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Chris Hondros/Getty Images

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Quimioterapia atrasada, radioterapia adiada e um transplante por marcar. O impacto preocupante nos doentes com cancro

Fausta, Lídia e Antonieta são três exemplos do que vivem milhares de doentes com cancro, com cirurgias e tratamentos adiados. Médicos estão preocupados com o impacto na cura e pedem retoma urgente.

Uma recaída, o atraso na quimioterapia e, agora, o adiamento do transplante. Em menos de um ano, o mais recente de 45 de vida, Fausta Dias trava pela segunda vez uma luta contra um linfoma de Hodgkin. E quando pensava que, após quatro tratamentos de quimioterapia, iria finalmente ser submetida a autotransplante, ouviu da médica que o seu processo ficaria suspenso e que a intervenção teria de ser adiada. Para quando, não sabe. Sabe apenas que o adiamento se prendeu com a pandemia da Covid-19.

A Direção-Geral da Saúde recomendou que as unidades hospitalares e serviços de oncologia implementassem um plano de contingência para a pandemia que reduzisse a força de trabalho em cerca de 10-15%, bem como a possibilidade de realizar atos clínicos com recurso à teleconsulta e telemonitorização. Esta redução levou ao adiamento de alguns tratamentos e de atos médicos. Uma situação que, segundo o presidente do Colégio de Oncologia Médica, Luís Costa, terá de “mudar rapidamente” ou terá um impacto na cura destes doentes apenas visível daqui a dois ou três anos.

“Há decisões de oncologia que têm de ser tomadas num espaço de tempo útil para resolvermos o problema de doente, para aumentar as taxas de cura. Isso tem que ser retomado rapidamente, porque senão vai ter impacto a uns anos. Não é já, não é como uma situação cardiovascular, que se pode ver refletido no espaço de um mês ou dois, falamos de uns dois anos. Não queremos que isso aconteça”, explica ao Observador.

A vida suspensa de Fausta, que tem um linfoma

Foi a 2 de março que a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou o primeiro caso positivo de infeção pelo novo coronavírus em Portugal. Nesse dia, Fausta Dias estava numa cama do IPO de Lisboa. Após quatro tratamentos de quimioterapia e feita a colheita de células para avançar para o autotransplante, sofreu uma infeção no cateter que a obrigou a um internamento de 12 dias. “Nesse período, o meu marido foi visitar-me apenas duas vezes, porque o  hospital tomou logo medidas e a primeira foi limitar as visitas; depois terminaram com elas”, recordou por telefone ao Observador a partir da sua casa, no Seixal.

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Fausta Dias fez análises a 9 de abril para depois fazer um autotransplante, que foi adiado

D.R.

Sozinha, embora com a ajuda das redes sociais, ultrapassou a infeção e regressou a casa. Voltou ao hospital no dia 9 de abril para fazer análises ao sangue e avançar com o processo do transplante. Nesta altura, porém, já a Direção-Geral da Saúde contabilizava 13.956 casos positivos e 409 mortos em Portugal. Fausta não chegou sequer a saber o resultados das análises. Cinco minutos depois da colheita foi informada de que o seu processo não avançaria para já. “Não sei o resultado das análises e continuo à espera. Nem sequer sei se as células que retirei se preservam ou se tenho de fazer mais algum tratamento entretanto”, conta ao Observador. Uma espera que a tem consumido.

Não é a primeira vez que Fausta Dias luta contra um linfoma. Na primeira vez, em 2017, oito sessões de quimioterapia revelaram-se suficientes para ultrapassar a doença. Dois anos depois, o seu corpo dava sinal de que algo poderia não estar bem. Apareceu-lhe um caroço na virilha que a levou de volta, em 2019, ao Hospital de Santa Maria. Segundo o seu testemunho, depois do diagnóstico foi esperando pelo tratamento. A demora acabou por fazer com que pedisse transferência para o IPO de Lisboa, onde começou rapidamente o primeiro ciclo de quimioterapia, o segundo e o terceiro. “Tive alta no dia 1 de janeiro, fiz a recolha das células passado duas semanas, entretanto esqueceram-se de mim e só fui fazer o quarto ciclo dois meses depois”, recorda, temendo que a sua ficha clínica volte a cair no esquecimento. “Ninguém merece. Nunca mais retomo a minha vida normal”, desabafa, enquanto aproveita o período de espera, isolada em casa, para aprender inglês e melhorar o que sabe.

Antes do dia 9 de abril, Fausta ainda teve de ir ao hospital tomar um antibiótico injetável durante cinco dias. Nessa altura já a Direção-Geral de Saúde tinha emitido uma norma com uma série de regras destinadas a doentes oncológicos. Teve de recorrer aos bombeiros para a transportarem e foi levada sozinha. Houve máscaras, desinfeção e luvas, tal como o recomendado.

O que diz a recomendação DGS para a Área de Oncologia:

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  • Sendo os doentes oncológicos mais vulneráveis, devem as unidades de saúde terem zonas próprias e circuitos exclusivos para eles para que não sejam infetados
  • A reorganização dos serviços deve permitir que os doentes se desloquem menos às unidades de saúde
  • Os profissionais de saúde devem vigiar os seus próprios sintomas
  • O transportes dos doentes deve garantir os maiores cuidados para prevenir a infeção
  • Devem ser testados para a Covid-19 os doentes oncológicos, mesmo que assintomáticos: antes de iniciar quimioterapia ou radioterapia; durante, antes de cada administração, mas nunca com uma periodicidade inferior a uma semana e antes da admissão para tratamento cirúrgico eletivo
  • Os doentes que testem positivos devem ser mantidos numa unidade própria ou transferidos para os hospitais de referência. Devem interromper os tratamentos ou nem sequer começá-los
  • Nos casos em que o tratamento cirúrgico não possa ser adiado, o doente oncológico deve ser submetido ao procedimento cirúrgico em unidades hospitalares com circuitos específicos para doentes Covid-19

 

Ao Observador, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses assegura que o transporte de doentes urgentes e não urgentes está a seguir todas as recomendações. O problema, diz Jaime Marta Soares, são as dificuldades financeiras que as associações de bombeiros estão a atravessar. “Algumas estão há oito meses à espera que os hospitais, ou o Ministério da Saúde, lhes pague o transporte de doentes. E agora com a Covid-19 há maior despesa em materiais”, diz. A dívida total já chega quase aos 30 milhões de euros, alerta.

Na última vez que Lídia Anjos, 53 anos, teve de ir ao Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, a norma da DGS para os doentes oncológicos ainda não existia. Foi a 16 de março, precisamente no dia em que se registou a primeira morte em Portugal pela Covid-19. Tal como das outras vezes, foi transportada das Caldas da Rainha para Lisboa com mais doentes, embora cada um levasse máscara e luvas para se proteger.

Há seis anos que Lídia tem nas mãos um diagnóstico de cancro. Começou nos ovários, foi logo operada, fez quimioterapia e pensou que podia continuar a sua atividade profissional como assistente dentária. Três anos depois, no entanto, um exame mostrava que, afinal, o cancro não tinha desaparecido e já tinha metástases na artéria aorta, na anca e entre o esófago e o estômago. “Desde então que, como não posso ser operada, porque é na aorta, tenho feito quimioterapia”, conta ao Observador. Em fevereiro, no entanto, ainda o novo coronavírus não tinha chegado a Portugal, começou a ficar com as unhas negras. Depois começaram a cair. Foi a uma consulta e disseram-lhe que era “excesso de toxicidade”. Era urgente parar os tratamentos.

Instituto Português de Oncologia (IPO) Francisco Gentil em Lisboa

No IPO de Lisboa foram reduzidas as consultas, mas alguns tratamentos aumentaram em relação a 2019

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVADOR

Na última viagem ao IPO, quando foi à consulta de 16 de março, as análises mostravam que tinha piorado. A médica ainda lhe disse que estava a vê-la presencialmente precisamente porque tinha parado a quimioterapia — porque, à data, as restantes consultas já estavam a ser feitas por telefone ou vídeo. Apesar do agravamento, não considerou que os valores que encontrou nas análises justificassem uma retoma do tratamento em tempos de Covid-19 e mandou-a para casa, com uma consulta marcada para o dia 4 de maio. Pelo meio, Lídia Anjos tinha uma consulta de psiquiatria que também foi desmarcada. “Compreendi que a Covid é grave, estamos numa situação grave, mas o cancro também é. E quem anda nesta vida há seis anos, como eu, está um bocado apreensivo. Não morro de uma coisa, morro de outra”, desabafa.

Oito profissionais de Saúde e cinco doentes infetados no IPO de Lisboa

No IPO de Lisboa, apurou o Observador, há já registo de oito profissionais de saúde infetados. A maior parte terá sido contagiada em hospitais privados onde também prestam serviço. Neste hospital, que não recebe doentes com Covid-19, já foram também registados cinco pacientes com o novo coronavírus. Todos eles ficaram na zona de contenção que o hospital criou, onde se mede a temperatura, faz-se um questionário e, em último caso, faz-se o teste. Uma doente morreu, outra foi transportada para o Hospital de Vila Franca de Xira e os restantes três ficaram naquela zona de contenção.

O que estava agendado antes da pandemia é previamente avaliado pelos "médicos assistentes (em conjunto com os diretores de serviço), que indicam quais as consultas e exames que devem manter-se com presença física dos doentes, sendo os mesmos confirmados de véspera aos doentes".
IPO de Lisboa

Em março, ainda antes de a Direção-Geral de Saúde emitir a norma dirigida a estes doentes, o hospital ainda recorria a testes feitos fora. Só depois foi montado um laboratório e criada a capacidade de testar. Ainda assim, com critérios.

Ao Observador, fonte oficial do IPO de Lisboa explica que no último mês e meio foram adotadas várias “medidas que visam reduzir o risco de infeção pelo novo coronavírus”. Uma delas foram as consultas. Se entre 1 de janeiro e 16 de abril de 2019 foram feitas 84.494 consultas, este ano, no mesmo período, foram dadas menos 7.439. “O que estava agendado antes da pandemia é previamente avaliado pelos “médicos assistentes (em conjunto com os diretores de serviço), que indicam quais as consultas e exames que devem manter-se com presença física dos doentes, sendo os mesmos confirmados de véspera aos doentes”, responde o hospital.

“Nos casos em que os médicos consideram que não é necessário que os doentes se desloquem ao Instituto, é realizada consulta médica telefónica”, justifica o IPO de Lisboa.

Também as cirurgias, embora se continuem a realizar as “clinicamente prioritárias e muito prioritárias” sofreram uma quebra: de 2.003 para 1.867. Assim como na Unidade de Atendimento não Programado (de 3.028 consultas para 2.513). “Mas, na verdade, foram disponibilizados outros canais de comunicação, nomeadamente uma linha telefónica de apoio aos doentes, com atendimento direto por enfermeiros, que esclarecem dúvidas e encaminham para os médicos sempre que necessário”, explica o instituto.

Os tratamentos de quimioterapia, radioterapia, exames invasivos e outros mantêm-se “com o mínimo de alterações que é possível em cada momento”. Em Lisboa, alguns até aumentaram. Os dados fornecidos ao Observador indicam que entre 1 de janeiro e 16 de abril de 2019 tinham sido feitas 10.753 sessões de quimioterapia no hospital de dia do IPO de Lisboa. O mesmo período deste ano dá conta de mais: foram 11.217. Na radioterapia foram feitos 22.667 tratamentos nesse período de 2019 e 22.854 no de 2020. Também a imunohemoterapia (transfusões de plaquetas, plasma e outros componentes sanguíneos) passou de 1.182 para 1559.

Para reduzir o risco de infeção, alterou-se o circuito dos doentes que recorrem ao Instituto sem agendamentos, tendo sido criado um novo espaço para triagem e uma zona de contenção para isolar, temporariamente, doentes com sintomas de Covid-19.

Antonieta Corte Real é seguida no privado. E viu a radioterapia ser adiada

Também no setor privado estas recomendações estão a ser respeitadas. Antonieta Corte Real, 60 anos, é tratada na Fundação Champalimaud, em Lisboa. Em 2012 foi-lhe detetado um cancro na mama. Removeu o tumor em junho e fez quimioterapia. Entrou no ano seguinte já a fazer sessões de radioterapia. Conta que foram 32. E que pensou, à data, ter-se livrado do cancro.

"Disse que não se reuniam as condições necessárias para fazer os exames. Não querem lá as pessoas, só o imprescindível"
Antonieta Corte Real, doente oncológica

Três anos depois, no entanto, começou a sentir dores nas costas. Até eram suportáveis, mas o seu sexto sentido levou-a a insistir com a médica para fazer exames. “Fui fazer uma ressonância magnética e tinha uma metástese óssea”, recorda. Nessa altura tinha já uma vértebra completamente desfeita e corria o risco de ficar paraplégica. A partir daqui, conta, o cancro foi tomando conta do seu corpo, alastrou também à coluna. “Voltei a fazer radio e quimioterapia em comprimidos. E faço imunoterapia”, diz. Já com metásteses na coxa direita e no colo do fémur, tinha agendado, em fevereiro, um plano de radioterapia que começaria a 23 de março. Mas, dias antes, o médico que a acompanha telefonou-lhe a dizer que o plano seria suspenso.

“Disse que não se reuniam as condições necessárias para fazer os exames. Não querem lá as pessoas, só o imprescindível”, disse ao Observador no dia em que se tinha deslocado à Fundação para uma colonoscopia e uma endoscopia, uma vez que agora os sintomas da doença parecem ter-lhe já tomado conta do estômago e do intestino.

“Ninguém entra sem tirar a temperatura à entrada, obrigam a lavar as mãos e fazem um pequeno inquérito a perguntar se há sintomas. Na sexta-feira fizeram- me um teste à Covid-19  que deu negativo, por isso não me desmarcaram os exames”, conta.

O marido ficou à entrada do hospital à sua espera. Ninguém pode entrar além do doente. Cabe também ao doente, após o teste, seguir as recomendações do hospital, isolando-se e  garantindo evitar qualquer comportamento de risco de contágio. “Hoje não testaram, tiraram a temperatura e sempre com máscara, fizeram-me a preparação anestésica, puseram-me o bucal na boca, sempre com máscara. E quando acordei estava ainda com a máscara”, conta.

“Fui apanhada de surpresa. Neste momento, não sei quando irei fazer o tratamento. Estou preocupada, porque, com a minha lesão, tenho o risco de fazer uma fratura. É uma doença muito silenciosa.”

Os doentes oncológicos que faltam aos tratamentos com medo da Covid-19

A angústia de Fausta, Lídia e Antonieta por não saberem até quando os seus tratamentos permanecerão suspensos,  e quais as consequência dessa decisão, é partilhada por responsáveis das associações que representam doentes de cancro. Tamara Milagre é presidente da Evita (Associação Portuguesa de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes relacionados com Cancro Hereditário) e também ela tem notado esse adiamento tanto nos doentes oncológicos, como os portadores de mutação que estão em risco e precisam de vigilância regular.

“Infelizmente vamos ter más noticias depois da Covid-19. É uma vertente dramática para nós. Compreendemos a situação atual, mas apelamos para retomar lentamente as vigilâncias especificas. Vamos ter de retomar esse follow up, senão haverá um grande colapso”, apela.

A ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou que as consultas deviam ser retomadas, mas a norma entretanto enviada pela DGS alerta para os casos serem avaliados consoante a região

LUSA

Por outro lado, dá conta de uma outra realidade. Muitos doentes temem ir ao hospital e têm faltado a consultas e a tratamentos. Aliás, há muitos que telefonam às associações a perguntar isso mesmo: se devem ir. Há também quem, no primeiro mês de Covid-19, tivesse receio de ir à farmácia do hospital para ir buscar medicação — o que as associações, em conjunto com as ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos, resolveram com a Operação Luz Verde.

Também Miriam Brice, que preside a um associação sem fins lucrativos que se dedica à causa oncológica, a “Careca Power”, partilha desse receio.”Em oncologia não se pode dizer que há doentes urgentes e não urgentes. Só a estética é que é não urgente”, considera, ao mesmo tempo que alerta para as dificuldades de uma videoconsulta em casos de cancro da mama, por exemplo. Ultrapassadas algumas dificuldades iniciais e com os hospitais preparados com a separação dos doentes, a responsável defende ser altura de retomar as consultas e os procedimentos, como, aliás, anunciou no último fim de semana a ministra da Saúde, Marta Temido.

A acrescentar à suspensão ou adiamento de tratamentos, a responsável dá também conta de que as juntas médicas, que atestam a incapacidade dos doentes, estão também paradas. “Quem não tem junta medica, não tem apoio. Se foi apanhado agora com um cancro, não consegue fazer prova de que o tem, não o consegue tratar. Há situações económicas dramáticas. Há pessoas que nem têm dinheiro para comprar máscaras e precisam de usá-las, porque andam de transportes públicos. Nem todas têm carros próprios e formas de fugirem às concentrações de pessoas”, adverte.

"Infelizmente vamos ter más noticias depois do Covid 19. É uma vertente dramática para nós. Compreendemos a situação atual, mas apelamos para retomar lentamente as vigilâncias especificas. Vamos ter de retomar esse follow up, senão haverá um grande colapso"
Tamara Milagra, presidente da Evita

Vítor Neves, da Associação de Apoio a Doentes com Cancro Digestivo – Europacolon Portugal, diz mesmo estar preocupado e lembra que “as outras doenças crónicas não estão de quarentena”. “O que entendemos é que as doenças oncológicas estão a ser subvalorizadas, as listas de espera estão a ser acumuladas, as cirurgias adiadas, os tratamentos. E alguns não estão a ser feitos porque os doentes têm medo e não comparecem”, retrata ao Observador.

Também Isabel Barbosa, da Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas referiu ao Observador esse medo que os doentes sentem em ir ao hospital. A preocupação desta associação levou mesmo a sua responsável a organizar um webinar sobre a questão dos doentes oncológicos, cerca de duas semanas depois da norma da DGS. Nessa conferência online, Sérgio Chacim, hematologista Instituto de Oncologia no Porto, reconheceu que, em traços gerais, havia menos doentes a recorrem às Urgências com medo da infeção. “Acaba por haver uma mortalidade indireta por as situações não serem tratadas atempadamente. É importante que os médicos passem a mensagem de que há caminhos limpos”, disse.

Um estudo de Rui Santana revela mesmo que, no mês de março de 2020, “houve uma quebra de 48% na procura de serviços de urgência e uma redução de mais de 144 mil episódios de urgência, para doentes com maior prioridade de atendimento (pulseiras amarela e vermelha), quando comparado com anos anteriores”.

Entre março e abril registaram-se mais 1.255 mortes em Portugal do que o esperado, diz estudo

Ordem dos Médicos avisa que o vírus continuará presente e que é preciso voltar a tratar os doentes

Ao Observador, o presidente do Colégio de Oncologia Médica da Ordem dos Médicos, Luís Costa, explica que, durante este mês e meio, teve de haver adaptações. “Houve um período em que foi preciso um esforço muito grande para manter aquilo que era mais urgente, o que significa tomar as decisões a tempo e horas para não termos consequências gravíssimas”, diz. E o que é mais urgente na doença oncológica? “Doentes que têm tratamentos ou que precisam de apoio médico”. “Foi necessário criar vias de proteção para esses doentes, foi preciso criar acessos próprios, reduzir o número de acesso de pessoas no serviço, foi necessário fazer um rastreio clínico aos doentes antes de subirem para o serviço”, explica.

O presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos, Luís Costa, diz que têm de ser tomadas novas medidas

No caso do Hospital de Santa Maria, onde dirige o Serviço de Oncologia, o médico diz que colocaram as equipas médicas a trabalhar em espelho — metade a lidar com o público, a outra metade a fazer teleconsultas para terem os médicos mais preservados, caso houvesse infeção. No seu serviço, em centenas de doentes, até agora ainda só deteram três casos positivos.

“Estavam assintomáticos. Mas são casos perturbadores, não só pelo que acontece no serviço. Porque este doente tem que estar isolado e, do ponto de vista logístico, é muito difícil”, explica.

"Para almejar a cura dos doentes ou controlar os sintomas, prolongando-lhe a vida, vai ter de ser retomado ou continuado o que estava a ser feito"
Luís Costa, presidente do Colégio de Oncologia

Segundo Luís Costa, num desses casos, o doente teve de ficar internado porque tinha em casa seis pessoas e não havia qualquer hipótese de ficar isolado. “Foi um internamento social”. Já nos outros dois casos foi garantido o isolamento em casa.

Nenhum dos casos positivos pode avançar para um tratamento de radioterapia ou qimioterapia, por estar fraco e correr o risco de ter uma infeção provocada pelo novo coronavírus, como aliás advertiu esta semana a Direção-Geral da Saúde numa nota enviada às unidades de saúde, a que o Observador teve acesso — e que visa responder às dúvidas que surgiram na sequência da norma publicada a 2 de abril.  Luís Costa garante que, neste momento, está a ser feita um média de 50 testes no hospital, para garantir que tal não acontece.

Daqui para a frente, explica, têm de começar a levantar-se as restrições impostas pela DGS. É que, avisa, o vírus vai estar presente durante muito mais tempo e, à medida que forem levantadas as restrições impostas pelo estado de emergência, o risco de contágio aumenta. “Como vamos manter o contágio controlado?, Há um desconhecido que ainda está para vir. Como vamos adaptar-nos a uma situação crónica?”, interroga.

“Para almejar a cura dos doentes ou controlar os sintomas, prolongando-lhe a vida, vai ter de ser retomado ou continuado o que estava a ser feito”, diz ao Observador.

A ministra da Saúde, no último fim de semana, disse mesmo que, já nesta última semana de abril, seriam levantadas algumas restrições e que alguns atos médicos seriam retomados. Mas a nota da DGS enviada esta semana e que esclarece os profissionais de Saúde não o diz explicitamente. O documento sublinha que a gestão da doença oncológica no atual panorama “apenas poderá ser eficiente e limitar os riscos para os doentes se as respostas do SNS forem integradas”, admitindo respostas diferentes de região para região, consoante o risco for maior ou menor.

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