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Segunda-feira, véspera de feriado; tolerância de ponto na administração pública e em boa parte do setor privado; o país a meio-gás devido à pandemia da Covid-19. Estão reunidas as condições para atravessar a cidade de Lisboa em poucos minutos, mesmo em hora de ponta. O parque de estacionamento do edifício do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), na zona do aeroporto, está praticamente deserto e o segurança de serviço na entrada das instalações é a única pessoa por perto. É ele quem nos encaminha para o quinto andar do edifício, onde, ainda antes das 9h, encontramos o outro funcionário de serviço: o presidente do instituto, Miguel Miranda. |
Professor catedrático de Geofísica na Universidade de Lisboa, Miguel Miranda lidera desde 2013 o IPMA, laboratório público nacional responsável, entre muitas outras funções, pela previsão meteorológica, pela observação e estudo dos oceanos e pela avaliação do risco sísmico em Portugal. É o IPMA que estuda e monitoriza em permanência as condições atmosféricas e marítimas em Portugal, pelo que os dados recolhidos pelo instituto são fundamentais para perceber como as alterações climáticas estão a atingir o país. |
Estamos ali para uma entrevista sobre o mar, tema vital para um país oceânico como Portugal, mas frequentemente deixado para segundo plano. Simbolicamente, o Ministério do Mar surge na última posição na lista oficial das pastas ministeriais que compõem o Governo português. Menos simbolicamente, aquele ministério é, de longe, o que recebe a menor fatia do Orçamento do Estado. Como reconhece a própria Estratégia Nacional para o Mar (ENM) para o período 2021-2030, Portugal tem praticamente metade (48%) das águas sob jurisdição da União Europeia adjacentes ao continente europeu. Contudo, faltam ao país recursos para estudar e explorar o oceano — que, se o projeto de expansão da plataforma continental portuguesa avançar nos moldes em que está previsto, constituirá 97% de todo o território sob jurisdição portuguesa. |
Não falta na política nacional a retórica elogiosa do mar. A ENM fala do “regresso ao mar” como “o grande empreendimento” do país, classifica o oceano como “um sistema essencial para a vida no planeta e para a sociedade”, sublinha o “avanço visionário que Portugal teve desde o fim do século passado”, afirma o “reconhecimento político do papel vital do oceano” e destaca até “a ligação emocional e racional” dos portugueses com o mar. |
Faltam, porém, recursos para estudar o oceano, de modo a garantir que as águas territoriais portuguesas são exploradas simultaneamente com proveitos económicos e com preocupações de sustentabilidade. Na entrevista ao Observador, que pode ler aqui na íntegra, o presidente do IPMA faz uma comparação que nos permite ter uma ideia da situação que se vive em Portugal: “Mesmo com o novo navio oceanográfico de que o IPMA dispõe a partir de agora, e que está operacional, nós estamos a falar de recursos que são muito inferiores aos que tem uma autonomia espanhola — qualquer uma delas”. |
O oceano é um elemento fundamental do sistema terrestre: cerca de 70% da superfície do planeta é coberta por oceanos. Como a água tem muito mais capacidade do que a terra para absorver calor, estima-se que 93% da energia em excesso resultante do aquecimento global esteja a ser absorvida pelos oceanos. Por outras palavras: é graças aos oceanos que não estamos a sofrer impactos mais dramáticos do aquecimento global. Porém, isso não acontece sem custos. A água está a aquecer e a tornar-se mais ácida, há espécies a desaparecer e as correntes frias das profundezas oceânicas — responsáveis pela refrigeração de todo o planeta — estão em risco. |
Nesta altura do campeonato, avisa Miguel Miranda, os esforços de mitigação já não são suficientes. A Humanidade precisa necessariamente de se adaptar e de aprender a viver com uma nova realidade climática. O ponto positivo é que ainda não é demasiado tarde para o esforço de adaptação. “Em Portugal, [a subida do nível do mar] tem importância em algumas situações, em ilhas, mas é um assunto que corresponde a uma subida lenta e, portanto, se nós não nos adaptarmos é porque não estamos a querer fazê-lo”, resume o presidente do IPMA. |
Cientista de 15 anos é “criança do ano” para a revista Time |
Há um ano, a revista Time surpreendeu poucos quando elegeu como personalidade do ano a ativista sueca Greta Thunberg, que, aos 16 anos, se tornou na pessoa mais jovem de sempre a receber a distinção — com direito uma capa fotografada na costa portuguesa. |
Este ano, uma semana antes de anunciar a personalidade do ano de 2020, a revista Time voltou a inovar com uma edição especial dedicada à criança do ano. A escolhida foi Gitanjali Rao, uma jovem cientista norte-americana de 15 anos, que já tinha dado que falar quando, em 2019, a revista Forbes a incluiu na sua lista de personalidades relevantes com menos de 30 anos de idade. Dois anos antes, com apenas 11 anos, tinha sido considerada a jovem cientista do ano pelo canal Discovery Channel. |
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O grande trabalho de Gitanjali Rao é um pequeno dispositivo eletrónico que pode contribuir decisivamente para o abastecimento de água potável nas regiões mais pobres do planeta. Rao inventou um aparelho — a que deu o nome de Tethys, em homenagem à divindade grega que personificava a água — capaz de identificar a presença de contaminantes, como o chumbo, na água potável. A jovem teve a ideia depois de se confrontar com as notícias sobre o problema das águas contaminadas em Flint, no estado norte-americano do Michigan. Com a ajuda de um laboratório em Denver, no Colorado, Rao desenvolveu o aparelho — e tem continuado a aperfeiçoá-lo. |
“Atualmente, estou a trabalhar numa forma mais fácil de ajudar a detetar bio-contaminantes na água, coisas como parasitas”, disse a jovem numa entrevista à atriz Angelina Jolie, publicada na edição da revista Time que lhe é dedicada. “Espero que isto seja algo barato e exato para que as pessoas em países do terceiro mundo possam identificar o que está na sua água.” |