A aplicação do PRR e a definição das novas regras orçamentais foram o principal tema de mais um debate televisivo entre quatro cabeças de lista às eleições europeias. Desta vez na CNN, Marta Temido (PS), Sebastião Bugalho (AD), Catarina Martins (BE) e Pedro Fidalgo Marques (PAN) falaram ainda do facto do ex-primeiro-ministro António Costa ter sido ouvido pelo Ministério Público no âmbito da Operação Influencer. Os quatro candidatos a um lugar em Estrasburgo debateram também a possibilidade de incluir o aborto como direito fundamental da União Europeia e o combate à corrupção.

Falta apenas um frente-a-frente na Rádio Observador, os únicos nestas europeias: será quarta-feira, dia 29, às 19h00, entre o cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho, e o cabeça de lista do Livre, Francisco Paupério. Pode consultar o calendário completo dos seis já realizados aqui.

Nas televisões, o debate a oito, será dia 28, terça-feira, na RTP. E depois, o derradeiro debate, também a oito, será o das rádios (Rádio Observador, Antena 1, TSF e RR): acontecerá a 3 de junho, às 9h30.

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Quem esteve melhor? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador vai continuar a dar notas de 1 a 10 a cada um dos candidatos nos debates televisivos e no das rádios, e nos frente-a-frente da Rádio Observador. A média surge a cada dia, no gráfico inicial, onde pode ver a classificação geral e saber quem tem estado melhor e quem lidera.

[Já saiu o segundo episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio.]

Quem ganhou o debate: Marta Temido, Sebastião Bugalho, Catarina Martins ou Fidalgo Marques? Veja as notas

Alexandra Machado — Sebastião Bugalho não teve um debate fácil. Eram três contra um. O que ficou visível com o tempo que acabou por ter (um pouco acima dos restantes candidatos). Não conseguiu sair por cima em nenhum dos temas, mesmo tentando a velha tática de colocar questões aos outros candidatos, tentando o papel de inquiridor e na tentativa de desviar o debate para terrenos mais favoráveis. Quem conseguiu fazer isso com sucesso foi Catarina Martins. Apesar de em alguns pontos ter dado argumentos falaciosos (a convicção com que argumenta ajudou a passar a mensagem) – nomeadamente em relação às regras orçamentais europeias tema no qual Marta Temido, só no final, conseguiu defender um trabalho feito pela eurodeputado socialista Margarida Marques –, foi mesmo pela cabeça de lista bloquista que o tema das regras orçamentais acabou a ocupar espaço, desviando-se do PRR. Também foi Catarina Martins que introduziu o assunto das offshores e do lobby e esteve bem ao tentar introduzir (embora sem sucesso) a questão sobre a decisão do TPI em relação a Israel. Marta Temido esteve no debate ligeiramente melhor, mas não de forma suficiente para sair com uma boa nota. Não foi assertiva em alguns temas que lhe seriam mais favoráveis, desde logo no arranque do debate sobre a Operação Influencer. Marta Temido não sai bem dos debates. E não basta ser otimista sobre a execução do PRR ou bater no peito com a intransigência à corrupção ou uma frase mais inflamada a favor dos direitos das mulheres. É preciso mais. Tal como no caso de Sebastião Bugalho. Não esteve bem nos argumentos e não basta dizer que se levanta a defender o direito das mulheres. E esteve mal ao confrontar a moderadora com as perguntas (que eram de índole nacional), quando mais tarde acabou a responder (no caso da interrupção voluntária da gravidez) com a posição de Luís Montenegro.
Pedro Fidalgo Marques do PAN optou por, a cada pergunta sobre alhos, responder (quase sempre) bugalhos (não é nenhuma referência ao candidato da AD).

Helena Matos — Comecemos por resolver o caso Pedro Fidalgo Marques. Ou melhor dizendo o meu caso com Pedro Fidalgo Marques. Aos contrário dos outros três participantes neste debate, Pedro Fidalgo Marques não foi ao debate para debater mas sim para fazer uns monólogos nunca sobre o tema em causa mas sim sobre o seu contrário ou nem isso: o tema é a governação económica e ele vai para as touradas Perguntam-lhe pelo aborto e ele responde com a menopausa. Trata-se da corrupção e Pedro Fidalgo Marques resolve tratar do transporte dos animais vivos ou outra coisa qualquer. Quando de todo em todo não pode esquivar-se a responder recorre ao leque de chavões prontos a usar como aconteceu quando confrontado com a notícia sobre a audição de António Costa e a Operação Influencer. Para Pedro Fidalgo Marques o que aconteceu é uma consequência da falta de meios na justiça. Desculpem, mas isto é assim: o candidato não debate logo eu não comento. Dou-lhe 1 pela comparência. Passemos agora aos outros três participantes os únicos que verdadeiramente debateram. Sebastião Bugalho começou nervoso. Enfrentou e confrontou a moderadora. A meio melhorou e, já no final, acabou a encostar Marta Temido à parede quando a confrontou com o apoio de Orbán a António Costa. (Marta Temido não lhe respondeu mas valha a verdade também não tinha como). Dos participantes Sebastião Bugalho era o melhor preparado e por isso dou-lhe seis mas é evidente no seu desempenho que começa a acusar a tensão que experimenta no meio onde triunfou: a bolha mediática. Marta Temido está a ganhar experiência. O debate correu-lhe melhor e, sinal dos tempos, já não diz pandemia mas sim “período específico”. Mas sejamos honestos Marta Temido pretendia tão só sobreviver ao debate sem danos de maior. Conseguiu. Até porque as expectativas para o seu desempenho eram baixas e porque em Portugal os candidatos de esquerda não têm passado: se se confrontarem as declarações sobre o aborto de Marta Temido candidata às europeias em Maio de 2024 com as declarações de Marta Temido ministra da Saúde em Maio de 2022 percebe-se que a candidata mandou calar a ministra. Catarina Martins. Esteve bem. Ganhou votos ao PAN e não perdeu eleitores para o PS. Outra coisa é achar que pode ter convencido alguns socialistas a votar BE. Confesso que tenho pouca paciência para a demagogia de quem não defendendo a Europa não apresenta outro modelo para o país que não seja o recurso aos fundos europeus mas para o eleitorado do BE o desempenho de Catarina Martins foi certamente eficaz e deu-lhes uma boa razão para irem votar a 9 de Junho.

Judite França — Todos tinham que dar tudo no último debate a quatro. Correu mal porque foi errático e o conteúdo foi desinteressante. E Marta Temido, sempre que pôde, não foi a jogo. A ponto de, quando o debate era entre Catarina Martins e a candidata do PS sobre as novas regras orçamentais, foi Sebastião Bugalho que apareceu a fazer a despesa da socialista. A candidata do Bloco de Esquerda criticava as novas regras e lamentava que os partidos do centro tenham atribuído mais poder à Comissão Europeia para definir a condução das políticas. Marta Temido tenta responder, mas Catarina Martins interrompe, até que o candidato da AD entra em jogo para defender as decisões dos socialistas e do Partido Popular Europeu. Catarina Martins não vê a virtude do modelo e Marta Temido assobia para o lado. A antiga ministra da Saúde não está ali para convencer ninguém. E prefere ficar sossegada. Pelo contrário, Sebastião Bugalho decidiu começar o debate com uma picardia risível com a moderadora que desnecessariamente o prejudicou. Já Pedro Fidalgo Marques prejudica-se a ele próprio. Perante os grandes temas europeus, o candidato do PAN prefere falar do investimento em proteína vegetal e nas inefáveis touradas. Foi o direito ao aborto que mais tensão gerou. Marta Temido e Catarina Martins quiseram empurrar Sebastião Bugalho para a posição de troglodita por o PPE não ter votado a favor da Interrupção Voluntária da Gravidez ser consagrada na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Bugalho tentou explicar a questão jurídica – o equilíbrio entre os dois direitos, o direito à vida e o direitos das mulheres – o que serviu apenas para ser acusado de estar a escudar-se atrás de um argumento legal. Ainda assim, serviu para que o candidato da AD fizesse uma declaração sob palavra de honra: a delegação portuguesa no PPE não permitirá qualquer recuo nos direitos das mulheres.

Pedro Raínho — Sebastião Bugalho continua a querer juntar um adversário à mesa das negociações. É difícil entender — também será difícil justificar — que o cabeça de lista da AD se perca em considerações com os moderadores do debate. O combate é político e, para isso, Bugalho tem à sua frente os seus verdadeiros adversários. Na reta final dos debates, o candidato da AD devia concentrar mais energias nessa frente. Temido puxou dos galões do tempo em que liderou a pasta da Saúde — numa tema em que esse capital nem se aplicava de forma direta — defendeu de forma aguerrida a inscrição do direto ao aborto como um direito fundamental. A cabeça de lista do PS esteve mais sólida nas pastas europeias que em debates anteriores. Catarina Martins completa o trio de debatentes mais ativos neste debate. Relevante a lembrar que as regras orçamentais europeias poderão estar, depois de 9 de junho, nas mãos de uma Comissão Europeia muito mais inclinada à direita. Foi também eficaz a colar PS e direita (AD, entenda-se) no caminho que fizeram juntos para a aprovação dessas regras. Pedro Fidalgo Marques não consegue descolar-se da capa de outsider. Tenta jogar no campo dos grandes, mas continua a faltar-lhe capacidade de ir a jogo e aprofundar os temas.

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