O futuro da Direita será conservador, ou não será coisa nenhuma. O conservador é o único capaz de compreender que a realidade é superior à ideia; que a História, tecida de avanços e recuos, triunfos e erros crassos, nos oferece critérios de decisão mais prudentes do que a cegueira ideológica. O conservador é o único que se dispõe a preparar a mudança, não porque a ame ou a deseje, mas porque não quer ser apanhado de surpresa por ela. Num mundo de fanáticos, o conservador é o único sensato. Num mundo de políticos cheios de si mesmos, o conservador é o único que confia mais na segurança das instituições do que no carisma da sua inovação. Num mundo de cosmopolitas e internacionalistas, o conservador é o único que pode amar Portugal por aquilo que a Nação é, e não por aquilo que ele desejava que a Nação fosse.

Ao conservador cabe sempre o exercício desempoeirado de desafiar as ideologias no campo da realidade concreta. Disraeli alargou o sufrágio, num esforço para cooptar o sindicalismo trabalhista; Bismarck lançou as bases do moderno Estado Social para fortalecer a cultura germânica e integrar o operariado na Alemanha nascente; Metternich desenhou as linhas-mestras de uma paz que durou um século; Churchill recusou compromissos cobardes e inúteis com os nazis e, depois da Guerra, denunciou firmemente a Cortina de Ferro comunista; Malraux, um elitista, quis abrir a cultura ao povo para sarar uma Nação ferida e reerguer o orgulho francês.

Em tempos de cólera, ser conservador é um exercício de resistência, e não de acomodação. Pelo seu apego à História, à negociação, à substância do experimentado, o conservador é o único que tem recursos intelectuais para rejeitar o mito do progresso; essa ideia de que os tempos estão condenados a evoluir numa direcção única – a que os progressistas desejam – e de que qualquer movimento contrário é uma estagnação ou um retrocesso civilizacional.

O conservador não tem nada em comum com a Esquerda pós-moderna e libertária, rendida ao que Roger Scruton designou como uma “cultura de repúdio” por todas as instituições, práticas, arranjos e costumes herdados da experiência passada. Nessas tradições, o conservador encontra referências seguras para o presente, mas a Esquerda pós-moderna apenas descobre estruturas opressivas que, informalmente, condicionam o modo como as pessoas vivem, como se auto-representam e como se relacionam. A pós-modernidade quer destruir o que o conservador deseja preservar. Não há compromisso possível. Há apenas o dever de resistir.

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Mas o conservador também tem pouco em comum com um liberalismo desencarnado da experiência prática, abstracto, modernizador e crente nas inevitabilidades do progresso. Esse liberalismo pode até apresentar-se como uma doutrina estritamente económica, sem implicações sociais. O conservador, porém, sabe o que quer conservar. Sabe que tem apego pela autonomia dos corpos intermédios, pela vivacidade da sociedade civil, pela respeitabilidade da autoridade pública, pela centralidade da família, pela herança cultural e moral do Cristianismo, pela relação sustentável entre o homem e o meio ambiente e pelo lugar primacial do Estado-Nação.

Quando o liberalismo afirma que a globalização é uma inevitabilidade; que a inovação tecnológica é, em si mesma, o novo padrão ético das sociedades; que os portugueses devem sentir-se mais europeus do que portugueses; que o mercado se regula a si próprio; que a precariedade laboral é o futuro; que a vida familiar deve adaptar-se a horários de trabalho cada vez mais exigentes; que a descaracterização dos centros urbanos não é um problema, mas um desígnio; que a coesão do território está ultrapassada; que a Cultura não é missão do Estado, mas apenas arbítrio dos privados – o conservador sabe que esse não é o seu caminho. Desconfia até que quem propõe esse caminho está mais próximo da Esquerda pós-moderna do que gosta de fazer parecer.

O conservadorismo não é uma ideologia, mas tem princípios próprios. O conservadorismo não é apenas uma disposição, e o conservador não é um bem-disposto. O conservador só é eficaz se souber o que quer preservar. Sem princípios, sem referências, sem tomar o pulso ao País real, restaria ao conservador o exercício fúnebre de ir dançando de compromisso em compromisso, até se comprometer a si mesmo.

O conservador não é um hedonista da situação, decidido a preservar tudo o que, no imediato, se lhe afigura mais agradável ou conveniente. Deseja conservar a ordem existente, não quando ela é agradável, mas quando ela protege o bem comum e a dignidade do Homem; quando, polida pelo passar do tempo e pela arte de sucessivas gerações, está encarnada na experiência concreta da sociedade; quando é justa, verdadeira e bela. Esta doutrina, articulada da forma certa, é um argumento vencedor e unificador contra os extremismos. E é, por vocação própria, a identidade da Direita portuguesa e a sua maior oportunidade eleitoral.

Estudante universitário