Num vídeo publicado nas redes sociais um homem alega que conseguiu criar um sistema de oxigénio caseiro, de forma a reutilizar uma garrafa de oxigénio que mostra na imagem. Mas será que um sistema de oxigénio caseiro é seguro ou tem a mesma eficácia que o equipamento utilizado em hospitais?

O vídeo partilhado no Facebook não é o único caso de tentativa de criar um sistema de oxigénio caseiro. Mas a solução, avisa o pneumologista António Morais, em declarações ao Observador, pode representar sérios riscos para a saúde dos doentes e não deve ser preparado por quem não tenha qualificações para tal. “O oxigénio é uma terapêutica que exige uma prescrição porque, por exemplo, quando damos aporte de oxigénio a um doente, calculamos esse aporte em litros e esse valor tem, depois, que ser calibrado”, explica o pneumologista. Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, António Morais sublinha o facto de existirem “questões de segurança e de higiene que têm de ser acauteladas, para garantir que estes sistemas não são contaminados por outras partículas e microorganismos” quando se coloca um doente a receber oxigénio”.

Além disso, ressalva o médico do Hospital de São João, “quando alguém está em défice de oxigénio, o próprio oxigénio pode não ser a melhor terapêutica: às vezes podemos providenciar oxigénio, ou podemos conciliar o oxigénio com um ventilador e com outras terapêuticas”. Há, de facto, quem faça oxigénio em casa. Mas isso, sublinha António Morais, pressupõe a intervenção de “empresas certificadas e que respeitam processos seguros e adequados a cada situação”. Situações como as que são ilustradas pela publicação analisada mostram “o descalabro de um sistema de saúde, em que as pessoas, em desespero de causa, procuram formais de resolver os seus problemas” — um ponto a que Portugal não chegou mesmo na fase mais crítica da pandemia, em janeiro deste ano. Mas, defende António Morais: “A solução nunca pode passar por estas opções.”

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Já em abril, a agência de notícias Reuters dava conta dos avisos de médicos e cientistas indianos para os perigos de tentar fazer oxigénio médico em casa. O alerta surgiu numa altura em que o país enfrentava uma falta de oxigénio que desencadeou a publicação de uma série de vídeos e dicas nas redes sociais sobre como fabricar o próprio tratamento em casa.

Em declarações à agência Reuters, o secretário da Associação Médica Indiana do estado de Tamil Nadu explica que “há um método cientificamente provado para produzir oxigénio médico através de concentradores. Qualquer outro método para tentar produzir o gás em casa envolve muitos riscos, tais como a possibilidade de inalar gases tóxicos e explosões”.

Ao Observador, a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE) — com experiência em unidades de cuidados intensivos — sublinha que nenhum enfermeiro usaria um sistema de oxigénio feito em casa, já que não é certificado e não é conhecida a sua fiabilidade. Ana Rita Cavaco reitera que um doente crónico que precisa de oxigénio “não pode ser tratado desta forma” e considera que em Portugal não há necessidade de fazer oxigénio em casa já que o medicamento “não é pago”. A Bastonária da OE alerta ainda para o facto de que receber este medicamento pode dar a sensação errada às pessoas de estar a receber tratamento “quando na verdade, não estão”.

A Associação Portuguesa das Empresas de Cuidados de Saúde ao Domicílio, que representa os prestadores de Cuidados Respiratórios Domiciliários — responsáveis por assistir mais de 140 mil doentes do Serviço Nacional de Saúde, nas áreas terapêuticas da oxigenoterapia e ventiloterapia — sublinha, em comunicado enviado ao Observador, que o oxigénio para uso humano é um medicamento. Por isso, diz a associação, “tem de cumprir todos os requisitos de produção, distribuição e dispensa domiciliária, segundo o Estatuto do Medicamento”.

Já a Organização Mundial de Saúde desanconselha a auto-medicação como forma de prevenir ou curar a Covid-19 e assegura que por todo o mundo há cientistas a trabalhar para encontrar e desenvolver tratamentos para a doença provocada pelo novo coronavírus.

Conclusão

O oxigénio médico é um medicamento e por isso tem de cumprir “todos os requisitos de produção, distribuição e dispensa domiciliária” para ser utilizado, diz a Associação Portuguesa das Empresas de Cuidados de Saúde ao Domicílio. Também em declarações ao Observador, o pneumologista António Morais avisa para os riscos associados ao recurso a métodos artesanais que procurem reforçar o aporte de oxigénio aos doentes.

A Bastonária da Ordem dos Enfermeiros lembra ainda que não é conhecida a fiabilidade desses sistemas, já que foram feitos em casa e por isso não estão certificados.

A Organização Mundial de Saúde avisa contra a auto-medicação como forma de prevenir ou curar a Covid-19 . Já a Associação Médica Indiana alerta ainda que a produção de oxigénio caseiro envolve “muitos riscos” no que toca à segurança.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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