São várias (e algumas já antigas) publicações nas redes sociais que proclamam vir dar um “alerta” a propósito de um — novo ou desconhecido — risco para a saúde da população: cápsulas de café. E porquê? As publicações relacionam o alumínio, ou o “metal tóxico” de que alegadamente são feitas as cápsulas, com várias doenças, como o alzheimercancro e infertilidade.

E o problema não está apenas nas cápsulas de alumínio, pelo menos de acordo com as publicações no Facebook. Mesmo que essas embalagens sejam compostas de plástico, referem os posts, continuam a ser responsáveis pelas mesmas doenças, incluindo o cancro — além “do papel terrível na degradação do meio ambiente” que representam.

Publicação de Facebook a alegar risco de cancro em café consumido em cápsulas.

Publicação de Facebook a alegar risco de cancro em café consumido em cápsulas.

Mas vamos então por partes. Há alguma ligação entre o consumo de café e doenças como o cancro, num mundo em que são consumidas mais de 2 mil milhões de chávenas de café por dia? Especialistas da Sociedade Americana de Cancro asseguram que o café pode até reduzir o risco de vários tipos de cancro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aliás, ao consultar a lista de fatores de risco de cancro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, encontramos fatores como o “tabaco, luz solar, químicos, álcool”, mas não café, cápsulas de café ou alumínio.

E o que dizem os especialistas? O médico Vítor Veloso, antigo presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro, que ocupou cargos na Sociedade Portuguesa de Oncologia e a nível internacional na AssociationofEuropeanCancer Leagues, remata o tema com uma simples frase: “Não há nada de científico aqui.”

Em declarações ao Observador, o especialista reconhece que o alumínio pode ser prejudicial à saúde, mas “apenas se for consumido em grandes quantidades”, assim como o café, se for consumido em excesso, a rondar as “5 a 10 chávenas por dia”. E dá um exemplo: “Os adoçantes, se forem consumidos em grandes quantidades, também são prejudiciais à saúde”, o que não significa que representem um risco direto de cancro para os consumidores.

Além de não encontrar “nenhuma comprovação científica” para suportar as alegações que circulam nas redes sociais, a propósito do consumo de café em cápsulas de alumínio ou plástico, Vítor Veloso reforça que, se houvesse evidência científica, “teria que constar na embalagem do produto ou estar identificado de alguma forma”.

Ao consultar outros meios de comunicação social, como a BBC, é fácil compreender que há mais motivos de preocupação com a reciclagem das cápsulas de café  — que obriga cidades como Hamburgo a tomar medidas reforçadas — do que com a saúde da população. Em 2016, um grupo de estudo da Agência Internacional para a Investigação de Cancro, da Organização Mundial de Saúde, concluiu — depois de analisar mais de mil estudos independentes — que não havia evidências suficientes para classificar o café como cancerígeno.

Conclusão

Nem o café nem o alumínio nas cápsulas do café são, por si só, considerados produtos cancerígenos. As conclusões são da Organização Mundial da Saúde, quando estudou o tema em 2016, e são reafirmadas por especialistas, como Vítor Veloso, que classifica as informações que circulam nas redes sociais como falsas por não haver “nada de científico” que as consubstancie.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge