Uma coisa verdadeiramente estranha e perplexante é o sentimento de inferioridade que a direita tem em relação à esquerda e aos seus clichés.

A esquerda vai impondo a sua agenda cultural, ou melhor, contra-cultura, forçando a sua linguagem e os seus estereótipos em todos os níveis da sociedade. Com isso vão criando um pseudo-consenso sobre a sua agenda, que forçará cada vez mais a mão na direção do seu pensamento único. Basta ver como a linguagem da ideologia de género foi universalmente adoptada sem nenhuma oposição de quem deveria perceber que a linguagem configura o pensamento.

A direita reage com subserviência a essa agenda, rapidamente alinhando o seu discurso com o modo de falar e as ideias da esquerda. Com isso cedem nos princípios morais e culturais que a deveriam nortear, e que são o fundamento da única coisa que ainda parecem defender com algum empenho, a liberdade de mercado.

Ou seja, sem esses princípios morais e culturais, as liberdades são apenas transitórias.

E sem essa visão, a direita limita-se a debater em detalhes, sem relevância nenhuma a prazo.

É verdade que quem não afina pelo diapasão da esquerda é imediatamente vilipendiado pela comunicação social, e isso não é agradável. Mas é necessário defender os nossos valores, mesmo à custa da fazenda e da vida.

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Isto acontece em todo o mundo, e em Portugal de modo particular. Faz falta um partido de direita que seja coerente no seu pensamento e na sua acção. Os nossos partidos da direita tradicional, o PSD e o CDS são de uma total ambiguidade no que respeita aos valores.

O PSD tradicionalmente deixa liberdade de voto nos temas fracturantes, como se isso fosse uma questão da esfera privada. Mas não é. Se fosse da esfera privada, não haveria necessidade de fazer leis, nem de utilizar hospitais públicos, pagos com os dinheiros dos nossos impostos.

No fundo, quer lançar uma rede o mais ampla possível para apanhar o máximo de votos. E com isso cede nas convicções, e torna-se num partido de tachistas, ou seja, pessoas que só lá estão porque têm a expectativa de ganhar um tacho. A sua oposição é morna, e vai definhar se não mudar.

O CDS definhou precisamente por não ser possível discernir o que defende. O novo líder diz na sua moção estratégica que quer ser um factor de união entre os democrata-cristãos, os conservadores e os liberais do partido. Quer dizer que vai manter a ambiguidade sobre a natureza do CDS, que vai continuar a definhar.

Querer abraçar todos, é um erro, manifesta uma falta de identidade. É que os partidos são exactamente isso: partidos, tomam partido, fazem opções, defendem uma posição, não querem agradar a todos. E depois, procuram convencer os eleitores de que as suas ideias é que resolvem os problemas. Não procuram diluí-las para agradar a todos, porque acabam por não agradar a ninguém.

O Iniciativa Liberal parece ter as ideias claras e congruentes. Só que não percebeu que o seu individualismo militante serve perfeitamente à agenda da esquerda. Por isso, a imprensa é amiga do IL. Deixa-os gritar pela liberdade, enquanto vão desfazendo os seus fundamentos culturais, tranquilamente.

Com uma direita acovardada, complexada e sem convicções, não é de estranhar que proliferem os partidos populistas, como reacção ao monopólio cultural da esquerda.

Talvez o exemplo de coragem dos ucranianos estimule um pouco os da direita a lutar por valores.