Os norte americanos gostam de beber vinho, e embora não tenham grande perceção em relação a Portugal, acreditam que o mercado apresenta grandes oportunidades. Esta é a visão de Mark Macedonio, CEO da M Imports, empresa que criou há 15 anos nos Estados Unidos da América (EUA).
Senão vejamos: segundo um estudo dos Vinhos de Portugal e do Instituto da Vinha e do Vinho (2019), nos EUA existem cerca de 6 milhões de pessoas que consomem vinho português. Mas este mercado é ainda mais promissor, pois existem aproximadamente 84 milhões de consumidores regulares de vinho. É, certamente, um público a conquistar. E (atenção das atenções) a maior parte ainda não está ciente da qualidade dos vinhos produzidos em Portugal.
O que têm os vinhos portugueses
Para Mark Macedonio, os vinhos portugueses têm alta qualidade e a sua particularidade maior é serem vinhos de lote de várias castas diferentes. Sobretudo para o mercado americano, cujo consumidor conhece castas e não está habituado ao que naquele país se denomina blends. Segundo este importador, este é o grande plus dos nossos vinhos, ou seja, é o que os distingue da maioria daqueles que os americanos já conhecem.
E acrescenta que, a partir daí, o americano que não é propriamente um wine drinker mas que, ainda assim, gosta de vinho “tende a experimentar outro e outro. Mas a notoriedade do vinho português é extremamente baixa. É preciso fazê-los encontrar os vinhos portugueses.
Periquita, por toda a América
Vicissitudes à parte, o Periquita é um dos vinhos portugueses mais vendidos nos EUA. Está presente naquele país há mais de 50 anos e tem distribuição em 47 dos 50 Estados. Uma verdadeira proeza, num país em que pouco se sabe sobre Portugal e muito menos sobre o seu vinho. Quando os americanos experimentam Periquita, compram e voltam a comprar. Tornam-se clientes fiéis e, para Mark, “isso é sucesso”.
O sucesso não é sorte
Mark considera que a marca Periquita tem os seus trunfos e, por isso, vem ganhando mercado: o nome é excelente, de uma só palavra, parece difícil à primeira vista, mas é muito fácil de pronunciar e de lembrar no momento da compra. O rótulo é bonito e está muito atual e, mais importante do que tudo, o vinho é de excelente qualidade. A somar a isto, o seu preço.
O Periquita tem over delivery. Ao prová-lo o consumidor acha sempre que ele vale mais, porque um vinho californiano equivalente custa 3 ou 4 vezes mais.
Dos Baby Boomers à Geração Z
Mas quem são as pessoas que bebem vinho nos EUA? Mark Macedonio explica que, até recentemente, eram sobretudo os Baby Boomers, ou seja, os jovens dos anos 60 e 70, que, por razões óbvias, estão a perder expressão. Hoje, o marketing de vinhos concentra-se nos Millenials (nascidos entre 1985 e 1996) mas, debaixo de olho, já tem a Geração Z, ainda muito jovem, mas que representa quase 70 milhões de pessoas.
Provar vinho é uma diversão
Nos EUA, por definição, os homens bebem vinho à refeição e as mulheres bebem-no mais socialmente, em festas ou encontros de fim de tarde. Com a pandemia, o hábito de beber em casa cresceu e as vendas online aumentaram vertiginosamente. No entanto, os hábitos de compra física não desapareceram e há eventos de provas de vinho que atraem milhares de pessoas. Exemplo disso é o Food & Wine Classic, que se realiza anualmente em Aspen, no Colorado, e atrai cerca de 30.000 pessoas. Vão com amigos, provam um vinho e outro, e gostam disso. A prova é que estão dispostos a pagar centenas de dólares para estarem presentes. São os wine drinkers americanos. Dão valor ao vinho. E neste evento as marcas expõem-se ao seu público de uma forma muito direta. A M Import, empresa de Mark Macedonio, costuma estar presente com algumas marcas portuguesas, entre as quais — e com especial destaque — o Periquita.
Provas de vinho ou distribuição?
Mark Macedonio reconhece a importância de dar o vinho a provar, mas considera que “este é um meio muito dispendioso, sobretudo com tão baixo conhecimento sobre o vinho português. É muita gente para educar, seria preciso investir muitos milhões de dólares”. Por outro lado, conhecendo bem o mercado americano, os seus consumidores e os seus hábitos, Mark acredita que o caminho poderia correr bem se se apostasse na distribuição em grandes cadeias de supermercados como o Albertsons, Costco, Kroger, Food Lion, entre outros.
O importador defende que é ali que os americanos procuram vinho e alerta para o facto de estas cadeias terem presença por toda a América. Algumas chegam a ter mais de 1000 lojas. “Seria uma excelente oportunidade para o crescimento das vendas de vinho português nos EUA”, afirma. E vai mais além ao revelar que, no seu entender, se Portugal investisse numa sala de provas na Califórnia, mais precisamente no Napa Valley e de preferência ao lado de uma das salas de vinho ali existentes, os resultados seriam rapidamente visíveis: mais notoriedade dos vinhos portugueses e, consequentemente, mais vendas. Isto porque falamos de um vinho de alta qualidade e porque, todos os anos, há 30 milhões de americanos que vão a Napa só para provar vinho. Gostam de provar; gostam de vinho e bebem-no. São wine drinkers e são muitos, como o importador indica. Mark diz, ainda, que nunca falou nesta ideia, ou sugestão, a ninguém de Portugal e está a dá-la em primeira mão. Fica a nota que, na verdade, é um desafio para os vinhos portugueses. Que, como se percebe, têm um grande futuro de crescimento no mercado americano.