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O secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, presta declarações no final da IX Cimeira de Presidentes da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), no centro de congressos da Alfândega do Porto, no Porto, 11 de novembro de 2022. PEDRO GRANADEIRO/LUSA
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A entrevista foi gravada na quinta-feira, dia 24 de novembro, horas antes do Portugal-Gana

PEDRO GRANADEIRO/LUSA

A entrevista foi gravada na quinta-feira, dia 24 de novembro, horas antes do Portugal-Gana

PEDRO GRANADEIRO/LUSA

Secretário de Estado do Desporto: "Não subscreveria o elogio da FPF ao Qatar"

O secretário de Estado do Desporto João Paulo Correia participou na Vichyssoise a partir do Qatar. Criticou o regime do país, disse que não subscreveria manifesto que FPF assinou de elogio ao Qatar.

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, foi o convidado da Vichyssoise e respondeu às perguntas do Observador a partir de Doha, no Qatar, a poucos metros do estádio onde Portugal defrontou o Gana na quinta-feira. A partir do Qatar, fez críticas ao país, dizendo que a “euforia do Mundial” não deve “calar” os responsáveis políticos “contra os que desrespeitam os direitos humanos”. Ainda assim o governante com a pasta do Desporto circunscreve a presença dos políticos portugueses no país a uma única missão: apoiar a seleção nacional de futebol.

Depois da Federação Portuguesa de Futebol ter subscrito um manifesto em que elogia os progressos do Qatar em matéria de Direitos Humanos, João Paulo Correia diz que “não subscreveria com certeza” a posição do organismo presidido por Fernando Gomes. O governante diz que a sua posição, e a do Executivo, sobre o regime do Qatar é “muito mais precisa e concreta e censura obviamente o Estado do Qatar e as suas autoridades”.

Sobre as acusações que o antigo governador do Banco de Portugal fez a António Costa sobre a saída de Isabel dos Santos do BIC, João Paulo Correia diz que “o dr. Carlos Costa deixou-se utilizar pelo PSD”.

Foi ao Qatar  para assistir ao primeiro jogo da seleção portuguesa no Mundial. A presença do Governo neste evento não pode ser interpretada, como têm apontado vários partidos e até responsáveis políticos de outros países, como uma validação do regime do Qatar?
Não, não pode. A avaliação que fazemos sobre o regime do Qatar é de um país que desrespeita os direitos humanos, mais concretamente na discriminação das mulheres, na criminalização da homossexualidade — os exemplos mais flagrantes. Mas Portugal apurou-se para o campeonato do Mundo com todo o mérito desportivo e a presença dos responsáveis políticos representa isso e só isso: o apoio à seleção nacional. Nunca poderá ser interpretado como qualquer cumplicidade ou apoio ao regime.

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Na última semana disse que o “Qatar não cumpre com os direitos humanos mas não podemos perder o foco na seleção”. Por que não podemos e porque não pode um governo perder o foco na seleção nacional de futebol? Qual a lógica e qual a relação com a defesa de direitos universais? 
A euforia do Mundial não pode afastar-nos da avaliação, e da voz que nunca se poderá calar, contra aqueles que desrespeitam os direitos humanos. Os responsáveis políticos estão no Qatar para apoiar a seleção.

Manter o foco na seleção independentemente dos direitos humanos, é isso?
Não, nada disso. Não disse isso.

Mas o que é o foco na seleção? É mais importante do que isto?
Isto é um torneio internacional onde o país está representado por uma seleção que veste as cores da nossa bandeira. A presença dos membros do Governo passa por isso mesmo. O foco na seleção é dizer isso: temos uma avaliação muito clara e nunca nos escondemos atrás dessa avaliação — o regime desrespeita os direitos humanos — mas estando cá a seleção os responsáveis políticos estão só para apoiar a seleção. E sempre que forem chamados a dar a sua opinião e somar a sua voz ao protesto fazemo-lo, como estou a fazer agora, e fiz num artigo de opinião no Jornal de Notícias.

"Se as autoridades do Qatar consideram que a opinião e posição política dos principais responsáveis do nosso país é uma posição incómoda, porque são vozes que se levantam contra o desrespeito pelos direitos humanos, é uma posição que não pode minimizar ou diminuir ou travar a nossa voz"

Em sentido contrário, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar chamou o embaixador português em Doha por declarações hostis. As declarações que o Presidente tem feito quase como reação às críticas não estão a prejudicar a diplomacia que supostamente é preciso conservar com o Qatar?
Li as notícias, mas vamos fazer aqui um ponto histórico: a decisão de fazer o Mundial no Qatar foi tomada em dezembro de 2010. Aos olhos de hoje, é considerada uma decisão errada. O país comprometeu-se a fazer um progresso em termos de direitos humanos e está visto que não fez. Mas também convém dizer que pouco ou nada foi feito para inverter uma decisão com doze anos. Chegados aqui, se as autoridades do Qatar consideram que a opinião e posição política dos principais responsáveis do nosso país é uma posição incómoda, porque são vozes que se levantam contra o desrespeito pelos direitos humanos, é uma posição que não pode minimizar ou diminuir ou travar a nossa voz. Quer em Portugal quer no Qatar — se for questionado não direi diferente.

O último Mundial foi na Rússia. Não se pode dizer que a FIFA tenha aprendido por aí a lição… Daqui para a frente era importante que fosse diferente? 
O desporto tem uma imensa força social. Os valores e a mensagem do desporto derrubam fronteiras, barreiras linguísticas, e conseguem chegar aos cantos mais recônditos do planeta. É uma linguagem universal e muito forte. É evidente que quando as organizações internacionais do desporto decidem promover as suas maiores provas em países que não são exemplares, ou muito longe disso, em matérias de democracia e direitos humanos, estão a contrariar os valores mais nobres e universais do desporto.

"Decisão de vir ao Qatar não foi fácil de tomar nem imediata"

Marcelo disse que ia falar sobre a situação dos direitos humanos quando estivesse no Qatar. Tem alguma intenção de fazer o mesmo, nalguma situação pública, além desta entrevista?
Estarei no jogo, conto cruzar-me com a imprensa e se as questões forem colocadas direi o que vos estou a transmitir.

Na sua área governativa anunciou um pacote de políticas públicas para a igualdade de género no desporto. Não é um sinal contraditório ir apoiar um desporto a um local onde as mulheres estão sujeitas a um sistema de tutela?
A decisão de estar aqui não é obviamente uma decisão fácil de tomar, nem imediata. Foi uma decisão ponderada.

Foi uma decisão muito discutida no Governo? 
Tomei a decisão conversando com quem tinha de conversar no Governo, mas foi uma decisão, apesar de ponderada, tomada com a sustentação necessária para um membro do Governo representar o país num torneio desta dimensão e neste quadro político internacional. É evidente que esperamos que no mínimo as vozes de muitos governantes a representar os seus países no mundial, que também têm vindo a falar sobre o desrespeito pelos direitos humanos, que isso chegue às organizações internacionais, nomeadamente do desporto, para que decisões futuras nomeadamente sobre os destinos dos torneios obedeçam a outro tipo de critérios e que no futuro não estejamos perante um quadro político-desportivo desta natureza.

A Federação Portuguesa de Futebol assinou um manifesto a elogiar os esforço feitos pelo Qatar na proteção de migrantes e da comunidade LGBTQI+. Esta posição é coerente e dignifica o país?
Não queria estar a comentar casos concretos.

Mas subscrevia este manifesto?
Não subscrevia dessa forma com certeza. A minha posição e do Governo sobre o regime do Qatar é muito mais preciso e concreto e censura obviamente o Estado do Qatar e as suas autoridades e vai para além dessa posição, que é muito mais moderada e defensiva.

"Não subscrevia dessa forma com certeza" o manifesto da FPF a elogiar esforços do Qatar.

Já vimos várias seleções a fazerem gestos nos inícios dos jogos para condenar os desrespeito pelos direitos humanos no Qatar. É importante que a seleção portuguesa o faça?
Não sei se tomará algum gesto político, mas se vier a tomar será dentro do que consideramos os limites e um direito que também está consagrado nos agentes desportivos e a quem representa as cores de um país que é democrático e defensor e respeitador dos direitos humanos.

Na política interna, saindo um bocadinho do Qatar,  no Governo tem havido alguns casos nos últimos tempos. Tem sentido falta de coordenação política — entretanto também saiu o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro que tinha essa função?
O que importa é avaliar os resultados da governação. O Governo é liderado por um dos melhores lideres políticos europeus têm esse reconhecimento internacional.

"Carlos César pode ser o que quiser na política nacional, tem experiência, provas dadas"

E António Costa chega. Já não é preciso mais nada em relação à coordenação política, é isso?
A coordenação política do Governo está nas mãos do primeiro-ministro. Coordenara a ação do Governo de acordo com o Programa do Governo.

Mas nos primeiros meses houve falhas e António Costa entregou a coordenação política a um secretário de Estado Adjunto. Mas a julgar pelas suas palavras afinal estava tudo bem, não era necessário isso?
Quem tem de responder a essa pergunta de forma mais objetiva é o primeiro-ministro, mas posso dizer que a coordenação política do Governo está plenamente assegurada pelo próprio primeiro-ministro. E ele trem de prestar contas ao Parlamento e aos portugueses pela ação do Governo e as políticas que se comprometeu a implementar. A avaliação que temos todos de fazer é se estamos ou não a cumprir o Programa de governo.

A ideia de ter uma figura de peso como Carlos César a vice-primeiro-ministro podia ser uma solução para ajudar nessa coordenação e trabalho político?
Essa é uma sugestão que só pode ser avaliada pelo primeiro-ministro.

Mas Carlos César teria capacidade para isso?
Carlos César pode ser o que quiser na política nacional, tem experiência, provas dadas. Acompanhei muito de perto o seu trabalho como líder parlamentar e reconheço-lhe qualidades que são pouco igualáveis na política nacional. Onde Carlos César estiver emprestará sempre qualidade à instituição e estrutura a que vier a associar-se.

Há muita gente que fala no “cheiro a fim de ciclo”. Este Governo vai conseguir manter-se em funções até ao fim do mandato?
Sim, não tenho dúvidas. O atual primeiro-ministro governou o país e conseguiu, entre 2015 e 2019, virar a página da austeridade e meter o país no crescimento e na coesão social, diminuindo o desemprego e aumentando o emprego. E no segundo Governo enfrenta uma crise pandémica e vai a votos em eleições antecipadas e vence com maioria absoluta. Ou seja, os eleitores, este ano, reconheceram que António Costa e o PS eram sem dúvida quem devia governar o país para este ciclo. Logo a seguir rebenta uma guerra na Europa e enfrentamos uma crise energética e inflacionista. Mesmo assim o Governo tem conseguido dar provas.

Mas a que se devem tantos sobressaltos e tantos casos seguidos?
As circunstâncias da governação também suscitam algumas situações que aos olhos de muitos são casos políticos e falhas de governação. Eu não tenho exatamente essa opinião, acho que são as circunstâncias de uma governação. Estamos numa maioria absoluta, num novo ciclo político, é preciso recuarmos muitos anos para ter outra maioria, e estamos no terceiro Governo do mesmo primeiro-ministro. Apesar dos resultados positivos que tem tido e de enfrentar as cenários muito adversos, continua a merecer a confiança dos eleitores.

Uma das ministras mais apagada é Ana Catarina Mendes, a sua tutela direta, porque é que isto acontece? Não tem o destaque suficiente?
Não concordo com essa opinião. Ana Catarina Mendes tem assumido uma excelente prestação parlamentar e, no Parlamento, tem feito combate político em nome do Governo e quando o tem feito tem sobressaído. Se há algum membro do Governo que tem sabido protagonizar-se e assumido com responsabilidade as áreas que lhe são confiadas é precisamente a ministra Ana Catarina Mendes.

Deixe-me ainda falar dos casos e casinhos, como têm dito muitos socialistas, que têm abalado o Governo. Nos últimos tempos, um dos mais recentes foi o de Luísa Salgueiro, com muitos socialistas a defenderem a presidente da câmara de Matosinhos, que diziam ter sido constituída arguida por ter nomeado um chefe de gabinete. Agora sabe-se que, afinal, na base dessa decisão estava uma nomeação em troca de um favor. O PS precipitou-se na expressão da solidariedade?
Não queria comentar o caso porque estamos a falar de um processo judicial. Há um inquérito que está em curso.

Mas não quero falar do processo, mas da reação política do partido relativamente à sua autarca.
Conheço a Luísa Salgueiro, pessoalmente e como dirigente política. E é das pessoas que mais admiro como autarca e dirigente do meu partido. Portanto, tudo o que se disser acerca da Luísa Salgueiro, esbarra na opinião da avaliação que tenho dela.

"Tudo o que se disser acerca da Luísa Salgueiro, esbarra na opinião da avaliação que tenho dela"

Outro caso que marcou muito os últimos dias foi a acusação do antigo governador do Banco de Portugal ao primeiro-ministro. António Costa e o líder parlamentar do PS têm falado de uma frente de combate contra o PS ou até de uma operação montada para atingir o Governo. Quem está a formar esta frente e com que intenção?
Não sei se essa frente de combate é um movimento orgânico. Diria que a cerimónia de apresentação do livro de Carlos Costa foi um ajuntamento de personalidades associadas ao PSD, cavaquista e passista, que juntamente com Carlos Costa tentam reescrever aquilo que foi a passagem de Carlos Costa no Banco de Portugal e das decisões que tomou.

"O dr. Carlos Costa deixou-se utilizar pelo PSD para um atentado ao carácter do primeiro-ministro (...) um PSD que está ávido e para quem tudo vale num ataque ao Governo e ao primeiro-ministro"

Mas quando se fala na frente de combate não é só isso: é um ataque ao Governo que não tem só a ver com a questão do Banco de Portugal.
O dr. Carlos Costa deixou-se utilizar pelo PSD para um atentado, entre aspas, um ataque de carácter ao senhor primeiro-ministro e que é algo que não deve passar em claro e que tem de ser altamente criticado. O dr. Carlos Costa quando se dá ao papel de apresentar um livro das suas memórias enquanto governador e junta na mesma sala ex-decisores políticos com quem teve de se relacionar e que ficaram todos associados a momentos que nunca foram muito bem explicados pelos próprios, como por exemplo o porquê de Carlos Costa adiar uma intervenção no BES no tempo do Governo Passos Coelho-Paulo Portas. E porque Carlos Costa não veio a público dizer a verdade quando Cavaco Silva veio dar provas de solidez do BES a poucos dias da resolução do BES. Carlos Costa não ser devia ter colocado naquele papel e deixou-se utilizar por um PSD que está ávido e para quem tudo vale num ataque ao Governo e ao primeiro-ministro.

O PSD de Luís Montenegro é menos confiável que o de Rui Rio? Estes ataques vêm da nova direção?
Como disse há pouco, não me parece que seja um movimento orgânico. Mas há claramente uma vontade de encontrar qualquer oportunidade, mesmo que descabida e sem sentido, como é o caso, de atacar o Governo, o PS e o primeiro-ministro. Portanto, tentando reescrever páginas da história que felizmente julgo que os portugueses não interpretam nem avaliam conforme o PSD e Carlos Costa tentaram fazer há dias.

Vamos então avançar para a fase do Carne ou peixe, em que tem de escolher uma de duas opções. Preferia ver Portugal campeão do Mundo no Qatar ou ver este Governo a levar o mandato até ao fim?
Prefiro o Governo levar o mandato até ao fim porque é bom sinal para Portugal, para a economia e para os portugueses.

Quem é que mandava para o Qatar sem bilhete de regresso: André Ventura ou Jorge Nuno Pinto da Costa?
André Ventura. Eu faço política.

Quem levava para um passeio ao ar livre no Jardim Soares dos Reis, em Mafamude: Ana Catarina Mendes ou Pedro Nuno Santos?
Ana Catarina Mendes.

Quem preferia levar a ver um jogo do Benfica: Rui Rio ou Luís Montenegro?
Vejo jogos do Benfica para as provas europeias, mas preferia levar o dr. Rui Rio

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