Fui aluno de Maria de Fátima Bonifácio, admiro a sua obra como historiadora, e, tão ou mais importante do que isso, sou seu amigo. Mas não foi só por essas razões, que ficam declaradas para ninguém ter o trabalho de as lembrar, que me repugnou a canalhice das calúnias e das ameaças com que, a pretexto de um artigo de jornal, a gente do costume a pretendeu cercar durante o fim de semana. Nesse ataque, houve muito da precipitação de alcateia que define as redes sociais. Mas houve também a inspiração de um dos mais asquerosos projectos políticos do nosso tempo.
Porque a má fé e a estupidez dominam este debate, vou tentar ser muito claro.
Fátima Bonifácio está certa na rejeição do sistema de quotas étnicas. Mas não evitou alguns equívocos. Por exemplo, o de aparentemente sugerir – se percebi bem — que o problema da integração dos ciganos ou dos chamados “afrodescendentes” se deve a serem estranhos à sociedade portuguesa, à sua história ou aos seus valores. Ora, os ciganos estão em Portugal há mais de meio milénio. Falam a língua e têm a religião da maioria da população. São cidadãos portugueses, e tão portugueses como quaisquer de nós. Os “afrodescendentes” não são um grupo homogéneo, mas, na sua maioria, são indivíduos originários de antigas colónias europeias. Representam uma das mais intensas Cristandades dos dias de hoje, e sempre se exaltaram com as ideologias ocidentais (a Revolução Francesa também aconteceu no Haiti).
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