Os resultados indicam que os portugueses responsabilizaram o Bloco de Esquerda e a CDU pela antecipação das eleições em contexto pandémico e de recuperação da economia mas também indicam – na minha opinião – que desejam que sejam realizadas grandes reformas de regime nas áreas da qualidade da democracia, da reforma do sistema de Justiça e na reforma das leis eleitorais, com um pacto com outros partidos representados no Parlamento, incluindo o PSD. Para a governação do dia-a-dia, para a aprovação dos orçamentos e para conduzir políticas públicas, o PS pode e deve ouvir todos os partidos privilegiando naturalmente aqueles que estão no seu espaço político os partidos de esquerda, Bloco e PCP, mas sem deixar de procurar pontes e consensos onde eles forem possíveis e desejáveis: PSD, PAN e IL (embora, dado o radicalismo discursivo e alguma incerteza propositiva no último, isso seja uma tarefa quase impossível).

Destas Legislativas há ainda que registar a saída do CDS do Parlamento: uma perda para a Democracia parlamentar que confirma um declínio que não começou ontem mas quando o CDS se uniu ao pior PPD no PPD: o de Lisboa. Esta aliança, apesar de levar a uma vitória que a muitos surpreendeu (a começar pelo próprio Carlos Moedas), determinou a consolidação de um caminho declinante que tinha começado com a eleição surpreendente de Francisco Rodrigues dos Santos no último congresso centrista.

São também tristes (mas mais compreensíveis) a perda de representação parlamentar de Bloco e da CDU e a ascensão do populismo do Chega, assim como o desaparecimento das lides parlamentares do PEV. Do lado do PCP parece manifesta a necessidade de se realizar uma reforma no discurso e na prática, mais aberto à sociedade civil e menos fechado em si mesmo e em lógicas de aparelho e de clientelas internas. O Bloco, sobretudo, precisa de compreender que o recuo para o canto do “protesto” permanente é perigoso porque esse canto é agora disputado com um partido populista de direita que diz aquilo que alguns segmentos da população que votavam apenas por protesto querem ouvir.

Ambos devem compreender que a sua decisão de não aprovarem o último orçamento apresentado pelo Partido Socialista, e as consequentes eleições legislativas, esteve na base do seu resultado nas urnas e tirarem as devidas conclusões. Não é contudo certo que o façam. Parece não existir à esquerda do PS este imperativo de reflexão e correcção de rumo. Aguardemos pelos próximos meses, pela confirmação dos sinais de diálogo entre o partido de governo e os eleitos do Bloco e do PCP para o saber e para confirmarmos se este rumo seguido nos últimos anos tem a continuidade que as eleições de 2022 parecem indicar: um governo de centro esquerda com diálogo com PCP e Bloco e disponível para grandes pactos de regime com todo o Parlamento (excepto Chega).

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