Lisboa é uma cidade com graves riscos de inundação devido à existência de várias áreas com baixos declives, às suas icónicas sete colinas e, sobretudo à sua proximidade do Tejo, efeitos de maré e subida média do nível do mar. As obras que agora decorrem (e que foram planeadas em 2008) na rede de colectores poderão melhorar o escoamento das águas pluviais, mas o crescimento constante da área urbanizada e consequente redução da capacidade de absorção do solo não permite acreditar que os próximos anos sejam tranquilos sempre que a pluviosidade for mais intensa em Lisboa.

Até à década de 1970 foi criada em Portugal uma espécie “portuguesa” de ostra, a Crassostrea angulata. Esta espécie era uma variedade de ostras trazidas pelos navegadores da zona do Pacífico no século XVI e foi parte importante da economia do Estuário do Tejo, com exportações constantes para a Europa e, nomeadamente, para o Reino Unido. Entre 2017 e 2021 foi co-financiado pelo Portugal 2020 um projecto de reabilitação (o CRASSOREAB) desta espécie em viveiros, visando recuperar o seu uso comercial, mas o projecto terminou sem que fossem conhecidas aplicações práticas e actualmente temos – entre várias empresas – a Exporsado que produz anualmente 500 toneladas.

Em Nova Iorque as ostras são parte de uma estratégia de protecção da linha costeira contra o aumento do nível do mar e as tempestades em que as suas conchas são usadas como blocos de construção para novos recifes vivos. O programa funciona com o apoio de dezenas de restaurantes da cidade, que doam as suas conchas ao projecto “Living Breakwaters” que, com um orçamento de 107 milhões de dólares e 2.4 km de extensão, está a criar um recife artificial semi-submerso. O propósito é proteger a costa da cidade norte-americana e criar habitats à vida marinha. O projecto é uma consequência da supertempestade Sandy, que devastou a cidade em 2012.

As ostras fazem também parte da resposta “verde” de Nova Iorque às alterações climáticas e, nesse contexto, foi projectado o regresso do seu cultivo às costas da cidade. O plano é colocá-las junto às rochas e em estruturas artificiais sob as águas que rodeiam a cidade de forma a que ajudem a reduzir a força das ondas e filtrem as águas, estimando-se que uma única ostra seja capaz de filtrar quase 190 litros de água por dia, removendo poluição e excesso de nutrientes.

Em Nova Iorque estão também a colocar conchas de ostra trituradas em bacias de captura, em estacionamentos e estradas, nas instalações industriais do Porto. Desta forma reduzem a quantidade de micropartículas suspensas e a presença de metais nas águas pluviais.

E se Lisboa seguisse este exemplo e instalasse nas zonas onde ocorrem inundações crónicas barreiras de ostras que poderiam ter um rendimento económico, gerar emprego e riqueza e servirem de barreira contra a subida do nível das águas? As zonas ribeirinhas de Alcântara e da Baixa seriam as candidatas ideiais a um projecto piloto que poderia ser lançado envolvendo os restaurantes destas áreas da cidade os quais, posteriormente, poderiam ser beneficiários directos das ostras aqui extraídas. Fica a sugestão (enviada à Câmara Municipal de Lisboa e a várias associações ambientais)

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