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ANA MARTINGO/OBSERVADOR

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PSD. Traições, vetos e prémios para os apoiantes: Rio vai ter, finalmente, uma bancada amigável

Nas listas do PSD há vetos a quem traiu o líder, prémios para quem o apoiou e ainda o piscar de olho a uma inesperada fação: os montenegristas. Vem aí algo novo: uma bancada rioista.

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[Este artigo faz parte da série de nove trabalhos “Os candidatos vistos à lupa” que o Observador irá publicar até ao dia das eleições]

Rio confessou que chegou a pensar que ia perder as eleições internas, mas ganhou e isso deu-lhe a chave do cofre da futura bancada do PSD. Na noite eleitoral, na base adversária, em plenos sofás do hotel Sana Malhoa, um membro da entourage de Rangel comentava: “Pronto, agora é tudo dele. De alto a baixo, a lista de deputados vai ser Rio, Rio, Rio“. E foi o que aconteceu. Todos os que tiveram um papel de destaque na  difícil reeleição do líder do PSD, acabam por ser candidatos a deputados em bons lugares. Mesmo sem peso no partido, o apoio a Rio e, acima de tudo, a não-traição num momento difícil foi recompensada. No meio disto, uma surpresa que explica a aproximação Rio-Montenegro: há mais montenegristas que apoiantes de Rangel nas listas.

Os membros da direção de Rio que quiseram ser deputados estão na lista e com eleição assegurada (David Justino e Salvador Malheiro dispensam essas andanças). Também os deputados que o apoiaram e que tinham sido eleitos em 2019 ganharam bilhete em lugar elegível para a próxima legislatura. Apesar de Rio não dispensar de olhar para o esboço da lista de deputados e de segui-lo com régua e esquadro, deu grande liberdade a Salvador Malheiro (num plano mais de bastidores, mais influente) e a José Silvano (num lado mais institucional) para negociar as listas de deputados. Houve prémios a dar a quem apoiou o líder e vetos a quem traiu o líder. É nas recompensas, porém, que se vislumbram outras potenciais traições, ao opositor, com parte da ala montenegrista a ser recuperada por Rio.

Olhando as listas à lupa percebe-se que, seja qual for o resultado, Rio vai ter uma bancada parlamentar muito mais amigável. Já em 2019 tinha conseguido fazer uma bancada mais amistosa do que a que herdou de Passos Coelho, mas agora tem a certeza de que é maioritariamente composta por seus apoiantes e/ou admiradores. A contestação vai assim ser menor naquele que foi sempre o braço que Rio teve mais dificuldades em controlar: a bancada parlamentar. Dezenas dos nomes que estão nas listas em lugares de topo ou elegíveis podem parecer anónimos, mas todos têm uma história, ou no PSD ou na forma como chegaram àquele lugar.

Montenegros & Cª: o ‘espinho’ nas costas de Rangel

Na noite eleitoral das internas do PSD, os apoiantes de Paulo Rangel tentavam recuperar do choque e arranjar justificações para o que acontecera. “Fomos traídos pelos Montenegros”, era uma das frases ouvidas no Sana Malhoa, a base dos apoiantes do derrotado, enquanto olhavam para o mapa dos resultados. E logo acrescentavam alguns membros da entourage rangelista: “Nas listas é que vamos ver”.

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Dias depois, as listas confirmariam: havia pessoas próximas de Montenegro em lugar elegível, operacionais da sua campanha em lugar elegível e alguns dos seus apoiantes e do seu “grupo” da AR também bem posicionados para ser deputados. Resultado: havia mais montenegristas do que apoiantes de Paulo Rangel em lugares elegíveis. Rio acabou assim por permitir que a próxima composição da bancada tenha uma ala montenegrista, embora, claro, minoritária face ao rioismo. Benovelente, ma non troppo.

O Congresso, que se realizaria uns dias depois, confirmaria a aproximação entre os dois adversários de 2020: Montenegro fez elogios rasgados e raros a Rio, Rio retribuiu com elogios, também eles raros, à postura do antigo líder parlamentar. O mesmo se repetiu na campanha eleitoral, no último sábado, em que ficou evidente a aproximação entre Rio e Montenegro, com o último a fazer campanha ao lado do candidato a primeiro-ministro. Rio registava a importância do momento: “[A presença de Montenegro] é obviamente importante para demonstrar que o partido está unido e coeso para o resultado final.”

O PSD teve de engolir Rio. Agora, todos querem um pedacinho

Mas quem são afinal esses montenegristas que integram as listas? Um dos melhores amigos de Luís Montenegro, o antigo presidente da câmara de Espinho, Joaquim Pinto Moreira, não foi incluído em lugar elegível na lista de Aveiro — já que seria difícil a Salvador Malheiro explicar essa inclusão junto dos seus — mas Rui Rio arranjou-lhe lugar elegível no círculo vizinho: o Porto. Desde 1999, quando conheceu Montenegro no café Baviera, na rua 19, em Espinho, que Joaquim Pinto Moreira e o antigo líder parlamentar são inseparáveis. Era impossível Montenegro não saber que o amigo seria colocado por Rio em lugar elegível (12.º no Porto).

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma arruada em Santa Maria da Feira, acompanhado de Luís Montenegro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 22 de Janeiro de 2022, Santa Maria da Feira TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Rio e Montenegro na campanha das legislativas este sábado

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

As movimentações das diretas em Espinho já denunciavam uma aparente reconversão dos montenegristas. O próprio Luís Montenegro encabeçou uma lista de delegados que tinha apoiantes de Rui Rio. Os resultados das diretas acabariam por ditar que, na concelhia de Montenegro, Rui Rio ganhasse com uma larga vantagem sobre Paulo Rangel: 91 votos de diferença.

Logo acima de Pinto Moreira, no 11.º lugar da lista do Porto, e, por isso, igualmente elegível está Miguel Santos. Como estava com Montenegro por alturas da tentativa de impeachment a Rio, em 2019 foi ‘castigado’ com um 26.º lugar, mas agora subiu 15 lugares na lista. O antigo candidato à câmara de Valongo, era aliás vice-presidente da bancada quando esta era liderada por Luís Montenegro, de quem é amigo de longa data. Em ações no Porto, como uma uma ação em restaurantes em Matosinhos   no fim de semana anterior no arranque oficial da campanha, era evidente a cumplicidade de Miguel Santos com elementos da estrutura nacional, como José Silvano.

Ainda no distrito do Porto, surge Andreia Neto, outra montenegrista, igualmente em lugar elegível. Nas diretas, Andreia Neto apoiou Montenegro — que tinha sido seu líder da bancada nos anos do passismo — contra Rui Rio, mas agora aparece bem posicionada nas listas.

O mesmo acontece no círculo de Braga. O famalicense Jorge Paulo Oliveira também foi um dos apoiantes de Luís Montenegro nas últimas diretas e é próximo de Paulo Cunha. O antigo presidente da câmara de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha — habitualmente anti-Rio e um dos maiores ativos de Montenegro na luta (perdida) contra o atual presidente — não se quis posicionar, o que favoreceu o atual líder do PSD. O não-alinhamento das tropas de Paulo Cunha foi assim recompensado. Paulo Cunha acabou por confessar o “sentimento de gratidão” à direção de Rui Rio por colocar Jorge Paulo Oliveira nas listas.

Também em Bragança, há sinais de montenegrismo. Há dois lugares elegíveis: um é para o líder parlamentar, Adão Silva, e o segundo ficou reservado para um antigo apoiante de Luís Montenegro: Paulo Xavier, que é vice-presidente da autarquia local (o presidente, Hernâni Dias, apoiou Rangel).

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma arruada em Santa Maria da Feira, acompanhado de Luís Montenegro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 22 de Janeiro de 2022, Santa Maria da Feira TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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O mesmo aconteceu em Leiria. Dias antes das eleições foi eleito um novo líder distrital, Hugo Oliveira, que não quis tomar posição pública relativamente a nenhum dos dois candidatos. A seguir ao paraquedista e cabeça de lista Paulo Mota Pinto (que teria como círculo natural Coimbra ou Lisboa), Hugo Oliveira é logo o segundo da lista, seguindo em lugar mais-do-que-elegível. Também ele é um antigo apoiante de Montenegro.

Entre os apoiantes de Rangel, há alguns que sobreviveram. Um deles é João Moura, o líder da distrital de Santarém. Já quando houve a tentativa de impeachment a Rui Rio por via do Conselho Nacional, João Moura participou numa reunião onde estiveram os conspiradores e ficou sempre associado à ala montenegrista — embora publicamente garantisse que queria a continuidade de Rio. Chegaram as legislativas de 2019 e, embora tivesse seguido nas listas, juntou-se ao coro de críticos contra Rio no dia seguinte à eleição e disse que o presidente do PSD devia “tirar conclusões” do “muito mau resultado”. Estava concertado com os montenegristas que repetiram em coro esta ideia até à exaustão. Moura apoiou Montenegro contra Rio e Rangel contra Rio, mas, mesmo assim, aguentou-se em segundo lugar do círculo de Santarém.

Salvador Malheiro e Rio queriam afastar Duarte Marques das listas — que já tinha sido Nuno Morais Sarmento a segurar em 2019 — e decidiram não comprar duas guerras no distrito. Mantendo João Moura — com quem Malheiro se dá melhor — já era possível vetar o deputado de Mação. Na reunião da distrital, o próprio Moura deu a entender que recebeu indicações do vice-presidente  para não integrar Duarte Marques nas listas, apesar de este ter sido indicado por algumas concelhias do distrito.

Outro dos apoiantes de Paulo Rangel nas últimas diretas que conseguiu manter-se nas listas de deputados foi Bruno Coimbra. Mas, ainda assim, foi salvo como paraquedista: é também candidato num distrito que não é o seu. Bruno Coimbra tinha ido num bem colocado quarto lugar por Aveiro em 2019, na altura em que tinha apoiado Rio contra Montenegro, mas desta vez apoiou Rangel. Como esse apoio nunca foi público, conseguiu que Malheiro o repescasse e foi integrado em lugar potencialmente elegível no distrito de Braga, onde é sétimo.

A quota do vice-rei de Aveiro: os amigos de Salvador

Salvador Malheiro não é candidato a deputado, mas apenas porque não quis. Depois do papel que teve na vitória de Rui Rio, tornou-se numa espécie de vice-rei de Aveiro e pôde desenhar a lista de deputados naquele círculo a seu bel-prazer. O vice-presidente do PSD teve liberdade para decidir quem ia em cada lugar e conseguiu colocar muitos dos seus mais próximos em lugar elegível no distrito.

Houve membros da sua equipa, atual ou passada, que vão ser deputados em virtude dessas escolhas a menos que aconteça uma pouco provável hecatombe eleitoral no distrito. O chefe de gabinete de Salvador Malheiro, Rui Rocha da Cruz, vai em quinto lugar da lista por Aveiro, que é elegível. Rui Cruz é um homem da confiança de Salvador Malheiro e era o chefe de gabinete até 15 de outubro quando teve de interromper as funções para ocupar o cargo de deputado na Assembleia da República. Rui Cruz não foi eleito diretamente, mas era o primeiro não elegível nas eleições de 2019 e, desta última vez, entrou em meados de outubro devido à doença de António Topa (que acabaria por morrer poucos dias depois).

Rui Cruz sobe na lista não só devido à morte de Topa — que tinha lugar cativo nos lugares cimeiros — mas também porque Salvador Malheiro não perdoa a traição de André Neves. André Neves tinha ido em quarto lugar em 2019, pois tinha sido o peão de Salvador no (primeiro) assalto falhado à JSD. Rio tinha acabado de chegar à presidência do PSD quando Margarida Balseiro Lopes se candidatou à liderança da “jota”, mas Salvador queria ter o controlo da estrutura juvenil. O vice-presidente de Rui Rio apoiou então o líder distrital da “jota”, André Neves, empenhando-se para que vencesse.

Salvador colocou mesmo o então seu adjunto e homem de mão, Henrique Araújo — o célebre condutor do Lexus, com quem entretanto se zangou — nos três dias no Congresso na Póvoa de Varzim como uma espécie de controleiro, o que irritou profundamente os apoiantes de Balseiro Lopes — que acabaria por vencer aquele que é conhecido como o “Congresso da quiche“.  André Neves, da secção de São João da Madeira, decidiu, desta vez, apoiar Paulo Rangel e — apesar de indicado pela concelhia — foi excluído das listas. “Deus perdoa, o Salvador não“, diz ao Observador um dirigente  distrital e conhecedor das manobras do distrito.

Mas voltemos às equipas de Salvador Malheiro. Carla Madureira, foi “secretária para apoio à vereação” da câmara de Ovar, presidida por Salvador Malheiro, entre 2013 e 2017. Carla Madureira mantém a mesma sexta posição que há dois anos foi elegível e lhe permitiu ser deputada. Amiga de Salvador Malheiro, Carla Madureira ocupou cargos com um interesse aparentemente local, mas com com uma importância relevante para a estratégia global do autarca ovarense. É que esses cargos foram em coletividades e na junta de freguesia de Esmoriz, terra de Salvador Malheiro e zona piscatória onde este obtém muita votação (para a autarquia e para disputas internas no PSD). Salvador e Carla são ambos de Esmoriz.

Carla Madureira ao lado de Salvador Malheiro na campanha de 2019. Créditos: página de Facebook de Carla Madureira

Carla Madureira acaba por ser a representante de todo o concelho de Ovar na Assembleia da República. Em janeiro de 2020, quando os seus colegas se centravam em atacar o ministro da Administração Interna com questões nacionais, Carla Madureira aproveitou estar em frente a Eduardo Cabrita para cumprir com a promessa de avançar com uma nova e melhorada esquadra da PSP em Ovar. Nem aí, num plano nacional perante Cabrita, deixou de elogiar Salvador Malheiro no Parlamento, dizendo que foi a autarquia que pagou as poucas obras que a esquadra teve e que o executivo já oferecera mesmo um novo local para a polícia se instalar.

O cabeça de lista também mudou em Aveiro. Ana Miguel Santos tinha sido a escolha em 2019, mas deixou de estar nas boas graças de Rio e Salvador quando — quatro meses após ter sido escolhida para cabeça de lista — ter apoiado Miguel Pinto Luz nas diretas de 2020, passou de cabeça de lista para fora da lista. Desta vez, também não apoiou Rui Rio e isso tornou-se fatal, mesmo que tenha sido indicada como potencial candidata a deputada pela concelhia de Águeda. Por Águeda vai agora Paula Cardoso que, com a anuência de Salvador, foi convidada pessoalmente por Rui Rio para ser a número dois da lista. Maria Paula Cardoso é acionista minoritária e administradora da Revigrés.

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma sessão de esclarecimentos em Coimbra, com Salvador Malheiro, sobre o ambiente. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 21 de Janeiro de 2022, Coimbra TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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A herança de Topa

O novo cabeça de lista também tem, naturalmente, ligações a Salvador Malheiro. Até sentimentais. Trata-se de António Topa Gomes, sobrinho de António Topa. Foi António Topa, figura incontornável no distrito, que o convenceu a concorrer à concelhia do PSD/Ovar pela primeira vez — na altura numa lista única — marcando o início de um caminho nas estruturas do PSD.

António Topa, o tio, foi importante nas vitórias de Rui Rio no distrito, mas faleceu durante o processo eleitoral das últimas diretas. O “engenheiro Topa”, como era conhecido pelas bases, tinha por hábito ligar a 15 militantes por dia e nunca estava mais de um mês sem falar com a sua rede de militantes. Era um grande angariador de votos. Todos pensaram que morte de Topa enfraquecera Rui Rio em Santa Maria da Feira — uma vez que Paulo Rangel tinha o apoio do presidente da câmara local — mas familiares de Topa mobilizaram-se e o atual líder do PSD conseguiu mesmo vencer por quase 100 votos.

39º Congresso PSD (Partido Social Democrata) - Para a entrada do congresso é necessário apresentar o certificado de vacinação e um teste negativo à COVID-19. Santa Maria da Feira, Aveiro 18 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

António Topa, que faleceu há poucos meses, era um nome querido e respeitado pelos militantes e eleitores do PSD em Aveiro

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A gigante “quota Rio”: inner circle e os indefetíveis por toda a parte

No processo interno de escolha de deputados do PSD, as concelhias indicam nomes e depois as distritais fecham uma lista por aquele círculo. Em alguns casos, a lista já vai hierarquizada, noutros seguem apenas os nomes por ordem alfabética. A direção, em negociação com as distritais, exclui depois alguns nomes, acrescenta outros e ainda altera a ordem para a hierarquia que acha mais adequada ou que serve melhor os interesses da cúpula.

A direção de Rui Rio estava, desta vez, com o poder reforçado e, portanto, afastou cabeças de lista indicados por distritais como quem afasta um jota não legitimado localmente. Ainda houve um fogacho de contestação no Conselho Nacional de Évora, mas passou depressa.

Apoiantes de Rangel falam em “purga”. Rio faz razia de apoiantes do adversário das listas

Rio é dono e senhor das listas e não só dos cabeças de lista, que sugeriu (e conseguiu aprovar) que seria o presidente eleito do PSD a escolher ainda antes da reeleição. Sete dos cabeças de lista eram, no momento da escolha, ou membros ou da direção da bancada ou da direção do partido. Já são figuras do dia a dia do PSD dos últimos anos, dispensando, por isso, grandes apresentações. O vice-presidente do PSD e uma das figuras em ascensão no rioismo, André Coelho Lima volta, sem surpresas, a ser o cabeça de lista no distrito de Braga. “Coelho Lima, não é?”, chegou a dizer António Costa para desvalorizar o deputado social-democrata durante um debate na Assembleia da República. Apesar de desconhecido do primeiro-ministro, a tendência é para ganhar protagonismo dentro do partido.

O presidente da Mesa do Congresso, Paulo Mota Pinto, é também o cabeça de lista em Leiria. Adão Silva, líder parlamentar, é cabeça de lista em Bragança. Mónica Quintela, vice-presidente da bancada do PSD, é a cabeça de lista em Coimbra. Em Santarém é Isaura Morais, que é também vice-presidente do PSD. E há ainda Maló de Abreu, vogal da direção do PSD, que é o cabeça de lista pelo círculo de Fora da Europa.

Em Lisboa, o escolhido foi Ricardo Batista Leite, que é também vice-presidente da bancada do PSD e o rosto do partido para a área da saúde, com um peso inflacionado pelo destaque que lhe foi dado durante a pandemia. Neste círculo, que tem uma percentagem grande de nomes nacionais — por ser o círculo da capital e ser onde o PSD elege mais deputados — Batista Leite está rodeado de vários rioistas.

O número dois da lista é membro do inner circle de Rio: o secretário-geral José Silvano. Em terceiro lugar, surge Isabel Meirelles, que era na altura da elaboração das listas vice-presidente do partido (e entretanto saiu). O presidente do CEN e vogal da direção, Joaquim Miranda Sarmento (que mais à frente iremos referir nos “ministeriáveis”) está em quarto da lista. Em sexto lugar por Lisboa, aparece ainda Lina Lopes, outra das apoiantes incondicionais de Rui Rio e líder das Mulheres Sociais-Democratas, estrutura cuja existência é muito contestada no partido. Segue-se Tiago Moreira de Sá, presidente da Comissão de Relações Internacionais do PSD e coordenador dos Negócios Estrangeiros no CEN do PSD. Só a direção de Rio bastaria para o PSD ter o quarto maior grupo parlamentar na Assembleia da República.

A lista do Porto — que tem Rui Rio em segundo lugar — também acomoda vários membros dos órgãos nacionais. Hugo Carneiro, o secretário-geral adjunto e o homem das contas do partido, é o quarto no segundo maior círculo do país. No top 5 da lista do Porto, estão ainda mais dois vice-presidentes da bancada do PSD: Catarina Rocha Ferreira e Afonso Oliveira.

João Montenegro — o secretário-geral adjunto e com responsabilidade na direção da volta destas legislativas — também está num lugar elegível. É o terceiro no círculo de Viana do Castelo, onde o PSD prevê eleger três deputados. João Montenegro foi, a par de Salvador Malheiro, uma das figuras mais importantes na vitória de Rui Rio contra Luís Montenegro (em 2020) e contra Paulo Rangel (em 2021).

João Montenegro  foi também o responsável por organizar a volta do líder nas autárquicas e é um grande conhecedor da estrutura de campanha.  Antes de se juntar a Rio, João Montenegro esteve do lado oposto da barricada. Durante os anos de Passos Coelho era o “homem do terreno”, que preparava as ações pelo país. Era adjunto do gabinete do primeiro-ministro. Foi ele também em parte um dos grandes responsáveis da organização campanha da PàF em 2015. Em 2018, alinhou no lado oposto ao de Rio e foi o diretor de campanha da candidatura de Pedro Santana Lopes à liderança do PSD.

Os indefetíveis das diretas recompensados

Há também um grupo de jovens, próximos do vice-presidente André Coelho Lima, que formaram um grupo de indefetíveis de Rio nessa batalha interna: Sofia Matos, Carlos Eduardo Reis e Hugo Carvalho.

Sofia Matos foi mesmo escolhida por Rui Rio para ocupar um lugar que seria do líder forma natural: cabeça de lista pelo Porto. A deputada do PSD e atual diretora do Povo Livre, o jornal oficial do PSD, foi também a aposta de Rio e Malheiro para a direção da JSD. Sofia Matos tinha sido secretária-geral da JSD no tempo de Margarida Balseiro Lopes (persona non grata para a direção de Rio) e tentou depois vencer a “jota” contra Alexandre Poço. Apesar de a vitória de Rangel parecer certa — que não se verificou — Sofia Matos nunca abandonou Rio. E é assim recompensada.

DIRETAS PSD: eleições internas do Partido Social Democrata - PSD - entre Rui Rio e Paulo Rangel, para a liderança do partido. Sede de campanha de Rui Rio, atual líder e re-candidato à liderança do partido, no Hotel Sheraton do Porto. Momento em que se soube da vitória. 27 de novembro de 2021. TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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O lugar agora ocupado por Sofia Matos, de número um do Porto, era em 2019 ocupado por outro jovem: Hugo Carvalho, que agora é o cabeça de lista em Viseu. Hugo Carvalho era presidente do Conselho Nacional de Juventude, onde teve uma liderança muito ativa e procurou ter sempre por perto protagonistas políticos (que foi convidando para os eventos da organização). Deu nas vistas no seu partido, o PSD, e foi convidado por Rio em 2019. Nas diretas ficou do lado dos vencedores e volta a ser recompensado por isso.

Outro dos indefetíveis de Rio nas últimas diretas foi Carlos Eduardo Reis, que surge num destacado quarto lugar nas listas em Braga. Carlos Eduardo Reis foi envolvido na operação Tutti Frutti, que investiga ajustes diretos feitos por autarquias a militantes partidários da mesma cor dos executivos (e não só). Apesar de ser um dos principais suspeitos, Carlos Eduardo Reis queixava-se ao Observador em agosto de nunca ter sido ouvido no caso. E lamentava: “Já ninguém reporá o dano reputacional, financeiro e profissional que isso me causou”.

Apesar disso — e de não haver uma relação direta entre o processo e o percurso partidário que tem tido — foi depois deste envolvimento que voltou de forma mais ativa à vida interna do PSD. Carlos Eduardo Reis foi candidato à liderança da JSD em 2010, mas perdeu para Duarte Marques. Dedicou-se depois mais aos negócios, mas nunca deixou de organizar listas para o Conselho Nacional, aproveitando a rede que tinha a nível nacional (que ia desde o Minho ao Algarve) para ganhar força neste órgão, em listas que incluíam protagonistas que também apoiaram Rio nas diretas e que estão nas listas, como é o caso de Rui Cristina (número dois por Faro).

Em 2019, quando as tropas de Montenegro tentaram derrubar Rui Rio num Conselho Nacional, o apoio da lista de Carlos Eduardo Reis foi fundamental para o presidente do PSD conseguir manter-se no cargo, uma vez que contava com 13 preciosos votos. O apoio foi recompensado e Carlos Eduardo Reis seria candidato a deputado nas últimas legislativas.

Embora discreto, manteve sempre uma influência grande. Nas autárquicas ganharia ainda mais estatuto, sendo um dos grandes obreiros da vitória do PSD em Barcelos. Chegaram as diretas e manteve-se ao lado de Rio, ajudando a elevar Barcelos a uma das maiores concelhias do PSD. A votação de Barcelos foi importante para a vitória de Rio e Carlos — filho de Fernando Reis, conhecido ex-autarca de Barcelos — cimentou ainda mais a sua posição dentro do PSD de Rio. Sem surpresa, surge na lista num lugar de destaque em Braga, o seu distrito (em tempos, quando concorreu à ‘jota’, era precisamente presidente da distrital da JSD de Braga).

Quantos destes são ministeriáveis?

Rio não quer falar muito sobre o seu futuro Governo. Mas nunca escondeu que tem o seu “personal Centeno”, Joaquim Miranda Sarmento, que é candidato a ser ministro das Finanças. Ao contrário de 2019, como já escrevemos em cima, o presidente do Conselho Estratégico Nacional integra as listas de deputados do PSD. Há dois anos, o PSD não contava ser poder, agora conta e — tal como o PS — tem alguns dos “ministeriáveis” nas listas.

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma sessão de esclarecimentos em Braga, no dia em que arrancam oficialmente os dias de campanha para as eleições legislativas que se realizaram no próximo dia 30 de Janeiro. 16 de Janeiro de 2022, Braga TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Além de Miranda Sarmento, a vice-presidente da bancada, Mónica Quintela estaria sempre na pole position para ser ministra da Justiça, área onde Paulo Mota Pinto também poderia ser uma opção. André Coelho Lima também seria alguém a ter em conta na pasta da Administração Interna, Carlos Eduardo Reis na Defesa, embora não necessariamente para ministro, mas para uma secretaria de Estado. Fora das listas, mas um dos grandes fazedores-de-listas está outro ministeriável: Salvador Malheiro é forte candidato a ministro do Ambiente num futuro Governo Rio.

Muitos destes ministeriáveis estão a ser chamados para as “talks” que Rui Rio organiza diariamente na campanha — que são chamadas de “Conversas Centrais” — em que aborda todos os dias uma diferente área da governação.

Cabeça de lista também no Spotify: o cantor de Reggaeton

Há uma outra categoria entre os candidatos a deputados: os que foram candidatos nas últimas autárquicas, mas não conseguiram ser eleitos. Deram o “sim” à direção de Rui Rio nas autárquicas e agora — mesmo tendo perdido — são recompensados por terem feito o esforço pela equipa. Um dos casos mais polémicos é o de Luís Gomes, que foi candidato à câmara municipal de Vila Real de Santo António em setembro e agora é o cabeça de lista pelo Algarve. A sua escolha foi uma imposição de Rui Rio, que afastou o líder distrital Cristóvão Norte para colocar Luís Gomes no topo da lista algarvia.

Luís Gomes tornou-se presidente da câmara com apenas 32 anos, em 2005, sendo na altura considerado pela estrutura social-democrata como um jovem promissor. Em 2017 saiu da autarquia deixando para trás uma dívida avultada de 72 milhões de euros, mas alega que catapultou o património do município de 15 para 200 milhões, deixando um balanço positivo.

Quando saiu da autarquia, Luís Gomes deixou a sua antiga vice-presidente como herdeira. Maria Conceição Cabrita venceu as eleições, mas o mandato não correu bem e foi mesmo detida por corrupção no âmbito da Operação Triângulo. A discípula de Luís Gomes lesou tanto a imagem do PSD que Luís Gomes acabaria por perder a câmara para o PS no último mês de setembro por 436 votos.

Nos seus primeiros mandatos tornou-se conhecido por contornar as demoras do SNS com um protocolo com o Estado cubano para que munícipes idosos fossem a Cuba ser tratados às cataratas. Mais de 30o idosos foram tratados assim. As boas relações de Luís Gomes com o Estado cubano também facilitaram as ligações a músicos locais. “Ele é amigo do filho do Fidel Castro”, conta um velho conhecido ao Observador, para demonstrar as ligações a Havana. Que também são musicais. Um dos seus duetos de Reggaeton é com músico Baby Lores, que o autarca vila realense conheceu em Havana e com quem gravou músicas. Tem também um vídeoclip, gravado em Miami, com o cubano Dayran.

Vila Real de Santo António é uma concelhia com pouca expressão e apenas 40 pessoas votaram nas últimas diretas (16 votos foram suficientes para Rui Rio vencer, numa secção com pouco mais de 60 militantes ativos), mas o facto de Luís Gomes apoiar o atual líder foi o suficiente para encabeçar a lista do distrito.

Luís Gomes é também muito amigo da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, e antiga conselheira nacional do PSD. Ana Rita Cavaco, que já foi muito crítica de Rui Rio, apareceu em pré-campanha ao lado do líder do PSD e sugeriu que este devia ter a oportunidade de ser primeiro-ministro perante o falhanço de Costa com os enfermeiros.

[Veja aqui a lista de originais do Spotify do cabeça de lista do PSD pelo círculo de Faro:]

Fernando Tavares Moreira, no distrito Coimbra, é outro exemplo de um candidato a presidente da câmara derrotado nas autárquicas que agora é repescado para as listas. Em quarto lugar da lista por Coimbra — que pode ser elegível — o “senhor Fernando de Tábua” — um self-made man que se orgulha de ter construído um império empresarial apenas com a quarta classe — já foi candidato à presidência do Sporting e é um devoto de Nossa Senhora de Fátima. Tavares Moreira esteve envolvido nos últimos anos em várias polémicas relacionadas com escolas de condução e centros de inspeção.

Nos incêndios de outubro de 2017 na zona centro perdeu 18 casas, consumidas pelo fogo. Mas tem tanto dinheiro e desprendimento pelos bens que perdeu, como confessou à imprensa local, que entre eles estava um quadro de valor, mas não se sabe se era um Picasso ou um Van Gogh: “Numa delas até tinha um quadro muito bom do Picasso ou do Van Gogh que tinha ficado no recheio de quando comprei tudo isso a um senhor.”

O Sporting profundo, que foge de estereótipos e rejeita elitismos: Fernando Tavares Pereira apresenta programa

O candidato disse sim à direção de Rio nas autárquicas para encabeçar a lista a Tábua e é agora recompensado. Rio fez questão, na altura, de estar presente na apresentação deste candidato.  Conhecido como empresário de sucesso na zona centro, encaixa na intenção do PSD de se apresentar como partido amigo das empresas — que propõe, primeiro, descer o IRC na primeira metade do mandato e, só depois, o IRS.

Onde estão os caciques?

O facto de uma parte do aparelho ter apoiado Paulo Rangel significa que muitos dos caciques — responsáveis por importantes sacos de votos no partido — ficaram de fora das listas de deputados. Ainda assim, há nomes que saltam à vista. O antigo líder interino da concelhia do PSD/Lisboa, apontado como um dos maiores caciques do PSD na capital, Rodrigo Gonçalves surge em 16.º lugar nas listas. Em 2019, o PSD só elegeu 12 deputados em Lisboa, mas desta vez o partido espera ter mais votação e, caso seja Governo, é certo que o antigo presidente da junta de São Domingos de Benfica entra no Parlamento.

A rede da família Gonçalves: como se tornaram poderosos no PSD/Lisboa

Pelo país fora há outros exemplos de sindicatos de voto. Um deles foi um dos segredos mais bem guardados de Rio antes das diretas: Firmino Pereira. Rangel tinha Cancela Moura em Gaia — dominante de tal forma que era o líder concelhio — mas o seu rival local, Firmino Pereira, provou que ainda sabia cacicar como antigamente.

Firmino Pereira viveu algumas das histórias mais épicas do caciquismo no PSD. Na disputa Marques Mendes-Menezes, a secretaria-geral do PSD decidiu criar um sistema em que para pagar quotas — como até ali acontecia — já não bastava ter apenas o número de militante. Um algoritmo gerenciava uma referência que era enviada por carta aos militantes. Ora, isto esvaziava a intervenção dos caciques, que não demoraram a encontrar uma solução.

O próprio Firmino Pereira, no livro Predadores, de Vítor Matos, confirmou que recorreram a um hacker em Madrid que descodificou os códigos e que permitiu o pagamento de quotas em massa.”Foi uma empresa em Madrid que conseguiu desencriptar os códigos para o multibanco”, confessou Firmino Pereira. Cinco fontes menezistas confirmaram esta ação de pirataria informática (que favoreceu Menezes), que custou entre 20 e 30 mil euros.

Apesar de ser o homem que mais anos liderou a grande secção de Gaia (maior que muitas distritais), Firmino Pereira estava na mó de baixo até às últimas diretas. O apoio a Rui Rio inverteu, no entanto, tudo. Com a ajuda do antigo vereador menezista, o atual presidente do PSD venceu — contra todas as expectativas — as eleições na concelhia: 508 contra 446 votos. Esse trabalho foi recompensado: é 14.º no Porto, o que pode ser um lugar elegível — ainda para mais caso haja um Governo de direita.

A ‘quota’ da jota

A JSD tem tradição de ter uma quota relevante nas listas do partido. Os membros da estrutura juvenil no Parlamento são muitas vezes superior a muitas bancadas parlamentares. O líder da JSD, Alexandre Poço, seguiu num elegível 10.º lugar em Lisboa, não sofrendo grandes represálias por ter apoiado Paulo Rangel. O facto de não ter assumido uma postura confrontacional durante a campanha e por o partido precisar da “jota” para a campanha, deixaram-no mais ou menos imune à chamada “purga”.

Apoiantes de Rangel falam em “purga”. Rio faz razia de apoiantes do adversário das listas

Além de Alexandre Poço, há mais quatro membros da JSD em lugar potencialmente elegível. É o caso do cabeça de lista do PSD por Portalegre que, se for eleito, tornar-se no mais jovem deputado da Assembleia. João Pedro Luís tem 19 anos, é ainda estudante (de Direito, na Católica) e preside à distrital da JSD de Portalegre. Nas últimas autárquicas foi eleito deputado municipal em Portalegre e é também conselheiro nacional do PSD.

Outro João Pedro da “jota” bem posicionado é João Pedro Louro, o número quatro em Setúbal. Há dois anos, o PSD só elegeu 3 deputados (em 18 eleitos no total do círculo), mas o jovem está à bica para entrar. No Porto, Rosina Pereira também aparece em 16.º lugar e Dinis Ramos em 4.º na Madeira. Ambos não são lugares de eleição certa, mas possível se as eleições correrem especialmente bem ao partido.

Os lugares elegíveis dependem do resultado do partido. Se Rui Rio conseguir chegar ao Governo, muitos dos agora candidatos vão ser chamados à governação, abrindo espaço para que quem está em lugar inelegível passe a estar em lugar elegível.

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