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HUGO AMARAL/OBSERVADOR

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Robert A. Sherman. "Chorei descontroladamente no fim do caso Spotlight"

Robert A. Sherman está há dois anos e meio cá como embaixador. Foi advogado das vítimas de abuso por padres em Boston. Diz que Trump dá voz a um segmento da população. Leia a entrevista de vida.

Chegar à sala onde vamos entrevistar Robert A. Sherman, na Embaixada dos Estados Unidos a América em Lisboa, é uma aventura de superação de barreiras de segurança. Uma sugestão do gabinete de imprensa: é aconselhável chegar 20 minutos antes do início da conversa, para lidar com todos os formalismos. E uma exigência: há que enviar antecipadamente uma lista com todo o equipamento eletrónico necessário para a entrevista. E todo significa mesmo todo. Como não faziam parte da lista, a extensão para ligar o equipamento à corrente e o iPad com algumas notas para a entrevista ficam à porta.

Chegámos com meia hora de antecedência, just in case, e mesmo assim foi à justa. À porta da embaixada, seis elementos da segurança fazem a revista ao equipamento e à equipa. A “porta 3” abre e subimos uma escadaria para nos depararmos, lá em cima, com um novo controlo de identidade. Tudo OK, podemos entrar. Alguma vez estas coisas poderão voltar ao que eram? “Já não vou viver para ver isso”, admite Sherman, que no próximo dia 10 de novembro faz 63 anos.

O encontro servia para gravar uma entrevista de vida com Robert A. Sherman. É advogado de formação e defendeu centenas de vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica, no chamado caso Spotlight, que deu origem ao filme com o mesmo nome. Mas foram os vídeos de apoio que dedicou à seleção portuguesa de futebol, durante o campeonato europeu, com um cachecol enrolado na cabeça, que o tornaram mais conhecido entre os portugueses. “Eis uma coisa que descobri sobre os meus colegas embaixadores: eles têm muita conversa, mas não concretizam”, provoca. “Ainda estou à espera de todo o vinho que me devem da Croácia, da Polónia, França e outros países”. No próximo mês, vão juntar-se todos num encontro. Sherman garante que vai cobrar o que lhe devem. Até à última garrafa.

Qual é a história por trás dos vídeos de apoio à seleção? Foi uma forma de aproximar-se dos portugueses?
No início queríamos fazer uns vídeos divertidos com o objetivo de criar uma maior ligação com o povo português. E fazer uns vídeos de apoio divertidos com alguns embaixadores. Mas, pouco depois de fazermos os primeiros, percebemos que se estavam a tornar virais e que podíamos incorporar uma mensagem séria: se jogarem em equipa, se tiverem confiança em vocês mesmos, podem alcançar grandes feitos. E não é só no desporto, é em todos os aspetos da vida.

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O maior obstáculo que Portugal enfrenta não é a crise económica que bloqueou o país nos últimos anos. É a crise de confiança que existe no povo português.

A sua relação com os portugueses começa muito antes, ainda em criança. Recorda-se dessa fase da sua vida?
Lembro-me muito bem. Eu cresci no sudeste de Massachusetts, que era um ponto de entrada da comunidade portuguesa. Muitos dos amigos que fiz eram descendentes de portugueses. Venho de uma família de imigrantes vindos da Ucrânia. Muitos dos meus amigos eram dos Açores e lembro-me de uma série de valores comuns: entrega à família, trabalho duro, respeito pelos outros, tolerância. Foi assim que fui criado e era também a forma como a comunidade portuguesa se mostrava e, por isso, estabelecemos uma ligação.

Essa imagem que trazia da comunidade portuguesa nos EUA coincide com a realidade que encontrou em Lisboa?
Absolutamente, é igual. É, em grande medida, isso que faz de Portugal um país especial. As pessoas falam do tempo, do vinho, das praias ou da comida. Mas o que torna Portugal especial são as pessoas. Precisamente pelos valores de que falávamos: a forma como Portugal abriu portas aos refugiados da Síria e outros locais, quando outros países estão a fechar as fronteiras. É uma sociedade muito tolerante, que aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo seis anos antes de os EUA o terem feito, tudo isto nos mostra a abertura e tolerância deste país. É um país caloroso e que recebe muito bem os de fora.

Ao mesmo tempo, temos um problema crónico de baixa estima. Encontra razões para que assim seja?
Não sou um psicólogo para poder fazer essa avaliação. Mas desde que cheguei digo nos meus discursos que o maior obstáculo que Portugal enfrenta não é a crise económica que bloqueou o país nos últimos anos. É a crise de confiança que existe no povo português. Daí os vídeos que fiz, com a mensagem de que é possível. Sim, vocês conseguem. Sim, podem alcançar grandes feitos com confiança, unidos como numa equipa. O que estamos a ver, neste momento, é uma mudança, particularmente entre os mais novos.

Uma mudança de mentalidade?
Sim, aqui em Portugal. Não necessariamente as pessoas da minha idade, mas pessoas da sua idade, com 30 e 20 anos, que cresceram com a internet e que percebem de que não há razões para que Portugal não possa ocupar o seu lugar entre as grandes nações uma vez mais. Nos vossos genes, isto está lá. Há 500 anos deixaram as margens do Tejo sem um mapa, sem saberem se iam cair num abismo da Terra e descobriram o mundo. Isto pode voltar a ser feito.

O facto de os seus pais terem deixado a Ucrânia e emigrado para os Estados Unidos marcou-o?
Com certeza. Os meus pais eram refugiados religiosos que escaparam à opressão religiosa na Europa do Leste. Vieram para os Estados Unidos à procura de uma vida melhor.

À procura de liberdade?
Liberdade e uma vida melhor para os seus filhos. Eu fui o primeiro da minha família a ir para a faculdade. Estou certo de que, quando chegaram aos Estados Unidos, os meus pais nunca sonhariam que o seu filho regressaria à Europa como embaixador dos EUA.

Era um bom aluno?
Fui melhorando à medida que ia avançando. Era um bom aluno. Se tivesse de definir os relatórios que os meus pais recebiam de muitos dos meus professores, quando era mais novo, provavelmente diriam que falava muito nas aulas.

Isso não se revelou um grande problema para as funções atuais.
Talvez estivesse a preparar-me para ser embaixador e nem fizesse ideia.

Os danos que foram provocados àquelas pessoas vítimas de abusos sexuais, a perda de confiança, a perda de fé na instituição, a incapacidade de estabelecer relações fortes -- não é possível mudar isso de um dia para o outro. E esse é o dano mais duradouro que o caso provocou.

Na sua carreira profissional, esteve muitas vezes ligado a causas sociais: foi responsável pelo serviço de proteção dos consumidores, que presta particular atenção à população mais frágil, e, enquanto advogado, defendeu crianças e jovens que tinham sido vítimas de abusos sexuais por parte da igreja católica. Foi uma missão pessoal estar do lado dos mais desfavorecidos [underdogs]?
Ao crescer como um filho de imigrantes, penso que, naturalmente, estava do lado dos underdogs. Talvez por isso tenha querido apoiar a seleção no Campeonato Europeu [a expressão também serve para caracterizar vencedores inesperados que não eram favoritos]. Também tenho torcido pela seleção feminina portuguesa. Fui ao jogo com a Roménia, há alguns dias, e previ que iam ganhar. Os underdogs sempre prenderam a minha atenção. Mas também via a lei como uma via para a justiça social. Não me tornei um advogado pelo lado do negócio em que a atividade está envolvida. Tornei-me advogado para usar a lei para promover a mudança. Tive muita sorte de ter estado envolvido em processos e lidar com clientes em que essa possibilidade existia. O feito de que mais me orgulho como advogado foi ter representado as vítimas de abusos sexuais por clérigos.

No início do processo, era possível prever a dimensão e o impacto que acabaria por ter?
Penso que nunca foi muito claro. Nos primeiros momentos, era muito difícil prever o que aí viria. No início, era claro que se tratava de um caso monumental. Que as vítimas eram as próprias crianças da igreja. As mesmas pessoas que a igreja tinha obrigação de proteger. Não era uma questão de religião. A Igreja Católica fez mais por muita gente do que, provavelmente, qualquer outra instituição na história da Humanidade: alimentou mais crianças e sem-abrigo. Tratava-se de uma falha das pessoas dentro da igreja. Era preciso trazer isto à luz do dia, defender não só as pessoas que tinham sido vítimas e garantir que as crianças católicas cresceriam sem nunca saber que poderiam ter sido vítimas de abusos sexuais. Isso foi conseguido porque chamámos a atenção para o que se estava a passar. Estávamos a salvar o futuro de uma importante instituição. Sinto-me muito orgulhoso por ter feito isso.

Neste processo, enfrentou uma instituição com um peso enorme. Em algum momento sentiu que estava prestes a desistir?
Isso nunca me passou pela cabeça. Quanto muito, deu-nos mais energia. Não olhávamos para isto como estando a enfrentar uma instituição poderosa. Olhámos para isto pelo lado das histórias dos abusos que aconteceram. Acabámos por representar 385 das 535 vítimas. E uma história atrás da outra deixava-nos devastados. Era importante continuar a luta. Tivemos muita sorte, porque o Boston Globe — que ganhou um prémio Pulitzer pelo trabalho sobre o tema, e o filme Spotlight recupera de forma muito impressiva o papel deles — foi nosso aliado nesta luta. Também tínhamos uma instituição poderosa do nosso lado.

É possível ultrapassar aquela experiência? Aquelas crianças ultrapassaram o trauma?
Isso não é possível. Penso que os danos que foram provocados àquelas pessoas, a perda de confiança, a perda de fé na instituição, a incapacidade de estabelecer relações fortes — não é possível mudar isso de um dia para o outro. E esse é o dano mais duradouro que o caso provocou. Quando se trata de seres humanos, algumas pessoas lidam melhor com a situação. A resolução do caso foi como um encerrar do capítulo que lhes permitiu seguir com as suas vidas, mas nunca serão completas, nunca voltarão a ser o que eram. Para outras vítimas, os danos foram tão profundos que não têm o mesmo nível de sucesso. E não é algo que se possa trocar por dinheiro. O dinheiro não devolve a alguém a sua infância, a relação com os pais que muitos perderam. Quando fechámos os processos, fizemo-lo através de decisões arbitrais. Fiz 90 decisões arbitrais em 45 dias e chorei em cada um desses dias. E chorava porque a devastação que se abateu sobre as pessoas e as famílias era irreparável.

Lembra-se daquilo que sentiu quando o processo terminou?
Lembro-me do que senti. Lembro-me de quando fizemos a última decisão arbitral. Foi a 15 de dezembro, eram nove da noite. Estava escuro, frio. Saí do edifício onde tínhamos alcançado a decisão, virei-me para uma das jovens associados que me estava a dar apoio no processo e comecei a falar-lhe da papelada que ainda teríamos de tratar para fechar o caso. E só me lembro de quebrar e começar a chorar. Chorei no ombro dela naquilo que me pareceu uma hora. Provavelmente, foram apenas alguns minutos. Mas só me lembro de chorar descontroladamente. Sei que aquele caso e aquelas emoções ainda vivem dentro de mim.

Tem um impacto como poucas outras coisas na vida.
É verdade. Mas, por outro lado, lembro-me de que um dos meus me clientes ligou, pela primeira vez, para falar sobre os problemas com que teve de lidar. Foi na Sexta-feira Santa de 2001. Ele liga-me todas as Sextas-feiras Santas desde então para recordar o que se passou. Incluindo desde que estou em Portugal. Há pessoas como o Gary Bergeron, a quem me refiro, que me permitem manter esse contacto e perceber que, apesar da dor, também fizemos muito bem.

Ser embaixador e representar o seu país num outro Estado é algo que sempre sempre quis fazer?
Sempre quis servir o meu país de alguma forma. Era difícil imaginar que as condições se propiciassem para me tornar embaixador. Tive muita sorte quando isso aconteceu. Em parte, isto tem que ver com o apoio da minha mulher. Estar aqui significado que ela tem de viajar entre Boston e Lisboa. O facto de ela estar disponível para isso permitiu-nos avançar para esta grande aventura. Mas não vim aqui para ter umas férias. Nem ela.

Quando chegou, disse que não queria estar parado.
Vim para cá para trabalhar. Indo ao encontro da sua pergunta, toda a minha carreira tem sido dedicada a provocar a mudança, a mudança social, tornar as coisas um pouco melhores nos sítios por onde passei. Faço o trabalho que fazia como advogado, mas num sítio diferente. Mas penso que a devoção a esses ideais permanece igual.

Desde que chegou a Lisboa, já andou de Harley Davidson pelo Alentejo e de Ford Mustang por Coimbra, para defender as vantagens do acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos. O que é ser embaixador dos Estados Unidos em Lisboa?
É uma tremenda honra quando se dá conta de que se representa o presidente dos Estados Unidos como o seu representante pessoal. Mas, na realidade, é-se o rosto dos Estados Unidos num país. É uma honra, mas também uma responsabilidade. E é uma responsabilidade que levo a sério.

Apoiei o presidente Obama na sua corrida à presidência não porque fosse um amigo e não porque eu estivesse à procura de um emprego. Foi porque acreditei que ele era a melhor pessoa para liderar os Estados Unidos num tempo em que o país precisava de uma liderança forte.

E, na prática, o que faz um embaixador?
Como embaixador dos Estados Unidos, a minha responsabilidade é defender os interesses dos Estados Unidos. Mas usei esse desafio para identificar as mais-valias de Portugal e cruzá-las com as necessidades e interesses dos Estados Unidos, em benefício dos dois países. É uma oportunidade fabulosa, creio que é uma oportunidade única na minha vida quando respondo perante o presidente dos Estados Unidos. A única questão que tenho de me colocar é se o que estou a fazer me trará problemas com o presidente dos Estados Unidos. Se a resposta for não, pego na Harley e arranco.

É possível ter amigos na política?
Com certeza. Penso que há boas pessoas em todos os contextos da vida. As boas pessoas são aquelas em torno das quais quero gravitar. Apoiei o presidente Obama na sua corrida à presidência não porque fosse um amigo e não porque estivesse à procura de um emprego. Foi porque acreditei que ele era a melhor pessoa para liderar os Estados Unidos num tempo em que o país precisava de uma liderança forte. O que resultou daí foi uma relação que dura até hoje, entre ele, a Michelle, a Kim [Sawyer, mulher de Robert A. Sherman] e eu. Não penso que nos podemos referir ao presidente dos Estados Unidos como um amigo, mas diria que é alguém que eu admiro bastante. Espero vê-lo depois de ele deixar a presidência e quando chegar a minha vez de deixar as funções de embaixador e perceber que teremos sempre uma ligação comum.

Recorda-se de quando conheceu o presidente Obama?
Ele ainda não era presidente. Foi em 2006, por volta desta altura do ano. Recebi uma chamada de alguém que ele conhecia a dizer que esta pessoa, o senador Obama, estava a pensar concorrer à presidência. E perguntaram-me se o conhecia. A minha resposta foi não. Não conhecia. Tinha-o ouvido discursar em 2004 na Convenção Democrata, em Boston. Fiquei muito impressionado com ele. Este nosso amigo mútuo perguntou-me se estaria disponível para receber uma chamada do senador Obama. Uns dias depois ele ligou-me, falámos ao telefone, ele disse que vinha a Boston. A Kim e eu almoçámos com o senador Obama, foi a primeira vez que nos encontrámos. Falámos sobre tudo, exceto política. Falámos sobre crianças, sobre onde vão buscar os seus valores, falámos sobre o que se passava no mundo. Ele é um fã de desporto, por isso falámos sobre os meus Red Sox e os [Chicago] White Sox dele [duas equipas americanas de basebol]. Mas a Kim e eu saímos desse encontro a dizer que aquela era pessoa mais impressionante na política que alguma vez tínhamos conhecido.

Em 2006, recebi uma chamada a dizer que o senador Obama estava a pensar concorrer à presidência. Perguntaram-me se o conhecia e a minha resposta foi não. Saí do primeiro encontro a pensar que era pessoa mais impressionante na política que alguma vez tinha conhecido.

A eleição de Obama foi vista como um momento de grande simbolismo para os Estados Unidos. Mas hoje assistimos a graves violações dos direitos civis dos cidadãos norte-americanos, em particular da comunidade afro-americana. Qual foi a mudança que Obama provocou nos Estados Unidos?
Penso que reposicionar a América no mundo é uma dessas grandes mudanças. Houve um reconhecimento da parte dele de que o mundo é demasiado complicado para que apenas um país seja o polícia do mundo. Para lidar com os grandes problemas do mundo é preciso estabelecer alianças e construir parcerias. E houve um grande esforço para chegar não apenas aos aliados mas também a países com interesses comuns para formar parcerias e lidar com os problemas do mundo. Além disso, a administração Obama não tem escândalos. E, em relação à ética que ele levou para o Governo, havia uma expressão na campanha que percorreu a presidência e que dizia: “No drama with Obama” [Não há drama com Obama]. O que isso significa é que se faz parte de uma equipa, não se trata de um indivíduo nem o que alguma pessoa quer ou não quer. Espera-se que todos trabalhem em prol do bem comum e penso que ele é uma pessoa que sabe onde está a sua estrela do norte, é persistente, não tem medo de tomar decisões, não tem medo de ter uma visão de longo prazo em relação aos assuntos e não tem medo de deixar a História ser juiz dos dez anos da sua presidência.

A eleição de Hillary Clinton teria o mesmo peso simbólico?
É importante perceber que Barack Obama não foi eleito por causa da sua raça. Foi eleito porque os americanos sentiam que ele era a melhor pessoa para o cargo. Inicialmente, as pessoas podem ser identificadas dessa forma: Hillary Clinton é identificada potencialmente como a primeira mulher [a ser eleita para a presidência dos Estados Unidos], Barack Obama, o primeiro afro-americano eleito presidente. Mas isso perde-se muito rapidamente. A História vai assinalar isso, mas quando as pessoas votam não veem Barack Obama como um homem afro-americano. Veem-no pelo que ele é, como a melhor pessoa em quem votar. Da mesma forma, se as pessoas votarem em Hillary Clinton e ela for eleita, se isso acontecer é porque os americanos consideram que ela é a melhor pessoa para liderá-los, entre os dois candidatos, nesta altura.

Na Europa, Donald Trump é visto como um personagem estranho na política norte-americana. Mas nos Estados Unidos, o candidato republicano reúne quase metade das intenções de voto. É injusto classificar Donald Trump desta forma?
Obviamente, como embaixador, não assumo posições políticas. Mas penso que o importante a ter em conta é que Donald Trump tem dado voz a um segmento da América que sente que o Governo os deixou para trás. Eu cresci na classe média, e isso significava que, normalmente, uma pessoa na família tinha emprego.

Por norma, o pai.
O pai podia ter esse emprego para pagar as contas todos os meses, podia mandar os filhos para a faculdade e podia poupar algum dinheiro para a reforma. Quando chegava aos 65 anos, já tinha uma boa quantia e podia viver uma vida confortável na reforma. Hoje, a classe média vê que os salários não subiram em 20 anos, tem dificuldades para pagar as contas, mesmo com dois membros da família a trabalhar, não pode mandar os filhos para a faculdade — e, por isso, os filhos saem da faculdade com empréstimos consideráveis, o que significa que começam a vida em desvantagem — e não consegue poupar dinheiro para a reforma. Essa porção do eleitorado está à espera de uma solução que existe fora do establishment político. Sobre o que as pessoas pensam de Donald Trump, não se pode ignorar o facto de as pessoas que o apoiam têm problemas reais e que o próximo presidente precisa de encarar essas questões.

Está há dois anos em Portugal e os seus filhos ficaram nos Estados Unidos. Seguiram as pisadas do pai?
O meu filho é vice-presidente de um fundo de investimento e acabou de completar o MBA em Atlanta. Está noivo. A minha filha deu aulas a alunos com necessidades especiais e está à espera do meu primeiro neto. A data prevista para o parto é a do meu aniversário, 10 de novembro. Espero que ela acerte nesse prazo e que dê à luz o meu primeiro neto, que será uma menina.

Já disse que a sua mulher tem de viajar com frequência entre Boston e Lisboa. Ela é bastante conhecida no mundo do empreendedorismo. Consta que em alguns contextos o senhor é apresentado como Mr. Sawyer [o apelido da mulher]. É verdade?
É absolutamente verdade.

Se passasse o resto da vida a ser conhecido como Mr. Sawyer seria uma pessoa muito feliz.

E isso causa-lhe confusão?
Nem um pouco. Por vezes é ela quem faz as reservas dos hotéis, quando viajamos juntos, sob o nome dela. Por isso, quando ligo para a receção, eles dizem: “Sim, senhor Sawyer, posso ajudá-lo?”. Eu rio-me. A verdade é que estou absolutamente orgulhoso da minha mulher. Ela é uma mulher realizada, construiu um negócio de sucesso, tem dois trabalhos a tempo inteiro, nesta altura, um de cada lado do Atlântico. Connect to Success foi ideia dela [uma iniciativa lançada em Portugal três meses depois de o casal aterrar em Lisboa e que apoia negócios geridos por mulheres]. Quando não está em Portugal, começa o dia, duas vezes por semana, às seis e meia da manhã com conferências por telefone. Se passasse o resto da vida a ser conhecido como Mr. Sawyer seria uma pessoa muito feliz.

A família é um ponto basilar na sua vida?
Absolutamente. Um pilar muito forte. A Kim sente o mesmo. A devoção à família, como acontecia na comunidade portuguesa com que cresci, e que era um valor na minha própria família, é algo que retive.

Quando se é o representante pessoal do presidente, isso significa que o presidente determina quanto tempo fico, não eu. Mas teria todo o gosto em ficar no próximo ano.

Até quando ficará por Lisboa?
Isso vai depender do próximo presidente. Quando se é o representante pessoal do presidente, isso significa que o presidente determina quanto tempo fico, não eu. Mas teria todo o gosto em ficar no próximo ano. Independentemente de quem for o próximo presidente, ele ou ela escolherão os seus representantes pessoais. Espero entregar a embaixada um pouco melhor do que a recebi e espero que o meu sucessor pegue naquilo que construímos e trabalhe para uma relação com Portugal ainda mais forte.

Portugal era o seu destino número um, se fosse escolhido para embaixador. Já pensou no próximo destino?
Ainda estou a pensar que estou em Portugal. Não penso além disso.

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