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Telmo Correia assumiu a liderança parlamentar (pela terceira vez) já na era Francisco Rodrigues dos Santos, mas a relação é apenas "institucional". "E será"
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Telmo Correia assumiu a liderança parlamentar (pela terceira vez) já na era Francisco Rodrigues dos Santos, mas a relação é apenas "institucional". "E será"

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Telmo Correia assumiu a liderança parlamentar (pela terceira vez) já na era Francisco Rodrigues dos Santos, mas a relação é apenas "institucional". "E será"

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Telmo Correia: "O CDS devia tratar melhor a herança do seu passado"

Em entrevista, líder parlamentar é duro com a direção do partido, pede que os quadros do portismo sejam aproveitados e mais "interação" com deputados. Sobre Vieira, sentiu "surpresa" e "consternação".

É a terceira vez na vida que Telmo Correia lidera o grupo parlamentar do CDS, embora nunca tivesse lidado com uma bancada tão encolhida. Desta vez, para compor o grupo numas jornadas parlamentares marcadas para Aveiro, escolheu convidar o amigo próximo Nuno Melo para falar dos desafios de fazer oposição. Sem lhe “encomendar nada”, mas com um cheiro a provocação no ar: no mesmo dia, Francisco Rodrigues dos Santos, o líder com quem tem uma relação “institucional” — e só isso — até andava por perto, em Vila do Conde, a apresentar candidatos autárquicos, mas não visitou as jornadas (só virá ao encerramento).

Em entrevista ao Observador, no hotel em que os democratas-cristãos ficaram, nestes dois dias, instalados, Telmo Correia explica essa relação, sem se coibir de apontar dedos a Rodrigues dos Santos: o líder nem sempre valoriza a bancada parlamentar, o partido não rema para o mesmo lado e não está a saber aproveitar os quadros que tem. A direção de Rodrigues dos Santos é, aliás, acusada de não tratar bem o passado do partido e de tecer considerações “absolutamente disparatadas” sobre o portismo.

Se para o CDS pede “paciência” a quem também não está alinhado com a direção atual — um congresso entre novembro e janeiro poderá resolver o assunto, sugere –, para fora também há recados, sobretudo para o vizinho PSD, com quem diz nem sempre poder “contar” para fazer oposição. E ainda há tempo para falar do apoio a Luís Filipe Vieira: a detenção causou “surpresa” e “consternação” ao democrata-cristão que é benfiquista ferrenho (e que tinha sido convidado para a Comissão de Honra de Vieira).

Começamos esta entrevista com uma pequena provocação. Como é que tem sido liderar um grupo parlamentar tão reduzido? Já se habituou?
Não é uma provocação, até é uma pergunta simpática… Alguém dizia hoje que na comunicação social se trabalha cada vez mais com menos gente e a ter de tratar áreas mais diferentes. E eu respondia que isso é toda a experiência deste grupo parlamentar. É diferente, obriga-nos a selecionar temas — só para dar um exemplo, estou em duas comissões e antes estava sobretudo numa e com outra deputada ao meu lado. Neste momento estamos praticamente todos sozinhos em duas ou três. É muito mais exigente, mais difícil, mas o grupo parlamentar beneficia do facto de todos terem experiência.

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E por falar em provocações: já disse que estas jornadas não servem para fazer debate sobre questões internas do CDS. Mas o convite a Nuno Melo para vir falar sobre os desafios da oposição não soa a provocação, tendo em conta que é sempre um dos nomes falados para vir a assumir a liderança do CDS?
Não, de maneira nenhuma. E não estou a usar de nenhuma espécie de correção política para não responder diretamente à sua pergunta. Não sei se todos temos a mesma visão… Existirão seguramente, até por alguns textos que tenho visto, pessoas que têm uma outra visão e que veem dois CDS, um que é bom e outro que seria amigo do socialismo. Enfim, tenho visto umas coisas, chamando-as pelo nome, absolutamente disparatadas. Mas não é assim que eu penso, eu acho que há um CDS. E mal estaríamos se o Nuno Melo, além de ser uma pessoa por quem eu tenho estima e de quem sou amigo — e isso não é irrelevante, porque há sempre uma marca pessoal e eu tive decisão em todos os convites — fosse uma provocação. Naturalmente gostaria de ter pessoas com quem tenho proximidade. Eu deixei claro que estas jornadas não são um exercício de oposição interna, nem são o sítio próprio para isso — há sítios próprios para isso e até têm estado bastante animados, vão pela noite dentro…

Conselhos nacionais, por exemplo.
Aí, eu próprio não me coíbo de dizer o que penso. Mas separo absolutamente o meu trabalho enquanto deputado do CDS — não é de uma secção do CDS — do que são as posições internas no partido. Mas para ser claro, é evidente que não é possível discutir como é que se faz oposição sem discutir o que nós próprios estamos a fazer. Eu não lhe encomendei nada. Vamos discutir como podemos melhorar o que estamos a fazer.

Ouça aqui a entrevista na íntegra.

“Sinto que não há um remar para o mesmo lado”

Tem dito que é preciso melhorar a oposição e Nuno Melo vem falar dos desafios de fazer oposição. É preciso ensinar o atual CDS a fazer oposição? O que está a falhar?
Eu acho que é possível fazer melhor oposição. As circunstâncias são muito difíceis e é preciso denunciá-las logo à partida. Por exemplo: está tudo muito indignado, e com razão, com o que tem acontecido na Administração Interna. Sem querer usar metáforas futebolísticas, diria que este ministro perdeu três ou quatro oportunidades de baliza aberta e sem guarda redes para se ir embora, flagrantes. Não vai. A culpa deixa de ser dele e passa a ser do primeiro-ministro. Pergunto eu: onde é que está o primeiro-ministro para eu o confrontar com isso? No Parlamento deixou de estar. Portanto há culpas que não são só nossas, mas temos de refletir sobre elas e aprender a lidar com elas. Acho que aí o PSD tem de ser chamado à razão também. Foi muito conivente em restrições de fiscalização parlamentar.

O PSD é um partido com que o CDS pode contar como parceiro?
Muitas vezes neste exercício de oposição não temos contado. Agora, as jornadas servem para refletir sobre isso e dizer o que pensamos. Não podemos ficar presos a compromissos, ainda que eu seja a favor deles. Mas também é preciso dizer quando o PSD não ajuda a essa tarefa de fazer oposição e não ajuda a construir soluções. Acho sinceramente que temos de contar sobretudo connosco próprios. As coligações e entendimentos com o PSD são excecionais — a única vez que fomos coligados em legislativas em muitos anos foi com a PaF, mas aí havia uma razão maior…

Mas a geometria que a geringonça trouxe não é uma razão maior para a direita se unir? Este PSD ajuda a isso?
O partido que nos é mais próximo, na minha opinião, é o PSD. Agora, logo à partida o líder do PSD diz que não posiciona o PSD à direita, portanto já não estamos a falar de direita, mas de uma solução alternativa ao Governo do PS. Essa alternativa política tem de partir de uma fusão qualquer, de um colóquio de uma conferência? Não, cada um tem de fazer o seu trabalho. Eu não tenho nada a ver com o populismo, também não tenho nada a ver com um certo liberalismo utópico que nalgumas matérias não se distingue sequer do Bloco de Esquerda, o PSD não diz ser um partido de direita, acho que o CDS tem de fazer o seu caminho. E acho que há um espaço político e um caminho para o CDS.

"Não mando no partido no seu todo e muito menos na comunicação social, que saberá quem quer ouvir e porquê. Se alguém pensa que é diminuindo a presença dos outros que a sua vai aumentar, é um erro absoluto. Se queremos crescer, a melhor forma é fazer os outros crescer connosco. Se a ideia é tentar apagar alguns para fazer aparecer outros, isso não resultará nunca"

Quando Rui Rio dizia que não era de direita, Assunção Cristas pegava nisso e tentava ocupar esse espaço. Se há eleitorado à direita e o CDS não o consegue agarrar, o que falha?
Essa avaliação tem de ser feita, mas não no fórum das jornadas parlamentares. Volto ao princípio: tem de ser feita no partido, temos de ver o que está a correr mal, se a mensagem está a passar. Creio que às vezes há dificuldade em passar a mensagem. Há uma coisa que seria importante: achando eu que o grupo parlamentar faz o seu trabalho, sinto muitas vezes que as questões internas levam a que esse trabalho não seja potenciado, não haja um remar para o mesmo lado. Pode haver culpas repartidas, mas parece-me muito importante. Temos de assumir as nossas responsabilidades. Dou-lhe um exemplo: a certa altura toda a gente achava que a política tinha mudado completamente e que a direita tradicional tinha morrido, paz à sua alma. Não acontece ainda em Portugal, mas se olharmos para França, nas últimas eleições a direita tradicional, que estava condenada, tem uma vitória enorme, com os liberais e a extrema-direita a terem uma derrota estrondosa. Em Espanha, neste momento, o PP lidera as sondagens. O Vox não desapareceu, mas parou o crescimento, e o Ciudadanos desapareceu.

Aquele efeito de radicalização e populismo tem graça uma vez, pode ter graça duas vezes, à terceira as pessoas começam-se a cansar. Então mas é sempre tudo um escândalo e uma vergonha? Se calhar ainda não chegámos aí. Não me cabe dizer o que o PSD deve fazer, mas acho que às vezes era preciso tratar melhor a herança do passado, o que foi feito no passado, e não querer mudar tudo. Acho que isso às vezes é um erro. É um erro no PSD e no CDS. Na minha opinião, temos de aproveitar todas as capacidades que existem, todos os que querem continuar.

No CDS, estamos a falar de quem?
O grupo parlamentar no seu todo…

Está desaproveitado?
Acho que nem sempre todas as sinergias que se poderiam juntar e utilizar são utilizadas. Se calhar por culpa também nossa. Se alguém critica eu chamar o Nuno Melo não faz sentido — preciso dele, que é uma figura do partido e sei a importância que tem a norte… E há figuras que não estão neste momento na política ativa mas acho que o CDS tem de continuar a contar com elas: Nuno Magalhães, Pedro Mota Soares… Há um conjunto de figuras que representam muito o que o CDS pode ser na sociedade portuguesa e uma direita que pode ser plural.

Uma das questões apontadas pela própria direção do partido é que há maior visibilidade na imprensa dada às figuras dessa herança e da ala portista. Diz que não consegue apresentar caras novas. Acha que isso é um problema?
Eu no CDS mando no grupo parlamentar e pouco (risos). Não mando no partido no seu todo e muito menos na comunicação social, que saberá quem quer ouvir e porquê. Se alguém pensa que é diminuindo a presença dos outros que a sua vai aumentar, é um erro absoluto. Se queremos crescer, a melhor forma é fazer os outros crescer connosco. Se a ideia é tentar apagar alguns para fazer aparecer outros, isso não resultará nunca. Não funciona assim. O presidente do partido tem feito o seu trabalho e aparecido com regularidade.

"Nem sempre o presidente tem tido muita atenção às questões do grupo parlamentar, já lho disse. Acho que era útil que houvesse uma maior interação. Acho que era importante haver maior diálogo e de facto houve momentos em que não aconteceu. Dou um exemplo: no pacote de Justiça que foi apresentado, o grupo parlamentar não tinha conhecimento, não foi discutido"

Fala-se muito da relação com o líder do partido. Como é que ela está?
É uma relação institucional e está institucional. E assim será. Acho que compete ao presidente dirigir o partido, não há nenhum problema de legitimidade, e o grupo parlamentar tem de interagir com todos os outros órgãos. O CDS nunca deixou de ter uma natureza um pouco presidencialista. O grupo parlamentar não estará nunca indisponível para trabalhar com o presidente do partido.

E acha que o presidente do partido tem mostrado disponibilidade para trabalhar com o grupo parlamentar?
Não posso dizer uma coisa diferente do que penso: nem sempre o presidente tem tido muita atenção às questões do grupo parlamentar, já lho disse. Mas isso cabe na decisão do presidente. Neste momento, ele terá as eleições autárquicas, tem uma prioridade natural, mas acho que era útil que houvesse uma maior interação, mesmo que essa interação seja feita entre pessoas que têm noutras questões internas posições diferentes. Eu não fiz nenhum anúncio nem apoiei nada em função do próximo congresso, mas digamos que lá direi o que penso sobre a situação atual e o futuro do partido. Conhecendo coisas que tenho dito, é muito previsível que possamos não estar de acordo em várias matérias. Acho que era importante haver maior diálogo e de facto houve momentos em que não aconteceu. Dou um exemplo: no pacote de Justiça que foi apresentado, o grupo parlamentar não tinha conhecimento, não foi discutido. Levantámos algumas questões, enviei um documento de análise extenso e acabou por se resolver bem. Houve boa vontade, não foi o presidente que veio falar connosco, foi o vice-presidente Pedro Melo. Acho que há quem no partido veja uma divisão como impeditiva do relacionamento entre órgãos do partido.

Acredita que Rodrigues dos Santos teria mais facilidade em marcar a agenda se estivesse no Parlamento? Sabendo que isso só poderia acontecer se a Cecília Meireles saísse.
O raciocínio em termos teóricos é admissível, mas não é uma teoria que esteja certa, porque essas são aplicáveis na prática. E essa não deve ser. Não está em causa o papel que o presidente do partido poderia ter no Parlamento; está em causa que não foi eleito. O presidente do partido não conseguiu ser eleito no Porto; Cecília Meireles foi eleita deputada e foi ainda líder parlamentar — e eu não fiz nada para a substituir, saiu por sua vontade e pelo seu pé apesar de eu lhe ter pedido para continuar; e tem feito um trabalho absolutamente extraordinário. Como líder parlamentar, não há nada como ter alguém que domina aquelas matérias, o à vontade em comissões de inquérito… Vejo jornais de referência pô-la em alta, o que para nós não é muito comum.

As pessoas quando se candidatam a determinado lugar estabelecem os seus próprios parâmetros; se alguém o defende, devemos ter noção de que não é o parâmetro do próprio Rodrigues dos Santos. No Congresso, tanto quanto me lembro, ele disse que contava com Cecília Meireles no Parlamento e que o escritório dele seria a rua. Acho que ele tem feito muito trabalho de rua e também é preciso reconhecê-lo, em circunstâncias difíceis. Quando ele afirmou que o escritório dele era a rua, as pessoas fecharam-se em casa… Obviamente, isso dificultou imenso. Esperemos que à medida que a pandemia seja ultrapassada isso possa acontecer. Reconheço que não foi por falta de empenhamento nem vontade dele que não esteve na rua sempre que pôde.

Fica preocupado com desfiliações como a de Fernando Mendes da Silva, uma das figuras mediáticas do CDS? É um sinal para o partido?
Nunca vejo com satisfação nem com alegria pessoas que saem; digo isto com o à vontade de em muitas matérias não concordar com ele. Não quero rotular outras pessoas, tenho estima por ele, mas tem posições mais liberais e eu mais conservadoras. Não vejo com bons olhos e sou crítico dessa saída; não pela mesma razão que outros, mas porque acho que faz falta ao partido ter pessoas com opiniões diferentes. Quando ele sai, se outras pessoas seguirem o exemplo– e eu sei que há outras pessoas, se calhar com menos notoriedade, que têm adotado a mesma postura — o partido fica mais pobre.

Mas acontece porque no CDS há agora menos espaço para opiniões diferentes?
Acho que o CDS tem tido uma dificuldade de afirmação desde o congresso. Estamos a falar de pessoas que não apoiaram a solução que saiu vencedora e que acham que o clima não é favorável à sua continuidade, não se sentem confortáveis. Se calhar também não têm um fundamento de resiliência… e portanto abandonam, dizem que não concordam com a linha atual. Mas eu continuo a achar errado. Não vejo com agrado — ele não falou comigo nem tinha de me perguntar nada, nem falo com ele há muito tempo, mas se o Mendes da Silva me tivesse perguntado ter-lhe-ia dito: não faças isso! Para quê? o partido hoje é uma coisa, amanhã é outra…

"A discussão sobre o partido terá de ser feita obrigatoriamente depois das autárquicas. Depois, a avaliação é: correu bem ou não? Os objetivos do Congresso foram cumpridos? Se não correu bem, haverá outra solução e outra candidatura e os congressistas decidirão. Para isso é importante que não haja desistências nem deserções"

Está confiante para as eleições autárquicas? Qual é a fasquia que o CDS tem de alcançar para ter um bom resultado?
Tenho a expectativa de que o CDS consiga manter o seu peso autárquico e se possível aumentar o seu número de representantes. Mas não faço uma correlação direta entre o que o partido tem de fazer e as autárquicas. A discussão sobre o partido terá de ser feita obrigatoriamente depois das autárquicas.

Então não acredita que estas autárquicas sejam um momento definidor para a liderança atual.
Acho que essa leitura não faz o mesmo sentido que no PSD ou no PS, que são partidos de poder autárquico. Têm centenas de câmaras, são confederações de autarcas; há alturas em que são os autarcas que mandam nos partidos. No CDS, há uma leitura nacional autárquica que pode ser relevante mas que se calhar nem tem muito a ver com as câmaras, onde a votação é muito pessoalizada. Como é que o partido esteve nos sítios onde foi sozinho? Aí pode-se fazer essa leitura. Depois, a avaliação é: correu bem ou não? Os objetivos do Congresso foram cumpridos? Se não correu bem, haverá outra solução e outra candidatura e os congressistas decidirão. Para isso é importante que não haja desistências nem deserções. Nesta altura há uma intenção de continuidade do presidente do partido e não há mais candidaturas.

Houve uma ‘ameaça’, passe a expressão, de Adolfo Mesquita Nunes. 
Foi mais do que uma ameaça, foi uma disponibilidade que ele afirmou. Na altura tomei a minha posição; é uma pessoa com quem tenho algumas diferenças de pensamento político embora ache que no essencial nos entendemos — não teria problema algum em travar ao lado dele as mais variadas batalhas políticas — e não declarei apoio, mas disse que naquelas circunstâncias, havendo um challenger e uma rutura grande na base de apoio que levou à eleição do atual presidente, deveria ter havido congresso. Acho que não ter havido congresso foi um erro e daí resulta grande parte da tensão que existe. A crise interna foi suficientemente grave, com as demissões…

Foi um erro fazer aquele conselho nacional aberto à comunicação social; pergunto quantas famílias sobreviveriam sem discussão interna. Na minha, somos relativamente unidos mas de vez em quando levantamos a voz. Se tivéssemos isto permanentemente exposto à vizinhança toda, não ficaríamos bem vistos. Isso foi pedido pela direção com o argumento de que depois só passaria a versão dos que conhecem mais jornalistas… Ajudou a criar a imagem de um partido profundamente dividido. Não só não tenho nenhuma inibição como não tenho jeito para usar o argumento cinzento — e eu já sou cinzento por natureza, porque os conservadores procuram ser discretos. Se abrirem uma discussão interna, eu participarei; mas consigo distinguir completamente o que é a minha posição como líder parlamentar.

"Apoiei Luís Filipe Vieira na convicção de que era o melhor projeto dos que estavam em cima da mesa; eu e a minha família nunca tínhamos festejado um tetra... Achei que ele merecia e que era melhor para o clube que houvesse estabilidade. Aconteceu tudo ao contrário: isto foi a maior instabilidade que podia acontecer. A sensação que tive ao ver a notícia da detenção foi de surpresa. Eu não sabia nada daquilo"

Se as autárquicas correrem mal, faz sentido antecipar o congresso?
O congresso tem uma janela de oportunidade, entre outubro e janeiro. O Natal não é o período mais adequado…

Para discussões familiares pode ser. 
Sim, mas aí até as que têm discussões menos saudáveis, mais latinas, às vezes no Natal moderam-se e o espírito natalício impera (risos). Na minha opinião, ou é novembro ou é janeiro. A forma como o partido sair e o espírito de mobilização com que sair das autárquicas é que pode ser determinante.

Com a notícia da detenção de Luís Filipe Vieira, reviu a sua posição ou mantém o seu apoio?
Nestas eleições, foi um vice-presidente que é do meu partido que me perguntou se eu estaria disponível e eu disse que sim, até porque tinha estado nas eleições anteriores. Se tivesse funções executivas, a minha posição seria diferente. O que quero dizer é que não sou propriamente um político que aproveitou para fazer uma perninha no futebol; sou alguém que está ligado ao Benfica e ao futebol e que o vive intensamente há muitos anos, e continuarei quando sair da política durante muitos anos. Isso leva-me a ter toda a legitimidade de participar. Eu apoiei o então candidato Luís Filipe Vieira na convicção de que era o melhor projeto dos que estavam em cima da mesa; eu e a minha família nunca tínhamos festejado um tetra… Achei que ele merecia e que era melhor para o clube que houvesse estabilidade. Aconteceu tudo ao contrário: isto foi a maior instabilidade que podia acontecer.

Mas arrepende-se do apoio?
Naquele momento, com aqueles dados, era a decisão que tinha de tomar. A sensação que tive ao ver a notícia da detenção foi de surpresa. Eu não sabia nada daquilo. A opinião que tinha e que ouvi ao próprio era: “Não, eu reestruturei, eu fiz tudo direitinho…”. Fazia fé que era correto e verdadeiro. É evidente que isto nos lança uma dúvida. Há uma surpresa, consternação — é uma pessoa que conheço e custa-me –, tristeza, e preocupação. Lembro-me de ouvi-lo falar da família e quem conhece a pessoa, ver que está detida, com um filho na cela ao lado…Não vou fazer aquela coisa muito fácil de atirar pedras e dizer que não sei quem é. O que espero é que a Justiça faça o seu trabalho. No Benfica fica numa situação muito difícil. Louvo a coragem de Rui Costa.

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