“Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. E essa bomba atómica é simplesmente – não pagamos. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos! E se nós não pagarmos a dívida e se lhe dissermos, as pernas dos banqueiros alemães até tremem! Na situação em que nós vivemos, eu estou marimbando-me para os nossos credores! Estou marimbando para o banco alemão que emprestou dinheiro a Portugal nas condições em que emprestou. Estou marimbando-me que nos chamem irresponsáveis.”

Pedro Nuno Santos ganhou outra notoriedade depois destas palavras. E não apenas pela irresponsabilidade. Nunca se arrependeu das mesmas, nem nunca as considerou um erro.

Porém, houve mesmo pernas a tremer. Não as dos banqueiros alemães, mas as do próprio Pedro Nuno Santos que, no dia seguinte, deu o dito por não dito, afirmando: “eu não disse que não devemos pagar a dívida, o que eu disse é que há limites para os sacrifícios e que o Governo deve pôr o seu povo à frente”. Ou seja, o “não pagamos” na realidade não era uma bomba atómica, mas antes um daqueles pífios estalinhos de Carnaval.

Tendo sido incapaz de convencer os credores sobre as medidas de austeridade que incluiu dos seus três PEC’s, José Sócrates, relutantemente e por insistência de Teixeira dos Santos, teve de chamar e de negociar um acordo de assistência internacional. Ora, em dezembro de 2011, quem geria o país, condicionado por esse acordo, era Passos Coelho. Não sei se alguma vez Pedro Nuno Santos falou com José Sócrates sobre o péssimo acordo que este negociou? Sei que o Sócrates achava que pagar a dívida era uma ideia de criança e que Pedro Nuno Santos via no não pagamento uma bomba atómica. Muito mais curioso é ter-se esquecido que José Sócrates foi o Pai da Austeridade. Sócrates não afirmou que sendo preciso não hesitaria em manter as medidas de austeridade até 2013? Podemos considerar este esquecimento de Pedro Nuno Santos como um esquecimento de conveniência?

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O tempo passou e o agora candidato a secretário-geral do PS, fez um discurso onde referiu reiteradamente a ideia de diálogo, de negociação e de concertação.

Se formos buscar a ideia da bomba atómica, o “não pagamos” apregoado em 2011, onde é a mesma enquadrável? No diálogo, na negociação ou na concertação? Pode ser de mim, mas parece-me que não é enquadrável em nenhuma das três. E que acontece se aplicarmos a ideia da bomba atómica entre um empresário e um banco? Aqui podemos elaborar um pouco mais. Dificilmente o “não pagamos” seria expresso com a mesma ênfase que foi empregue por Pedro Nuno Santos. As pernas do banqueiro também não tremeriam. E não surpreendentemente, o “não pagamos” continuaria a não ser possível em vectores como diálogo, negociação e concertação. Em boa verdade, a bomba atómica não passou duma fanfarronice pueril. Foi uma daquelas representações teatrais costumeira na maioria dos políticos. Não é possível que Pedro Nuno Santos não tenha consciência de que à mesa das decisões os que devem mais são os que mandam menos. É mesmo muito preocupante se não tiver essa consciência.

Pedro Nuno Santos é alguém que sempre viveu da política. Já uma vez o expressei e repito-o. Gostava de ver Pedro Nuno Santos com toda esta bravata como empresário a negociar com os bancos. Tenho mesmo curiosidade sobre a real capacidade de gestão do Pedro Nuno Santos. Gostaria muito de o ver gerir uma empresa privada, que não a da família, obviamente, mesmo sabendo que à partida possa haver maior probabilidade na garantia de ajustes directos por parte dum Governo socialista.

Pedro Nuno Santos é mais um socialista que vive na Socializândia – a realidade utópica onde é perfeito, onde está sempre certo e onde outros, i.e., os portugueses, são ingratos e mal-agradecidos.

Infelizmente para nós, para os socialistas a realidade utópica da Socializândia corresponde a Portugal. É mesmo muito triste chegar à conclusão de que a coisa [coisa é o termo que utilizo para definir a gestão] socialista se resume a um jogo de soma zero, onde os políticos socialistas ganham sempre à custa do que perdem os portugueses.

Pedro Nuno Santos sabe que cometeu erros. O que não me parece saber é aprender com os erros. Ou não os repetiria.