À medida que nos aproximamos das eleições presidenciais nos Estados Unidos, fica claro que a eleição do próximo Presidente terá repercussões difíceis de imaginar no contexto europeu e mundial no caso de Donald Trump vencer. Se em 2020 a eleição de Joe Biden trouxe esperança de que se iniciava ali a rejeição ao populismo e ao extremismo, hoje verificamos que não foi exatamente assim que veio a acontecer. O crescimento, constante, dos partidos de extrema-direita por todo o ocidente continuou a verificar avanços e casos há de vitórias retumbantes (Argentina, França e Países Baixos, por exemplo).

Num mundo globalizado onde a América e o que se passa por lá tem um impacto imediato na Europa, a eleição de Biden é imperativa na defesa da democracia e no combate ao populismo. Nos últimos 4 anos Biden trouxe de volta a previsibilidade, a relação histórica com os velhos aliados europeus e rejeitou o negacionismo climático e pandémico de Trump. Biden voltou ainda a colocar a América no Acordo de Paris, lançou o maior programa de sempre de transição climática do País, foi mais rápido que a UE a combater a inflação e tem tido sucesso na forma como suporta e defende a Ucrânia.

Contudo, Trump, volvidos 4 anos e mergulhado em escândalos e em processos judiciais parece imparável na corrida para a Casa Branca, o que nos continua a surpreender e a interpelar. Pese embora Biden estar a terminar um mandato globalmente positivo, a sua idade avançada e a sua aparente fragilidade, os problemas com o Governo ultraconservador de Israel, as ansiedades e exigências das sociedades atuais pelo “agora” onde nenhum tema se discute com equilíbrio e substância, mas através de gritaria, populismo e soundbites – tornam a sua reeleição cada vez mais improvável.

Ora, se for o caso, é muito difícil imaginar Trump continuar a política de apoio à Ucrânia e a impedir que o conflito em Gaza (onde o Governo de Israel perde o apoio da comunidade internacional a cada dia) se torne definitivamente regional. Será ainda mais difícil imaginar que assim ocorra quando, desta vez, já não terá os velhos membros do GOP ao seu lado, mitigando a sua ignorância e os seus ímpetos. Basta, aliás, olhar para todos aqueles que fizeram parte do núcleo duro da sua Administração e confirmar se resta algum que continue a apoiar a sua reeleição – sobram mesmo zero(!) pessoas o que diz bem da loucura que foi e será o seu segundo mandato.

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Por cá, e desta vez, temos de estar preparados para um novo período de turbulência. A União Europeia debate e tem tentado construir, desde o período em que percebeu que deixou de ter garantia vitalícia na relação transatlântica, a redução da dependência política e militar com os EUA e sabe o que pode esperar de Trump na Casa Branca. Enfrentamos agora uma guerra no leste europeu e o crescimento das forças políticas de extrema-direita que tentam influenciar diretamente as políticas europeias. Esperemos que, as forças tradicionais e democráticas, ainda hoje em larga maioria no parlamento europeu, estejam à altura do momento.

A eleição de Biden é, mais até do que em 2020, crucial e decisiva para o futuro das democracias ocidentais e para o nosso modo de vida em sociedade. A sua vitória será ainda uma derrota dos populistas e radicais de direita o que pode, como se esperou em 2020, repercutir na Europa. Já a conclusão bem-sucedida dos 8 anos de Presidência tornar-se-á não só o triunfo da decência e da liberdade sobre o populismo e o extremismo, mas constituirá numa oportunidade para recuperar a população desiludida e afastada da política tradicional que tem alimentado o crescimento da extrema-direita.

Na União, momentos muito importantes ocorrerão nos próximos meses, com as eleições legislativas francesas a merecer especial destaque e importância pelo risco real da extrema-direita vencer.

Os próximos meses serão decisivos para os EUA, para a UE e para todos nós, enquanto comunidade. Para garantirmos que a decência, a liberdade e a democracia vencem teremos mesmo de estar todos juntos no combate à extrema-direita, como bem está a fazer a esquerda francesa na preparação para as próximas legislativas.

Mas o combate deve fazer-se mesmo abordando as reais preocupações das pessoas e apresentando soluções económicas, sociais, de informação e de integração para trazer de novo a esperança como mote para a mobilização popular. A esperança contra o medo – é essa a batalha que não podemos mesmo perder.