.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora