Os dramáticos incêndios de 2017 em Portugal saldaram-se com a perda de mais de 100 vidas e destruíram milhares de hectares de floresta, numa das maiores tragédias vividas pelo país. A causa profunda destes incêndios foi a seca que atingiu a Península Ibérica nesse ano, tal como está a acontecer neste preciso momento.

A crise climática agravou-se de tal modo que este tipo de fenómenos meteorológicos extremos já não podem ser considerados esporádicos. Os dados científicos são claros: vamos, cada vez mais frequentemente, ter de fazer face a fenómenos meteorológicos cada vez mais extremos. Só este ano, as secas prolongadas que assolam toda a Europa causaram prejuízos no setor agrícola e, logo a partir de março, estiveram na origem de incêndios florestais em França e em Espanha. A Itália, por sua vez, vê-se a braços com as consequências das inundações desastrosas no vale do Pó.

Muito embora as consequências das alterações climáticas nem sempre sejam mortais, afetam todos os aspetos da nossa economia e da nossa sociedade: a produção agrícola diminui devido às secas, ao calor e às intempéries; a água de refrigeração destinada à indústria e à produção de energia escasseia, forçando fábricas a fechar; as chuvas intensas provocam inundações, fazendo deslizar as camadas superficiais férteis dos campos e tornando as estradas inacessíveis; os baixos níveis da água dos rios e albufeiras tornam impossível a produção de energia hidroelétrica; a desertificação ameaça terras agrícolas férteis; pragas como o escolitídeo dizimam as florestas europeias e a nossa própria saúde está cada vez mais exposta a doenças causadas pelo calor e a doenças «tropicais», como a febre de dengue, que começa a propagar-se no território europeu.

Ninguém sai incólume desta situação. Em toda a União Europeia, os fenómenos extremos relacionados com o clima estão já a provocar a perda de vidas humanas e a causar prejuízos económicos superiores a 12 mil milhões de euros por ano, a maioria dos quais não segurados ou não seguráveis. A temperatura na Europa tem vindo a aumentar mais rapidamente do que nos restantes continentes e é cada vez mais provável que, ainda esta década, venhamos a ultrapassar o limite dos 1,5 °C de aumento da temperatura estabelecido no Acordo de Paris.

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Sei bem que demasiados sinais de alerta sobre as alterações climáticas podem ter efeitos nefastos sobre a saúde mental, podendo levar mesmo ao desespero, especialmente junto das gerações mais jovens, que são especialmente vulneráveis. Mas, vistas as proporções gigantescas do desafio que temos pela frente, não podemos simplesmente ignorar o que se passa e continuar como se nada fosse. Isto não significa, no entanto, que devamos perder a esperança. Longe disso.

Pela parte que nos toca, acabamos de incorporar no direito europeu uma série de estratégias que nos ajudarão a reduzir as emissões de uma forma muito mais rápida. No resto do mundo, outros países estão também a intensificar a sua ação climática. O que isto significa é que temos de nos preparar.

Na primavera do próximo ano, a UE publicará os resultados da primeira avaliação dos riscos climáticos, que nos permitirão entender de que forma as alterações climáticas, atuais e futuras, podem afetar o ambiente, a economia e a sociedade da Europa e servirão de guia para novas ações.

Estamos a desenvolver rapidamente instrumentos que nos permitirão protegermo-nos melhor. Estamos, por exemplo, a melhorar a nossa resposta à ameaça crescente dos incêndios florestais graças à utilização de sistemas de monitorização por satélite e à duplicação da frota de combate a incêndios da UE, prevista já para este verão.

Estão em curso muitos outros projetos europeus que visam proteger a agricultura contra secas e inundações, reforçando a segurança alimentar, arrefecer as cidades através da plantação de árvores e da melhoria do planeamento urbano e preparar os nossos sistemas de saúde e de energia através de testes de resistência e da modernização de infraestruturas como os hospitais ou as centrais elétricas. Precisamos, mesmo assim, de intensificar os nossos esforços.

A preparação para o futuro exige, obviamente, grandes investimentos, mas os custos são irrisórios quando comparados com os custos da inação. Uma melhor preparação contra as alterações climáticas das nossas casas, infraestruturas, economia e sistemas de saúde permitir-nos-á no futuro não só poupar dinheiro, mas, sobretudo, salvar vidas.

E isto porque, acima de tudo, temos de estar bem conscientes dos custos humanos que estamos já a pagar. Em quase todas as regiões da União Europeia, catástrofes relacionadas com o clima causaram já a morte a muitas pessoas. Estas vítimas merecem que não as esqueçamos e que recordemos as suas histórias. É por esta razão que o Parlamento Europeu e os Estados-Membros decidiram que o dia 15 de julho deverá passar a ser o Dia da UE para as Vítimas da Crise Climática Mundial. Trata-se de um momento, de um dia, em que nos reuniremos para as recordar e refletir sobre o caminho a seguir.

Esta data assinala um dos piores dias das inundações mortais ocorridas na Bélgica, Alemanha, Luxemburgo e Países Baixos em 2021. Em poucas horas, as cheias ceifaram 200 vidas e causaram inúmeros estragos.

Esta data deve funcionar como um alerta e levar-nos a agir, desde já, para minimizarmos o impacto das alterações climáticas. Porque o mais importante é protegermos o que temos de mais precioso: a nossa vida, a nossa saúde e as dos nossos entes queridos.